War of Hormone

    Autora: Sial
    Scripter: Li
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Finalizada em: 20/03/2023.
Capítulos: Prólogo | Capítulo Único






Esse não era o dia que Hoseok esperava.
Os olhares estavam por toda parte, assim como as hashtags e comentários, que pertenciam à toda Universidade de Seul. Até mesmo a bibliotecária o olhou de forma diferente quando disse que o texto em arcano que ele queria pesquisar já havia sido retirado por outra pessoa. A pitada cômica daquele sorriso era o prelúdio do que estava acontecendo, mesmo que ele não soubesse na hora o que era exatamente.
Não era que ninguém queria incomodá-lo com uma simples fofoca. Só era mais divertido rir e zombar de alguém que não tinha certeza sobre porque todos estavam olhando-o e apontando-o com curiosidade.
Mas isso não durou por muito tempo. A situação o sobrecarregou assim que pisou no vestiário masculino do time de Hóquei da UNS, onde as risadinhas cessaram e o silêncio se alastrou por todos os cantos. Por ora.
— Mandou bem, Hobi! — Johnny disse ao passar pelo garoto, dando um tapinha em seus ombros.
Ele o olhou sem entender, mas o colega já havia ido.
— Eu não esperava menos de você, camarada — desta vez foi Hongjoong, passando com o cabelo molhado e uma toalha enrolada na cintura.
Hobi juntou as sobrancelhas de novo.
— De que raios você ‘tá falando?
Hongjoong apenas riu e foi para o armário logo ao lado. Hoseok esperou uma resposta, mas nada veio. Apenas as demais risadinhas e os olhares que o espionavam de canto.
— Tá legal, que porra é essa? — ele jogou a mochila e o taco no banco largo — Gosto de elogios, mas gosto muito mais de contexto. Qual é o problema de vocês hoje? Tem a ver com o diretor Choi? Ele vai nos premiar na próxima partida de inverno por causa daquele último gol nas partidas preliminares?
Pfff — Juyeon zombou, motivando todo o time a cair na gargalhada. Hoseok pareceu ficar ainda mais nervoso — Ele não sabe de nada, fala sério! Cadê seu celular, gênio?
— ‘Tá no meu armário, por… — uma luz se acendeu em sua cabeça. Hoseok jamais treinava com seu celular por perto, mesmo que isso acarretasse grandes reclamações de seu pai. Ainda assim, não fazia mal nenhum ter cautela; ele não era a pessoa menos desastrada do mundo.
Mas naquele instante, encarando os olhares furtivos em volta, ele notou que algo estava errado. Em um jato, andou até a portinhola de número 27 e a destrancou, puxando de lá o telefone e fitou as notificações chegando como loucas.
Ele parou de contar o número de mensagens não lidas a partir do 1136, e uma palidez seguida de uma vermelhidão de raiva tomou conta de seu rosto. A informação havia partido de um único post anônimo, e a viralização da internet tinha feito o resto. Estava lá, com todas as letras:
“Parece que Jung Hoseok não perdeu tempo e já foi garantir a sua caloura — e da forma mais direta possível. De acordo com fontes confiáveis, o alojamento feminino recebeu a visita do jogador número 10 na calada da noite essa madrugada, e os gritos ouvidos do quarto da Lee eram capazes de acordar o prédio inteiro. Achei que ela só se interessava por gramática, mas agora vemos que o Hóquei também é uma paixão da mais ardente. Será que temos um novo casal na Universidade de Seul?”
Hoseok leu e releu o post várias vezes, procurando uma pista da identidade original de seu criador, mas nada veio. Ele sentiu os dentes trincarem, ao passo que os amigos agora riam com vontade, sem meios termos.
— Aí, Hobi! Sério, você e a é uma surpresa e tanto, o maior plot twist que já existiu, meus parabéns! Palmas pro nosso vice-capitão! — Juyeon gritou mais uma vez, puxando as palmas junto com os demais.
Hoseok respirou fundo, esquecendo-se de qualquer pesquisa acadêmica que precisava se apressar em fazer e sentindo nada além de confusão e raiva.
— Calem a boca! Vocês são malucos? — gritou por cima das vozes — Quem fabricou essa merda? Eu nunca fiquei com a .
— Ah, corta essa, Hobi! — Hongjoong disse, agora vestindo bermudas cáqui — Ela mesma confirmou a história pra quem quis escutar. Minah disse que ela até queria dar detalhes demais — ele riu alto. Alguns outros o acompanharam.
— Como é que é? — Hoseok estreitou os olhos — A é louca, mas ela não faria…
— O que tem a ? — a voz séria veio da entrada, calando as demais falas imediatamente quando o capitão finalmente entrou.
Min Yoongi era uma presença marcante. Algo que exigia cautela e espaços amplos e abertos, pois seu olhar era bem mais gelado do que a pista de hóquei e a aura podia ser sufocante. Pelo menos para os outros, que resgatavam toda e qualquer disciplina que haviam deixado em casa para não desrespeitarem o capitão.
Bem, era assim para o resto do mundo, não para Jung Hoseok.
— O que tá acontecendo pra vocês estarem de papo furado aqui dentro? Esqueceram que também são estudantes? — continuou Yoongi, sem encará-los, enquanto andava devagar até seu armário ao lado de Hobi — Se a nota de vocês for tão lamentável quanto seus passes, vão perder a bolsa ou seu lugar no time, e é assim que querem dar orgulho pra Universidade? Sendo expulsos? — ele abriu a porta num tranco. O silêncio era tão pesado quanto um segredo — E de que raios estavam falando sobre a ?
Ele virou-se para Hoseok. Hongjoong sussurrou algo para Juyeon, que deu uma risadinha nervosa, o que fez o camisa 10 sentir ainda mais raiva.
— Sua vizinha é uma maluca — Hobi respondeu, com os dentes cerrados — Mas vou tirar essa história a limpo agora mesmo — ele pressionou o telefone no peito de Yoongi, que o encarou sem entender, e saiu do vestiário, ainda vestido com o uniforme do treino. As risadas o acompanharam até que sumisse pelo corredor.
Yoongi observou a maneira como Hoseok pressionou os lábios e não riu nenhuma vez nos poucos minutos em que estava presente. O capitão bufou e então olhou o celular, arregalando os olhos em surpresa nítida.
Enquanto isso, os pés de Hoseok o levavam por conta própria até o departamento de Artes, desviando de todos os olhares em cima dele e, então, curvando na sala do clube de xadrez, onde reconheceu os cabelos negros e as pernas cruzadas da garota embaixo da mesa, que encarava o tabuleiro com uma concentração inquebrável.
A não ser por ele. Hoseok não era muito bom em observar sem ser observado.
— Lee ! — ele gritou, pegando-a em flagrante. Todas as outras três pessoas ao redor da mesa deram um pulo de susto, mas a garota apenas suspirou e virou o rosto devagar — Temos que conversar.
apontou para as peças conquistadas e enfileiradas logo abaixo do queixo.
— Acho que agora não posso te dar atenção — ela se voltou para seu próximo movimento, desviando os olhos do garoto. Hoseok fechou um dos punhos, olhando para a janela quebrada na direção do estacionamento e tentando não gritar.
— Ah, você pode sim. Pode com certeza — ele colocou as mãos no encosto da cadeira de rodinhas, puxando-a ferozmente para trás como um movimento de um carro fazendo um cavalo de pau. foi afastada da mesa, com os olhos arregalados — Lá fora. Em um minuto. Não. Meio minuto. Agora. A expressão dela endureceu. Hoseok fez uma reverência teatral para os demais e saiu da sala, cruzando os braços até se preparar para virar de novo e puxar a garota se ela não colaborasse, mas acabava de sair, com um olhar que demonstrava surpresa, mesmo que ela já presumisse o assunto.
— O que você quer? Tá maluco?
Hoseok puxou a porta atrás dela para fechar, vendo que mantê-la aberta era uma estratégia para que ela fugisse para dentro a hora que bem entendesse.
— Você é a única maluca aqui! Que raio de postagem foi aquela?
Ela piscou os olhos.
— Hein?
!
— Ah! Fala do anônimo?
— É! Eu falo do anônimo! Não faz essa cara de desentendida que não combina com você.
— Não estou fazendo nada, eu sei do post, mas não sei porque você veio aqui…
— Ah, corta essa, ! Que história é essa que você confirmou essa história toda? Pirou?! — ele bufou, olhando para os lados para não chamar atenção.
Agora colocava a mão na testa, se desfazendo de toda expressão confusa que ainda poderia estar fingindo fazer.
— Então te contaram essa parte… — sua voz saiu baixa, como quem se desculpava, e seu sorrisinho amarelo só a entregaram ainda mais.
— E não deveriam?! O que te deu na cabeça pra dizer uma coisa dessas? Esse post foi ideia sua?
— Mais ou menos…
— Quê?! — ele arfou, dando um passo pra trás.
— Espera, fala baixo… — ela sussurrou furiosamente, puxando-o para outro canto, longe da porta — Eu vou explicar…
— Ah, mas é claro que você vai explicar! Todo mundo tá pensando que a gente transou, ! Tem noção da bagunça que você arrumou?!
— Eu precisei fazer isso, era o único jeito — ela guinchou, gesticulando com as mãos em um estado urgente — Preciso que o Yoongi acredite que a gente dormiu junto pra ele finalmente se tocar e me chamar pra sair, entendeu? Ele já sabe, não é?
Hoseok parou e respirou fundo. Como ele não suspeitou que toda aquela bagunça de — mais uma, entre tantas — era pra chamar a atenção de Yoongi, como sempre foi? As pessoas de fora a achavam cativante demais para não acreditarem, era óbvio. era, na verdade, calculista.
— Claro… Você e Yoongi — ele bufou, ainda com raiva, mas cansado demais para gritar — Sério, garota, passei anos te vendo nessa estupidez de tentar conquistar alguma coisa a mais do que amizade com meu capitão, e só não vivo dizendo pra ele te dar um chega pra lá definitivo porque ele respeita muito essa coisa de infância que vocês tem, mas me envolver nisso já é demais! Você enlouqueceu de vez! — grunhiu, se aproximando dela para não vociferar — Qual sua meta dessa vez? Conseguir tomar um sorvete com ele? Uma foto? Um pedido de namoro? Vê se acorda…
— A minha castidade, idiota! — ela o interrompeu, aumentando o tom mais do que gostaria. Sua cabeça girou para todos os lados e ela se encolheu, assim como sua voz — Eu quero que Yoongi seja meu primeiro. E sim, usei você pra isso, mas é temporário, eu juro, é só pra que ele preste mais atenção e perceba de uma vez por todas que estou aqui e me chame pra sair, você entende…
Hoseok abriu um sorriso de escárnio, que foi seguido por uma gargalhada explosiva. estreitou os olhos, vendo a risada irônica se tornar seca e um tanto chocada.
— Qual é, , diz que tá brincando… — ele riu mais uma vez. Ela não respondeu — … — o sorriso dele diminuiu. A expressão raivosa retornou em um segundo — Você é maluca?! Isso é coisa que se diga?!
— Eu não ligo! O que? Isso é porque eu sou uma garota? Acha que eu não tenho hormônios?
Hoseok trincou o maxilar ainda mais do que antes.
— Eu tô pouco me lixando pra você e pro seu fogo de garota virgem, mas pensar que é genial fazer Yoongi querer transar com você dizendo que transou comigo é patético! Isso nunca vai dar certo!
— Isso vai incomodá-lo, tenho certeza, e isso sim é genial. Ele só vai abrir o coração pra mim se os sentimentos dele o atormentarem a esse ponto.
— Ah, é claro que vai, tenho certeza! Mas pra isso as pessoas precisam me relacionar com você? Fala sério… — ele passou a mão pelo rosto, bufando de nervosismo.
— Hoseok, eu já disse que é temporário! Yoongi precisa acreditar que é real pra que isso mexa com ele, você consegue entender? Só não fala nada, por favor… — gemeu, juntando as mãos em um olhar pedinte. Hobi soltou uma risada irônica, mas a raiva a fez sumir no mesmo minuto.
Você… Meu deus! — ele bufou — Fica longe de mim, beleza? E eu falo sério! — Começando a se afastar, ele a encarou pela última vez: — Maluca!

x

Lee não conseguia se lembrar de em algum momento não ser apaixonada por Min Yoongi.
Talvez tudo tenha começado quando ele a salvou de um trinco enferrujado na pré-escola do bairro, que a deixou presa dentro da sala de desenho. Naquela época, ninguém se interessava muito em falar com o garoto novato vindo de Busan. A determinação em forçar a porta da sala com o joelho ficou marcada para sempre na cabeça da garota, que passou a vê-lo com extremo carinho — e, posteriormente, com mais do que isso.
Antes do ensino médio, todos esses sentimentos já estavam escancarados, e o sonho de ser a Namorada já havia sido anunciado e solicitado por tantas vezes que não se podia contar. Era algo já muito conhecido na vizinhança, na antiga escola e, agora, também na UNS.
Todos sabiam que Lee era louca por Min Yoongi, e que ele provavelmente só era apaixonado pelo hóquei e a engenharia. Arrombar aquele coração não parecia um plano de sucesso, mesmo que a garota sempre fizesse questão de mostrar sua insistência inabalável.
Na noite antes do ocorrido, ela entrava com sua amiga e colega de quarto, Kim Jiyeon, no dormitório compartilhado e se jogava na cama encostada à parede, inclinando a cabeça para o teto, onde os apetrechos infantis de estrelas e constelações cintilavam minimamente pela luz baixa. Tinha sido mais um dia difícil, onde tetos altos e vigas expostas tinham sido a única visão do dia enquanto ela tentava reproduzir o desenho da paisagem natural do telhado de um casebre no norte da cidade. Saber que era uma ideia péssima não impediu que Jiyeon quisesse ir, e a nota daquele trabalho precisaria ser muito boa para que não a odiasse por tempo indeterminado.
Claro, além de tudo isso, existia o fato de Min Yoongi não ter se comunicado com ela.
O canto de parecia o laboratório de uma sonhadora. Toda a parede ao lado da cama se estendia diante dela com pôsteres de bandas de rock dos anos 80, intercalada com estrelas pop clássicas como Madonna e Britney, alguns filmes trash e, claro, fotos de Yoongi. Algumas poucas que tinham juntos — por insistência da família, que se reunia vez ou outra para assar carne — e a maioria massiva dele sozinho, geralmente com o uniforme dos Victors ou estudando esporadicamente na biblioteca.
tinha um apego por coisas antigas, inclusive quando se tratava de seus próprios sentimentos.
— As portas desse armário vão empenar se não se livrar de algumas coisas — disse Jiyeon enquanto tirava os sapatos. Dentro do dito móvel, existiam dezenas de telas em branco e casacos emprestados de Yoongi que nunca mais voltavam ao dono.
A garota deu de ombros, olhando para a primeira foto do capitão que cruzou seus olhos.
— Depois posso substituí-las — respondeu enquanto puxava uma almofada.
Jiyeon notou a voz aérea e os olhos distantes da amiga, sempre encarando um único ponto da parede.
— Vai, é? — ela soltou uma risada seca — Vai pedir ao Yoongi de novo?
— Eu poderia pedir — se sentou, rapidamente ansiosa — Seria um bom motivo para vê-lo. Ainda posso pedir ajuda na confecção daqueles mapas da aula de História da Arte, e quem sabe acrescentar as montanhas de Jeju, do País de Gales, da…
— Ah meu deus, você está fazendo de novo — Jiyeon revirou os olhos, sentando-se em sua escrivaninha do outro lado — Sonhando acordada feito uma maluca, mas dessa vez vou ser obrigada a dizer: parte pra outra! Não é cansativo ficar esperando uma ligação ou mensagem que nunca vai chegar?
— É claro que vai chegar — guinchou , puxando o caderno grosso e cheio de colagens da gaveta da mesinha de cabeceira, fazendo linhas de caneta marca-texto formarem arcos ao redor das atividades feitas no dia — Ele só precisa de um empurrãozinho, sempre foi desse jeito. Yoongi vai perceber que gosta de mim e, no fim, vamos ficar juntos.
— Claro, o mundo é sempre cor-de-rosa pra você, mesmo que ele tenha dito inúmeras vezes que te vê como uma irmã mais nova — resmungou Jiyeon.
— Ele ainda não percebeu os verdadeiros sentimentos, Jiyeon. Essas coisas levam tempo, e é exatamente por isso que vai valer ainda mais a pena no final — respondeu com confiança, pegando o celular e discando os números que já ficavam disponíveis na lista de contatos importantes. Ela aguardou a linha se completar com expectativa, e quando a voz de Yoongi surgiu do outro lado, baixa e rouca como sempre, a garota se colocou de pé.
— Boa noite, Yoon! Já jantou? — perguntou ela, com a voz ensaiadamente angelical. Seus pés saltitavam pelo chão, feliz apenas por ouvir sua voz.
— Já jantei. O que aconteceu, ? — a voz dele mostrava pressa, mas ela estava eufórica demais para notar — Acabei de voltar do treino, e preciso…
— Eu sei, eu sei que você precisa estudar, mas oppa… Acontece que eu ainda não jantei, e pensei se nós dois podíamos…
— Pode pedir uma porção de jjangmyeon no restaurante do Tim, eu pago amanhã. Agora eu realmente preciso…
— Yoongi! — ela trincou os dentes, e ignorou a risadinha abafada de Jiyeon — Quer dizer, eu… o telescópio! Se lembra? Você tinha prometido, pro meu trabalho! As constelações do céu ocidental…
— Ah, claro, isso — ele estalou a língua — Me desculpa, , fiquei preso o dia todo com pilhas de dispositivos eletrônicos e atividade magnética, então me esqueci completamente do passe pro observatório. Vou me certificar de deixar a chave com sua orientadora e você pode ir lá quando puder, agora…
— Espera! Você ia comigo, não ia? Oppa… — ela gemeu, tentando pensar depressa em uma solução — Eu… E-eu não sei chegar lá sozinha, e também preciso de ajuda com o meu estojo, e o equipamento…
— Sua colega de quarto pode te ajudar com isso, tenho certeza. Você vai conseguir, lembra que prometeu à sua mãe que iria melhorar suas notas esse semestre. Agora preciso ir, Hobi está me esperando lá dentro, até mais.
— Yoon… — ela tentou, mas ele já havia desligado. O telefone foi bloqueado com raiva. Ela havia perdido, de novo. E desta vez nem culpava o desinteresse de Yoongi. O fato era que sempre era vencida por outra coisa (ou outra pessoa).
A risada de Jiyeon surgiu por entre os livros da escrivaninha, sem qualquer tentativa de disfarce.
— Deixa eu adivinhar — começou ela — Ele foi com o Hoseok.
não respondeu, sentando-se pesadamente na cama, a cara fechada e raivosa. Poucas coisas na vida ganhavam espaço na lista de desamores da garota; uma delas era o outono, cavernas, tomates e, por fim, Jung Hoseok. Este último em especial era demonstrado de forma bastante explícita.
O melhor amigo de Yoongi era diferente dele em basicamente tudo. Animado, extrovertido e rodeado de amigos. Ria de tudo e todas as coisas, e era um excelente centro na pista de patinação, marcando tão ou mais gols que o capitão, Min Yoongi, merecendo a posição de vice ou capitão alternativo. Yoongi era como um intelectual com pilhas arrumadas de livros que impressionavam, enquanto Jung Hoseok mantinha suas pilhas espalhadas, como um estudante obsessivo. Muitos deles nem eram em coreano ou inglês — estavam mais para línguas nórdicas e latim, demonstrando os interesses peculiares do garoto, mas tornando-o um dos melhores estudantes do departamento de línguas.
Mas nenhum idioma seria capaz de traduzir o quanto odiava o fato de ser deixada para escanteio por aquele cara.
— É claro, quem mais seria? — ela finalmente respondeu à Jiyeon, com a voz torcida de desgosto.
A amiga riu, balançando a cabeça pela repetição da mesma situação.
— Acho que existe uma chance remota do Yoongi te notar se posar de biquíni para a Sports Illustrated. O seu perfil no instagram tem bastante curtidas — ela lhe lançou uma piscadinha, dando risada mais uma vez.
sentiu a angústia de sempre, batendo os dedos no queixo. A piada de Jiyeon chegou tarde aos seus ouvidos, e sua cabeça virou rapidamente na direção da colega de quarto, que diminuiu o sorriso ao ver a fisionomia estática da amiga.
— É brincadeira, aish!
— Não, não é — andou até a garota, sentando-se ao seu lado e pegando em seus ombros — Acho que essa é uma ideia brilhante.
Jiyeon soltou uma risada engasgada.
— Você é louca? A revista fica nos Estados Unidos…
— Não, não! Desejo, é isso! — interrompeu, gesticulando com as mãos — Se eu não consigo trazer Yoongi pelos métodos convencionais, posso fazer ele vir até mim! Impulsioná-lo a agir, você entende? A inveja transformada em desejo, ou vice-versa.
Jiyeon encarou o rosto brilhante da garota, que abria um sorriso vitorioso, como quem acabava de descobrir uma fortuna de milhões de wons.
— Do que você ‘tá falando, ? — ela suspirou, largando a caneta na escrivaninha e virando-se de frente para a amiga — Pirou de vez?
— Pelo contrário, Jiyeon. Vou cavar o interior do Yoongi de uma forma totalmente nova, mas muito eficiente: provocação. O lado de fora vai finalmente mostrar o que ele sente por dentro, tenho certeza.
Jiyeon riu, desacreditada. Era mais divertido ouvir os planos de do que estudar estruturas antigas.
— Tudo bem então, srta. Lee. Uma pequena voz na minha cabeça diz que a única coisa existente no interior de Min Yoongi é plasma sanguíneo, e que é assim desde o nascimento — ela ergueu as sobrancelhas — Então, como seria esse plano brilhante da busca do Santo Graal?
— Simples: vou deixá-lo acreditar que alguém chegou na frente — deu de ombros, constatando uma questão óbvia — Yoongi é do jeito que é porque desde pequeno não me viu com mais ninguém, então pode parecer estranho deixar esses sentimentos virem à tona por livre e espontânea vontade, mas eu posso arrancá-los de outra maneira. Posso deixá-lo pensar que o coloquei no banco de reserva e decidi seguir em frente sem ele. Transformar a indiferença em ciúmes e, então, desejo.
— Seguir em frente…? — Jiyeon foi sugestiva.
— Isso mesmo. Sexo.
— Tá maluca, ? Vai transar com alguém só pra causar ciúmes no Yoongi?
— Quê? Eca, não! — fez uma careta, balançando as mãos em negação — A questão não é fazer, é deixá-lo pensar que eu fiz. Isso vai mudar tudo, vai finalmente fazer os hormônios dele ferverem e aí sabemos como termina.
Jiyeon riu em choque, achando tudo aquilo mais do que absurdo.
— Ah, tudo bem! E por acaso quem seria essa parte B do plano? Um calouro? Alguém com sotaque de Busan e que guarda moedas numa caixa de cereal embaixo da cama como o próprio Yoongi? E se for um usurpador…
— Ei, ei, calma. Essa é a outra parte divertida: não vai ser ninguém desconhecido. Yoongi precisa conhecê-lo. Ou melhor: precisa gostar dele.
— Não me diga que…
Jiyeon levou as mãos ao peito, observando o olhar lascivo da amiga, entendendo a proposta com choque perceptível.
— Lee
— Me dá seu computador! — ela puxou o aparelho e começou a digitar.

x

A temporada de hóquei no gelo teve um começo memorável.
A arena Hangang da Universidade de Seul exibia uma constante superlotação durante o campeonato, e parecia haver mais cartazes do que pessoas nas arquibancadas. A primeira partida foi contra o time da KAIST, de Daejeon, que felizmente não teve nenhuma chance de vitória contra os Victors de Seul, garantindo mais um passo em direção ao campeonato nacional.
O fim da disputa foi comemorado com gritos de comemoração e o ritual dos Victors: levantar o membro do time que havia feito o gol da vitória. Daquela vez, é claro, Hoseok sentiu os braços dos companheiros passarem por trás de suas coxas e o levantarem automaticamente para cima, onde ergueu o taco da sorte, jogando o capacete na pista de patinação e gritando para a plateia ensandecida.
Ao descer, ele recebeu o abraço grupal e outro especialmente de Yoongi, que gritou palavras incompreensíveis com um grande sorriso no rosto, que Hoseok sabia serem de felicitações e orgulho do capitão.
De longe, assistia à cena com felicidade eufórica, sentindo o sorriso de Yoongi até no fundo de seus ossos. Ele ficava lindo quando sorria, e ainda mais quando sorria depois de uma vitória. Ela quase se esqueceu do verdadeiro propósito de estar ali.
— Deus do céu, o Hoseok foi demais! — gritou Jiyeon por cima dos gritos. fez uma careta — Ah, qual é, você precisa reconhecer algumas coisas! Não vai colocar seu plano em ação? Eles estão quase indo.
— É mesmo! — ela deu um tapa na testa e puxou o objeto de seus pés, estalando a língua — Min Yoongi, o que eu não faço por você…
E então, ela ergueu o cartaz acima da cabeça e gritou:
— UHUL, VAI HOBI! Hobi é o melhor! Hobi é o melhor! Hobi é o melhor!
Parecia uma cena saída de uma sitcom, tão imaginária quanto.
Os gritos isolados de não eram o suficiente para causarem uma comoção na plateia, mas com a ajuda de Jiyeon, em pouco tempo as demais pessoas pareceram seguir o fluxo e causar a comoção que atingiu a arena inteira: “Hobi é o melhor!”.
Ao ouvir a ovação, Hoseok abriu ainda mais o sorriso. Vencer o deixava animado, de bom humor, o verdadeiro júbilo pleno. Ele seguiu as vozes e os gritos por toda a extensão da audiência, quando de repente — e ele não faz ideia de como escutou isso — uma voz parecia se sobressair em berros diferentes dos outros, e ele viu o cartaz balançando com o seu nome, rosa chock com letras verdes fluorescentes brilhantes.
O sorriso desapareceu na hora. Ele paralisou no meio dos abraços.
Lee pulava com alegria por cima de sua cadeira de plástico, lançando seus gritos diretos até ele: “Parabéns, Hobi, meu amor! Você merece!”. Quando viu que ele a olhava, ela ainda teve a audácia de mandar beijinhos debochados, mas que foram vistos de outra forma pelos outros jogadores.
Estes, para o terror de Hoseok, viram a garota e todo o seu esforço para chamar sua atenção.
— Ih, olha lá! É a namorada do Hobi — gritou Hongjoong, dando tapinhas animados no ombro do amigo.
— Quem diria que Lee estaria gritando pelo Jung e não pelo nosso capitão — Juyeon riu, acenando para a plateia mais uma vez.
Hoseok não conseguiu responder. Ele encarava a garota saltitante com tanta raiva que todo o clima de comemoração havia se dissipado. Em algum momento, ele virou o rosto para o lado, direto para Yoongi, que olhava de um a outro com uma expressão confusa, incômoda. Não era o tipo de coisa que ele fazia sempre.
A verdade era que Lee erguia cartazes com apenas um nome, e este ano houve essa mudança brusca de Yoongi para Hoseok. Yoongi não sabia expressar o quanto se sentia estranho.
O time não demorou a começar a sair da pista, o que foi um alívio para Hoseok, que se controlou para não estender o dedo do meio para a mais nova e mandá-la parar com aquele show ridículo, que já estava espalhado o suficiente pela Universidade. Nos últimos três dias, era apenas aquilo que ele escutava nos corredores, na sala de aula e até mesmo na biblioteca: Jung Hoseok e Lee dormiram juntos! O novo casal da SNU!
Mesmo que esse casal não existisse e jamais existiria. As pessoas nem ao menos os viam juntos.
Ainda assim, a notícia continuava a correr. Era o simples prazer de ver o circo pegar fogo.
No vestiário masculino, a imagem habitual de nudez masculina carregava agora o clima de triunfo. Mesmo que estivesse recheada com outra coisa: as felicitações e perguntas direcionadas a Hoseok, que envolviam a cama de e posições que ele nunca nem tinha ouvido falar. Negar não estava mais adiantando. Ele decidiu apenas revirar os olhos e seguir para o chuveiro.
Yoongi estava parado na frente do armário, encarando Hobi com apreensão. Era daquele jeito que andava olhando o amigo ultimamente; cauteloso, desconfiado, como se esperasse a verdade da história.
Mesmo que Hoseok tenha explicado milhares de vezes que não era verdade. Mas não disse muito mais. Não era uma questão de apoiar a mentira da garota; é que a motivação de era tão ridícula que ele não conseguia nem pronunciar.
Quando entrou no compartimento do chuveiro, sentiu o relaxamento instantâneo da privacidade, mesmo que temporária. A água gelada fez todos os seus músculos descansarem, e ele não ouviu mais nada. As demais vozes ficaram perdidas do lado de fora.
Inclusive uma certa voz familiar que cruzava o corredor naquele momento.
A própria abriu facilmente a porta do vestiário antigo, encontrando os membros do time de costas para ela, conversando entre si usando toalhas amarradas nas cinturas, ou simplesmente tirando e colocando as roupas. Seu corpo ficou petrificado logo na entrada, o cheiro de sabonete e suor invadindo suas narinas, junto com a imagem dos ABS em perfeito estado, tão pertos e molhados como ela só tinha visto na ponta de uma caneta.
Um calor volumoso tomou conta de seu corpo, os terríveis hormônios fazendo um escarcéu em sua barriga, fantasias e fantasias que ela guardava no fundo da mente se esvoaçando em sua imaginação.
Deus do céu, garotos eram a melhor coisa do mundo.
Não demorou muito para alguém finalmente notar e se assustar com a presença feminina nada ocasional. Juyeon, que saía de uma das cabines do chuveiro na outra sala, soltou um grito de terror com a aparição, fazendo finalmente todos os outros virarem e arregalarem os olhos.
— Porra, Lee ! — alguém resmungou, levando as mãos ao peito nu.
— O que essa doida 'tá fazendo aqui? — reclamou outro.
— Olá, garotos — ela acenou com os dedos, sem parar de sorrir — Vejo que nosso time é formado por belos homens jovens! Isso daria uma bela pintura… — suspirou — Go Victors!
— É fã dos Victors ou fã de um certo jogador? Já se decidiu? — Hongjoong zombou, um dos únicos que ainda estava de uniforme.
A garota deu um sorriso amarelo, notando que, na verdade, eles não falavam de Yoongi.
— Claro, você é tão observador, Kim Hongjoong — disse ela, esticando os olhos para uma varredura no ambiente em busca de seu vizinho.
O garoto não respondeu, então abriu caminho entre os corpos semi-nus para caminhar até as cabines do chuveiro com confiança. Porém, antes que pudesse chegar, sua cabeça chocou-se com o peito molhado do banho recente de Hoseok quando ele saiu pela porta ao lado.
O vice-capitão emitiu uma série de ruídos que começavam todos com caracteres que formariam belos palavrões. Quando endireitou a postura e encarou o motivo de sua parada brusca, ele arregalou os olhos e não pôde deixar de soltar uma risada chocada.
— Não brinca…
— E finalmente variou o cardápio! Que bela visita! — Juyeon soltou alto, causando risadas fortes e agudas nos outros.
Hoseok encarou os outros com raiva, enquanto manteve a postura e jogou o cabelo para trás, atuando da melhor forma como se estivesse empolgada por ver o número 10.
— Senti tanta saudade, Hobi… — começou ela.
— O que você ‘tá fazendo aqui, sua maluca? — ele trincou os dentes, falando furiosamente em voz baixa. Quando percebeu não só do seu estado inapropriado, mas como de todo o vestiário, ele deu um passo para trás — E como você… Meu deus…
— Ah, não precisa ficar assim, bobinho. Não é como se eu já não tivesse visto — ela deu de ombros.
Mais zombarias e ovação vieram do público. encostou o quadril no armário da parede ao lado, encarando-o de cima a baixo em uma atitude sedutora. O rosto de Hoseok de repente ficou vermelho; de raiva ou constrangimento, ele não sabia. Só queria que ela parasse de olhá-lo daquele jeito.
— Calem a boca — ele grunhiu para os outros, que riram ainda mais. Ele tomou uma mão dela na sua, puxando-a para a mesma sala de chuveiros da onde havia saído, causando ainda mais vaias e uma frase solta animada “vamos deixá-los a sós, vamos!”.
Por trás da porta, ele a soltou rapidamente e bufou irritado.
— Nossa, que isso! Precisava me trazer aqui? — ela resmungou, passando as mãos no vestido como se estivesse se livrando dos resquícios do toque dele.
— Era melhor do que sair assim lá pra fora. E isso não importa! O que você ‘tá fazendo aqui, sua dissimulada? — o rapaz se aproximou, cerrando os dentes — ‘Tá vendo o resultado da merda que você construiu com a sua história? Agora existem réplicas de torcedores de uma coisa que não existe! Fala sério, .
— Você não entende, isso tudo faz parte do plano…
— Eu já disse que não ligo pra esse plano maluco. E já ‘tô cansado de tentar explicar que toda essa história é loucura e que você inventou tudo isso, mas eles parecem não acreditar em mim, e nunca vão se você continuar fazendo o que fez no jogo de hoje.
— Yoongi viu? — ela perguntou rápido, ignorando todas as outras frases do garoto. — Ele disse alguma coisa? Fez alguma cara estranha? Demonstrou alguma coisa?
— Quê? — ele juntou as sobrancelhas em choque — De que isso importa, ? Ouviu o que eu disse? Desminta essa história de uma vez por todas e não me mete nesse seu fogo desenfreado.
Ele ergueu o braço para pegar em seu cotovelo, mas ela se desviou, raivosa.
— Fogo desenfreado? Me poupe, Hoseok! Não aja como se soubesse o que eu realmente quero.
Ele soltou uma risada engasgada.
— Tem razão, não sei e nem quero. A única coisa que sei é que você espalha coisas que não sabe, sua doida.
— Tenho 19 anos, sei tudo que preciso saber — ela deu um passo à frente, colocando o dedo no peito nu do garoto.
— Sabe tudo? ‘Tá, sei… — ele riu, ficando ainda mais zangado — Se está tão desesperada para perder a virgindade, não deve nunca ter recebido um beijo decente na vida.
Ela abriu a boca para responder, nervosa, quando um som do lado de fora da porta surgiu alto para o lado de dentro.
— Hongjoong? Hobi, tá aí? — a sombra se aproximou da vidraça da porta. A voz era conhecida até pelas células de .
— É ele… — ela disse, de repente paralisada. A constatação da onde estava e com quem estava (e de como esse quem estava — nu, com uma toalha amarrada na cintura e os cabelos molhados de pós banho) a atingiram como uma bomba. Yoongi estava se aproximando, e ela não soube o que fazer.
— Podemos resolver isso agora, ótimo — Hoseok se preparou para se virar e gritar a localização para o amigo, mas não foi capaz de fazer isso.
se orgulhava de ser esperta e ter a habilidade útil de pensar rápido em situações de estresse. Se sentiu o pânico inicial por estar ali com Hoseok, de repente esse mesmo desespero se transformou em oportunidade. Com um movimento, ela puxou o rosto do garoto para o seu e o beijou com intensidade, de um jeito inusitado.
Hoseok não soube o que o atingiu. Inerte no começo, ele sentiu o corpo dela pressionado contra o seu e de repente não soube como agir. Os lábios da garota pediram entrada e ele instintivamente aceitou. Não era como se comandasse o próprio corpo, ele agia por sua conta e risco. puxou um de seus braços para passá-los pela cintura dela, e o resto foi simplesmente um branco da mente. Os outros movimentos possíveis foram aproximar ainda mais a garota de si e simplesmente se entregar àquela loucura que era a boca de ; uma coisa inimaginável, maluca, tão maluca quanto ela. Ele sentiu os próprios pés guiarem seus corpos para a parede, e os ombros dela baterem na mesma. O tempo todo, sua mente gritava com urgência: o que você está fazendo? Ei, idiota! O QUE VOCÊ ACHA QUE ESTÁ FAZENDO? VOCÊ ESTÁ BEIJANDO LEE HYEBIN! EI!!!”
A sirene cerebral foi cessada com um grito vindo da outra dimensão da realidade, personificada por uma voz muito bem conhecida pelos dois:
— Mas que porra tá acontecendo aqui?
Hoseok acordou, ofegante, olhando na direção do barulho. Yoongi estava parado na porta agora aberta, ainda com o uniforme dos Victors e uma toalha branca apoiada nos ombros.
O vice-capitão teve um estalo e se afastou de como se ela desse choque. Yoongi permaneceu estático, com uma expressão que misturava choque e raiva.
E foi por causa dessa expressão estranha que Hoseok de repente se sentiu culpado.
— Yoongi, eu não… — começou, desajeitado. Segurou a toalha na cintura com força, percebendo que ela estava prestes a cair. Os olhos do amigo eram duros, mais duros do que ele jamais havia visto.
, o que você tá fazendo na droga do vestiário masculino?! — o outro trincou os dentes, sem olhar para a garota. Continuava a encarar Hoseok com firmeza.
— Eu vim te v… Ver os meninos, quer dizer. Parabenizá-los pela vitória — ela deu uma risada engasgada, inocente.
— Aqui não é lugar pra você parabenizar ninguém — Yoongi disse seco — É melhor você sair daqui agora.
— Mas eu estava…
— Lee ! — ele disse duro, olhando-a pela primeira vez — Não faça ninguém ser punido por sua causa. Sai daqui agora e vem comigo. É sério.
Ele encarou Hoseok pela última vez e deu as costas. O vestiário estava vazio; os demais jogadores realmente tinham deixado-os a sós.
Hoseok ficou parado, sem saber o que fazer. Parecia que não era um participante real da situação, só um telespectador. As coisas passavam diante de seus olhos e apenas isso.
Em contrapartida, abriu um enorme sorriso, eufórica e totalmente satisfeita.
— Eu não disse? — ela se virou para Hoseok, totalmente alheia ao fato de terem se beijado de forma tão ardente há um minuto atrás — Agora ele acredita totalmente na gente. Mandou bem, vice-capitão! Aguenta só mais um pouquinho que vai dar tudo certo — começando a se afastar, ela virou-se novamente ao chegar no batente — Tchauzinho! — lançando um beijinho no ar, ela saiu saltitante para fora.
Hoseok encarou as costas da garota se afastando, incrédulo. Estava completamente chocado; com ela, com ele mesmo. Com Yoongi. A sensação daqueles olhos e expressão endurecidas piscavam em sua mente com uma única confirmação: droga, o plano dessa garota estava realmente dando certo? Yoongi estava com ciúmes?
A verdade verdadeira, de fato, era conhecida apenas por Yoongi — e ainda estava sendo moldada. Só ele sabia o quanto Hoseok e eram o motivo de sua insônia ultimamente. Os pensamentos de “e se” tomavam forma como paredes, e novas possibilidades eram sugeridas a cada noite, deixando-o ainda mais confuso com os próprios sentimentos.
Uma nova história a cada noite acordado. E uma nova certeza de que tudo aquilo o incomodava como a morte.

x

Yoongi parou ao lado de ao chegarem na porta do dormitório feminino.
A área em volta tinha cheiro de bolo e perfume doce, um aroma totalmente ausente na garota, que se aventurava por edificações antigas e tintas a óleo. Yoongi ajeitou a alça da bolsa pendida no ombro de e puxou os fones de ouvido que escapavam para fora de volta para dentro. Ela apreciou o gesto, e se controlou para não abraçá-lo em um salto.
— Você é sempre tão descuidada… — resmungou ele, apoiando uma das mãos na cintura e suspirando pesadamente — Olha só,
O rapaz parou, mexeu nos cabelos, trocou o peso das pernas e repetiu os gestos por mais duas vezes. Como sempre, ele parecia nervoso quando estava prestes a falar algo sério.
— Eu não quero parecer um babaca que acha que é algum herói americano pra dizer palavras moralistas aos quatro ventos, mas o que você acha que está fazendo? — Yoongi não sabia se queria perguntar aquilo. Ele tinha sentimentos conturbados demais dentro de si, que ficavam evidentes pelo cabelo desgrenhado — Quer dizer, você e o Hoseok, desde quando essa coisa começou? Vocês dois não aguentavam dividir a mesma mesa do almoço até a semana passada e agora descubro que dividiram até a… — ele não continuou, frustrado demais para repetir a palavra.
Os olhos de se estreitaram como se estivessem sob o sol de verão. Yoongi parecia se esforçar para manter a gentileza — ou a paciência — mas aquele aparentava ser um estado de perturbação mais elevado do que ela esperava.
— Bem, essas coisas acontecem — respondeu ela, mantendo o tom de voz simples. — Duas pessoas se conhecerem melhor, se identificarem e dividirem coisas. Não precisa ficar tão agitado.
Tudo em Yoongi sugeria antônimos de calmaria, principalmente pelo olhar firme que lançava à amiga e a insistência em franzir os lábios para não despejar tudo de uma vez.
o olhava fixamente. Cada detalhe do comportamento precisava ser guardado no fundo de sua memória.
— Você gosta dele? — a voz do rapaz era fraca. Mesmo assim, se intimidou com a pergunta; era algo totalmente inesperado ser questionada daquele jeito — Conhece as qualidades, os defeitos, os hobbys, qualquer coisa que tenha chamado sua atenção em 7 dias pra fazer o que fez com ele? O que te fez achar que ele era o cara certo pra isso?
— E por que te importa? — a garota cruzou os braços, tentando manter a expressão séria — Não foi você mesmo que disse que era como se vivêssemos na mesma casa e éramos como famílias que se reuniam pro café-da-manhã? Não sou como uma irmã?
— Você é. E por isso… — ele travou novamente. O primeiro e único pensamento que perduraria na mente de era que Min Yoongi estava apaixonado por ela; demonstrando sinais de nervosismo e deixando o sotaque de Busan vir à tona.
Ele geralmente tinha um poder latente sobre ela, mas agora a situação parecia tremendamente ao contrário.
Por fim, o rapaz desistiu e limpou a garganta, voltando ao sotaque escorregadio de Seul.
— Tudo bem, faça o que quiser. Eu vou nessa… — ele virou-se para ir, mas voltou novamente — Vocês não precisavam ter mentido pra mim.
Parecia ser desnecessário. Yoongi realmente exibia alguma mágoa, mas nem ele mesmo entendia porquê. Ele se despediu de com o olhar firme de quando chegou e caminhou de volta para o vestiário.
Vindo de Yoongi, o gesto era ao mesmo tempo profissional e encantador, algo como os executivos de sucesso usam para saírem de cena com classe, mas não importava o quanto ele tentasse se mostrar por cima: deixou que o sorriso enorme crescesse em seu rosto e a levasse para dentro do quarto com a única certeza que flutuava em seu peito: ele sentia. Min Yoongi era apaixonada por ela e estava morrendo de ciúmes. E não demoraria a ser seu.

x

Estava escuro demais para enxergar direito.
Quando Jiyeon saiu de seu lado e se perdeu nas luzes piscantes, estava preocupada em dar um mísero passo e tropeçar em garrafas de cerveja — ou até mesmo em pessoas. Ao ver a amiga voltando de novo, ela pôde sentir algum alívio, mas não por muito tempo.
, esse é o Jihoon — disse Jiyeon, em sua voz agradável e, no momento, mais animada por conta da bebida.
O contrário da voz do rapaz alto e de cabeça raspada, que parecia uma voz que relatava os danos causados por tornados e frentes frias. Não pareceu nada atraente à garota, que percebeu no ato o que a amiga estava tentando fazer.
— Muito prazer, Jihoon — ela lhe deu um aceno de cabeça e passou uma mão nos cotovelos de Jiyeon — Acho que preciso de mais bebida, pode me acompanhar?
— Mas eu não…
puxou a amiga até a mesa retangular de frente à cozinha abarrotada de universitários felizes e animados pela vitória dos Victors há dois dias. A ideia de aparecer ali parecia somente improvável para , mas muitas coisas haviam mudado para que abrisse mão de consumar seu plano de vez.
— O que você está fazendo? — perguntou entredentes para Jiyeon, que franziu o cenho.
— Estou tentando te apresentar um pretendente de verdade, não percebeu?
— Ele tem cara de alguém que vai narrar os efeitos colaterais de pílulas azuis pra mim — ergueu as sobrancelhas — Ou explicar os procedimentos de segurança dos aviões de carga, mas não importa: para já com isso — E então acrescentou: — Você sabe porque estou aqui.
Jiyeon demonstrou que sabia perfeitamente, e fez isso com uma careta de desgosto.
— Eu sei, e ainda não concordo. Você ‘tá perdendo tempo, tanto com Yoongi quanto com Hoseok. Por que acha que te apresentei ao Jihoon? Porque ele pediu. Quem pede para ser apresentado a uma pessoa que aparentemente está com outra? — ergueu as sobrancelhas pelo óbvio — Essa sua história com Hoseok não tem credibilidade nenhuma, — pontuou, levando uma das mãos ao ombro da outra — Ele vem desmentindo o lance do dormitório há um tempo, e fica difícil sustentar uma farsa quando não houve testemunhas. E a única pessoa que viu vocês se beijando foi o próprio Yoongi, que parece estar mais puto pela omissão do que pelo ato em si. Ele pode ter ficado chocado no começo, mas quando ver que nada disso é sério, vai começar a desencanar.
franziu os lábios e a encarou com consternação. Seu tom de voz saiu ligeiramente frio:
— Como você sabe bem, eu não costumo desistir, Jiyeon. E se a falta de fé das pessoas pode ser um potencial problema pro meu objetivo, posso resolver isso imediatamente.
Jiyeon pareceu chocada. Mais chocada do que divertida, que era como geralmente ficava ao presenciar a determinação de .
— O que você pretende faz…
— Atenção, SNU! Eles chegaram! — gritou um cara enérgico do meio da multidão, apontando para a entrada — A família Victors!
olhou para fora com entusiasmo, juntando-se à comemoração de todos os presentes na sala da enorme casa de algum estudante rico da SNU. Jiyeon observou tudo com o ar cansado de alguém que assiste a um velho programa de variedades.
Todos os garotos estavam excepcionalmente bonitos quando se juntaram à multidão. Não demorou para que a bebida fosse distribuída e a conversa aumentasse de volume. observou a primeira pista de que precisava: Yoongi estava longe de Hoseok, ambos conversando separadamente com outras pessoas. Um belo sorriso surgiu em seu rosto.
— E se ele te ignorar? — perguntou a amiga, ainda insistente na questão do plano. Obviamente, ela não estava vendo a mesma coisa que .
— Você não prestou atenção no que eu contei ontem, não é? Yoongi ficou louco. Dava pra ver isso na cara dele quando me deixou no dormitório. Ele ficou muito incomodado com o que viu, e não faria mal cutucar só mais um pouquinho pra que ele tome uma atitude.
— Você é a dona das atitudes por aqui — disse Jiyeon, dando um suspiro. — Melhor estar certa sobre ele. O que pretende fazer agora?
— Me observe.
caminhou graciosamente até o grupo de jogadores, que conversava animadamente com os integrantes da festa. Até mesmo Yoongi parecia contente, lembrando-a dos tempos de escola, mas era um estado feliz sem Hoseok. O sorriso dele parecia estranhamente ensaiado quando não estava com o melhor amigo.
Foi direto para ele que se aproximou. Afastando um cara de mais ou menos 1,90 da frente, ela se prostrou diante dele, que diminuiu o sorriso na hora e revirou os olhos pelo que estava por vir.
— Hobi! Você finalmente chegou! O que ainda está fazendo aqui? Vem dançar comigo — ela agarrou seu pulso delicadamente, e as risadinhas em volta foram instantâneas. Hoseok se afastou da garota num pulo, desta vez com certo desespero. Vê-la naquele momento o deixou um pouco desorientado; na verdade, ele estava desorientado desde que ela o havia beijado no vestiário. E isso definitivamente não podia acontecer.
— O que você quer, Lee ? — ele trincou os dentes, olhando para os lados e já reparando nos murmúrios dos amigos — Não vamos dançar…
— Qual é o problema? Não precisa ficar tão tímido, tenho certeza que você dança tão bem quanto joga.
— Eu não...
— Hobi, qual é! — disse Juyeon, dando um tapinha no ombro do amigo — Vai deixar sua namorada sozinha nesse ninho de jacarés? Ainda mais quando tá a maior gata… Com todo respeito, Lee — ele a encarou com aquele ar de interesse lascivo. quis revirar os olhos e tirar o sorriso amarelo do rosto. Lee Juyeon era conhecido como o maior galinha da SNU, e ela certamente não se interessava por esse tipo de coisa.
— Ela não é minha…
— Não precisa soar como um velho reclamão, Hobi. Até parece que não esperava me ver hoje — ela continuou, com confiança, conseguindo enfim puxar o garoto para a pista. Tinha bastante gente em volta que não o deixava se mexer à vontade, o que prejudicou sua fuga, e agora as risadas dos amigos se assemelhavam à zombaria. Se antes, Hoseok tinha conseguido deixá-los céticos quanto ao que tinha com , a garota vinha e conseguia desmantelar toda e qualquer história que ele pudesse ter contado. Era um talento que ela tinha: conseguir desfilar sua lógica — e sua verdade — em uma bela coleirinha, trajando uma capa xadrez vistosa, quando bem queria.
— Meu deus, ! — resmungou ele ao ter o corpo puxado contra o dela quando pararam no meio da pista. Olhando de relance para os lados, era possível ver que a atitude havia ganhado certa atenção, inclusive do capitão dos Victors, parado a um canto do local.
Seus olhos não se demoraram nele, mas, mesmo assim, fez com que Hoseok lembrasse da sensação que tivera quando ele os flagrou no vestiário; aquele olhar tenso, irado, como se pudesse matá-lo.
Era isso que queria? Pois bem, Hoseok tinha que admitir que ela estava conseguindo. Yoongi finalmente estava notando algo.
Com esforço, Hobi endireitou os ombros e finalmente encarou , que estava mais próxima do que ele se lembrava, o que não era nada bom para sua recente dificuldade em lidar com a lembrança daquele dia. Ela parecia levar tudo com facilidade extravagante; sorrindo descontraída, com os braços envolvendo o pescoço dele enquanto se mantinha perto sem qualquer resquício de desconforto. Como se nada tivesse acontecido.
— Sério, , entre todos os lugares possíveis… — ele coçou a garganta, engolindo em seco ao encarar os lábios vermelhos tão próximos dele, que esboçavam um sorriso jovial e festivo. A lembrança do beijo não saía de sua cabeça — Vou pedir de novo, pode não me envolver nessa palhaçada? O seu plano não deu em nada, então que tal contar pra ele, hein? Não quero mais…
— Claro que deu. Ele não está falando com você, não é? — ela interrompeu, erguendo uma sobrancelha — Ele parece chateado com tudo, e é exatamente isso que eu esperei. O ciúmes vai fazê-lo falar mais cedo ou mais tarde, você só precisa fechar o bico e atuar um pouco melhor.
não conseguia resistir ao mostrar resultados de seus planos. Hoseok quis responder, ou reclamar como andava fazendo nos últimos dias, mas parecia cansado demais para aquilo, ainda mais quando tinha que concordar com ela. Se Yoongi trocou três palavras com ele desde ontem era muito, e parecia irredutível a ter qualquer tipo de conversa. Magoado, era a palavra certa. E Hoseok se sentia cada vez mais perdido, e cada vez mais culpado por provavelmente estar pensando na garota que seu melhor amigo estava apaixonado.
Ele bem que tinha tentado não pensar naquele beijo, mas vez ou outra a maldita lembrança conseguia aparecer. Será que ele era a pessoa que nunca tinha recebido um beijo decente na vida?
Então perguntou:
— Ok, o que você tem em mente? Pra terminar isso de vez — pediu, com urgência. Tudo que precisava era que aquela história chegasse ao fim e que Lee ficasse bem longe dele de novo, pra que todos aqueles pensamentos malucos relacionados à ela não passassem de um delírio coletivo.
apertou os lábios, satisfeita com a rendição do garoto, mesmo que a resistência dele ainda estivesse muito bem erguida. A abordagem do beijo fora a única coisa que o fizera largar todas as armas e se entregar por completo ao plano. E se…
— Vai me ajudar hoje? De verdade? — ela perguntou em meio à música. Hoseok revirou os olhos.
Depende. O que você…
E então, ela o beijou de novo.
Sem qualquer cerimônia, a mente de Hoseok decidiu apagar mais uma vez e enviar comandos ao corpo sem seu consentimento. Sua pele formigou e, se era possível, os lábios de pareciam ainda mais macios e viciantes do que antes. Ele se esqueceu subitamente da onde estava. Sua mão foi de encontro à nuca dela, e seus corpos se colaram de tal forma que ele sentiu calor.
De repente, acabou. Ela se afastou e ele ainda levou um tempo para abrir os olhos, totalmente desnorteado.
— Acho que agora as pessoas acreditam um pouco mais.
O sorriso no rosto de poderia iluminar uma mina de carvão. Hoseok não sabia nada sobre sorrisos bonitos até conhecer , mesmo que toda a compostura patética de garota apaixonada que exibia para Yoongi tirasse esse encanto da mente dele. Na verdade, no fundo de seu coração, ele sempre a achou bonita, mas era totalmente impossível gostar de uma pessoa que já estava apaixonada por outra.
Mas que droga, o que ela tinha feito com ele?
— O q-que… — ele tentou dizer, e odiava como todas as palavras fugiam de sua mente — Por que você continua fazendo isso?! Será que dá pra…
Ele parou ao olhar de relance para o canto, observando algo que nunca viu.
Descrever como Yoongi estava era difícil demais. Nenhum idioma que Hoseok estudava tinha palavras para aquilo. O capitão estava estático como um nobre, a postura reta e autoritária, com um olhar tão duro e enfurecido que ninguém jamais havia visto. Uma coisa era o jeito sério padrão que já fazia parte da personalidade de Yoongi — outra completamente diferente era quando ele se dava a liberdade de deixar a raiva transparecer, o que parecia inevitável naquele momento. Hoseok se sentiu em uma ilha, separado de todos, com alguns olhares esporádicos olhando-o como um espetáculo, mas apenas o de Yoongi demonstrava uma futura tempestade.
— Ele está olhando, não é? — a voz de o trouxe de volta, e ele finalmente pareceu voltar a escutar a música, a sentir o toque dela, a se lembrar de que estava em uma festa. Antes disso, seu corpo parecia dopado e tudo passava em câmera lenta. O garoto não soube o que responder de imediato e apenas assentiu — Ótimo. Ele está com ciúmes. Isso importa. Vem comigo.
Ela tirou os braços de seu pescoço e entrelaçou seus dedos, começando a conduzi-lo por entre a multidão até as escadas grandes no fim do cômodo. Hoseok levou um tempo para perceber o que ela fazia, mas freou os passos imediatamente antes de subir o primeiro degrau.
— Ei, ei, o que tá fazendo agora? Pra onde vamos? — perguntou, agitado.
— A cartada final — respondeu ela, dando de ombros — Não vai me fazer recontar o plano, não é? Vem, as pessoas estão olhando.
Ela sorriu para os olhares e puxou o garoto de novo escada acima, que se viu totalmente perdido e sem opção a não ser segui-la à contragosto.
Ao pisarem no topo da escadaria, ele ainda não tinha entendido tudo. Foi só quando bateu no rodapé de uma das portas, esperou uma resposta e, em seguida, abriu com um puxão que um estalo acordou a mente de Hoseok e o avisou o que ela pretendia. Ele piscou rapidamente, e então disse:
— O que é isso, ? — ele parecia desacreditado. “Uma metáfora”, foi o que ela respondeu rindo, mas ele não era tão burro quanto ela pensava. A garota fez um gesto grandioso ao acender um abajur na mesinha de cabeceira, revelando as paredes escuras do quarto, cobertas de tapeçarias vermelhas em estilo boho que denunciavam ainda mais o poder aquisitivo de seu dono. Tomando com ímpeto a borda da colcha grossa da cama, ela a arrancou até o meio, puxando as demais partes até que estivessem igualmente bagunçadas. Hoseok não tinha como não entender aquela atitude autoexplicativa — Estou começando a achar que você é a mulher mais louca do Novo Mundo. Especificamente da Coreia! Não viu o que acabou de acontecer lá embaixo? Se eles nos encontrarem aqui...
— Pro meu alívio, é exatamente o que eu quero que aconteça! Não vamos deixar de fora a parte em que as pessoas acreditam na lenda da nossa transa. É perfeito, Yoongi vai aparecer mais cedo ou mais tarde, totalmente louco — ela realmente acreditava nisso. Na sua cabeça, o eternamente adormecido coração de Yoongi finalmente acordaria. Sorridente, ela apontou para a maçaneta — E ele pode fazer isso a qualquer momento, totalmente assombrado pela possibilidade do que pode estar acontecendo aqui. A necessidade de verificar vai ser mais forte, então não fiz questão de trancá-la.
Hoseok baixou os ombros, ligeiramente perdido. Ele não podia deixar de pensar no ponto em que as coisas com tinham chegado; as mensagens e telefonemas que receberia depois daquela noite seriam insanas. E não poderia mais desmentir nada. De repente, pensou na possibilidade de Yoongi realmente entrar por aquela porta, que os problemas de sono do amigo estavam totalmente ligados à , obcecado pela descoberta dos novos (ou velhos) sentimentos.
Um microfilme se passou em sua cabeça: Yoongi e realmente começando algo. Namoro no pátio externo, pizza no quarto e beijos no corredor. Ele se sentiu estranho com isso, o que já era anormal. Desejou resgatar todas as milhas de companhias aéreas restantes de seu pai do trabalho como repórter, e arquitetar um plano de fuga com a companhia apenas de seus dicionários gastos de línguas estrangeiras caso esses dois acontecessem. Pelo menos passaria mais rápido pelo detector de metais. Hoseok se sentiu ridículo imediatamente por estar cogitando tais coisas.
Quando ele se viu pronto para argumentar que, provavelmente, precisaria se preparar para caso todo aquele plano não passasse de magia de sua cabeça, a garota se aproximou da porta, colando as orelhas enquanto pedia silêncio. A música ali dentro não passava de um ruído, e as vozes lá fora eram emboladas demais para se tornarem compreensíveis. E então, começou algo que fez Hoseok paralisar de choque.
— Ah, Hobi… Isso… — ela gemeu de encontro à porta, alto o bastante para ser ouvida pelo corredor inteiro.
! — ele cerrou os dentes, apavorado, puxando-a de volta para trás — Isso é loucura! Tá doida?! Francamente...
Shiu! Segue o meu plano que terminamos isso em um piscar de olhos! — ela sussurrou, se afastando novamente — Isso, Hoseok… Ah, Deus! — um grito escapou, e Hobi sentiu o rosto esquentar na mesma hora. Mas qual era o problema dele?
então correu até a cabeceira da cama e tirou os sapatos. Pegou um deles e bateu no móvel — Ah, Deus… Meu deus, Hoseok!
Não, isso estava ridículo. Hobi correu até a garota, calando-a com a palma de sua mão, sendo a única atitude possível para que ela parasse com aquela versão bizarra de sexo.
— Lee , isso não é nada adequado e convincente pro público que você quer reunir, sua desequilibrada! — ele sussurrou, furioso — E eu adoraria que você me incluísse com antecedência nas suas decisões a partir do momento em que aceitei ajudar. E não concordo com essa algazarra!
se livrou de suas mãos. — Eles estão acreditando, idiota! Só mais um pouco e alguém vai entrar por aquela porta, confia em mim. Só preciso que você me ajude a tornar as coisas mais reais, acrescentar um pouco mais de magia.
— Reais?! Acha que bater em paredes vai fazer com que pensem que estamos trepando como dois animais? Fala sério, você…
— Tudo bem, então, gênio! — resmungou com raiva, se aproximando para sussurrar ainda mais baixo — Como podemos fazer isso ficar mais real? Tem alguma ideia?
Ele tentou responder, mas aquilo estava acontecendo de novo. Ela estava perto demais, consequentemente a boca dela também, e então toda superfície controlada do garoto foi embora e ele não viu o momento exato em que pressionou seus lábios nos dela. Foi um baque, um momento de confusão, que logo desapareceu.
Hoseok se afastou quase imediatamente, assustado com a própria atitude. Pela primeira vez, pareceu atestar o que aconteceu: ela havia beijado Jung Hoseok. Duas vezes. E agora ele a beijou. Então foram 3 vezes. Em um intervalo de 72 horas.
Em alguns dias, alguns malditos dias, preferia fingir que Jung Hoseok não habitava no mesmo universo que o dela, nem que fosse um pouco. Mas ser amiga e apaixonada por Yoongi significava que, na maioria das vezes, o melhor amigo sempre estaria presente, e em constante evidência. Era apenas isso que Hoseok significava: uma pedra no sapato, a parede que impedia a aproximação de com seu vizinho. Porém, naquele momento, ela pareceu se esquecer completamente disso. Ela se esqueceu do que estava fazendo.
— Desculpa, eu… — ele tentou falar, vendo-a em silêncio, como via pouquíssimas vezes — Você tava gritando, eu só… Você disse mais reais, então…
— Pode fazer isso de novo? — ela o interrompeu, falando em voz baixa, sentindo a cabeça voltar a funcionar aos poucos.
— O-o que?
— Me beijar. Pode me beijar de novo?
Era aí que Hoseok, muito para o seu próprio descontentamento, era pego em flagrante: a indução desenfreada de seus próprios desejos. Ele nunca imaginou que as palavras beijar e estivessem na mesma frase, mas lá estava ele, não pensando duas vezes antes de acatar o pedido da garota e tomar seus lábios com força. Seu filtro contra impulsividade era totalmente imperfeito.
Dizer que foi diferente parecia uma piada. Seja porque estivesse sendo levada pela curiosidade ou porque ele estava dando seu melhor, os dois sentiram a pele em chamas de uma forma totalmente voraz. odiava concordar com a colocação arrogante do garoto, mas realmente nunca tinha sido beijada daquele jeito. Mesmo que tenha tomado a atitude nas vezes anteriores, a cabeça cheia de determinação em fazer com que Yoongi a olhasse, havia tirado todo e qualquer foco dela no momento presente. Ganhar um beijo de Hobi do nada, fora de seus planos, pareceu arrancá-la dessa obsessão. Agora ela sentia aquele beijo mais do que os próprios lábios.
E então, ele não parecia mais aquela figura esnobe e esquisita que se sentava ao lado de seu primeiro amor e a irritava constantemente por roubar a atenção dele mais do que ela. Ele era bonito, magnético e tinha um beijo fora do comum. E estaria tudo bem se parasse por aí.
Mas de repente, por um mísero segundo, Hoseok e eram duas pessoas causando um incêndio e não pensavam em mais nada e ninguém a não ser um no outro. Quando ela agarrou a barra de sua camisa em resposta ao aperto dele em seu quadril, o garoto levou as mãos à alça fina de seu vestido, abaixando-a sem notar, assim como seus beijos, que passaram ao pescoço dela.
— Hobi… — ela tentou dizer, e o tom de sua voz, agora abafada pelo turbilhão de coisas que a tomavam, deixou o garoto ainda mais atordoado. não tinha ideia do que estava causando. A jaqueta jeans foi ao chão em um jato, sem saber quem a arrancou; ele ou ela.
Ele voltou a beijá-la, tendo consciência do que estava fazendo e calando as demais vozes da mente que tentavam impedi-lo. Saber que Lee tinha aquele gosto, e Deus, tudo aquilo… Estava sendo demais pra ele. Os dois começaram a se movimentar sem rumo, agitados demais para ficar parados no mesmo lugar, e ela não demorou a sentir o colchão nas costas, com Hoseok em cima de seu corpo, beijando-a sem pausa.
Pausa essa que foi feita quando ele afastou a cabeça, sem sair de cima dela, ofegante como se tivesse corrido uma maratona.
… — ele estava dopado novamente, desorientado — A gente não po…
— Cala a boca, Jung Hoseok, e continua o que estava fazendo — ela respondeu irritada, sentindo o tesão nas alturas, não pensando em nada além daquele beijo. Voltou a devorar a boca dele antes que protestasse e, quando ela colocou as mãos por debaixo da camiseta do Sex Pistols, ele a puxou para cima em uma reação involuntária. usou os poucos segundos longe de sua boca para esticar os olhos pelo corpo dele, que já havia visto algumas vezes, mas nunca de uma forma que a deixasse tão desconcertada. Deus do céu, isso tudo estava ao lado dela esse tempo todo?!
Ela não sabe por quanto tempo ficou ali, recebendo os beijos ardentes e ferozes do garoto, que faziam seu corpo esquentar de uma maneira inimaginável, prestes a entrar em combustão. Um formigamento no abdômen era sentido por ambos, e Hoseok sabia o que aconteceria, e tentava se deter, mas se continuasse ali não teria mais poder sobre si mesmo. Quando ela sentiu as alças baixarem ainda mais, deixando o colo exposto e a barra do vestido quase na cintura, ele já sentia um incômodo no jeans, e por Deus, eles precisavam parar, por tudo que era mais sagrado, precisavam…
Um estrondo fez com que a música lá fora invadisse o quarto. Hoseok se afastou imediatamente pelo susto, mais ofegante do que antes, levantando-se em um jato e olhando a porta.
Min Yoongi estava bufando como um touro, os olhos arregalados e as sobrancelhas juntas como um animal.
— Não acredito… — ele disse, e sua melhor voz de professor não estava presente. Ela era amarrada por alguma coisa em sua garganta, algo que o deixava sem respirar direito. Ele parecia desorientado, perdido em algum lugar da própria mente.
se colocou de pé ao lado de Hobi, ajeitando o vestido embolado e o cabelo bagunçado, pela primeira vez se sentindo constrangida pelo que havia acabado de fazer, exatamente como Hoseok se sentiu no vestiário. Agora sim ela ouvia sua mente gritar: o que você acabou de fazer? SUA MALUCA, VOCÊ QUASE FEZ ISSO COM JUNG HOSEOK, JUNG HOSEOK, LEE HYEBIN, JUNG HOSEOK NÃO SE CHAMA MIN YOONGI, O QUE DEU EM VOCÊ?
Ela queria se enterrar viva em alguma terra histórica da Virgínia e nunca mais voltar.
Era a única que desejava ao ver Min Yoongi parado bem na sua frente, encarando-a com a mais pura infelicidade.
— Yoongi… — ela disse, mas ele balançou as mãos no ar, calando-a.
— Eu não quero ouvir, ! Não quero ouvir nada de vocês! — ele gritou — Mas que cena é essa?! O que caralhos vocês estão pensando que estão fazendo? Hein?! Vocês dois?! Em que universo estamos? — ele parecia terrivelmente indignado — Você! — apontou para — Sempre achei que todas as declarações, toda aquela baboseira sobre gostar de mim fosse só uma fase reclusa, e que logo mais você encontraria outra pessoa, mas você… — ele se virou para Hoseok, e sua entonação baixou, ao mesmo tempo em que mais dor juntou aos seus olhos — Você não precisava ter mentido pra mim! Você disse pra todos que o que disse era mentira, mas daí eu vejo os dois se beijando no vestiário, e agora tudo isso, porra…
— Yoongi, não é isso…
— Não é? O que é, então? Hormônios? Caralho, não vem com essa! — bufou — Eu acreditei! Deixei fazer o que quisesse porque ela sempre foi assim, mas você… Acreditei que não tinha nada, que você não mentiria, que nós… Achei que nós…
— Eu não menti, Yoongi! — respondeu Hoseok, entredentes. Uma multidão começava a se formar na porta do lado de fora — Ah cara, qual é…
— Mas que coisa, Yoongi! — se manifestou, ansiosa — Escuta, esse plano foi meu, a dona da postagem fui eu e eu meti o Hoseok nessa! Foi tudo pra que você ficasse com ciúmes, pra que percebesse que nós dois…
Yoongi soltou uma risada alta, mas ela não tinha nada de divertida. Parecia um pouco desesperada e amarga.
— Ciúmes? Quantos anos você tem, ? — o rapaz se aproximou, deixando que todos os vincos de sua testa emergirem — Armar essa confusão toda, envolver o nome do Hobi, reivindicar algo por conta própria só pra tentar me fazer sentir incomodado? Isso é baixo, é ridículo! E tenho que dizer que não deu nada certo!
— Ah, não deu? — ela ergueu as sobrancelhas, dando um passo à frente — Então por que está aqui? Por que ficou tão zangado com o beijo que você viu? Por que entrou neste quarto agora, mesmo sabendo o que estaria acontecendo? Isso só pode ser porque você…
— Porque não é de você que eu gosto, ! Eu gosto… — ele olhou para Hoseok imediatamente.
— Do que você… — parou e seguiu seu olhar. Ela prontamente parou de falar.
Um silêncio mortal se instalou no aposento à medida que as pessoas iam entendendo o que estava acontecendo. Yoongi pareceu chocado e assustado com o que havia acabado de sair de sua boca. Hobi não se mexia nem por um centímetro. baixou os olhos, como se repassasse sua vida inteira. O cômodo ficou minúsculo com aquele silêncio compartilhado.
Até mesmo as pessoas que estavam do lado de fora haviam ficado mudas, encarando os três amigos fixamente, levando as mãos à boca em puro choque com a revelação.
E, sem dizer mais nada, Yoongi foi embora do quarto, deixando a dupla de amigos perplexa para trás, assim como a multidão da festa.

x

Jung Hoseok era tudo que Min Yoongi gostaria de ser.
Pelo menos, essa foi a primeira impressão que teve quando o conheceu. Era alegre e corajoso, convicto de seu caminho, tocado pela fé no oculto e sobrenatural de seus estudos de outras terras longínquas, respeitado e querido por todos; o tipo de pessoa que certamente já estava deixando um legado.
Yoongi, pelo contrário, era um mistério. Ele não era muito bom com pessoas novas e, normalmente, não encontrava muitas dispostas a desvendá-lo. Hoseok se tornou o primeiro e único que pareceu animado o suficiente com o fato de Yoongi também se interessar por hóquei no gelo, e ser um ótimo professor de geometria. Hoseok não se importou de se aproximar mais, sem qualquer cautela com a desconfiança de Yoongi. Ele se transformou numa pessoa que o fazia bem, o fazia rir, como se estivesse sob o sol em um ponto turístico muito bonito de qualquer parte do planeta.
E isso o encantou. O mistério de Jung Hoseok arrombava todas as portas que ele nem sabia que existiam, e por muito tempo tratou esse sentimento como um lapso de carinho extremo pela amizade que cultivava com o camisa 10. Nada mais do que isso.
Mas então veio a história de . E o adeus às suas noites de sono tranquilas e prazer pelo jantar.
A constatação do que sentia o atingiu aos poucos, e explodiu no dia da festa da vitória. Quase uma semana depois, os ruídos da história começaram a esfriar, dando lugar à excitação do próximo jogo do campeonato. A sexualidade do capitão dos Victors ficaria para um outro dia, para uma outra fofoca.
e Hoseok não trocaram nenhuma palavra até a próxima sexta, quando o garoto havia aproveitado a parte da tarde para treinar uns passes na pista de patinação vazia, assim como toda a arena. Fazer aquilo todos os dias o ajudava a pensar menos. Os últimos dias haviam sido loucura demais para que uma pessoa só conseguisse passar sem descarregar nada; ele, afinal, havia mesmo magoado Yoongi, mesmo que não fosse pelos motivos que pensava.
também não se encontrava muito diferente. Depois de fazer uma regressão de toda sua vida dezenas de vezes enquanto se deitava de costas para a parede de pôsteres, ela se via em um estado catatônico de muitas informações. Jiyeon havia tentado conversar, mas ela apenas dizia que estava tudo bem. Que ela sobreviveria. Mas não era bem verdade. Sua cabeça estava cheia demais para uma pessoa tranquila e ela sabia o que precisava fazer. Na verdade, ela e Hoseok sabiam.
E então, pensar um no outro revelava o outro motivo de perturbação de suas mentes: eles.
Naquele fim de tarde, entrou na arena vazia, ouvindo os estampidos do taco batendo no disco, lançando-o à parede com um estrondo. O barulho frenético dos patins eram rápidos e precisos, e Hoseok não se importava de não estar de capacete. Os joelhos se flexionavam quando se preparava para lançar mais um, e então subiam novamente. Quando se preparou para fazê-lo mais uma vez, ele olhou de relance para o lado a tempo de ver a garota se acomodando na primeira fileira da arquibancada, acenando rapidinho com as mãos enquanto esboçava um sorriso tímido.
Hoseok parou, ajeitando a postura. Parecia que não a via há séculos. Depois do fim daquela festa louca e de ela ter saído correndo para casa, o restante dos dias foram separados para remoerem o que tinha acontecido e se impossibilitarem de pensar no futuro. Se verem no refeitório vez ou outra foi o mais próximo que chegaram de ficar no mesmo ambiente.
Bem, algo certamente iria acontecer. Diferentemente de antes, ele não se sentia mais imaculado em relação à presença de .
Ele patinou o lado de fora, sentando-se ao seu lado.
— Oi — disse ela.
— Oi.
Ela pressionou os lábios, pensando nas próximas palavras. Hoseok a olhou de relance. Havia algo fora do lugar a respeito de suas roupas, de seu cabelo geralmente solto e arrumado. Agora ela usava jeans, tênis e camiseta e estava mais natural do que nunca. Ele gostou muito do que viu.
— Você está mandando muito bem — disse ela, depois de um tempo. Seu nível de nervosismo a fazia se sentir em cima de uma plateia, chamando toda a atenção — Quer dizer, você sempre mandou, mas… Enfim, o próximo jogo tá prometendo bastante.
— É, eu tô sabendo — ele assentiu, também constrangido — O pessoal da POSTECH não são nada ruins, e eles não vão vir de tão longe pra perder.
Hoseok sabia bem pouco da POSTECH, na verdade. Estava sendo difícil fazer parte do time naquela semana, quando o capitão e o vice estavam se falando menos do que o normal.
— É, entendo… — ela entendeu o tom de voz baixo, e sabia a diferença dos dois. — Mas vocês vão se sair bem. Vou torcer bastante.
Ele a olhou fixamente com a frase por dois segundos antes de desviar o olhar. Lembrar-se daquela cena maluca de torcendo por ele com cartazes e convocando uma plateia era ridículo e o causou raiva na época, mas agora o fazia ficar com o rosto quente.
— Hobi, você… — ela travou ao usar seu apelido, mas logo se recuperou — Você falou com o Yoongi?
Hoseok deslizou os patins no piso liso, baixando os olhos.
— Falei — respondeu — Foi uma conversa longa. E importante, é claro. Ele foi sincero, eu também fui. Deixei claro que todos nós do Victors o apoiamos em qualquer situação. Pode-se dizer que está tudo bem — ele levantou os ombros, tranquilo com o fato — Acho que quem sofreu mais com tudo isso foi ele, tendo que lidar com essas descobertas sozinho, mas deixei bem claro que ele não está. E as coisas vão voltar ao normal aos poucos.
Ela assentiu devagar, olhando distante para a frente, entrelaçando os dedos nervosamente.
— E você? — disse ele, reparando no nervosismo dela — Está tudo bem?
— Eu? — ela o encarou, dando um risinho, cortando os pensamentos — Acho que sim. Não sei. Pensei em muitas coisas nos últimos dias. Também tive esse tipo de conversa com ele e também ficamos bem. Mas não sei. Acho que não posso evitar de me sentir mal.
— Não precisa se sentir assim — ele respondeu prontamente, disposto a fazer desaparecer aquela nuvem escura que cruzava o rosto de — Quer dizer, você não sabia. Nem eu, nem ele. As coisas simplesmente… aconteceram — deu de ombros, passando uma língua nos lábios — E não dá pra dizer que seu plano maluco foi em vão.
Ela juntou as sobrancelhas, confusa.
— Como assim?
— Não disse que arrancaria os sentimentos dele? Pois você fez isso, de forma frágil e descabida, mas fez — ele respondeu, com um sorriso brincalhão.
Inesperadamente, soltou uma risada divertida, dando um empurrãozinho no ombro do garoto.
Quando a risada diminuiu, ela deu um suspiro e disse:
— Sempre detestei você, Jung Hoseok — ela o encarou — Mesmo quando exibia aquele seu sorriso patético de Votem em mim. Preferia bem mais que você fosse uma espécie venenosa ou algo do tipo. Deveria detestá-lo ainda mais agora, que roubou o coração do meu primeiro amor.
— Você não pode dizer isso quando eu rejeitei o seu primeiro amor. De forma amigável, é claro — ele deu de ombros e sorriu. Ela retribuiu — Mas e então… Não detesta mais?
Ela balançou a cabeça em negação.
— Acho que agora consigo frequentar lugares onde você esteja.
Ele mordeu o lábio inferior, virando o rosto para o outro lado para sorrir sem que ela visse.
— Você já assistiu Palhaços Assassinos no Espaço Sideral? — ele perguntou de repente, tentando controlar o bater acelerado de coração.
Ela sorriu, assentindo.
— Não existe um filme ruim que eu já não tenha assistido.
— Já assistiu a versão polonesa?
— Acho que ainda não — ela riu. Ele esboçou um sorriso tímido e baixou os olhos de novo, agarrando o taco com força, sentindo-se como um adolescente.
— Bom, então… Topa assistir comigo um dia desses? — perguntou, reunindo coragem. Ela olhou pra ele e ele se sentiu ainda mais nervoso — Também tem a versão de Uma Noite Alucinante, é bem mais assustadora que a americana.
sentiu algo diferente ao olhar o garoto nervoso. Ela, de certa forma, estava sentindo o mesmo, aquelas borboletas no estômago, aquela expectativa silenciosa do novo. Algo que nunca sentiu, afinal, estava ocupada demais se prendendo a sentimentos antigos.
— Claro — respondeu ela, sentindo também o rosto queimar. Os dois sorriram, não exatamente um para o outro, mas para si mesmos também.
— Combinado, então. — falou ele.

Fim!



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Nota da autora: Sem nota.








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