— James e Lily foram assassinados. — Foi Lupin quem me deu a notícia, e senti meu coração perder uma batida. O ar saiu de meus pulmões em uma lufada forte, quase dolorida.
James e Lily estavam mortos.
Meus amigos estavam mortos.
Cambaleei, sentindo a pressão baixar, e Remus me segurou pelos ombros enquanto eu perdia meus olhos em algum ponto sem foco. As lágrimas surgiam queimando à medida que senti as mãos dele apertarem meus ombros com certa ternura. Lupin sempre foi gentil demais comigo, mesmo quando eu não merecia.
— , sei que agora não é o momento, mas você sabe o que isso significa, certo?
Eu ainda estava petrificada de terror, não conseguia assimilar a verdade daquela a notícia que ainda ecoava em minha mente sem fazer o real sentido, como se ainda não tivesse entendido o que realmente tinha acontecido, ou que aquilo fosse uma brincadeira de mau gosto de Remus – ele era um Maroto afinal de contas, não era?
— . — Os olhos cansados de Lupin baixaram até a altura dos meus, seus olhos também estavam marejados, suas lindas cicatrizes beijavam seu rosto do jeito que eu sempre amava. — , você sabe o que isso significa?
— Ahn? — Mesmo assim, eu ainda estava aturdida demais para conseguir assimilar a urgência do que ele queria me dizer.
— , meu amor, Almofadinhas traiu Pontas. Era ele que guardava o segredo, Lily e James foram encontrados porque ele contou.
A menção dos seus apelidos me fez finalmente acordar. Meu peito arfava com tanta força que doía, as lágrimas correram por meu rosto no momento em que ele me puxou para um abraço.
Não havia abraço no mundo que pudesse confortar o que nós sentíamos naquele momento, mas ainda assim ficamos abraçados por alguns segundos antes que eu quebrasse a conexão.
— Harry? — perguntei, minha voz falhando em desespero pensando no pequeno.
— Ele sobreviveu. Está com Dumbledore. — Ele afirmou com segurança, me fazendo alisar a barriga em um suspiro aliviado.
— Eu preciso ir atrás da . — Afirmei, a sobriedade da nova informação me trazendo de volta ao mundo real de vez. — E se ela estiver com Almofadinhas?
— Por Merlin, você tem razão. Mas não posso te deixar sair assim.
— Remus, minha irmã...
— Você está grávida, . Não posso deixá-la ir desse jeito.
Às vezes a doçura de Remus me irritava, e aquilo me fazia querer rir porque ninguém em sã consciência ficaria irritado com um homem gentil como ele.
— Aluado, estamos falando da minha irmã gêmea, eu iria até o fim do mundo por ela.
— Por favor, , não me faça brigar com você agora. Eu preciso que fique bem.
— Eu vou ficar bem... Quando estiver com a minha irmã. — Era nítido que ele estava irritado comigo, com a minha teimosia. Passou as mãos pelo rosto e jogou os cabelos para trás.
— , não faça isso comigo. — Pediu ele temeroso, vindo até mim e afagando os meus cabelos, seu toque era quente, quase febril. — Já perdi James e Lily hoje, não me faça abrir mão de você e do nosso bebê também. Fique aqui com Silver Springs.
A simples menção do nome fez Silver erguer as orelhas em curiosidade. O lobo gigante descansava a cabeça em suas patas dianteiras, porém os olhos cinzentos não desgrudavam de nós dois.
— Ah sim, eles eram meus amigos também e minha irmã pode estar correndo o mesmo perigo, você quer que eu fique aqui parada esperando?! — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia e Remus deu um passo para trás.
— Eu não vou te perder também. — Ele foi incisivo na decisão, não querendo dar abertura para uma discussão maior, mas era a deixa que eu precisava:
— Ótimo, então venha comigo e me ajude.
Segurei um sorriso sabendo que tinha ganhado aquela discussão. Ele suspirou derrotado, levando as duas mãos até minha barriga espichada.
— ...
— Eu vou com ou sem você, Lupin.
Ele voltou a me olhar com aqueles lindos olhos castanho-claros. Levei minha mão até sua nuca e colei nossas testas, fechando os olhos, sentindo seu cheiro me preenchendo, suas mãos saíram da minha barriga e foram para minhas mãos, ele as uniu em sua frente e beijou meus dedos.
— Eu não sei viver sem você, garota lobo.
A simples menção do meu apelido secreto me desmontou, ele tentou jogar baixo tentando me convencer de não ir.
— Eu te amo, Aluado. — Acariciei seu rosto, vendo-o fechar os olhos docemente. — Mas precisa de mim.
Antes que ele me desse alguma resposta, ouvimos um estalo seco vindo do quarto da bebê. Poucas eram as pessoas que podiam aparatar em nossa casa, mesmo assim, Almofadinhas era uma dessas pessoas. Retirei minha varinha do bolso e Remus empunhou sua varinha também.
estava ajoelhada no chão, seu choro fez meu coração doer e me ajoelhei ao seu lado com certa dificuldade. Seus prantos preencheram o ambiente quando ela apoiou sua cabeça em meu ombro. Acariciei seus cabelos macios enquanto Remus se abaixava do outro lado. Toda nossa discussão foi por água abaixo quando vimos o motivo dela bem ali, ele acariciou suas costas enquanto ela ainda se debulhava em lágrimas.
— ... — Tentei iniciar, mas minha voz estava tão embargada que eu mal conseguia formar as palavras.
— Não foi ele, . Não foi ele!
— Do que você está falando, ? — Remus perguntou com a voz tão suave e calma que eu tinha minhas dúvidas se ele realmente tinha entendido o que ela havia dito.
— Sirius! Não foi ele que traiu James. — Ela levantou o rosto para nos olhar, os olhos estavam manchados de preto onde as lágrimas escorriam por conta do rímel que usava.
— Quem te disse isso? — perguntou Remus, ainda com a calma de quem tinha tomado um chá de cannabissativa.
— Ele me disse. Agora mesmo.
— ! Pelos deuses, você foi atrás dele? — E eu preocupada com a cadela!
— É claro que eu fui, . Você não iria se fosse Remus? — perguntou ela, mais grosseira do que eu estava acostumada. normalmente era a gêmea tranquila quando comparada a mim, era o oposto de Sirius Black. Assim como eu era o oposto de Remus Lupin. E de alguma maneira, isso dava certo.
Fiquei quieta, todos no recinto sabiam que eu teria feito o mesmo pelo homem que eu amo.
— Você acredita nele, ? — Lupin perguntou sério.
Ele estava de cócoras com a mão apoiada no ombro de minha irmã, suas sobrancelhas tinham uma ruga de preocupação entre elas, seus olhos correram do rosto dela para o meu e eu o encarei sem saber o que dizer. Limpei meu rosto das lágrimas.
— Acredito, Remus, não foi ele, ele... Ele disse que convenceu James no último instante a colocar Peter como o fiel do segredo.
Remus ficou em silêncio, sua mente provavelmente estava em parafuso como a minha.
Peter?
Peter tinha feito aquilo? O garoto que só queria se encaixar? Peter não fazia mal a uma mosca, era mole demais, não tinha culhão...
Espera.
Era isso! Ele realmente não tinha coragem para nada, como iria manter um segredo se Lord Voldemort o torturasse?
Sirius era corajoso o bastante para enfrentar qualquer um por seus amigos, Sirius tinha muito a perder, seus amigos, seu afilhado, sua noiva... Sirius enfrentaria qualquer um pela minha irmã, assim como já tinha feito antes.
Mas... Peter? Peter só ia de acordo com o que a maré lhe oferecia.
A questão é: por que Sirius convenceria James de algo assim? Trocar o fiel do segredo era arriscado demais.
Olhei para minha irmã, desesperada, desolada e completamente perdida, depois olhei para Remus, seus olhos preocupados não saíam do meu rosto, como se tentasse encontrar a resposta em mim.
— , temos que pensar por um instante, se o que ele diz é verdade... Então temos muito o que fazer. — Meu noivo disse se levantando devagar, ajudou ela a se levantar primeiro e depois veio ao meu lado, me erguendo com cuidado. — Vamos lá na cozinha, assim eu faço um chá e a gente conversa com calma.
Durante meu percurso até a cozinha, acompanhada de minha irmã gêmea de coração partido e do homem que fazia as borboletas do meu estômago voarem alto, lembrei-me dos momentos incríveis que passei ao lado daqueles dois em Hogwarts, de como as coisas eram divertidas e leves, de como tudo era simples e, mesmo com problemas familiares, quando estávamos todos juntos tudo era deixado para trás e apenas nós existíamos, os Marotos e as gêmeas Stark.
— Da família Black, temos os jovens senhores Sirius e Regulus. — Consegui observar, pelo canto dos olhos, os dois irmãos descendo a escadaria.
— Pelos Deuses, que coisa estúpida. — , minha irmã gêmea, gemeu desdenhosa enquanto íamos na direção da escadaria com nosso irmão mais velho no meio.
— Se você acha estúpido, imagine eu que tenho que sair com uma pretendente daqui hoje. — Brandon murmurou entredentes. — Vocês, pelo menos, só precisam encantar uns idiotas... Pai disse que preciso de uma noiva.
— Isso é ridículo, Bram, você já tem namorada. — Argumentei assustada. Melody era uma moça adorável, porém não tinha certeza se o relacionamento deles ia durar diante da distância que tínhamos do nosso verdadeiro lar ao norte. E, claro, ao possível noivado que meu irmão poderia encontrar hoje.
— É, eu tenho... Mas é mestiça e eu sou o primogênito.
Eu podia ver o olhar triste dele, porém ele logo tirou aquilo da cabeça quando chegou a nossa vez de descer a escadaria. Estávamos em um jantar de gala para famílias puro-sangue, um local onde os nobres olhavam para as filhas de outros nobres para ver se elas tinham o que era preciso para fazer seu filho mimado feliz.
— Brandon Stark e suas irmãs gêmeas, e . — Bram disse ao lacaio que estava no canto.
Iniciamos nossa descida com calma, enganchei meu braço no braço de Bram enquanto fazia o mesmo e notei os olhares sobre nós. Havia umas cinquenta pessoas no grande salão, dava para ver os grupinhos de cada família reunidos, cochichando fofocas, julgando nossas roupas e talvez até histórias de nossa família.
Espiei e ela estava com o ar nítido de nojo, narinas infladas, queixo erguido e boca crispada, ela tinha nojo daquelas pessoas, nojo daquela situação e nojo de toda aquela soberba dourada ridícula.
Eu a entendia, sabia que estávamos como dois pedaços de carne ambulante, esperando o primeiro garanhão surgir no horizonte para pedir nossa mão em casamento, mas aquilo não me deixava irritada, me deixava com pena daquelas pobres almas que nunca teriam um amor de verdade para chamar de seu.
— Da família Stark, temos o primogênito Brandon e suas irmãs gêmeas, e . — O lacaio berrou quando estávamos mais ou menos no meio da escadaria. Os dois irmãos que haviam acabado de descer ainda estavam próximos do pé da escada, os pais davam total atenção ao mais baixo e o mais alto nos observava descer com os olhos perigosamente negros alternando entre mim e com a boca ligeiramente aberta.
Ele era bonito, não tinha como negar, tinha cabelos compridos tão negros quanto os olhos e usava uma roupa de gala também negra, na verdade toda a família usava, como se Black fosse além de apenas um nome.
Chegamos ao fim da escadaria e tive que me espremer um pouco para não esbarrar nele, que não foi capaz de mover um músculo quando passamos. Seguimos até nossa família, que estava ligeiramente mais afastada dali, se entrosando com uma família de cabelos platinados.
— Será que são os descendentes dos Targaryen? — perguntou debochada, já que ela sabia que a família havia sido extinta e pior, nossa família era o motivo da extinção deles.
— ! — A censurei e Bram segurou o riso, ainda entre nós.
— Queridos, vocês estavam lindos! — Nossa mãe disse animada, ela usava um belo vestido azul escuro e meu pai usava um terno preto com a gravata da mesma cor do vestido dela.
— Obrigada, mãe — respondi e ficou em silêncio. Bram desencaixou nossos braços e foi até nosso pai, que o chamava com a mão.
— Queridas, essa é Madame Malfoy e seu filho Lucius.
Eu e apenas abaixamos as cabeças em uma reverência cortês.
— Sou e essa é minha irmã . — Eu sempre era a que falava nessas horas, sabia ser um pouco... Afiada demais, o que deixava mamãe irritada e acabava sobrando para mim.
Lucius era bonito, devia ter a idade de Bram, o que me deixava um pouco preocupada com a parte de que, se Bram estava procurando uma noiva, Lucius também podia estar.
Segurei a mão de , apertando-a com força.
— É um prazer conhecer vocês, mas eu e precisamos fugir rapidinho, ficamos tempo demais na fila da escadaria, se é que me entendem... — Tentei soar engraçadinha e eles sorriram, caindo no meu papinho. Uau, Lucius tinha um sorriso bonito, mas não deixei aquilo me abalar muito.
Saímos dali rápido.
Ela me puxou para uma sacada e encostou as portas atrás de nós.
A sacada era enorme e bonita, feita de pedras de ardósia, o parapeito era de pedras esculpidas belíssimas, e nas paredes em volta da porta havia trepadeiras com belas flores roxas.
Fomos até o parapeito e olhamos os jardins lá de cima, com um belo chafariz no formato de uma serpente esguichando água pela boca aberta com dentes afiados.
— Uau. — Deixei escapar. — Esse jardim é incrível.
murmurou um “uhum” desatento.
Havia tantos canteiros de flores coloridas que era difícil não ficar encantada, a grama estava bem aparada e parecia ter a textura muito fofa, havia caminhos feitos de lajotas hexagonais e alguns bancos de madeira para descanso.
retirou um cigarro do decote e esticou a mão para mim.
— O que foi? — perguntei distraída com a paisagem.
— Eu preciso de fogo. — Indicou o cigarro na boca.
— Eu não tenho fogo — respondi como se fosse óbvio.
— Eu te dei um isqueiro antes de virmos, .
— Eu dei para Bram colocar no bolso do paletó, como qualquer mulher faria.
— Por que fez isso? — Ela bufou irritada.
— Você queria que eu enfiasse no meio dos peitos igual a você?!
— É claro! Qual a dificuldade? Você sabia que estaríamos sem varinhas!
— , você sabe muito bem...
Fomos interrompidas por alguém entrando na sacada também, fechou a porta com um baque alto. Virei meu corpo para ver quem era e notei que era um dos irmãos Black, o que estava nos olhando descer a escadaria.
Ele não pareceu notar nossa presença de primeira. Acendeu um cigarro e tragou de olhos fechados, pelo Deuses, ele era muito bonito. Passou as mãos pelo rosto, ainda mantendo o cigarro entre os dedos, e massageou as têmporas como se tentasse não pirar, suspirando alto e soltando a fumaça pela boca.
— Hey! — o chamou. Meu coração disparou nervoso quando os olhos dele desviaram até nós, ele finalmente percebeu que estávamos ali. Veio andando com calma, uma mão no bolso da sua calça. Ele já havia se livrado do paletó e agora usava uma camisa de botões e um colete preto de veludo. — Me empresta o fogo?
Ele assentiu, tirando o isqueiro do bolso e entregando a ela. fez uma cabaninha com a mão para proteger o fogo da brisa que batia em nós e acendeu seu maldito cigarro.
— Vocês são novas aqui. — Ele concluiu, talvez pelo sotaque nortenho ou por nunca ter visto qualquer uma de nós na vida.
— Isso foi uma pergunta? — ergueu as sobrancelhas devolvendo o isqueiro. — Obrigada.
— Não — disse, tragando mais uma vez. Seus olhos dançaram rapidamente por , depois seguiram para mim. Notei ele percebendo meus anéis de pedras da lua, subiu o olhar até meu colo, onde parou novamente em meu colar em forma de lobo, seguiu por meu pescoço, olhou minhas orelhas salpicadas de piercings dourados e depois parou em meu cabelo ruivo, preso por tranças adornadas com pequenas flores. Juro que fiquei sem ar por um segundo. — Quer um?
Ofereceu a carteira de cigarros.
— Eu não fumo, obrigada.
— E então, quem é e quem é ?
— Sou — respondi tão rápido que minhas bochechas esquentaram imediatamente. me olhou com as sobrancelhas franzidas como se perguntasse “Qual é o seu problema?”.
— . — Ele repetiu quase sorrindo. — Então você é .
— , por favor. me faz parecer uma princesinha de cinco anos.
— Bom, vocês estão em um baile que é basicamente para achar maridos que os seus pais escolhem, então não dá para negar que vocês são duas princesinhas de cinco anos.
— Você não está muito diferente, garotão. — piscou para ele, que ergueu as sobrancelhas concordando.
— E você, é Sirius ou Regulus? — perguntei quando finalmente lembrei o segundo nome.
Seus olhos negros faiscaram na minha direção, ele tragou mais uma vez fazendo um certo suspense.
— Sirius. Eu sou Sirius Black. — A fumaça foi saindo da sua boca enquanto ele falava.
— É um prazer te conhecer, Sirius Black. — disse . — Saiu de lá porque você também acha isso escroto pra caralho?
— Isso lá é linguajar de uma princesa, Srta. ? — Ele provocou, me fazendo rir. virou os olhos para cima dando uma tragada no cigarro entre seus dedos de unhas pretas.
— A princesa aqui é a .
Sirius levou seus olhos de para mim e depois para ela de novo. Provavelmente analisando nossas diferenças, era loura, gostava de preto e ouvia músicas de rock que eu não conhecia, tinha uma personalidade forte e falava mais do que era para falar, sempre.
— Entendi — disse simplesmente. — Mas sim, eu saí de lá porque isso é escroto pra caralho. E porque meus amigos estão vindo me buscar.
— Olha só quem é a princesinha sendo resgatada do castelo. — sorriu maliciosa e eu sorri junto. Ele sorriu sem mostrar os dentes.
Eu gostava de deixar comandar as conversas porque eu era uma pessoa mais reservada e gostava do meu espaço. Isso nunca me incomodou.
— Eu posso deixar que eles resgatem vocês também, se vocês quiserem. — Ele soou persuasivo e eu olhei para , vendo-a amassar a bituca de cigarro no parapeito e jogar lá embaixo.
— Acabamos de te conhecer, Sirius Black. O que te faz pensar que iríamos em algum lugar com você? — Acabei me rendendo ao lado sarcástico de e o retruquei antes que ela o fizesse.
— Talvez o meu charme seja o suficiente, Stark. — Seus lábios se curvaram para cima em um belo sorriso que fez minhas pernas amolecerem por um instante.
— Talvez você esteja superestimando esse charme todo — respondi sem querer dar o braço a torcer. Minha irmã nos olhava com seus olhos atentos, como se estivesse vendo algo além do que realmente deveria ser visto. O sorriso dele não sumiu, ele molhou os lábios me encarando e deu de ombros.
— Provavelmente você tem razão, mas o convite ainda está de pé.
— Seus amigos vão chegar para o resgate que horas? — perguntou, ficando de costas para o parapeito, apoiando os cotovelos ali. Seu vestido era verde escuro com detalhes em dourado, o modelo era o mesmo para nós duas, um corset ciganinha com mangas longas e boca de sino.
Meu vestido era azul claro com detalhes dourados também. Nós realmente parecíamos com duas princesas aguardando o resgate do príncipe encantado.
— Já era para aqueles filhos da puta estarem aqui — resmungou ele, jogando a bituca de cigarro no chão e pisando nela.
— Então eles não são do sangue mais fino da Grã-Bretanha para estarem nessa esplendorosa festa? — perguntei fazendo um sotaque forçado.
Ele riu pelo nariz, pondo as mãos nos bolsos da frente da calça.
— James é puro-sangue, mas a família dele não é idiota como a nossa, quero dizer, como a minha, não conheço a família de vocês.
— Fica tranquilo, nós compartilhamos os mesmos genes de famílias idiotas. — disse sorrindo.
— Nossa, eu adoraria não pertencer a uma família de idiotas para variar. — Brinquei, fazendo me olhar com a boca aberta em uma falsa surpresa.
— ! Você é a irmã certinha, não pode sair por aí falando para um estranho que nossa família é idiota.
— Bom... Em minha defesa, nosso irmão não é idiota, ele só aceitou o fardo de ser o primogênito com mais facilidade do que eu e aceitamos ser as filhas vacas reprodutoras.
Sirius concordou com a cabeça.
— Eu sou o primogênito, mas acho que minha rebeldia fez meu irmão mais novo ser o principal alvo de um casamento arranjado. — Ele ergueu os ombros sorrindo de boca fechada.
— Nossa, , estamos na presença de um jovem rebelde, é por isso que nenhuma garota resiste ao grandioso charme dele. — foi deliciosamente irônica e ele riu, jogando a cabeça para trás.
— Não é incrível, ? E isso na nossa primeira semana aqui, uma honra, eu diria. — Entrei no joguinho dela.
— Tá bem, tá bem. Vocês são imunes aos meus encantos, mas não se acostumem, isso não dura muito — disse ele, entrando na brincadeira, mas seus olhos encontraram algo no jardim e ele se aproximou do parapeito, ficando entre mim e . — Meus amigos chegaram.
— Onde? — perguntou . Me virei completamente para o jardim, estreitando os olhos na direção que ele apontava. A ponta de uma varinha voava solitária com um pequeno pinguinho de luz, assim que Sirius levantou o dedo do meio naquela direção, duas cabeças flutuantes apareceram, e eu finalmente entendi que eles estavam cobertos por uma capa da invisibilidade.
Os garotos tamparam a cabeça novamente e pude notar as pegadas na grama fofa, amassando e voltando ao normal à medida que eles iam se aproximando do parapeito da sacada.
— Trouxeram escada? — Sirius sussurrou quando as pegadas pararam bem abaixo de nós.
— Sim, só um segundo. — Um dos dois respondeu.
— Por que não usa a porta? — perguntou como se fosse óbvio.
— E dar a chance de meus pais me chamarem para conhecer uma esquisita qualquer? — retrucou Sirius dobrando as mangas da camisa.
— Faz sentido — falei olhando , erguendo as sobrancelhas. Se fôssemos com eles, eu preferiria aquela ideia também.
— Além do mais, eu meio que já estou com as duas garotas mais bonitas da festa — disse dando uma última olhada para fora do parapeito, subiu nele, foi para o primeiro degrau da escada que já estava ali, piscou para nós e começou a descer.
me olhou, mordendo o lábio inferior.
— O que você acha? — perguntei sussurrando.
— Você sabe que eu já teria ido, certo? Estou aqui esperando a sua decisão. — Ela sorriu ladina. — Eu preciso saber se ele tem algum amigo bonito, já que você meio que se derreteu por ele no primeiro olhar.
— O quê?! Cale a boca, , você está sendo idiota.
soltou uma gargalhada alta.
— Vocês não vêm?! — Sirius perguntou lá de baixo e eu acenei positivamente para , que subiu no parapeito com um sorriso nos lábios.
— Se eu pegar algum de vocês olhando a minha bunda ou a da minha irmã... Narizes serão quebrados — disse ela, antes de começar a descer a escada.
Desci a escada que estava sendo segurada por magia, vi os três garotos lá embaixo, mas não prestei a atenção neles, estava mais preocupada com minha irmã descendo. nunca foi conhecida por sua confiança e cuidado. A quem estava querendo enganar? era uma desastrada por natureza.
A vi colocando o pé para fora e percebi que as malditas anáguas daquele maldito vestido, por sorte, tampavam a maior parte das suas pernas e provavelmente também tamparam as minhas, mesmo assim, achei divertido dizer:
— Olhos no chão, bando de tarados.
Cada um olhava para um lado, um deles estava com a capa da invisibilidade enrolada nos braços e o outro usava uma mochila em um ombro só.
Quando firmou os pés no chão, cambaleando um pouco para o lado, vi Sirius dando um passo em sua direção e firmando suas mãos em seus cotovelos. Nunca vi tão corada na vida.
— Marotos, essas são e ... — O olhei com uma cara feia, ele pigarreou. — Stark. — Marotos? O que diabos é isso? — Gêmeas Stark, esses são James Potter e Remus Lupin.
Eu juro pela vida da minha irmã que meu coração descompassou quando o tal Remus levantou uma mão e acenou. Pelos deuses novos e antigos... Aquela beleza devia ter uma passagem direta para Azkaban, pelo simples fato de existir.
Ele usava um suéter de lã sem mangas por cima de uma camisa de botões que ficava ligeiramente grande para ele, uma calça de alfaiataria e sapatos gastos. Seu rosto tinha um olhar abatido, com pequenas olheiras abaixo dos olhos e cicatrizes pelo rosto, como se um animal tivesse lhe dado um belo arranhão que cruzou da testa ao maxilar. Todavia, em vez de ele parecer estranho ou assustador, aquilo combinava com ele, deixava seu rosto harmonioso como se tudo ali fizesse sentido junto com seus olhos em um tom castanho amendoado e seus cabelos cor de palha.
— É um prazer conhecê-las, belas donzelas. — James me tirou de meu transe, fazendo uma reverência exagerada, pegou minha mão e beijou, depois fez o mesmo com , nos arrancando risadas.
— Ignorem o James. Ele tem uma pequena tendência a falar babaquices quando está animado — disse Remus, apertando minha mão e depois a de . Minha mão ficou dormente.
— E você está animado por quê, James? — perguntou , se solidarizando com o garoto.
James era bonito também, tinha olhos castanhos e um cabelo negro revoltado, era o mais alto dos três, e aparentemente o mais palhaço.
— Estou animado pois meus melhores amigos finalmente encontraram belas mulheres para namorar! — disse ele já emendando uma risada alta. Eu e nos entreolhamos e caímos na risada também.
— Pelo amor de Merlin, Almofadinhas, tenha modos, elas não sabem que você é um idiota ainda. — Sirius o repreendeu, enquanto Remus fingia que não ouviu nada e ia ao encontro da escada para guardá-la em sua mochila.
— Ah, nós já sabemos sim! — respondi, fazendo James rir mais ainda.
— Já gostei delas! Vocês querem ir até a minha casa? Não é muito longe daqui, meia-noite a gente volta. — James perguntou quando se recuperou das risadas.
— Claro, seria adorável. — respondeu como sempre estava acostumada a fazer quando devíamos ser simpáticas, eu sempre a deixava ser encarregada dessa parte.
Erguemos nossos vestidos com as mãos e seguimos aqueles três garotos estranhos na direção da floresta que circundava o jardim da bela mansão que acabamos de fugir.
Imprudente? Talvez.
Divertido? Com certeza.
Fomos contando aos garotos novos como era lá dentro e o que havia acontecido, como tínhamos nos conhecido, e Sirius fez questão de mencionar que Lucius Malfoy estava conversando com os nossos pais e que ele provavelmente estava lá para nos conhecer.
As respostas de Remus e James foram algo como “Lucius é o maior babaca que vocês vão conhecer na vida, a sua vida é amargurada e triste e ele só tem amigos porque os compra com dinheiro”.
— Ah, minha santa Morgana! — A mulher que provavelmente era mãe de James exclamou quando viu eu e minha irmã em sua cozinha. — Quem são essas garotas adoráveis?
Passou por e beijou o seu rosto, depois veio até mim e fez o mesmo.
— Meu nome é Stark, Sra. Potter, e essa é minha irmã — respondeu ela simpática, e tudo o que eu consegui fazer foi sorrir com a boca fechada. Céus, como conseguia ser tão simpática com tanta naturalidade? E como ela lembrava o sobrenome do garoto?
— Que duas preciosidades, lindas! Que vestidos maravilhosos!
— Muito obrigada, é muito simpático da sua parte, e obrigada por nos deixar entrar em sua residência, é uma bela casa.
— Fiquem à vontade, queridas, se precisarem de algo, é só chamar — disse piscando para nós, quando saiu, passou a mão pelo meu rosto como se quisesse me levar junto.
— E nós? — Sirius perguntou brincando e ela riu.
— Vocês já são de casa, se viram sozinhos.
— Está vendo que ultraje? Nós que as trouxemos aqui! — James reclamou jogando-se sobre o sofá.
— Vocês vão estudar em Hogwarts? — perguntou Remus, levando seu olhar de para mim, e sentou-se na outra ponta do sofá, deixando o meio vazio entre eles. Achei mais prudente sentar no outro sofá com minha irmã, assim Sirius sentou-se no meio por falta de opção. Tenho certeza de que ele queria se sentar ao lado de minha irmã, mas... qual é, já estávamos na casa de um estranho, com três garotos estranhos. Já era loucura o suficiente. Eu sei me cuidar, mas nunca colocaria minha irmã em perigo.
— Sim, a transferência já foi feita — respondi. — Todos vocês estudam lá?
— Yep — disse James. — Além disso, ainda estudamos na mesma casa.
— Casa?
— É, Hogwarts é dividida em quatro casas, e os alunos são sorteados de acordo com a sua personalidade.
— Isso é legal. E qual a casa de vocês? — Foi que perguntou.
— Grifinória. É a casa mais foda. Lufa-Lufa são um bando de bunda-moles. — James disse divertido.
— Corvinal são um bando de chatos sabe-tudo. — Sirius complementou.
— E Sonserina são um bando de babacas esnobes. — Remus finalizou cúmplice.
— Ah sim, e a Grifinória só tem os anjos imaculados perfeitos que caíram diretamente do céu. — Rebati irônica e notei Remus puxando um sorrisinho de canto.
— É exatamente isso! — James aplaudiu. — Como você sabe?
Isso fez soltar uma risada.
— Vocês sabem que a chance é muito pequena de irmos para a mesma casa de vocês, certo? — perguntei erguendo as sobrancelhas.
— Vocês são princesinhas puro-sangue — respondeu Sirius. — Certeza que vão para a Sonserina.
— Não, cara, elas são gente boa. Acho que vão para Grifinória. — James rebateu.
— Não precisa se preocupar, James, se a gente for para a Sonserina, ainda vamos conversar com os perdedores da Grifinória como vocês. — Falei convencida, fazendo os três sorrirem.
— Gostei delas, Almofadinhas, você foi certeiro nessa.
Almofadinhas, de novo esses apelidos esquisitos.
— Falando nisso, Aluado, por que você está tão quieto? — Aparentemente Aluado era Remus, suas bochechas ficaram rosadas por um segundo e ele balançou a cabeça distraído.
— Eu? Nada — disse ele apenas. — Estava só aqui pensando em que hora você vai oferecer algo para nós bebermos.
— Eita! — James levantou-se em um pulo, envergonhado, passou por nós e correu até a cozinha atrás de algo.
— Qual é a dos apelidos? — perguntei genuinamente curiosa. trouxe seu tronco para frente e apoiou os cotovelos nos joelhos, esperando a maior história de todas por trás daquele segredo.
— É uma piada interna nossa, meio que perde o sentido se contarmos. — Remus disse olhando de soslaio para Sirius, que concordou com a cabeça.
— Que sem graça! — exclamou voltando as costas para o sofá.
— Eu achei que vocês fossem mais legais. — Entrei na onda tentando convencê-los de contar.
— Nós teríamos que explicar muita coisa para fazer sentido. — Sirius tentou ser convincente, mas aquilo só nos deixou mais curiosas.
— Estamos com tempo, não estamos? — Ergui minha sobrancelha em desafio, e notei que Remus segurou um sorriso.
— Infelizmente, garotas, dessa vez vamos ter que deixar vocês na curiosidade... — Remus disse erguendo os ombros.
— E o que vocês vão fazer para compensar isso? — Minha língua enorme deixou escapar, e notei as bochechas de Remus ficando vermelhas novamente.
Ele tinha aquela vibe indescritível de nerd gostoso que não sabe muito bem que é gostoso, mas quando descobre faz o seu mundo ficar de ponta cabeça. Aquelas bochechas coradas só me davam mais certeza disso, e me deixavam irreversivelmente curiosa para saber até onde Remus iria com aquele personagem de garoto encabulado.
— Posso pensar em algumas possibilidades. — Sirius sorriu ladino. Sirius, por outro lado, sabia que era gostoso e gostava de deixar aquilo bem claro, um destruidor de corações, eu teria que cuidar da minha irmã, ela estava encrencada. Notei que Sirius era muito parecido comigo logo de início, por isso não senti uma atração imediata.
— Eu duvido que qualquer coisa que venha de vocês seja o suficiente para me fazer esquecer essa história de apelidos tão misteriosos.
Sirius se levantou em um impulso, como se tivesse sido muito ofendido.
— Nunca duvide de mim, gatinha — disse, puxando a minha mão e fazendo-me levantar também. Me fez girar como se estivéssemos dançando e me empurrou com delicadeza, fazendo com que eu sentasse ao lado de Remus. Ele se sentou graciosamente ao lado da minha irmã, que estava tão vermelha quanto seus cabelos flamejantes.
— Sutil como uma pena, Black — falei fazendo-o sorrir em minha direção.
— Me desculpe por isso — disse Remus baixinho em minha direção.
— Está tudo bem, Re... — O cheiro que exalava de Remus era, no mínimo, peculiar.
Era delicioso, saboroso, um cheiro que me enchia de lembranças, um cheiro que me trazia uma memória olfativa nítida do meu lar, que me deixou tonta e perdida por meio segundo.
— Remus. — Ele soou ligeiramente magoado por eu não terminar a frase, como se não lembrasse o seu nome.
— Não, eu... Eu sei o seu nome. — Falei balançado a cabeça, tentando afastar o sentimento que o seu cheiro me causava. — Eu só me distraí com uma coisa...
— Chega mais, meus amigos, a festa vai começar! — James voltou com uma garrafa de whisky de fogo em uma das mãos e um pacote de salgadinhos na outra.
Afastei meus pensamentos intrusivos que queriam enfiar meu nariz no pescoço de Remus e bati palmas com a volta de James. Que os Deuses me ajudem, se sóbria eu já quero agarrar o garoto, imagina quando começar a beber.
Continua...
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Nota da autora: Essa história brotou do nada em minha mente e agora eu só consigo pensar nela! O crossover que ninguém pediu mas que vou entregar mesmo assim KKKKKKKKK Eu tentei por muito tempo decidir se a história seria um shipp com Remus ou com Sirius e no fim, decidi fazer com os dois pois eu AMO os dois IGUALMENTE e não consigo decidir! É isto. Espero que gostem e deixem aquele comentário delicinha para mim! Beijos.