Finalizada em: 05/01/2024.





“Vamos, me diga, se ele é a única coisa que ele faz
Seu rímel escorre
e eu faço você cantar
Na cama sem estar relacionado
Ele quer que acendamos juntos
E meus olhos se estreitam
De tantos segredos que tem.”

– Rimmel, Quevedo –

As luzes coloridas não me incomodam.
Acho que já vim aqui pelo menos seis vezes somente essa semana. E hoje é apenas quinta-feira. Costumo passar mais tempo dentro de casa, compondo e aperfeiçoando minhas músicas. Mas hoje, assim como nas noites anteriores dessa semana, eu estou inspirado a conhecer pessoas, mudando os ares de minhas composições. Pode parecer clichê, mas em uma boate é fácil achar muitas histórias boas. Até agora consegui algumas de onde posso tirar algo bom, anotei em meu caderno de letras. Claro que nenhuma delas aconteceu de fato comigo, apenas as presenciei. Minha feição é fechada, normalmente. Deve ser por isso que não fico convidativo a puxar assunto comigo.
Ainda assim ela surgiu do nada para me bagunçar.
Apenas minha cabeça e pescoço se movem no ritmo da música que anima a multidão que lota a casa hoje. Em uma das mãos uma taça com drink pela metade e um guarda-chuvinha boiando no líquido. O celular no bolso da calça vibrando, porém eu não atendi. Algo prende minha atenção. De longe uma linda mulher dança no mesmo ritmo de todos. Um lindo vestido verde claro desenhando seu corpo, os cabelos esvoaçantes bailando no ar e os lábios se mexendo. Parecia dizer algo. Não consegui identificar o que era até apontar para mim mesmo com a mão livre. Ela sorriu, afirmando com a cabeça, e voltou a me chamar.

Vamos dar uma volta?

Não quis acreditar.
Ainda impactado pela ousadia dela em me chamar, de maneira tão aleatória, para dar um passeio, caminhei na direção por onde ela está indo. Ajeitei a blusa de gola alta que uso, fazendo o mesmo com meu casaco de couro preto e fui até ela. A mulher misteriosa suspirou profundamente sentindo o vento frio balançar seus cabelos que são longos, chegando até metade de suas costas. Tão escuros quanto a noite. O céu está limpo, sem nuvens, assim podemos observar as estrelas que reinam seu brilho radioativo.
A mulher continuou caminhando na direção do parapeito do terraço da boate. Quando vi que ela não iria parar, eu corri até ela.

— O que está fazendo?!

A puxei pela cintura, juntando nossos corpos e ouvi seu gemido pelo impacto. Ela se vira para me encarar, seus olhos borrados pelo rímel que mancha seu rosto.

— Onde comprou essas roupas lindas? — é sua primeira pergunta que confesso que me deixou bastante confuso.
— Quê? — soltei diante da aleatoriedade da pergunta.
— Está tão bem vestido. Por que todos os homens não se vestem assim? — diz ela ainda no mesmo tom que não me permitia entendê-la. — E por que todos os homens não têm braços firmes iguais aos seus? — deslizou suas mãos sobre meus braços, fazendo meus olhos seguirem seu movimento.
— Você está bem? — ela ainda alisa meus braços por cima da jaqueta de couro. Mesmo sem sentir seus dedos, minha pele se arrepia por debaixo da roupa que uso.
— Estou — responde, mantendo a boca meio aberta ao fim da frase, senti seu hálito que me revelou que ela tinha bebido o mesmo drink que eu.
— Me chamou até aqui para que eu te impedisse de fazer uma besteira? — deduzi com um tom de irritação e soltei o corpo dela. A mulher arruma o vestido no corpo, empinando o queixo.
— Só porque tem braços… — ela faz uma pausa, analisando com os olhos outra parte de meu corpo — fortes — retoma, distraindo os pensamentos —, não significa que é um homem atraente.
— Do que está falando? — essa mulher consegue me deixar mais confuso do que o dia que tentei aprender japonês para incrementar minhas composições. Eu ri de nervoso.
— Acho que sua pegada bagunçou meu cérebro — admite, rindo e jogando os cabelos para trás de suas orelhas. — Vou retomar do início.
— Seria bom — acompanhei sua risada.
— Me chamo Vega García — ela estende a mão para mim, um lindo sorriso em seu rosto.
— Pedro Quevedo — segurei sua mão também sorrindo.
— Pedro… — repete meu nome, mordendo o lábio inferior. Soltei sua mão voltando a sentir minha pele se arrepiar. — O homem com braços fortes e firmes — sorri sem jeito.
— Se você diz, devo acreditar — Vega encostou na grade de circunda o terraço. — Tem certeza de que está bem? — voltei com a pergunta ao vê-la se calar por longos segundos que pareciam horas.
— Acho que preciso de um tempo — Vega suspirou novamente e me encarou. — Ter um namorado idiota me suga a energia.
— É comprometida, então? — me encostei ao lado dela, um pouco afastado. O que uma mulher que namora queria comigo? Não sou o tipo que me rendo a uma traição.
— Está praticamente morta minha relação — revela, os cabelos dela esvoaçantes para a lateral de seu corpo. E que corpo…
— Por que não termina? — sugeri.
— É mais difícil do que imagina, Pedro — Vega sorriu aparentando cansaço. — Ele não me valoriza, o fato de eu estar aqui hoje, sozinha em uma boate como essa, já revela que ele não gosta de mim.
— Se eu tivesse uma namorada e ela quisesse sair sozinha, não teria problema para mim. Não iria significar que eu não a valorize — opinei e Vega franziu o cenho ainda me encarando. — Apenas que respeito o espaço dela.
— Pedro — ela se aproximou de mim, de repente, encostando seu ombro em meu braço. Sou um pouco mais alto que ela. — Você não o conhece, ele não tem sentimentos por mim, sou apenas uma peça para os negócios dele — senti a amargura em sua voz.
— Não é possível que ele não sinta nada por você, Vega — me distrai nos lábios dela. — Você é tão… adorável e…
— E gostosa? — completou minha frase, engoli em seco sem resposta. — Todos dizem isso, mas nada além. Nunca há algo além, Pedro.
— Precisa achar alguém que seja sensível a você e consiga te entender — os lábios dela ainda prendiam minha atenção, algo dentro de mim me puxando pra mais perto dela fisicamente.
— Se sentem algo por mim, nunca dizem. Não tem como eu saber — disse o óbvio, Vega moveu seu corpo para frente do meu, encaixando-se entre minhas pernas que se abriram num movimento automático. — Eu preciso me libertar e finalmente sentir algo de bom nessa vida, Pedro — Vega estava suplicando por algo que eu não sabia se poderia dar a ela. Querer, eu quero.
— Vega, você está muito perto — alertei, engolindo em seco e parei o movimento dela que aproximava o rosto do meu, ficando na ponta dos pés.
— Me permita sentir algo bom, Pedro, por favor…

Deslizando os dedos em meu peito, Vega me encarou, suplicando com o olhar por um beijo. Corri meus dedos pelo rosto dela, acariciando o local. Mesmo com a maquiagem borrada, ela ainda está linda, maravilhosamente linda. O que meu coração me pede pra fazer é tão errado, vai de encontro ao que penso e prego. Porém, Vega tem esse poder de me desvirtuar do meu eixo. Que atração louca.
Puxei seu rosto num beijo.
Inicialmente havia pensado em dar um beijo inocente, calmo. Porém a perna esquerda de Vega se ergueu, prendendo-se em minha cintura. Suas mãos em minhas costas arranhando o couro de minha jaqueta. Os lábios de Vega estão pegando fogo e outras partes de seu corpo também. Eu posso sentir.
Ela mesma interrompeu nosso beijo indecente para me puxar pela jaqueta para fora dali. Fizemos o mesmo caminho de volta ao interior da boate, passamos pela porta principal até chegarmos à calçada. Dali pegamos o primeiro táxi com destino à casa dela.
O trajeto até lá, que foi curto, foi intensamente difícil de lidar. Isso porque as mãos de Vega não pararam quietas. Sempre deslizando em minha virilha ou por dentro de minha camisa. Nem comentar os olhares devoradores que ela me deu.
Chegamos ao apartamento de Vega, pequeno, mas aconchegante. Mal fechei a porta atrás de mim e ela já começou a se despir. Vega está gananciosa, sedenta por me ter, posso perceber isso e sentir através de seu toque. Logo seu vestido estava no chão, a lingerie verde escura sendo revelada e o corpo escultural de Vega remexendo ao ritmo de uma música que tocava em sua mente. Eu não sabia qual era, mas não interessava no momento. A loucura de estar aqui com Vega, uma mulher comprometida, já era demais para mim, já estava indo de encontro a tudo que prego. Mas, se querem saber, eu não penso nisso agora. Minha mente está ocupada em como tomar Vega em meus braços. Conforme ela ia dançando sua música eu ia me livrando de minhas roupas até o momento em que fiquei apenas de cueca.
Então, voltamos a nos beijar.
Poder sentir a pele de Vega em contato com a minha é divino. Tão quente e macia. Mais uma vez ela demonstra estar sedenta por algo a mais. Parece mesmo que nunca recebeu amor nessa vida e isso me deixava estranho. Como uma mulher como ela nunca foi amada? Nunca recebeu o carinho que merecia?
Tem coisas nessa vida que eu não consigo entender.
Fomos para o quarto dela, resolvi retribuir sua dança. A joguei na cama, o olhar dela em cima de mim enquanto eu dançava. Me virei de costas antes de retirar minha cueca e ouvi o suspiro forçado de Vega.

— Que bela bunda, Pedro! — não pude conter meu riso envergonhado, me virando em seguida.
— Essa bundinha, mami, é sua.

O sorriso de Vega se alarga, jogando sua cabeça para trás. Aproveitei-me de sua breve distração para me lançar em suas pernas, agarrando-as. O movimento a fez me encarar, surpresa.

— Pedro!

Sem resposta minha, Vega deixou eu trabalhar. Tirei sua calcinha e, literalmente, cai de boca em sua buceta. O gosto dela misturado ao de minha boca, preenchendo toda sua extensão. Vega ergue as penas, fincando os pés no colchão, seu corpo se retorcendo conforme eu intensificava minhas chupadas. Vega está totalmente entregue a mim, seus gemidos me incentivam a prosseguir até o momento em que ela explodir dentro de minha boca.
Em instantes, estávamos entregues um ao outro, suados e trocando juras de amor.

Semanas depois…

Vega e eu estamos juntos.
Bom, juntos é uma palavra forte demais. Quando a conheci naquela boate sabia que havia algo errado na relação dela com o namorado. E eu não estava errado. Vega é namorada do Mora, um dos maiores traficantes do país. Por Deus, se eu soubesse disso jamais me envolveria com ela. Porém, o jeito dela me encantou e ainda me encanta. Conhecer a mulher incrível, forte e maravilhosa que Vega García é, foi a melhor coisa que me aconteceu. E agradeço por isso.
Mas, Vega ainda não conseguiu se desvincular de Mora. Ela tinha me dito que ele só a queria por perto por conta dos negócios, por ela ser uma “peça” importante para ele. Agora, sabendo de toda a história, faz sentido. Vega é o braço direito nos negócios de Mora, o ajuda a importar materiais e exportar a droga que o Mora produz para todo o mundo. Praticamente cuida de todo o faturamento da organização.
Mora é um bandido e a trata de uma maneira quase doentia.
Já implorei a Vega para que o largue, ela não merece isso. Mas ela tem medo. Medo dele reagir adverso aos desejos dela e que faça algo contra isso. Que a mate. Confesso que esse também é meu medo.
Ainda assim, estou aqui parado com minha mochila nas costas esperando Vega chegar para fugirmos de trem para outra cidade e, de lá, irmos para outro lugar. Propus a ela essa fuga há duas semanas. Marquei dia e horário. Vega foi contra desde o início. Não sei se ela virá mas, se ela não vier, eu irei embora sem ela. Deixei claro que não aguentaria ficar aqui sabendo de tudo que acontecia com ela. Mesmo me doendo ficar longe, eu irei. Farei minha carreira como cantor longe da minha cidade. Longe de Vega. Me dói tanto, mas eu farei.
O horário combinado chegou e nenhum sinal de que Vega apareceria.
Suspirei frustrado. Ajeitei a mochila nas costas e caminhei. Não a culpo por não ter vindo, não mesmo. Mora não sabia de nosso caso, nem desconfiava, ele de fato não ligava para o que Vega fazia quando não estava com ele. E ela fazia coisas incríveis. Atravessei a estação, chegando até a plataforma de embarque e aguardei o trem parar, abrindo as portas em seguida. Antes de entrar, dei mais uma olhada para trás na esperança de vê-la, mas nada.
Entrei no trem, cabisbaixo, parando ainda na porta.

— Pedro!!!

Um arrepio me percorreu ao ouvir a voz dela.
Me virei, vendo Vega correr com apenas uma bolsa no ombro. Gritei para que esperassem ela entrar, as portas apitaram avisando que se fechariam e eu comecei a me desesperar. Vega parecia tão longe, não alcançaria. Num ato desesperado, me joguei para fora do trem, ainda com um pé dentro, e estiquei o braço. Vega correu e correu. As portas quase se fechando até que ela me alcançou e eu a puxei para dentro. Caímos no chão, eu amortecendo o impacto de sua queda, ao som do último apito do fechar das portas.

— Você veio — falei, emocionado e ofegante. Os cabelos dela caindo sobre seu rosto, pendurados em cima do meu.
— Não o deixaria. Jamais te deixaria.

Vega enterrou seu rosto em mim e eu a abracei.
Não sabia se nossa fuga daria certo, se Mora não nos encontraria e nos mataria. Mas só conseguia me manter na esperança de que daria certo, estando com Vega tudo daria certo.



Fim.



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Nota da autora: Era pra essa história existir? Não. Mas o Quevedo (e sua voz gostosa pra caralho) não deixaram isso acontecer. =D





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