“Um fogo devora outro fogo. Uma dor de angústia cura-se com outra.” William Shakespeare
Ela ouviu o grito primeiro.
O estardalhaço tomou o corredor antes que a porta da enfermaria fosse escancarada pelo atual herói número 1, que estampava ferimentos graves por toda a extensão do corpo e ofegava pela corrida, carregando um corpo mole e quase destruído nos braços.
Seu filho, Shoto.
— Ajuda! Recovery Girl! — Ele gritou, com desespero evidente. não soube o que fazer. Toda a imagem do sangue e olhos raivosos que cintilavam no rosto do homem a deixou paralisada — Você! Por que está parada aí? Chame a Recovery Girl!
O berro desesperado do herói a fez acordar. Ele correu até a primeira maca, depositando o corpo ensanguentado do garoto com o maior cuidado que pode. O sangue escorria de sua testa, camuflando-se com a queimadura vermelha de seu olho esquerdo. Não moveu um músculo, nem sequer um grunhido. Parecia morto.
Ela olhou para a porta, sabendo o que deveria fazer, mesmo sem coragem alguma para tal.
— O que está fazendo?! Não vê que ele precisa de ajuda? Onde está...
— Preciso que o senhor se afaste! — ela conseguiu dizer, mesmo com a voz trêmula e não muito coerente. Não pretendia gritar com um super herói, mas esperava que ele pudesse entender.
— Do que está falando...
— Para trás! — ela gritou novamente, finalmente mexendo os pés até o paciente, puxando os estalos de conhecimento que havia adquirido em todo o estágio com a enfermeira da UA.
Ela chegou perto do rosto do garoto desmaiado — foi tomada de alívio ao perceber que só estava realmente desmaiado — e vasculhou o local de maior incidência dos ferimentos. A carne viva da lateral da cabeça parecia ter jorrado a maior parte do sangue, que descia até o queixo, demonstrando a parte que mais sofreu. Um braço estava quebrado e uma perfuração na região do rim esquerdo poderia vir a se tornar um grande problema. Ela olhou para a porta novamente, mas tinha certeza de não ter muita escolha.
Pousou as mãos na lasca triangular do vidro, preparando-se para puxar e começar de algum lugar. Ela não pode ir muito longe — mãos enormes, apesar de agora mais fracas, puxaram-na com mais força, afastando-a do corpo.
— Quem é você?! O que pensa que está fazendo com o meu filho? Não pense que não consigo te derrotar... — uma tosse violenta acompanhada de sangue o interrompeu, afrouxando ainda mais o aperto de suas mãos.
É claro, devia ser a primeira vez que o grande Endeavor pisava na enfermaria da UA depois de muito tempo. Ele não a conheceria.
— Acho que o senhor tem um órgão danificado. Por favor, espere na outra maca e me deixe salvar o seu filho! — ela adicionou mais firmeza na voz. Endeavor a olhou com confusão latente, mas ela não o daria mais atenção. Soltou suas mãos definitivamente e as levou de novo para o caco gigante, puxando-o de uma vez só.
Finalmente, o garoto pareceu despertar por alguns instantes. Um grito sufocado escapou de sua garganta e ele se mexeu, mas por pouco tempo – até sentir a dor lancinante que atravessou seu corpo inteiro enquanto o sangue jorrava da ferida. Ele abriu os olhos, enxergando nada além de um borrão, tentando identificar os últimos vestígios da batalha.
— Pai... — murmurou ele para a sombra acima de seu rosto. Não se parecia em nada com seu pai; ele nem acreditava que tinha proferido essa palavra. Ele realmente deveria estar morrendo.
Apesar de assustada, conseguiu se lembrar das orientações de primeiros socorros. Sua individualidade era aplicada de forma diferente de sua mentora, a Recovery Girl, que costuma dar beijos nada confortáveis em seus pacientes, estimulando assim a cura. emitia uma luz da ponta dos dedos que lançavam um impulso forte à ferida adentro, agindo como uma grande rede que acelerava a reconstituição de tecido em questão de poucos segundos, perfeita para emergências. Diferente dos extensos tratamentos da Recovery Girl, seu poder era rápido e eficiente, porém doloroso. O garoto Shoto berrou enquanto sentia a luz ardilosa regenerando o buraco feito em sua barriga, de dentro para fora. mordeu o lábio inferior, concentrando a mente o máximo possível para controlar o gasto de sua energia, que já sentia o tremor pela atividade extensa.
Ela finalizou a cura do que julgou ser o ponto mais perigoso, que causaria sérias feridas internas. Apoiou uma das mãos na cama, vendo Todoroki tremer mais um pouco antes de desmaiar pela dor. Endeavor assistia a tudo com olhos saltados de choque.
— Quem é você? — ele perguntou em um fio de voz. Mais uma tosse violenta o fez quase perder a força nas pernas.
Ela pensou em lhe responder, mas Shoto não podia perder mais tempo. Ela já sentia um fio de suor descer por sua testa, e reunia forças para transferir sua habilidade para o outro ponto seriamente danificado do rapaz. Isso a fez congelar; jamais tinha feito curas em lugares tão sensíveis quanto a cabeça. Ela ainda não havia dominado os recentes estudos das substâncias anestésicas e a dor poderia matá-lo. Seu cérebro poderia se partir pela intensidade da luz invasora. Ela não sabia o que fazer.
Olhou para a porta novamente. Quando ela chegaria?!
— Ei, garota! — ouviu o rugir de Endeavor atrás de si, pegando em seu braço novamente — Não me faça dizer novamente, quem é...
— Solta ela, Endeavor! — finalmente a voz de Chiyo surgiu na sala, acompanhada em uma corrida por Nao Yoshikawa, a secretária que convenientemente estava acompanhando a heroína em uma ida rápida à sala do diretor. O herói bufou e soltou-a novamente, tendo consciência de que não tinha forças para ameaçar mais ninguém naquele dia.
— Senhorita Shuzenji, eu... Tentei... — começou, sentindo as mãos começarem a tremer.
A enfermeira ergueu uma das mãos para que se calasse.
— Você fez um ótimo trabalho, . Vou fazer questão de pontuá-la muito bem — a Recovery Girl disse sem olhar para a pupila. Avaliava os estragos no estudante à sua frente, juntando as sobrancelhas enquanto definia uma estratégia na área delicada — Agora saia e vá trocar essas roupas ensanguentadas enquanto eu cuido desses dois. Já está uma confusão suficiente lá fora por causa dessa entrada súbita.
concordou com a cabeça enquanto sentia os braços de Yoshikawa atravessando seus ombros, conduzindo-a para fora da sala. Girou a cabeça para trás uma última vez a tempo de ver a cabeça pendida do veterano para o lado, e pode jurar por um momento que seus olhos se abriram em uma linha fina em sua direção.
Continua...
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Nota da autora: Sem nota.
Nota da script: Que prazer scriptar essa BELEZINHA!! <3333