Nossa Estrela




Última atualização: 21/08/2023
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O carro foi estacionado e nos preparamos para sair. Respirei fundo antes de abrir a porta e descer.

- Não caiu a ficha de que minha filha vai se mudar para o outro lado do planeta. – Fui abraçada por minha mãe que tinha os olhos marejados, mais uma vez. – Prometa me ligar sempre.
- Prometo ligar sempre que der mãe. – Me soltei do abraço, indo ajudar meu pai com as malas. – Os meninos não vêm mesmo? – Perguntei começando a puxar uma das malas comigo.
- Dave ia tentar vir, mas não prometeu nada, disse que está muito ocupado com a produção do CD daquele cantor lá. Qual era mesmo querida? – Se virou para minha mãe que riu, balançando a cabeça negativamente. – Allan está fotografando uma campanha nova em NY. Não se chateie caso eles não apareçam filha, a vida deles é bem corrida, você sabe. – Balancei a cabeça afirmando e tentei sorrir, mas aposto que ficou mais parecido com uma careta. Não acredito que ia viajar sem me despedir dos meus irmãos. Adentramos o saguão do aeroporto e fomos direto para a fila do check-in.
- Eu fico tão orgulhosa de vocês. Saber que cada um dos meus filhos está encaminhado, crescendo e vivendo suas próprias vidas. – Fui abraçada novamente e acabei rindo. Desde que recebi a notícia de que fui aceita num escritório na capital sul coreana e que me mudaria para lá, minha mãe se tornou ainda mais emotiva. E eu entendia, afinal a única filha que ainda morava sob o mesmo teto, alçaria voo para longe.

Não demorou muito e fui chamada ao balcão de atendimento para fazer todo o processo com a documentação e as bagagens, que não eram muitas, já tínhamos ido outras duas vezes para resolver sobre a mudança e boa parte das minhas coisas já estavam arrumadas no meu futuro apartamento. Quando peguei enfim a passagem, meu coração chegou a errar uma batida e os olhos ameaçaram marejar, respirei fundo e me virei para meus pais tentando sorrir, mas meu coração estava apertado, a saudade batendo sem mesmo eu ter ido ainda.

- Vamos? – Perguntei ao casal que permanecia ao meu lado, ambos sorriram e cada um segurou uma de minhas mãos. Caminhamos assim em direção ao acesso do saguão de embarque. O aeroporto MIA (Aeroporto Internacional de Miami) era enorme e lindo, sempre que vinha aqui me surpreendia com a beleza do lugar, era inevitável. Faltava pouco para chegarmos quando vi duas pessoas vestidas com macacões que lembravam um urso, eles seguravam balões e pareciam discutir. Percebi que meus pais seguraram a risada e continuamos a caminhar. Quando estávamos perto o suficiente e percebi quem eram as duas pessoas, um nó subiu a garganta, Allan e Dave estavam ali.
- Não acredito nisso! – Soltei meus pais e corri em direção aos meus irmãos. Quando eles me abraçaram não consegui segurar as lágrimas. Com certeza, de tudo, o que mais me faria falta nessa mudança seria a companhia deles. Eles eram meu ponto de calma, no abraço deles eu ficava em paz.
- Você achou mesmo que a gente ia perder esse momento? – Allan perguntou se separando do abraço e secando os olhos. Dave se manteve abraçado a mim com um braço apoiado em meu ombro.
- Não me perdoaria se perdesse esse momento. – Dave tinha a voz embargada, assim como a minha deveria estar. O abracei de novo escondendo o rosto em seu peitoral. – Vou sentir muito a sua falta maninha. – Apertou nosso abraço, apoiando o queixo no topo da minha cabeça.
- Vocês aprontam cada uma. – Ouvi meu pai dizer e me afastei do abraço de Dave, indo para o lado de Allan, que me abraçou de lado. – Por que estão vestidos assim? – Olhei para a roupa dos rapazes e não aguentei segurar um sorriso, eles estavam fofos demais. O macacão que Allan vestia era marrom, felpudo e na touca tinha orelhas de urso, já o que Dave vestia era branco com orelhas de urso pretas. Um urso era pardo e outro era panda. Definitivamente eu sentiria muito a falta deles.
- Foi ideia do Allan. – Dave respondeu levantando os ombros e jogando a cabeça para o lado, o que o deixou ainda mais fofo.
- Essa despedida tinha que ser memorável. - Allan comentou sorrindo.
- Preciso registrar esse momento. – Minha mãe pegou o celular, já o levantando para nos fotografar. – Até parece que eles voltaram a ser crianças com essas roupas, não é querido?
- Crianças de um metro e noventa de altura. – Meu pai brincou nos tirando uma risada. – Até que ficou bonita essa foto, mesmo com os narizes vermelhos. - Tirou sarro enquanto minha mãe nos fotografava. – Mas infelizmente está na hora de darmos tchau crianças. – Minha mãe guardou o celular na bolsa e veio em minha direção com os braços abertos.

Foi difícil segurar as lágrimas durante nossa despedida. Apesar de estar feliz por dar um grande passo na minha carreira, meu coração se apertava de lembrar que eles não estariam ao meu lado no dia a dia. Quando a oportunidade surgiu, conversamos muito sobre, pois seria um grande passo. Era uma mudança grande, um novo emprego, uma nova casa, um novo país, uma vida completamente nova e sem os meus pilares por perto.

- Que sua viagem seja tranquila filha. – Minha mãe me abraçou mais uma vez. – Assim que chegar no aeroporto nos ligue, independente da hora. – Se afastou secando as lágrimas.
- Nada de namorados mocinha! – Allan brincou, bagunçando meus cabelos.
- Para com isso garoto! – Ralhei passando as mãos na tentativa de arrumar a bagunça. – Preciso ir, ainda tem um longo caminho até o embarque. – Respirei fundo e tentei sorrir. Olhei para cada um ali e meus olhos marejaram mais uma vez. – Aí droga eu não queria chorar.
- Parece um palhacinho com o nariz vermelho assim. – Dave brincou, mas estava do mesmo jeito. – Entrega logo a mala dela pai, antes que ela inunde o aeroporto de tanto chorar.
- Ela ou você? – Meu pai brincou e Dave fez um biquinho com os lábios. – Aqui meu amor, agora é hora de ir. – Me estendeu a mala lilás e a peguei, minhas mãos estavam trêmulas. – Estaremos aqui torcendo para tudo dar certo.
- Obrigada. Eu amo vocês! – Disse arrumando a alça da mochila no ombro e me preparando para partir.
- Nós também te amamos filha. – Sorri com a fala de minha mãe e respirei fundo mais uma vez antes de me virar e caminhar até o portão que me levaria até o saguão de embarque. Olhei uma última vez para minha família, enquanto o segurança olhava meu passaporte e passagem, eles estavam abraçados e sorriam em minha direção.
- Pode passar senhorita. – O segurança estendeu meus documentos, os peguei e acenei, me despedindo uma última vez da minha família. Passei pela catraca e segui o fluxo dos outros passageiros, indo em direção a fila do detector de metais.

Que alívio me deu quando pisei os pés no salão de embarque, finalmente. Conferi mais uma vez o número do meu portão e em seguida o relógio, eu tinha ainda um bom tempo até meu voo ser anunciado. Caminhei então em direção a sala VIP, aproveitaria meu tempo lá. Apresentei meu cartão e documento para a atendente que ficava na porta da sala e depois de verificar ambos, meu acesso foi liberado, agradeci e entrei. Como eu amo as salas VIPS dos aeroportos. Sentei-me em uma poltrona, deixando a mala ao meu lado, peguei meu celular na mochila verificando as notificações e o guardei de volta, peguei o livro que escolhi para me acompanhar na viagem e passei a lê-lo. O tempo passou até que rápido enquanto estive ali e logo deu o horário do meu voo, guardei meus pertences, ajeitei a mochila nos ombros, peguei a mala e sai daquele ambiente. Por sorte meu portão não era tão longe de onde eu estava e logo cheguei, me sentei em uma cadeira por ali e esperei o voo ser anunciado. E quando aconteceu, muitas pessoas que estavam próximas se levantaram para formar as filas do embarque e eu fiz o mesmo, me levantando e parando em uma delas.
Quando chegou minha vez, entreguei a passagem e meu documento para a funcionária, que verificou e me entregou de volta, liberando meu embarque. Caminhei pelo túnel até a entrada do avião.

- Boa tarde, posso ver sua passagem, por favor? – A comissária solicitou e a entreguei. – Seja bem-vinda senhorita Castellary, por aqui. – Se virou caminhando em direção a classe executiva e a segui. Parou em frente ao meu assento e solicitou minha bagagem para guardar, a entreguei e agradeci. – Fique à vontade e tenha um ótimo voo.
- Obrigada. – Se despediu e voltou para a entrada do avião. Tirei a mochila dos ombros e me sentei em meu lugar, peguei meu celular e enviei mensagem para meus pais avisando que já tinha embarcado.

Aos poucos o avião foi enchendo, e um tempo depois o piloto anunciou que iríamos decolar. Me ajeitei na poltrona, essa era a pior parte para mim. O avião começou a se movimentar para a pista de decolagem e fiquei observando pela pequena janela. O céu estava lindo, azul e com algumas nuvens branquinhas. Fechei meus olhos e preparei uma oração, pedindo para a viagem ser tranquila. Quando os abri de novo, o avião estava posicionado no início da pista. Não consegui segurar as lágrimas quando ele passou a andar e pegar velocidade, agora era para valer, mais um capítulo se iniciaria. E seria o melhor da minha vida.





Fazia um mês que tinha chegado a Seoul, mas parecia que fazia anos. O escritório em que estava trabalhando era especializado em cenários, sejam eles para vídeo clipes, programas de tv, comerciais, séries e novelas. Ainda estava me adaptando a nova rotina, que incluía pegar muito trânsito de manhã, sentar na minha mesa no escritório e só levantar para engolir alguma coisa na hora do almoço, voltar para minha mesa e só ir embora depois que o sol já tinha se posto.
Parece que todos os grupos de kpop resolveram fazer seus comebacks de uma vez só e estávamos atolados de trabalho, criando cenários e mais cenários, seja para algum vídeo clipe ou para o palco de apresentação. Atualmente eu estava responsável pelo cenário do vídeo clipe de um grupo masculino, e essa responsabilidade incluía projetar os cenários, apresentar diversas vezes para os empresários e equipe responsável pelo grupo, correr atrás de fornecedores para executar o projeto, acompanhar a construção do cenário no local de gravação e acompanhar a gravação em si, para garantir que tudo ocorreria bem.

- Annyeonhaseyo. – Cumprimentei as recepcionistas quando passei pelo balcão do saguão do prédio. Peguei o crachá na bolsa e passei a catraca. Hoje tinha chegado mais cedo que o normal, pois teria uma reunião para apresentar o projeto aos responsáveis pelo grupo. Seria minha primeira reunião do tipo, desde que cheguei aqui. Subi as escadas até o segundo andar, onde ficava a toca dos cenógrafos, como o pessoal que trabalhava aqui costumava chamar. Aproximei o crachá na fechadura eletrônica e a porta de vidro abriu, acendi as luzes da sala e caminhei até minha mesa.

Nossa sala era bem diferente das demais, enquanto o prédio todo seguia um estilo minimalista com tons claros, móveis com linhas retas, pouca decoração além dos vasos de planta espalhados, nossa sala tinha paredes de tijolos vermelhos aparentes, muitos quadros pendurados nas paredes, luminárias pendentes, poltronas e cadeiras coloridas, nossas mesas tinham um formato mais orgânico com tampos coloridos, a sala de reuniões tinha carpete verde e paredes de vidro. Quando entrei pela primeira vez me assustei com a diferença gritante desse ambiente com o resto do prédio, mas depois de alguns dias já estava acostumada e entendia o porquê.
Sentei-me em minha cadeira e liguei o computador, tirei a agenda e celular da bolsa, os posicionando sobre o tampo. Quando o computador ligou, abri a pasta com a apresentação e passei para um pendrive e para um tablet.

- Annyeonhaseyo shi. – Ouvi a voz de minha colega Kim Yoojeong e olhei em sua direção, ela estava acompanhada de Park Suji, um outro colega, que fez a saudação com um balançar de cabeça. Cumprimentei de volta e os dois seguiram para suas respectivas mesas. – Chegou cedo hoje, está ansiosa para a sua reunião?
- Ansiosa é pouco. – Respondi me levantando e indo para a impressora, pegar as folhas impressas com a apresentação.
- Seu projeto ficou incrível, aposto que eles vão aprovar de primeira. – Suji comentou me tirando um sorriso. – Só não te acompanho na reunião porque você sabe né? Estamos atolados de trabalho.
- Você começou em um ótimo mês, . – Yoojeong comentou rindo.
- Nem me fale, parece que vivi um ano nesse mês. – Voltei para minha mesa e passei a organizar os papeis.
- Annyeonhaseyo. – Olhamos ao mesmo tempo para a porta, No Hamyom entrava com toda sua beleza e antipatia. Ela era linda e sabia muito bem disso, estava sempre bem arrumada e desfilava por aí com seus cabelos castanhos em ondas e um belo sorriso no rosto. Mas por algum motivo, que ainda não descobri qual é, ela sempre me tratava com indiferença e quando eu perguntava algo, era respondida sempre com respostas monossilábicas ou de forma ríspida.
- Annyeonhaseyo! Chegaram cedo hoje. – Oh Minho saudou indo em direção a sua mesa. Acompanhei com o olhar enquanto ele fazia o caminho dele e percebi que Yoojeong fazia o mesmo, quando nossos olhares se cruzaram, sorrimos discretamente uma para outra. – Espero que todos tenham um dia produtivo hoje. Vamos começar! – Minho bateu palma ao final de sua fala e se sentou em sua cadeira. Ele era um homem muito bonito, estava sempre com roupas sociais, muito bem arrumado e perfumado. Céus eu amava o perfume que ele usava. Não podemos esquecer dos músculos, Oh Minho era fã de academia, e seu corpo mostrava muito bem isso.

Cada um de nós passou a prestar atenção em suas próprias tarefas, Suji de vez em quando soltava um resmungo baixo, mas os únicos barulhos que preenchiam o lugar vinham das teclas dos teclados e cliques dos mouses. Eu amava esse som, mas hoje ele estava me deixando nervosa. Olhei para o relógio e o tempo parecia não passar, o que aumentava meu nervosismo.

- Annyeonhaseyo! – Olhamos em direção a porta e nosso chefe entrava, vestido no seu terno muito bem cortado e seu topete levemente grisalho. – Lee Donghae era um homem discreto, elegante, gentil e muito exigente com o trabalho. Ele me acolheu muito bem quando cheguei aqui, as vezes parecia que ele era um pai e tratava todos os empregados como filhos, tratava a todos da mesma forma simpática e exigia de todos um ótimo desempenho em seus cargos. - shi, podemos conversar na sala de reuniões? Prometo que será bem rápido. – Meu corpo gelou. – Não precisa fazer essa cara de assustada, vamos? – Assenti me levantando e caminhando em sua direção. A cada passo que eu dava sentia que meu coração ia parar. Donghae abriu a porta de vidro e esperou para que eu entrasse, assim que o fiz me sentei em uma das cadeiras e ele pegou o controle em cima da mesa para fechar as persianas. – Serei breve. Analisei seu projeto e gostei muito do resultado, acredito que não terá problemas com aprovação dos clientes. – Assenti devagar, meu coração batia acelerado e meus pés balançavam sem parar por baixo da mesa. – Mas como esse é seu primeiro trabalho e daqui a pouco você terá a primeira reunião, senti que precisava vir aqui dar uma palavra de apoio. – Meus olhos se encheram de lágrimas, mas me focei a segurá-las, o quão humilhante seria chorar na frente do chefe?
- Obrigada Lee Donghae shi, isso é muito importante para mim. Prometo dar o meu melhor. – Minha voz saiu um pouco embargada, mas consegui não derramar nenhuma lágrima. Donghae sorriu e assentiu, se levantando em seguida e abrindo as persianas da sala. Olhei para fora e vi algumas cabeças se virando de volta para os computadores, segurei e risada e me levantei.
- Sua reunião começa em breve, dê seu melhor e faça eles aprovarem esse projeto. – Assenti e me curvei de leve, quando voltei a minha postura ele apenas se virou e saiu da sala, observei ele sair da nossa toca e quando a porta de vidro se fechou me joguei de volta na cadeira que estava atras de mim.
- O que ele disse? – Yoojeong entrou na sala e se jogou numa cadeira próxima. – Ele te deu uma bronca? Fala logo criatura! – Levei um tapa na perna porque demorei a responder. Respirei fundo e joguei o cabelo para trás.
- Eu pensei que ia morrer, sério. – Coloquei uma das mãos sobre o coração. – Ele veio me dar uma palavra de apoio já que terei minha primeira reunião daqui a pouco.
- Lee Donghae shi não deixa passar uma. Ele fez isso com todos nós, parece que é um hábito, sei lá. – Deu de ombros e se levantou. Observei minha colega sair, ela estava bonita hoje. Os cabelos pretos e lisos estavam soltos, usava uma camisa social azul clara e calça jeans, nos pés ela caçava scarpins brancos. Kim Yoojeong devia ter passado muitas vezes na fila da beleza antes de nascer, ela era simplesmente perfeita e por onde passava atraía olhares.

Passei as mãos no cabelo mais uma vez e me levantei, não podia ficar perdendo tempo, ainda mais hoje. Caminhei até minha mesa e dei mais uma conferida nos papeis impressos mais cedo. Olhei para o relógio e faltavam trinta minutos para a reunião começar, logo os clientes chegariam. Organizei tudo que precisaria e segurei em meus braços. A reunião aconteceria no quinto andar, na sala principal de reuniões.

- Boa sorte novata! – Minho disse quando me viu passar e os outros levantaram as cabeças.
- Fighting! – Yoojeong e Suji disseram juntos e sorriram, sorri de volta e me curvei levemente. Hamyom apenas abaixou os olhos para o computador, voltando a trabalhar, ou seja lá o que estava fazendo.

Apertei o botão que abria a porta e sai da toca, indo em direção ao elevador.





Estava tudo pronto para a reunião começar. Já tinha conectado o notebook ao telão e repassado a apresentação. Faltavam apenas os clientes chegarem. Ajeitei mais uma vez minha roupa, tinha escolhido para hoje uma camisa social com um corte mais moderno, calça pantalona jeans e scarpin nude. O que não fugia muito do que eu costumava usar no dia a dia, eu precisava estar confortável para essa reunião e usar algo que me fazia sentir bem era um passo para isso. Verifiquei o horário mais uma vez e no mesmo instante a porta se abriu e uma funcionária, que eu não sabia o nome, entrou, ela segurou a porta e começaram a entrar alguns homens usando roupas sociais. Mordi meu lábio inferior em demonstração de nervosismo. Um deles olhou em minha direção e se curvou, o que fez os outros também olharem e repetirem o movimento.

- Annyeonhaseyo! – Os cumprimentei me curvando e sorri. – Sentem-se, por favor, fiquem à vontade. – Apontei para as cadeiras e um por um eles foram se sentando. No total eram cinco homens e todos me olhavam com curiosidade, acho que não imaginavam que seria uma estrangeira a responsável pelo projeto. – Sou Castellary, arquiteta responsável pelo projeto do cenário do próximo vídeo clipe dos senhores.
- É um prazer conhecê-la senhorita. Estou ansioso para ver o que preparou para nós. – O que estava mais afastado na mesa disse, cruzando as mãos sobre o tampo e sorrindo ao final da frase. Assenti com um pequeno sorriso no rosto e me virei para o telão, apertando o botão do controle que estava em minhas mãos.
- Waa! Já gostei. – Um deles comentou animado e franzi os lábios para não abrir um sorriso.
- Vou começar então... – Comecei a apresentação e todos ficaram em silêncio, os olhos atentos a cada detalhe que era apresentado. A cada novo slide passado, minha confiança ia crescendo. Eles estavam satisfeitos com meu trabalho, isso era notório em suas faces. Algumas dúvidas surgiram no decorrer da apresentação, mas depois da explicação eles apenas assentiam e escreviam algo em seus blocos de notas. – E finalizamos aqui, espero que tenham gostado da proposta. – Sorri e coloquei os braços para trás do meu corpo, entrelaçando minhas mãos.
- Sua apresentação foi impecável senhorita e o projeto ficou muito bom.
- Concordo com o Kang Siwon-shi. Você conseguiu tirar do papel todas as nossas ideias. Por mim está aprovado. – Olhou em direção aos outro quatro senhores que assentiram e concordância. – Então podemos passar para a próxima etapa. – Apoiou as mãos na mesa. – Precisamos desse projeto pronto em três semanas. – Arregalei os olhos e engoli em seco, era um prazo bem apertado e eu teria que trabalhar muito para conseguir entregar. Além de torcer para os fornecedores entregarem tudo nesse prazo também. Atrasos não eram tolerados pelo senhor Donghae, eu já tinha visto nesses meus poucos dias na empresa, ele brigando com Suji por conta de um atraso na entrega de um projeto de iluminação e com certeza eu não queria passar pelo mesmo que meu colega.
- É um prazo apertado, mas farei meu melhor para entregar tudo. – Me curvei em respeito a eles, que sorriram com minha resposta. Eu estaria ferrada nas próximas semanas, mas entregaria tudo com a máxima excelência.
- Nos vemos em alguns dias senhorita Castellary. – Kang Siwon disse se levantando e estendendo a mão direita na minha direção, sequei a minha mão discretamente antes de aceitar o aperto do homem. – Mal posso esperar para ver tudo isso pronto. Até logo. – Se despediu com um sorriso e caminhou em direção a porta, a abrindo e saindo da sala. Os demais repetiram o gesto e foram saindo um a um, quando o último passou pela porta eu pude enfim ficar calma.

Não consegui segurar o sorriso em meu rosto, eu estava muito feliz. Tinha dado tudo certo, afinal. Aproximei meu crachá da fechadura e a porta da toca se abriu. Três pares de olhos se viraram para mim e eu sorri ainda mais. Yoojeong veio em minha direção e me abraçou.

- Eles aprovaram de primeira? – Suji perguntou se levantando e vindo em minha direção
- Sim! – Exclamei e ele sorriu, me dando um abraço de leve. Ainda não tínhamos intimidade suficiente e ele era um rapaz muito respeitador. Na verdade Park Suji era um príncipe saído de um conto de fadas. Os cabelos ondulados repartidos ao meio o davam um visual de ídolo de kpop, juntando isso a sua altura, porte físico e estilo de se vestir, você tinha um homem perfeito. Ele ainda era muito prestativo, simpático e aparentava ser um amigo muito leal. Um partido e tanto.
- Eu disse que você ia arrasar garota! Precisamos comemorar. – Se virou para os outros colegas, Minho levantou uma das mãos em um sinal de positivo, já Hamyom apenas deu de ombros.
- Eu super topo. Mas agora acho que você tem muito mais trabalho a fazer, certo? – Yoojeong me perguntou, segurando um de meus braços e sorriu. Quase apertei suas bochechas, porque ela estava muito fofa, mas me limitei a assentir e relaxar os ombros.
- Eles me passaram um prazo de três semanas para entregar tudo. Preciso ligar para os fornecedores o quanto antes. – Passei a andar até minha mesa e me sentei, colocando tudo sobre o tampo.
- Se precisar de ajuda é só nos chamar. Somos uma equipe e estamos aqui para nos apoiar. – Yoojeong me abraçou e voltou para sua mesa. Eu sorri, não tinha como não ficar feliz. Yoojeong era um amor de pessoa e a cada dia eu gostava mais e mais dela, o que não era difícil, na verdade era fácil até demais.
- Se precisar é só chamar novata. – Minho piscou em minha direção e senti minhas bochechas esquentarem. Eu era acostumada a conviver com muitos homens bonitos, principalmente depois que meus irmãos passaram a trabalhar com pessoas muito famosas, mas Minho tinha alguma coisa, um charme especial que me deixava tímida.
- Obrigada Minho-shi. – Sorri em resposta e ele voltou ao trabalho. Girei a cadeira e me posicionei para começar o trabalho.

Bem que Suji e Yoojeong tinham me dito que a parte mais complicada do trabalho não era projetar e sim tirar do papel as nossas ideias. Liguei para os fornecedores e ouvi muita reclamação quando disse a data de entrega. Meus ouvidos já começavam a doer quando finalizei a última ligação. Me ajeitei na cadeira e estiquei os braços, estava cansada, e o dia nem tinha começado direito. No dia seguinte teria que ir até a marcenaria parceira para apresentar o projeto e alinharmos tudo.

- Vamos almoçar? – Olhei para o relógio e me assustei com o horário, metade do dia já tinha se passado e eu só queria me jogar na minha cama e dormir por doze horas seguidas. – Você vai com a gente Hamyom?
- Tenho uma reunião daqui a pouco, vou almoçar depois. – Ela sorriu para Suji e voltou a atenção para o computador, se eu tivesse perguntado ela com certeza só diria não, isso se não fingisse que não ouviu, como já fez outras vezes.
- Vocês vão agora? – Suji perguntou e me levantei, Yoojeong estendeu uma das mãos para mim, a segurei e seguimos para a porta. – Não vejo a hora de essa época de comebacks passar. Vou pedir alguns dias de folga, se não é capaz de minha cabeça explodir. – Suji levou as duas mãos a cabeça e as afastou, como se estivesse explodindo.
- Você reclama demais Park Suji. – Minho esbarrou o ombro no do amigo, que forçou uma cara de dor e levou a mão ao local atingido.
- Vai com calma hyung, esqueceu que é feito de aço? – Yoojeong e eu nos entreolhamos e começamos a rir.
- Você é um palhaço Suji oppa. – Yoojeong comentou para o colega que abriu um sorriso. – Vamos logo que estou morrendo de fome. – Continuamos nosso caminho até o refeitório que por sorte estava quase vazio. Entramos na pequena fila para nos servir e em seguida nos sentamos em uma mesa mais afastada. O almoço como sempre foi tranquilo, eu me divertia demais com meus colegas. Vira e mexe Minho se tornava alvo das brincadeiras de Suji e era divertido ver o mais velho perdendo um pouco a paciência porque a gente sabia que o jeito bravo dele era apenas fachada.
- Hora de voltar para a toca, o trabalho nos espera. – Minho disse quando finalizou o seu prato. – Quer que eu leve sua bandeja? – Me perguntou e apenas assenti. – Vocês dois acelerem! Sejam pontuais com o horário. – Se levantou e pegou as duas bandejas, permaneci sentada e olhei para minha colega que apenas deu de ombros e voltou a comer.
- Vou indo nessa, até logo! – Me despedi e caminhei em direção a porta do refeitório, encontrando com Minho que fez uma leve reverencia e passou a caminhar em direção a nossa sala. O caminho foi silencioso, eu ainda não sabia muito bem como me portar quando estávamos sozinhos, essa coisa de idade e tratamentos sempre me deixa receosa.
- Você tem muito trabalho pela frente, -shi. Se quiser se sair bem aqui, precisa se dedicar o máximo possível. – Ele comentou sem me olhar.
- Darei meu melhor, Oh Minho-shi. – Me curvei de leve e quando voltei a postura, o homem tinha um sorriso discreto no rosto. Isso devia ser um bom sinal.
- Contamos com isso. – Deu um tapinha em meu ombro e voltou a caminhar, fiquei um tempo parada o observando de longe e não consegui evitar que um sorriso surgisse.





Finalmente em casa! Que felicidade chegar em meu cantinho, tirar os sapatos e me jogar no sofá. O período da tarde tinha sido uma loucura, mais um projeto havia chegado e agora eu teria que me virar em duas para entregar ambos os projetos com perfeição. Peguei o celular na bolsa e verifiquei o relógio de fuso horário para saber que horas eram em casa, quer dizer, na casa de meus pais. Mandei algumas mensagens informando como foi meu dia e bloqueei o aparelho. Caminhei para o banheiro, precisava de um banho para relaxar e foi isso que fiz. Talvez tenha demorado mais do que o necessário, mas quando sai me sentia leve. Peguei o celular mais uma vez e vi que tinham respostas, trocamos mensagens por um tempo até eu decidir ir me deitar.
Eu pensava que essa diferença de fuso horário não fosse algo que incomodaria muito, mas estava sendo bem complicada. Dificilmente eu conseguia parar e conversar com meus amigos e família, quando o dia estava terminando aqui para eles estava apenas começando. Eu sentia uma saudade tremenda de trocar mensagens contando trivialidades do nosso dia, ou de ficar horas a fio em ligação ou vídeo chamada.
Me virei na cama, ficando de frente para a janela do quarto e tendo a visão de Seoul, tão linda. A cidade tem um charme que nos envolve e nos faz apaixonar de um jeito que não tem volta, mas a minha Miami... me faltam palavras para descrever o quanto eu amo meu lar. Não consegui evitar que algumas lágrimas escorressem, a saudade era forte demais, mas eu aprenderia a lidar com ela.
Abri os olhos assim que o despertador tocou, eram 7am. Me espreguicei e levantei, fui até o banheiro para escovar os dentes e lavar o rosto. Ainda sonolenta fui para a cozinha preparar um café da manhã simples, cortei algumas frutas e adicionei iogurte, comi com tranquilidade e depois lavei a louça que sujei. Voltei para o quarto e separei a roupa do dia, como teria que ir para a marcenaria preferi uma roupa mais confortável, calça jeans reta, uma camiseta lisa e um blazer azul marinho por cima, nos pés eu usaria meu par de tênis branco favorito. Dei uma última olhada no espelho e sentei em minha bancada para fazer a maquiagem, nada muito complicado também, apenas correção de olheiras, blush, rímel e um gloss num tom próximo a minha boca, prendi a franja com grampos decorados com pérolas e era isso. Simples, confortável porém arrumada para mais um dia de trabalho pesado.
Peguei a mesma bolsa do dia anterior, calcei os sapatos no hall do apartamento e estava pronta. Fechei a porta atrás de mim e caminhei até o elevador. Era engraçado que em todo esse mês, se encontrei dois vizinhos foi muito e nesses encontros não trocamos muitas palavras além do cumprimento. Desci até a garagem pelo elevador e fui até meu carro, entrei e encaixei a chave na ignição, coloquei o endereço da marcenaria no gps, para o meu azar era bem longe de casa, mas para minha sorte não tinha muito trânsito no caminho, dei a partida e sai da garagem.
O caminho foi até tranquilo, sintonizei uma estação de notícias no rádio, hábito que peguei do meu pai, nós sempre ouvíamos as notícias de manhã no caminho para a escola. Estacionei em uma vaga na rua e peguei todos os meus pertences. A marcenaria ficava em galpão grande até e tinha uma fachada bem bonita. Toquei o interfone e esperei. Fui recepcionada por um senhor de meia idade, que parecia estar de mal humor – que sorte a sua -, o segui em silêncio até o escritório.

- Espero que não tenha inventado muita coisa igual àquela No Hamyom. – Disse se sentando em uma cadeira na ponta da mesa de reuniões. – Deixa eu ver isso.
- Oh sim. – Me sentei e tirei o notebook da bolsa, assim como as folhas com todo o projeto executivo do cenário. Estendi as folhas sobre a mesa e empurrei em sua direção. Ele analisou tudo em silêncio e isso estava me deixando nervosa.
- Muito bem, vai ser fácil de fazer isso. – Abaixou as folhas e me olhou. – Vou chamar alguns funcionários para você explicar isso. – Se levantou e caminhou até a mesa no fundo da sala e telefonou para alguém solicitando que três pessoas subissem, desligou o aparelho e voltou para seu lugar à mesa.
- Não sei se o senhor se lembra, mas o prazo para esse projeto está um tanto curto. – Ele me olhou e me calei.
- Nós já fizemos projetos bem maiores em prazo mais curto senhorita, pode ter certeza de que esse aqui vai ser fácil de realizar. – Disse gesticulando para as folhas, me limitei a assentir. Ouvimos batidas na porta e ele liberou a entrada. – Que bom que chegaram, a cenógrafa explicará esse projeto. Vocês terão duas semanas para finalizar tudo. – Os três homens se sentaram e me levantei, espalhando as plantas pelo tampo da mesa.

Passei a manhã toda na marcenaria, expliquei o conceito do projeto e do porquê as escolhas dos materiais e cores aplicadas, trocamos ideias para a execução e métodos construtivos de cada cenário e ao final de tudo, todos ficaram satisfeitos com esse encontro. Me despedi e todos e fui levada até o portão de entrada pelo dono do local, que já não aparentava mais tanto mau humor. Acenei uma última vez antes de entrar no carro e dar partida.
Para o meu desespero o trânsito para o escritório estava caótico. Demorei mais do que o esperado e torcia para que Lee Donghae shi não brigasse comigo pelo atraso. Estacionei na primeira vaga que achei, tive muita sorte de achá-la para falar a verdade. Peguei todos meus pertences mais uma vez e parti para o prédio. Cumprimentei a recepcionista e passei pela catraca, chamando o elevador. Quando as portas se abriram no meu andar, caminhei até a toca encontrando todos em completa concentração.

- Annyeonhaseyo! – Cumprimentei em um tom de voz mais contido enquanto caminhava até minha mesa e recebi sorrisos em retorno. Como estavam todos em silêncio, apenas me sentei e liguei meu computador, atualizando o cronograma do projeto e em seguida abri o e-mail com a solicitação do novo cenário.

Passei muito tempo concentrada em estudar todos os arquivos enviados para poder propor alguma ideia, esse cenário seria um pouco mais complexo que o primeiro e eu teria que trabalhar com a equipe de cenários digitais, já que a maior parte seria feita em chroma key. Liguei para o coordenador da equipe e solicitei uma reunião, que foi marcada para o próximo dia, no período da manhã.

- Park Suji oppa, pode me ajudar com essa iluminação? – Ouvi a voz de Yoojeong e levantei o olhar para ela, Suji prontamente de levantou e foi ajudá-la. Voltei o olhar para a tela do meu computador e as letras e linhas começavam a embaralhar, olhei para o relógio e vi a hora, perdi o horário de almoço hoje e nem percebi. Me levantei e caminhei para a copa da nossa sala, peguei a minha caneca no armário, a enchi com água quente e coloquei um sachê de chá. Me sentei no balcão próximo a janela e peguei três bolachas que ficavam no pote por ali. Não estava com ânimo para sair para comer e nem com cabeça para escolher algo para comer num aplicativo de entregas. Tentei não demorar muito e voltei para meu lugar, retomando o trabalho.
- Estou cansada. – Yoojeong exclamou um tempo depois, quebrando o silêncio do ambiente. – Acho que vou comprar um doce lá na cantina, alguém quer?
- Obrigado por tirar minha concentração Kim Yoojeong. – Minho resmungou afastando a cadeira e se levantando. – Podia ser igual a -shi ou Hamyom-shi que são silenciosas. – Saiu da sala ainda resmungando.
- O que deu nele? – Suji perguntou alternando o olhar entre nós três e apenas dei de ombros, voltando a trabalhar. – Como foi a reunião, -shi?
- Foi tranquila, dentro do possível. – Respondi levantando o olhar para meu colega que sorriu e assentiu. Yoojeong se levantou e saiu sem dizer mais nada. Um tempo depois Minho voltou e se jogou na cadeira, sem falar com nenhum de nós.
- Trouxe para você. – Me assustei com a voz grossa do homem ao meu lado, ele estendia uma barrinha de chocolate em minha direção. Sorri com sua atitude e agradeci em voz baixa. – Você almoçou hoje? – Neguei com a cabeça e ele respirou fundo. – Você precisa se alimentar direito. Eu pago um jantar para você hoje.
- Não era você que estava todo estressado por que a Yoojeong te desconcentrou? Está conversando por quê? – Suji disse alto e olhamos em sua direção.
- Cuida da sua vida Park Suji – Minho respondeu de forma ríspida e apenas voltei ao meu trabalho. Quando Yoojeong voltou para a sala, carregava uma pequena sacola na mão esquerda e um chocolate na mão direita, sentou em seu lugar e voltou a trabalhar em silêncio.

O clima no escritório ficou estranho, parecia pesado. Não me atrevi a quebrar o silêncio que se formou e agradeci por não precisar fazer nenhuma ligação. Tinha a impressão de que uma bomba explodiria caso qualquer som além de nossos teclados e mouses fosse feito.
Me levantei, tentando fazer o mínimo de barulho possível e fui até o banheiro. Eu só queria que esse dia acabasse logo e eu pudesse ir para casa descansar, mas o tempo não parecia querer colaborar. Caminhei lentamente de volta para a toca, com esperança de que a cada passo lento que eu desse, o tempo passasse mais rápido e o final do expediente chegasse, mas infelizmente isso não aconteceu. Entrei em silêncio e assim fiquei até sentar em minha mesa, todos estavam quietos e sequer levantaram os olhos quando entrei. Me sentei e voltei ao trabalho.
Eu amava arquitetura, era apaixonada por cenografia, me sentia realizada vendo meus projetos saindo do papel e se tornando realidade, mas hoje eu só queria fugir daqui e me esconder sob as cobertas.
Depois do que pareceu uma eternidade, escutei alguém se levantar e se despedir, levantei a cabeça e Hamyom saía da sala com a bolsa no ombro e mexendo em seu celular. Olhei para o relógio e quase gritei de alívio. Salvei todos os meus arquivos e desliguei o computador. Me levantei e coloquei minha bolsa no ombro me preparando para sair, mas a voz de Minho me fez parar.

- -shi, vamos jantar? Pode escolher o restaurante. – Paralisei no lugar, olhei de relance para Yoojeong que segurava um sorriso enquanto alternava o olhar entre Minho e eu.
- Oh, é mesmo sunbaenim. – Sorri em sua direção e recebi um belo e um sorriso de volta. – Mas eu estou de carro hoje...
- Sem problemas, me passe o endereço do restaurante e nos encontramos lá. – Se levantou, pegou sua maleta e caminhou em direção a porta de saída. Yoojeong veio até mim com um sorriso enorme no rosto.
- Desde quando vocês estão saindo? – A olhei assustada, meu Deus, como e explicaria que não era nada disso que ela estava pensando?
- Yoojeong-ah nós não estamos saindo. Ele apenas me convidou para jantar hoje, já que eu não consegui almoçar. – Minha colega levou as mãos à boca e arregalou os olhos.
- Você não almoçou? -ah você precisa se alimentar bem! Vamos logo. – entrelaçou um dos braços no meu e me arrastou em direção a sua mesa, pegando a bolsa e nos levando para a saída da toca.
- Yoojeong-ah, você não foi convidada! – Ouvi Suji dizer atrás de nós, mas Yoojeong apenas deu de ombros.

Andamos de braços dados até o elevador, que por sorte quando parou em nosso andar estava quase vazio. Cumprimentamos as pessoas que estavam ali e viramos de costas para elas.

- Me conte tudo depois, -ah. Quero saber de todos os detalhes!





Estacionei o carro numa rua próxima ao restaurante escolhido, desci do carro e o tranquei, caminhando em direção a entrada do estabelecimento. Oh Minho já estava a minha espera e acenou quando me viu, sorri em resposta e o cumprimentei quando me aproximei.

- Que bom que chegou, vamos? – Se virou entrando no restaurante e o segui. Nos sentamos em uma mesa próxima a janela e o garçom nos entregou o cardápio. – Nunca tinha vindo aqui antes, muito bonito o lugar. – Levantei o olhar até meu colega e sorri.
- A comida é uma delícia também. Adoro vir aqui, me lembra um pouco minha casa. – Minho, que olhava em volta me olhou e sorriu, balançando a cabeça e voltou a olhar o cardápio.
- Podemos pedir? – Perguntou e assenti. Minho chamou o garçom que veio em nossa direção e fizemos nossos pedidos. – Mal vejo a hora de chegar sábado e domingo, essas últimas semanas têm sido uma loucura.
- Também estou ansiosa para sábado, poder dormir até tarde parece um sonho. – Brinquei tirando uma risada de Minho. Não demorou e nossos pedidos chegaram. Comemos em silêncio, apreciando nossos pratos. Ainda achava estranho estar sozinha com ele, afinal ele ainda era meu superior.
- Você tinha razão novata, a comida aqui é uma delícia mesmo. – Comentou quando terminou seu prato. – O que acha de darmos uma volta depois daqui? – Apoiou os cotovelos na mesa e apoiou o rosto nas mãos. Meu coração deu uma leve acelerada. Mantenha a calma garota!
- Me desculpe Oh Minho-shi, mas hoje o dia foi tão cansativo. – Recusei o convite, com muita dor no coração, se fosse em outro dia com certeza eu aceitaria o convite, mas hoje eu queria apenas deitar na minha casa e hibernar.
- Entendo. – Arrumou a postura. – Podemos deixar para outro dia? Um fim de semana talvez? - Meu Deus! Ele estava me chamando mesmo para sair? Tipo um encontro? Observei o homem a minha frente, que sorria esperando minha resposta.
- Podemos sim, claro, Minho-shi! – Nunca que eu ia negar um encontro com esse homem maravilhoso. Não posso negar que Minho chamou minha atenção quando cheguei aqui, com toda sua altura e corpo escultural, muito bem trabalhado na academia.
- Acho que já nos conhecemos o suficiente, -ah, pode me chama de oppa. – Engasguei com o vinho que estava tomando. – Tudo bem? – Se levantou da cadeira e veio em minha direção, dando leves tapas nas minhas costas.
- Está tudo bem, não se preocupe. – Senti minhas bochechas esquentarem e levei as mãos ao rosto. Que vergonha!
- Está tudo bem mesmo? – Perguntou com um tom de voz preocupado, apenas assenti e ele pareceu aceitar. Olhou para o relógio no pulso e deu um tapa de leve nas coxas, e que coxas! – Podemos pedir a conta? – Assenti e me virei para pegar minha carteira na bolsa. – O que está fazendo?
- Vamos dividir a conta, não?
- Eu te convidei, portanto eu pago. – Levantou uma das mãos, chamando um garçom. – Vamos pedir a conta. – O garçom apenas assentiu e se afastou, votando um tempo depois com o valor da conta e a máquina de passar cartão. Minho pagou pelo nosso jantar e esse levantou, vindo até mim e me ajudando a levantar. Ele apoiou uma das mãos em minhas costas e caminhamos assim para fora do restaurante. Percebi alguns olhares para meu colega no curto trajeto, o que não era de se estranhar, afinal Minho chamava bastante atenção. – Onde deixou seu carro? – Perguntou quando paramos na entrada do restaurante, apontei para nossa esquerda e ele assentiu, tirou a mão que apoiava em minhas costas e me ofereceu o braço, entrelacei o meu.

Andamos de braços dados até chegar em meu carro. Eu tentava segurar o sorriso que insistia em aparecer, mas parecia uma missão impossível no momento. Qual é garota? Nem parece que já saiu com outros rapazes antes.

- É esse carro aqui. – Parei ao lado da porta do carona e abri a bolsa, a procura da chave. Minho permaneceu ao meu lado o tempo todo e isso estava me deixando apreensiva. Será que ele tentaria me beijar? Se ele tentasse, eu corresponderia ou o afastaria? Será que ele beija bem?
- Então está entregue. – Se aproximou mais e meu coração errou uma batida. Seria agora? – Cuidado no caminho novata, nos vemos amanhã. – Deu dois tapas de leve na minha cabeça, como se estivesse acariciando um cachorro. Pisquei duas vezes, tentando associar o gesto e ele sorriu, meu Deus homem! Pare de dar esses sorrisos para mim.
- Boa noite, Oh Minho-shi. – Destravei o carro e dei a volta, entrando no mesmo. Vi Minho dar as costas e caminhar na direção de que viemos. Coloquei a chave na ignição e o endereço no gps, ainda não estava confiante de dirigir por Seoul sem uma ajudinha.

Passei o caminho todo pensando no jantar, principalmente no acontecido antes de eu ir embora. Ele não ia apenas acariciar meu cabelo, não é possível! Ou eu realmente imaginei coisas? Oh céus!
Cheguei em casa dando graças por finalmente poder descansar. Tirei os sapatos no hall e guardei no armário, calcei minhas pantufas e parti em direção ao meu amado quarto. Acendi as luzes e joguei a bolsa na cama, entrei no banheiro tirando as roupas e as jogando no cesto de roupas. Tomei um banho quente e relaxante, e já vestida no meu pijama preferido, me joguei embaixo das cobertas na cama e peguei o celular. Verifiquei as notificações de redes sociais e mensagens, respondi meus amigos e família como sempre fazia. Por sorte Dave estava online.

- Que saudade que eu estava de você! – Quase gritei quando ele atendeu a chamada de vídeo.
- Também estava com saudades de ver sua cara feia. – Brincou e fiz uma careta em resposta.
- Está trabalhando? – Dave girou cadeira e mostrou o estúdio de sua casa, eu amava aquele lugar. As paredes tinham um tom de cinza claro, os móveis em tons de madeira e preto, o sofá cinza chumbo que eu amava deitar de tão fofo, os quadros coloridos nas paredes que pintamos juntos, era um ambiente acolhedor e cheio de lembranças boas.
- Hoje só vou para a gravadora depois do almoço. Quero terminar umas coisas aqui. Te mostro quando finalizar. – Levantou da cadeira e se jogou no sofá. – Como foi o dia hoje?
- Foi normal, cheio de trabalho, nada novo sob o sol. – Me ajeitei na cama, ficando sentada. – Depois do trabalho fui jantar com um colega.
- Como é? – O celular parece ter caído da mão dele e eu ri. – Tipo um encontro? – Ajeitou o celular de volta e sentou no sofá.
- Não foi bem um encontro, foi mais um jantar de amigos sabe? – Ele passou a mão livre no cabelo e depois pelo rosto. – Não aconteceu nada, Dave. Comemos e conversamos e depois cada um foi para sua casa.
- Ele tentou te beijar? – Aproximou o celular do rosto com a feição séria. Apenas revirei os olhos.
- Você sabe que se tivesse acontecido algo, você seria o primeiro a saber. – Ele deu de ombros e se jogou de volta no sofá. – Quais as novidades por aí?
- Eu saí com a Lola esses dias, fomos dar uma volta no píer de Santa Monica.
- Jura? Ah, que saudades de passear por L.A. com vocês. – Não consegui segurar o bico que se formou em meus lábios. Meu passatempo favorito era viajar para Los Angeles e passar um tempo com meu irmão e minha melhor amiga.
- Fiquei pensando esses dias. – Se ajeitou no sofá, ficando deitado de lado. – Não falta muito para terminar esse cd, talvez mais um mês, no máximo dois, e eu vou ter um tempo livre. O que acha de ser minha guia por uns dias? – Não consegui segurar o grito de animação. Entendi direito? Dave estava pensando mesmo em vir para cá?
- Você está falando sério Dave? Isso não é pegadinha?
- Claro que estou falando sério. É uma oportunidade de conhecer um novo lugar e matar a saudade que eu estou de você. – Meus olhos se encheram. – Não precisa chorar. Vou comprar as passagens assim que terminar a produção e te aviso. Mas não ficarei muitos dia ok? No máximo uma semana e meia. – Assenti e ele se levantou do sofá, voltando para a cadeira.
- Vou programar alguns passeios para a gente fazer. – Falei animada com a ideia de passear por Seoul com meu irmão. – Agora que você falou, não pode voltar atrás! – Ele deu risada e assentiu. – Eu amo conversar com você, mas vou precisar desligar agora. Preciso dormir.
- Tudo bem. Bom descanso baixinha. Te amo.
- Também te amo Dave. – Mandei um beijo para a tela do celular e recebi um beijo de volta, acenamos em despedida e desliguei a ligação.

Como eu ia dormir agora depois de receber a notícia de que ele viria me visitar? Meu coração estava acelerado de tanta felicidade. Me deitei, puxando a coberta até o rosto, ficando completamente coberta, olhei pela janela a cidade iluminada e sorri. Fechei meus olhos e me forcei a dormir.





Passei pela porta da toca e encontrei Suji e Yoojeong já em suas mesas. Minha amiga sorriu ao me ver e retribui.

- Annyeonhaseyo! – Cumprimentei os dois, indo direto para meu lugar, coloquei a bolsa em cima da mesa e me joguei na cadeira. Yoojeong veio em minha direção saltitando. Balancei a cabeça e dei risada.
- Me conte tudo! – Me levantei e apontei as cadeiras coloridas.
- Não aconteceu nada demais. Como eu tinha dito, foi um jantar de colegas de trabalho. – Yoojeong arqueou uma das sobrancelhas e cruzou os braços. – É sério, eu não mentiria para você!
- Pelo sorriso que o Oh Minho-shi tinha no rosto quando chegou, pareceu ter sido bem boa a noite.
- Ele já chegou? – Olhei em volta e não vi nenhum sinal de Minho.
- Chegou sim, mas disse que ia pegar um café na cantina. – Antes que eu pudesse falar algo, a porta foi aberta e Minho entrou junto e Hamyom, os dois sorriam um para o outro.

Não tinha como negar, Hamyom era uma mulher muito bonita, talvez uma das mais bonitas que eu já tenha visto na minha vida. Eu só não conseguia entender o motivo de ela não ir com a minha cara, mas ia descobrir, ou eu não me chamo Castellary.

- Annyeonhaseyo! – Minho cumprimentou indo em direção a sua mesa. – Mais um dia de trabalho começando, não espero menos do que a perfeição de sempre. – Olhou em volta sorrindo.
- Vamos nessa. – Apertei uma das mãos de Yoojeong e nos levantamos, indo cada uma para seu lugar. Liguei meu computador e dei início ao trabalho do dia. Hoje teria reunião com a equipe de produção digital para alinharmos alguns pontos do novo cenário. Também teria que ligar para alguns fornecedores e alinhar as datas de entrega. Seria um dia cheio, mas para alegria de todos, o final de semana estava próximo.

Faltando poucos minutos para a reunião, peguei o notebook e o bloco de notas e me levantei, percebi que Minho passou a me acompanhar com o olhar, mas para minha sanidade mental apenas continuei meu caminho. Saí da toca e fui em direção a sala da equipe de produção digital, que ficava no mesmo andar que o nosso.

- Annyeonhaseyo! – Cumprimentei assim que entrei na sala e tive a sensação de que todos os olhos se voltaram para mim e fiquei nervosa.
- Annyeonhaseyo, cenógrafa. Que bom que chegou. - Um rapaz bem bonito, devo dizer, se levantou e veio em minha direção. Ele era alto, tinha os cabelos castanhos e usava uma malha azul marinho com calça cáqui. – Sou Shim Seong, é um prazer.
- Castellary. – Apertei a mão que ele estendia em minha direção e sorri. Para trabalhar aqui o pré-requisito é ser bonito? Quando eu pensava eu já estava acostumada com a beleza dos meus colegas, surgia alguém ainda mais bonito.
- Me acompanhe por favor. – Apontou para a sala de reuniões e o segui. – Vou chamar dois colegas que vão participar do projeto também, um instante por favor. – Saiu da sala e me sentei em uma cadeira, liguei o notebook e abri os arquivos referentes a esse novo projeto. Não demorou e Seong voltou acompanhado de dois colegas. – Esses são Kim Mingi. – Apontou para o rapaz de cabelo preto, penteado para trás e roupas pretas, bem bonito. – E essa é Seo Hyujin. – Uau! Hyujin tinha os cabelo longos pintados em um tom claro de rosa, que combinava perfeitamente com o tom de sua pele, vestia um conjunto que parecia ser de moletom, só que mais estruturado e arrumado, digamos assim.
- É um prazer. – Me levantei e os cumprimentei com um aperto de mãos. Nos sentamos em volta da mesa e iniciamos a reunião. Foi um tempo muito bem aproveitado, conseguimos alinhar nossas ideias bem rápido eu diria. Hyujin era a mais animada e dava ideias incríveis, Mingi também não ficava atrás, suas ideias vinham sempre para complementar e adicionavam muito valor ao que íamos propondo. Me peguei sorrindo em vários momentos. Não posso negar que estava realizada em meu trabalho.
- Eu estou um pouco em dúvida com essa parte. – Seong comentou, apontando para o moodboard de um dos cenários. – Não sei, acho que alguma coisa não está casando, é como se não conectasse com as outras partes, me entendem? – Ficamos um tempo analisando e acabei concordando, faltava algo.
- E se mudarmos a cartela de cores? Talvez ajude. Podemos tentar mesclar as outras cartelas para formar essa. – Comentei olhando para os meus colegas. Hyujin jogou a cabeça para lado e apontou a caneta que segurava em minha direção.
- Podemos tentar isso. O que acha Mingi? – O rapaz concordou, balançando a cabeça.
- Ótimo, vamos tentar isso então. – Seong tirou os óculos do rosto e os apoiou no tampo da mesa, esfregou os olhos com as mãos e depois bagunçou os cabelos. – Você consegue nos trazer um esboço na semana que vem -shi?
- Consigo sim, claro.
- Então nos encontramos semana que vem. – Bateu as duas mãos de leve no tampo da mesa e olhou em volta. Sorri concordando e salvei as anotações antes de abaixar a tela do notebook. – Temos muito trabalho pela frente, pessoal.
- Com certeza. – Hyujin juntou as mãos na frente do corpo, batendo leves palmas. Sério, eu estava encantada com a beleza dessa mulher. – Pelo que vi hoje, vamos nos dar muito bem -shi! – Se virou em minha direção e eu sorri, assentindo com um balançar de cabeça.
- Agora eu preciso ir, tenho que ajeitar todas as nossas ideias e atualizar a planilha desse projeto. – Nos levantamos e despedimos com apertos de mãos. Saí da sala e fui direto para a toca.
- Pensei que tinha nos trocado. – Yoojeong disse assim que passei pela porta e fui em sua direção, a abraçando por trás da cadeira.
- Eu nunca trocaria você Yoojeong-ah. – Deixei um beijo em sua bochecha e ela riu. Me ajeitei e fui para minha mesa. Não pude deixar de reparar que Hamyom revirava os olhos. – Você é muito bonita para ficar fazendo cara feia Hamyom-shi. – Ela arqueou as sobrancelhas em minha direção mas logo voltou a atenção para o que fazia em seu computador.
- Pelo visto a reunião foi proveitosa. – Suji comentou e olhei em sua direção.
- Foi sim, mas estou morrendo de fome. – Coloquei minhas coisas sobre a mesa e me sentei, verificando o horário, ainda faltava um tempo até o horário de almoço, então teria que aguentar.
- Podemos sair para comer hoje? – Yoojeong perguntou olhando para todos na sala.
- Sim, por favor. - Respondi minha colega, que fez joia com as mãos e as levantou em minha direção.
- Em qual restaurante quer ir? - Suji perguntou e Yoojeong fez um biquinho e uma cara de pensativa.
- A -ah não foi no nosso restaurante ainda, podemos ir lá. - Vi Hamyom levantando a cabeça e olhando para Yoojeong.
- Combinado então. - Minho disse, me fazendo olhar em sua direção e quando ele percebeu que minha atenção tinha ido para ele, piscou e sorriu para mim. Escutei alguém bufar e já sabia quem era, mas apenas ignorei.

A sala ficou silenciosa até dar o horário de irmos para almoçar. Yoojeong foi a primeira a se manifestar se levantando e puxando Suji, que resmungou baixo, mas depois acabou sorrindo. Eu achava muito engraçada a relação dos dois, uma hora se tratavam como namorados, em outra estavam quase saindo nos tapas.

- Vamos, -shi? - Olhei para o lado e Minho estava em pé ao lado de minha cadeira e estendia uma das mãos em minha direção. Salvei os arquivos e bloqueei a minha tela, peguei minha bolsa e girei a cadeira, ficando de frente para Minho, segurei sua mão e ele me ajudou a levantar. Olhei em direção a Yoojeong que tentava segurar um sorriso, mas sem sucesso. Andamos juntos até a porta, onde Yoojeong e Suji já nos esperavam. - Não vai Hamyom-ah? - Perguntou se virando para a mulher que se mantinha sentada em seu lugar.
- Acabei de receber um e-mail importante e preciso responder agora. Podem ir, se eu resolver rápido aqui eu apareço lá. - Disse simpática e eu apenas revirei os olhos. Era óbvio que ela estava apenas tentando manter distância de mim.

Yoojeong segurou uma de minhas mãos e saímos juntas da sala, sendo seguidas pelos rapazes. O caminho todo até o restaurante, que era bem próximo do prédio do escritório, fomos conversando sobre aleatoriedades da vida, evitando falar de trabalho. Eu adorava isso nos meus colegas, as conversas sempre fluíam de maneira natural e falávamos de assuntos diversos.

- Bem-vinda ao restaurante oficial da nossa equipe. - Suji comentou quando nos sentamos à mesa. Yoojeong ficou ao meu lado, Minho em minha frente e Suji ao seu lado. - A partir de agora, você é membro oficial da equipe. - Piscou em minha direção.
- Obrigada Suji-shi. - Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, um funcionário apareceu para nos atender. Fizemos nossos pedidos e Minho iniciou mais um assunto. Eu juro que tentei me focar ao máximo na conversa, mas os sorrisos que Minho abria quando olhava para mim tiravam meu foco.
- Qual a programação do fim de semana? – Minho perguntou olhando em minha direção. Abri a boca para responder mas Yoojeong foi mais rápida.
- -ah e eu vamos fazer um dia de garotas. – Apoiou a cabeça em meu ombro e aproveitei e deitei minha cabeça sobre a sua.
- Adoraria ser uma garota para ir nesse dia. – Suji comentou e caímos na risada. Minho deu um soco de leve no braço de Suji, que fez cara de dor. – Hyung! Seus socos doem. – Minho revirou os olhos.

O almoço foi leve e divertido, cheio de risadas e comida deliciosa. Voltamos ao escritório ainda conversando. Yoojeong e eu combinávamos o que íamos fazer no fim de semana, montando nosso roteiro.
Final de semana! Finalmente pude dormir até mais tarde e sentir que descansei de verdade. Acordei com a ligação de Yoojeong, combinamos onde almoçaríamos e então desligamos. Me levantei e fiz a rotina matinal de sempre. Escolhi a roupa do dia, um vestido verde de alças finas e cumprimento midi, um tênis allstar preto de cano médio, acessórios dourados e deixei o cabelo solto. Iríamos almoçar em um restaurante na região de Myeong-dong e depois daríamos uma volta pelo bairro. Terminei de me arrumar e mandei mensagem para Yoojeong, informando que estava saindo, ela me passou o endereço e pedi um carro por aplicativo, não estava com vontade de dirigir hoje.
Não demorou muito e cheguei em meu destino, encontrando Yoojeong na porta do restaurante. Ela estava linda como sempre, usando um shorts de alfaiataria verde, uma camiseta lisa branca com detalhes nas mangas, sapatilhas de bico fino e o cabelo preso em um rabo de cavalo.

- Annyeonhaseyo -ah! Estamos combinando. – Disse me abraçando. – Vamos comer? Estou morrendo de fome. – Entrelaçou um dos braços ao meu e viramos para entrar no local. Nos sentamos perto da janela e fizemos nossos pedidos. Engatamos uma conversa sobre família e saudade de casa e não consegui evitar que algumas lágrimas escapassem, mas logo mudamos de assunto e o ar ficou mais leve de novo.

Não demoramos muito no restaurante e logo saímos de braços dados pelas ruas de Myeong-dong. As ruas estavam cheias e o clima quente, mas ainda agradável. Yoojeong sugeriu tomarmos sorvete e procuramos uma sorveteria que não estivesse tão cheia, andamos por um tempo e avistamos uma loja mais vazia. Entramos e fomos direto para o balcão fazer nossos pedidos, em seguida nos sentamos em uma das mesas mais afastadas da entrada.
O assunto variava entre roupas e maquiagens e tópicos mais sérios. Estar com Kim Yoojeong era divertido e leve, ela tinha uma aura suave e que nos trazia uma sensação gostosa. Com certeza conhecer ela foi uma das melhores coisas que a mudança me trouxe. Nossa conexão foi quase instantânea, foi como ter encontrado uma parte de mim aqui do outro lado do planeta.

- Aish! Não acredito nisso. – Exclamou quando deixou cair um pouco de sorvete, pegando um pouco de guardanapo para limpar os shorts.
- Melhor ir ao banheiro limpar com água, Yoojeong-ah. – Ela concordou já se levantando. Aproveitei e dei uma olhada em volta, a sorveteria era bem bonita e simples, não tinha nada muito chamativo na decoração, apenas alguns quadros nas paredes e vasos de plantas espalhados pelos cantos, as mesas e cadeiras não seguiam um padrão, eram todas diferentes umas das outras e achei isso sensacional, o piso era de madeira escura e as paredes em um tom de cinza claro.
- Consegui limpar. – Yoojeong voltou a sentar-se, agora sorrindo. – Mas acho que vou pegar outro sorvete, esse derreteu. – Fez um biquinho, olhando para o potinho de sorvete sobre a mesa. – Você quer mais um?
- Não precisa, já estou cheia. – Ela assentiu e se levantou. No mesmo instante o sino da porta soou, anunciando novos clientes, não me segurei e olhei para a porta, onde dois homens entravam. Eles usavam boné, máscara e óculos, um deles usava calça justa preta e uma camiseta branca mais folgada já o outro usava calça e camiseta pretas e largas. Caminharam juntos até o balcão, onde Yoojeong era atendida. Quando minha amiga se virou e deu de cara com os novos clientes, suas sobrancelhas se levantaram e os olhos se arregalaram, foi por poucos segundos, logo ela balançou a cabeça em cumprimento sendo correspondida, abriu um pequeno sorriso e veio em direção a nossa mesa.
- Você não vai acreditar em quem acabei de ver. – Disse sentado e colocando o sorvete no tampo da mesa. – Jimin e Jungkook do BTS. – Ela sussurrou, para não chamar muito a atenção, tudo bem que na sorveteria só tinham nós quatro de clientes, mas achei legal da parte dela não querer fazer alarde. – Eu já tinha os visto uma vez, mas uau, eles são ainda mais bonitos sem aquelas produções todas. – Acabei sorrindo e voltei o olhar para o balcão onde agora eles eram atendidos, mas logo desviei o olhar, não queria ser invasiva, eles estavam apenas sendo caras normais tomando sorvete num dia quente.
- De repente me deu vontade de ir dar uma volta no Yeouido Park. – Comentei, apoiando um dos cotovelos na mesa e meu rosto na mão. – Eu sei que estamos longe, mas sei lá, me deu vontade.
- Podemos pedir um carro pelo kakao taxi e ir, sem problemas. – Não pude evitar sorrir. – Só me deixa terminar aqui e nós vamos.
- Só cuidado para não sujar a roupa de novo. – Yoojeong me mostrou a língua, numa careta fofa e não pude deixar de rir.

Não demorou muito e ela terminou o sorvete, nos ajeitamos e levantamos. Peguei os potinhos de sorvete para jogar no lixo, enquanto Yoojeong pedia um carro pelo aplicativo no celular. Nos despedimos da atendente e saímos da sorveteria. Ficamos um tempo paradas em frente à loja até o carro chegar.

- É aquele carro. – Assenti e a acompanhei até o carro que estacionava próximo a nós. Yoojeong abriu a porta e entrou, dei uma última olhada para a sorveteria e pude ver que os dois rapazes olhavam em nossa direção, balancei minha cabeça, num leve cumprimento e entrei no carro.

O caminho até o parque demorou um pouco mais do que esperávamos por causa de um engarrafamento sem motivos aparentes. O carro parou próximo a uma das entradas e descemos, demos os braços mais uma vez e caminhamos lado a lado. Já tinha vindo aqui antes e me apaixonado pelo lugar, mas hoje ele parecia especialmente mais bonito.

- Podemos nos sentar ali, o que acha? – Yoojeong sugeriu e o fizemos. Ficamos um tempo conversando e observando as pessoas que passavam. Em um momento nossas barrigas roncaram alto e começamos a rir.
- Hora de procurar comida, comemos por aqui mesmo ou vamos a algum restaurante? – Perguntei e minha amiga ponderou.
- Tem uns restaurantes legais por aqui, deixa eu pesquisar. – Ela pegou o celular e passou a digitar. Aproveitei e dei mais uma olhada no entorno, a ciclovia estava bem movimentada, eram muitas pessoas de bicicleta e outras de patins, com certeza traria Dave aqui quando ele viesse. – Achei um restaurante bem legal e não é longe. – Me estendeu o celular e analisei a página do restaurante.
- Ok, vamos lá. – A devolvi o aparelho e ela colocou as coordenadas para chegarmos no lugar.

Como era de se esperar, fomos conversando o caminho todo até o restaurante que realmente não era muito longe de onde estávamos. Era incrível o fato de termos passado a tarde toda juntas e ainda termos assunto para conversar.

- Adorei aqui, essa vista está linda. – Comentei quando nos sentamos ao lado da grande janela do restaurante, que dava vista para a Namsan Tower.
- De noite deve ser perfeito! – Os olhos de Yoojeong brilhavam enquanto admirava a vista da janela. Fomos interrompidas pelo garçom que nos ofereceu o menu, agradecemos e passamos a escolher nossa refeição.

Fizemos nossos pedidos, primeiro chegaram as bebidas, pedi um vinho e Yoojeong pediu um espumante, agradecemos ao garçom e voltamos a conversar.

- Mas e você e Suji-ah? – Yoojeong deu uma leve engasgada com o espumante e tive que segurar o riso.
- O que tem? – Desviou os olhos para a janela, o céu começava a escurecer, ficando em uma mistura linda de cores.
- Quando eu entrei, jurei que vocês eram um casal. – Percebi suas bochechas tomarem um tom rosado. – Ele parece um satélite sempre rodando em sua volta.
- É impressão sua -ah, não tem nada disso. – Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, o garçom voltou com nossas entradas, mais uma vez agradecemos e ele saiu. Decidi não falar mais nada e então ficamos em silêncio, que não durou muito, já que Yoojeong puxou um outro assunto, agora sobre um novo projeto para um programa de variedades.

O jantar foi uma delícia, desde o ambiente à comida, tudo estava perfeito. Conforme a noite ia caindo, as luzes iam se acendendo e deixando a paisagem ainda mais bonita. Tiramos algumas fotos nossas, não ia perder a oportunidade, bebemos mais alguns drinks e conversamos, é claro.

- Acho que já está na hora de irmos. – Comentei olhando para as horas na tela do celular e minha amiga fez o mesmo. Pedimos a conta e nos preparamos para sair.

Descemos o elevador em silêncio, já que tinham mais pessoas junto. Aproveitei e pedi um carro no aplicativo, assim que chegamos ao térreo Yoojeong fez o mesmo e caminhamos para o lado de fora.

- O dia hoje foi muito divertido, -ah. Precisamos fazer mais vezes! – Disse me abraçando. – Mas na próxima podemos alugar bicicletas e fazer um piquenique, o que acha?
- Eu adoraria! Tem uma exposição bem interessante, vou te mandar o link depois, podemos visitar também. – Os olhos de Yoojeong brilharam e ela me abraçou mais uma vez.

Soltamos o abraço e logo vi o carro que eu pedi estacionando, me despedi e entrei no carro, abaixando o vidro para acenar mais uma vez. O caminho para casa foi silencioso e aproveitei para mandar mensagens para minha família. Quando estava quase chegando, Lorena me respondeu, avisei que estava quase chegando e logo faria uma vídeo chamada.
Entrei em casa, tirei meu tênis e guardei no armário, peguei o celular e joguei a bolsa no sofá, liguei para Lorena e fui atendida no segundo toque.

- Que saudade de você! – Ela gritou, estendendo o “você”, assim que apareceu na minha tela. Não aguentei e ri, me jogando em uma das poltronas da sala de estar.
- Parece que faz anos que não te vejo. Meu coração está começando a murchar. – Dramatizei, fazendo um bico com os lábios. – Fiquei sabendo que você e o Dave saíram.
- Sim! Eu amo seu irmão, sério! Não tinha reparado antes, mas ele é praticamente sua versão masculina. – Lorena riu se jogando para trás no sofá em que estava sentada. – Mas foi estranho no começo, porque não tinha você, sempre fomos um trio.
- Sinto cheiro de novo casal se formando? – Ela revirou os olhos e acabei rindo. – Estou brincando boneca. – Abri a boca em indignação quando ela fez um sinal obsceno para mim, mas rimos juntas em seguida.
- Como foi seu dia? – Suspirei e sorri me lembrando da minha tarde com Yoojeong.
- Dormi até mais tarde, passeei com Yoojeong, conheci dois restaurantes bem legais e vou te levar lá quando você vier. Também vi dois idols, mas não falei com eles.
- Não estou gostando dessa amizade com a Yoojeong, sinto que serei trocada em breve. – Lorena fez uma cara triste.
- Você sabe que sempre será a primeira na minha vida, sem drama. – Ela riu e se levantou, caminhando pelo apartamento dela.
- Mas quem eram esses idols que você viu? Aposto que eram bonitos.
- Não consegui ver direito, eles estavam de boné e máscara, mas Yoojeong disse que eram muito mais bonitos do que na tevê. Jimin e Jungkook, do BTS. – Vi Lorena abrir e fechar a boca algumas vezes antes de conseguir falar alguma coisa.
- Jura? Eu os acho uns fofos! Nem te contei né? Mas estamos negociando com a empresa deles sobre a próxima turnê deles aqui. – Dessa vez fui eu que ficou de boca aberta. – Mas é segredo de estado ainda.
- Espero receber ingressos. – Brinquei e ela mostrou a língua, dando risada em seguida. – Eu estou trabalhando para o cenário de um vídeo clipe de um grupo, mas não são eles. Adoraria que fosse, mas é a vida né? – Levantei os ombros.
- Você deve estar superfeliz nesse emprego né? Dá para ver o brilho nos seus olhinhos. - Estou sim, o emprego é legal, as pessoas são legais, a experiência até agora tem sido bem positiva, apesar da distância. – Lorena abriu um sorriso pequeno e a acompanhei. – Mas a água daqui é terrível, instalei um filtro nos chuveiros, mesmo assim sinto que a água tem deixado meu cabelo e pele muito secos.
- Igual quando vamos para a Europa? – Assenti e ela fez uma careta de desgosto. – Deve ser terrível mesmo. – Ela ia dizer mais alguma coisa, mas o interfone tocou, ela se levantou e foi atender. – Amiga, preciso desligar agora, nos falamos outro dia. Amo você!
- Também te amo! – Mandamos beijos e então desligamos. Me levantei da poltrona e peguei a bolsa que estava jogada, a levando para o quarto.

Separei um pijama e fui até o banheiro, tomei um banho rápido e me troquei. Voltei para a sala e liguei a tevê, passeei pelos canais e não encontrei nada que me prendesse a atenção, desliguei o aparelho e peguei o celular, editei algumas fotos de hoje e postei nas minhas redes sociais, mandei o link da exposição para Yoojeong e resolvi ir dormir. O dia tinha sido cheio e meu corpo pedia um pouco de descanso.





Finalmente! Hoje iria para a marcenaria ver como tinha ficado o cenário e alinharíamos toda a logística de transporte e montagem no local da filmagem.
Como passaria o dia todo fora, precisava usar uma roupa mais confortável. Coloquei uma calça preta skinny e dobrei a barra, uma camiseta branca simples e um blazer também preto, adicionei alguns acessórios e uma tiara preta fina para segurar o cabelo. Peguei a mesma bolsa do dia anterior e verifiquei se tudo o que precisaria estava ali, fui em direção a sala e peguei a pasta com o notebook, Ipad e o projeto impresso. Calcei meu tênis branco e saí do apartamento.
Coloquei a bolsa e pasta no banco traseiro do carro e liguei o gps, colocando o endereço da marcenaria. Cheguei no tempo previsto, estacionei o carro em uma vaga na rua e desci, pegando todo o necessário. Toquei o interfone e logo fui atendida, dessa vez não era o dono e sim um dos funcionários, muito simpático por sinal. Ele me levou até o escritório, onde Han Yejun nos esperava.

- Annyeonhaseyo! – Cumprimentei assim que entrei em seu escritório e fui recebida com um sorriso no rosto. Será um dia de sorte?
- É um prazer tê-la de volta, cenógrafa. – Levantou-se de sua mesa e apontou para a mesa de reuniões, apoiei a pasta no tampo da mesa e a bolsa em uma cadeira, puxando uma outra para me sentar. – Temos muito trabalho para hoje, vamos começar logo. – Assenti tirando o notebook e as folhas impressas da pasta.

A reunião ali durou cerca de uma hora e assim que finalizamos, descemos para onde estavam as partes do cenário já pronto. Um sorriso se abriu, não consegui evitar, era meu primeiro cenário que tinha saído do papel e para completar, seria visto por muitas pessoas. Avaliei todas as partes, comparando com o projeto que estava aberto em meu Ipad, verificando se estava tudo como deveria. Essa parte foi mais demorada, já que tinha que olhar cada detalhe de cada peça, não podia deixar passar nada.
Demos uma pausa para almoçar, Yejun comprou almoço para nós e comemos na sala de reunião mesmo. A imagem de homem mal-humorado que tive dele na primeira reunião foi por água abaixo conforme os dias foram passando, a cada ligação que fazíamos, ele se mostrava cada vez mais simpático. Durante nosso breve almoço, conversamos sobre nossas famílias e ele me disse que tinha uma filha da minha idade, uma adolescente e a esposa estava esperando o terceiro filho, o primeiro menino da família.
Finalizando o almoço, voltamos para o depósito para terminar a avaliação. Já eram quatro da tarde quando terminamos tudo e subimos para o escritório mais uma vez. Combinamos a logística de transporte e confirmamos com a empresa o local e horário para o transporte. Teríamos que chegar um dia antes para conseguir deixar tudo pronto para quando a equipe de gravação e o grupo chegassem para a filmagem.
Saí da marcenaria às seis da tarde. Respondi as mensagens de Yoojeong e marcamos de almoçar juntas no dia seguinte. Estacionei o carro na minha vaga e peguei as coisas no banco de trás. Encontrei duas vizinhas no caminho até meu apartamento e as cumprimentei. Entrei finalmente no meu amado apartamento e tirei finalmente meus tênis, dessa vez os deixei ali mesmo no hall, coloquei a pasta e bolsa no sofá e fui para a cozinha procurar algo de comer. No meio do processo, Allan me ligou e fizemos uma chamada de vídeo enquanto ambos preparávamos nossa comida, ele o café da manhã e eu o jantar. Fiz algo simples, um purê de batatas e um pedaço de frango grelhado, acompanhado de uma salada simples. Me sentei à mesa, ainda na companhia de Allan e comemos juntos.

- Fiquei sabendo que o Dave vai te visitar. – Ele comentou e sorri. Assenti depois de tomar um gole de vinho.
- Sim, você bem que podia vir junto, né? – Allan balançou a cabeça em negativa.
- Infelizmente não posso, ursa menor. – Revirei os olhos com o apelido. – Estou com alguns trabalhos importantes agendados pelos próximos quatro meses. – Coçou a cabeça e se jogou para trás na cadeira. – Não reclamo, ralei muito para chegar aonde estou e conseguir esse reconhecimento, mas as vezes queria poder me enfiar embaixo das cobertas e hibernar sem pensar em trabalho, ou comprar uma passagem de avião sem pensar na volta.
- Eu nem sei o que dizer, maninho. Se eu pudesse sequestrava você e te deixava preso no quarto de visitas. – Um pequeno sorriso se abriu em seu rosto, o que me fez sorrir.
- Eu adoraria ser sequestrado por você, mas sem ficar preso no quarto. A Coreia é bonita demais para eu não fotografar. – Não aguentei e ri, sendo acompanhada.
- Quais os planos para hoje?
- Tenho um voo marcado para Londres. – Olhou o relógio no pulso. – Em três horas, preciso terminar aqui e sair em meia hora. – Coçou os olhos. – Vou aproveitar as horas dentro do avião e editar uns trabalhos e quando chegar lá vou direto para o estúdio trabalhar.
- Uou! – Abri a boca em surpresa, era difícil me acostumar com a vida sempre corrida do meu irmão. – Então melhor desligar e terminar de se arrumar.
- Já estou pronto, as malas no carro, só tem uma mochila aqui que preciso levar. Mas realmente preciso desligar, ainda tenho que lavar a louça que sujei agora.
- Tudo bem, boa viagem maninho. Foi muito bom falar com você! – Mandei um beijo para ele e recebi outro de volta.
- Obrigado! Amo você, ursa menor. – Acenou e desligou. Bloqueei o celular e terminei meu jantar. Juntei toda a louça, lavei e sequei. Com tudo organizado, fui para meu quarto, tirei a roupa e tomei um banho rápido. Mesmo estando cansada do dia, não queria dormir. Fui para a sala e coloquei um filme na tevê. Apaguei sem perceber.

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Cheguei no escritório e para minha sorte, só que não, Hamyom já estava lá, sozinha. Caminhei em silêncio para minha mesa, ia apenas deixar a bolsa e sair, enrolaria do lado de fora até dar o horário de começar o trabalho.

- Olha só, se não é a queridinha que falta no trabalho sem avisar. – Revirei os olhos, ainda sem a olhar, caminhei em direção a porta. – Esses estrangeiros mal-educados. – Disse um pouco mais baixo, mas de forma que eu ainda pudesse ouvir. Parei na hora. – Não aprendeu a como tratar os mais velhos? – Perguntou num tom mais alto, me virei em sua direção e cruzei os braços.
- Você falando de falta de educação? A pessoa que nunca responde as minhas perguntas e finge que eu não existo? – Ela se levantou e arqueou uma das sobrancelhas.
- Cuidado com o jeito que fala comigo garota. – Engrossou o tom de voz.
- É para eu sentir medo de você? Porque se for, não funcionou. – Ela abriu a boca, mas voltei a falar. – Não sei o que eu fiz de errado para você, se é que eu fiz algo de errado. Mas respeito é o mínimo que deve existir no ambiente de trabalho, e você está devendo isso.
- Sua... – Ela se calou quando a porta se abriu e Minho apareceu, olhando para nós duas.
- Annyeonhaseyo! Algum problema aqui?
- Annyeonhaseyo Minho-shi. – Hamyom disse com um tom de voz completamente diferente e revirei os olhos.
- Não tem problema algum oppa. – Minho se virou em minha direção e sorriu. Olhei de canto para Hamyom que parecia querer pular em meu pescoço. Então ela tinha ciúmes do Minho? Bom saber.
- Estava de saída?
- Sim, ia buscar um chá gelado na cantina, quer que eu traga algo oppa? – Impressão minha ou os olhos dele estavam brilhando?
- Eu te acompanho, só vou deixar minha pasta, um instante. – Ele se virou de costas, indo para a mesa dele e olhei para Hamyom, com um sorriso nos lábios, ela apenas bufou e se sentou. – Quer alguma coisa Hamyom-shi?
- Não quero nada, Minho-shi. Obrigada. – Ele assentiu e saímos da sala lado a lado. Chegamos à cantina e ele se ofereceu para pagar meu chá, então fui me sentar em uma mesa próxima.
- Aqui está! – Me entregou o copo e se sentou na cadeira de frente para a minha. – Como foi ontem?
- Foi tudo bem. Cansativo, mas deu tudo certo. – Bebi um gole do chá, Minho sorria.
- Foi estranho trabalhar sem você, já me acostumei com sua presença. – Ainda bem que eu já tinha engolido o chá, senão teria em engasgado. – Vamos almoçar juntos hoje?
- Eu combinei de almoçar com Yoojeong-ah hoje. – Seu sorriso diminuiu. – Mas podemos almoçar juntos amanhã, o que acha?
- Claro, podemos sim. – Ele olhou o relógio no pulso. – Melhor voltarmos. – Assenti e peguei meu chá, me levantando. Subimos em silêncio e quando chegamos na porta da sala, ele aproximou o crachá e me deixou passar primeiro. – Já estão todos aqui, muito bem pessoal, bom trabalho hoje! – Ele disse mais alto, assim que entrou. – Bom trabalho, -ah. – Disse mais baixo, próximo ao meu ouvido e nessa hora senti minhas pernas amolecerem.
- Obrigada Minho-shi. – Caminhei apressadamente até minha mesa e me sentei. Liguei o computador e não demorou muito, subiu uma mensagem no bate-papo da empresa.

“Quero saber o que aconteceu, me conte tudo na hora do almoço”

Era uma mensagem de Yoojeong, respondi com um “ok” e minimizei a tela. Hoje o dia seria cheio. Dei início aos trabalhos.

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Dia da montagem do cenário. Acordei bem cedo, ainda era de madrugada na verdade, coloquei uma calça jeans skinny, uma regata de gola alta branca e um cardigã lilás por cima. Prendi o cabelo num coque e coloquei alguns acessórios. Peguei a bolsa que já tinha deixado separada na noite anterior, passei na cozinha e peguei a marmita de café da manhã que tinha preparado, calcei o tênis de sempre e saí do apartamento.
Estacionei o carro numa vaga próxima a marcenaria e desci. Han Yejun estava ao lado do caminhão que era carregado e segurava uma prancheta. Me cumprimentou assim que me viu e fui ao seu encontro.

- Annyeonhaseyo, cenógrafa. Estamos terminando de carregar esse caminhão, o primeiro já saiu. Se quiser, pode ir para o local da gravação. Nós vamos atrás desse caminhão.
- Tudo bem, vou indo então. Até daqui a pouco. – Voltei para meu carro e coloquei o endereço no gps. Virei a chave na ignição e comecei o trajeto.

Demorei cerca de quarenta minutos para chegar. O céu começava a clarear quando estacionei numa das vagas reservadas ali. Peguei tudo o que precisava e desci. Mostrei meu crachá na entrada e fui liberada para entrar no galpão. O caminhão já estava terminando de ser descarregado.

- Annyeonhaseyo. – Cumprimentei os funcionários que trabalhavam, alguns reconheci das vezes que fui à marcenaria e eles me cumprimentaram de volta. Observei de longe eles terminarem de descarregar tudo.
- Podemos verificar as peças e já ir posicionando? – Um dos homens me perguntou e assenti, indo em sua direção. Tirei o Ipad da bolsa e o liguei, abrindo o arquivo para auxiliar na verificação.

Logo o segundo caminhão chegou e começou a ser descarregado. Yejun se juntou a nós na verificação e não demoramos muito para terminá-la. Assim que terminamos, um membro da equipe do grupo de idols chegou. No início ele nos auxiliou, mas depois de um tempo, quando a montagem dos cenários se iniciou, ele achou que tinha o direito de alterar coisas e posições que já tinham sido devidamente aprovadas.

- Você não pode alterar o cenário, cada um deles foi aprovado desse jeito e precisa estar assim. – Eu disse pela milésima vez só naquela manhã. Minha paciência já estava se esgotando.
- Você entende mesmo o que eu falo? Porque estou falando que assim não vai funcionar. – Ele ousou levantar um pouco a voz e isso foi a gota d’água. Cruzei os braços e dei um passo em sua direção, ele era ligeiramente mais alto do que eu. Olhei em seus olhos e disse de forma lenta, para que ele entendesse.
- EU projetei esses cenários e os seus SUPERIORES aprovaram desse jeito, você gostando ou não. – Me afastei e dei as costas, não ia perder mais tempo discutindo algo sem cabimento.
- Você está se achando demais para uma estrangeira qualquer. – Parei de andar no instante em que ouvi a frase sair de sua boca. Respirei fundo e me virei lentamente.
- Repita. – Ele ficou calado. – Repita! – Voltei a me aproximar. – Se você for homem, repita isso olhando nos meus olhos. – Ele coçou a cabeça e não disse nada. – Como eu imaginei.
- Alguma coisa de errado? – Yejun se aproximou e questionou, olhando para nós dois.
- Estou esperando-o repetir o que me disse pelas costas, só isso.
- Você está alucinando, eu não disse nada. – Balancei a cabeça em negativa, ele ia mesmo se fazer de sonso?
- Han Yejun-shi, pode por favor acompanhar esse senhor para fora? – Os dois me olharam assustados. – Precisamos acelerar aqui e qualquer distração vai nos atrapalhar.
- Você não pode me expulsar! Acha que é quem? – Deu um passo em minha direção e eu avancei também. Se tem uma coisa que meu pai me ensinou e que levo para a vida, foi a nunca abaixar a cabeça para ninguém.
- Eu? Sou a criadora desse projeto e responsável por tirar ele do papel e você quem é? – Dei um passo em sua direção, olhando para cima para poder olhá-lo nos olhos. – Na verdade eu nem quero saber, só quero que nos deixe em paz para terminar a montagem a tempo. Se me der licença, tenho trabalho para fazer. – Dei as costas para ele e balancei de leve a cabeça para Yejun, que correspondeu o gesto e saí para supervisionar a montagem que acontecia.

O dia foi uma correria, mal conseguimos tempo para comer direito. Eram cinco cenários no total e até o final da tarde, apenas três estavam completos. A empresa contratada para o aluguel dos móveis que seriam usados, atrasou na entrega, o que nos prejudicou. Eu corria de um lado para o outro, ajudando com os detalhes, uma hora posicionando os móveis mais leves e que eu conseguia carregar sozinha, outra hora posicionando os adereços de decoração, até com a iluminação eu ajudei no que pude.
Quando a noite caiu de fato, parei por um instante e saí do galpão, precisava tomar um ar. Abri a garrafa de água que tinha carregado comigo e bebi um gole. Peguei o celular no bolso da calça e vi as notificações, tinham mensagens de alguns colegas de trabalho que não tinha visto ainda e dos meus pais, li todas e respondi, guardando o celular de volta no bolso e entrando mais uma vez.
Já eram quase duas da madrugada quando a montagem do último cenário foi finalizada. Quando o último adorno foi posto em seu lugar, uma salva de palmas em comemoração foi iniciada. Nos despedimos e aos poucos o galpão foi se esvaziando. Entrei no meu carro e coloquei meu endereço no gps, quase chorando quando o trajeto mais rápido demoraria mais de uma hora. Basicamente, eu não teria quase nada de descanso, já que teria que voltar as seis da manhã.





O despertador tocou às quatro e meia, me levantei e coloquei mais uma roupa confortável, fiz um café da manhã bem rápido, duas fatias de pão e uma maçã, peguei a bolsa do dia anterior e saí. Pouco mais de uma hora depois eu estava estacionando em uma das vagas em frente ao galpão de gravação.
Cumprimentei o segurança que estava na entrada e já lá dentro cumprimentei a equipe de Han Yejun, que tinham realizado a montagem e estavam em um canto mais afastado, eles estavam ali para caso acontecesse qualquer intercorrência durante as gravações. Não demorou muito e a equipe de filmagem chegou, nos cumprimentamos e eles começaram a montagem de todos os equipamentos que seriam usados. Aos poucos tudo foi se ajeitando em seu devido lugar.
Ainda na parte da manhã o grupo de idols chegou, acompanhados de todo o batalhão de staffs que os auxiliariam. Pararam por alguns instantes para apreciar os cenários e as exclamações de surpresa fizeram uma sensação de orgulho se apossar de mim. Fomos apresentados rapidamente e eles seguiram para a sala reservada como camarim.
Me afastei por um momento para atender uma ligação do meu chefe e quando estava voltando, acabei trombando meu corpo no de outra pessoa. Levantei o olhar e reconheci o funcionário de ontem. Não consegui segurar e revirei os olhos, já me preparando para desviar e voltar para minha função.

- Onde acha que vai cenógrafa? – O tom sarcástico me fez querer pular no pescoço dele, mas apenas respirei fundo.
- Vou voltar para meu trabalho, se não se importa. – Ele balançou a cabeça em negativa.
- Você se acha demais, sabia?
- Sabia sim, agora se não se importa, preciso trabalhar.
- Olha aqui sua mal-educada... – Ele avançou em minha direção, já levantando uma das mãos para segurar meu braço.
- Boryu-shi, onde está o café que o Renjun te pediu? - Uma voz masculina surgiu por detrás do homem. Olhei na direção da voz e vi um dos idols, já arrumado, nos olhando com uma expressão séria no rosto. – Ele está esperando.
- Estou indo levar. – Boryu abaixou a cabeça e saiu, caminhando para a mesa cheia de comidas, posicionada em uma parte do galpão, onde fizemos uma estação de coffee break. Respirei fundo, aliviada.
- Ele estava te incomodando? – O rapaz me olhou com um olhar preocupado e sorri em sua direção.
- Ah... – “Sim, desde ontem inclusive. Sua empresa deveria ter mais cuidado com quem contrata para evitar gente escrota assim”, foi o que passou na minha cabeça, mas apenas balancei a cabeça, negando.
- Sim, ele estava. Não precisa negar, eu ouvi. Aliás, sou Lee Jeno. – Estendeu a mão em minha direção e a apertei.
- Castellary. – Ele sorriu, ainda apertando minha mão.
- Você é uma noona, não é? – Fiquei um instante pensando, sim, eu era uma noona.
- Sim, mas por favor, não precisa de toda a formalidade. – Ele sorriu, assentindo.
- O cenário ficou realmente impressionante. Você quem projetou não foi? – Ele olhou para os cenários montados e sorriu. Meu coração se aqueceu mais uma vez, espero poder viver muito essa sensação de trabalho bem-feito.
- Sim, e modéstia parte, ficou impressionante mesmo. – Parei para admirar também. Quando olhei em sua direção, ele já me olhava e quando percebeu que foi flagrado, abaixou a cabeça com um pequeno sorriso. – Bom, eu preciso voltar ao trabalho, para você poder trabalhar também.
- Você vai acompanhar as gravações?
- Vou sim. – Ele abriu um grande sorriso e assentiu.
- Farei um ótimo trabalho também, para se comparar ao seu. – Sorri sem graça e me despedi, voltando para meu posto e ajudando nos retoques finais.

As gravações se iniciaram e eu fiquei no meu cantinho, apenas observando. Algumas vezes fui chamada pelo diretor, para ver como o cenário estava na tela e isso me deixou bem feliz. Estava tudo saindo como o planejado.
Quando foi anunciada a pausa para o almoço, percebi que os meninos, sim vou chamá-los assim, ficaram aliviados. E não é para menos, já que estavam há muito tempo gravando sem pausas.
Me afastei, junto com a equipe de apoio e fomos almoçar do lado de fora. Me assustei quando a luz do sol bateu forte em meu rosto, devia ter trazido óculos de sol. Já estávamos no meio da tarde e pelo que parecia, estava longe de acabar aqui. Peguei uma marmita e me sentei mais afastada, perto de um pequeno jardim que tinha nos fundos do galpão.

- Por que está isolada aqui, noona? - Me assustei com a voz de Jeno e quase me engasguei com a comida. - Desculpe te assustar. - Levantei o olhar e sorri, percebendo que ele estava acompanhado de um amigo. - Esse é o Mark.
- É um prazer. - Acenei em sua direção.
- Podemos nos sentar com você?
- Claro, fiquem à vontade. - Me ajeitei no pequeno banco para eles poderem se sentar também.
- Noona, de onde você veio? Digo, de qual país. - Jeno perguntou.
- Nascida e criada em Miami nos Estados Unidos. - Sorri lembrando da minha cidade.
- Uau! Bem longe. - Jeno brincou e eu ri.
- Um pouquinho só, quase nada. – Pisquei e os dois riram.
- Nada que muitas horas de voo não resolvam, não é noona? - Mark piscou de volta e eu concordei. - Faz tempo que está aqui?
- Não muito, pouco mais de dois meses.
- Pouquíssimo tempo. - Concordei com Mark. - E seu coreano é muito bom.
- Obrigada. Tudo graças a três anos de curso e um intercâmbio de dois meses.
- Waa! E você fala mais alguma língua? - Jeno perguntou e assenti.
- Inglês que é minha língua materna, coreano, espanhol, italiano e francês. Pretendo aprender japonês e mandarim também. - Os dois arregalaram os olhos na minha direção. - Culpa do meu pai. - Brinquei.
- Isso é incrível. - Jeno comentou ainda parecendo chocado com a informação.
- Quer trabalhar sendo nossa tradutora? - Mark brincou me fazendo rir. Neguei com um balançar de cabeça.
- Amo demais meu trabalho para trocar assim.
- Tudo bem, mas fica o convite. Nem precisa mandar currículo, só mandar uma mensagem que a gente te contrata. - Piscou.
- Mas como ela vai mandar mensagens se não tem nosso número?
- Pode passar seu número, noona? - Mark estendeu o celular em minha direção.
- Tudo bem. - Peguei o aparelho e digitei meu número, devolvendo em seguida. Mark sorriu, digitando alguma coisa e logo meu aparelho tocou, número desconhecido.
- Pode salvar meu número agora. - Desbloqueei meu celular e salvei o contato dele, guardando em seguida.

O horário de almoço acabou e um dos staffs apareceu chamando os meninos, que se levantaram e se despediram sorrindo. Juntei as coisas que tinha usado e me levantei também, joguei tudo no lixo e entrei no galpão.
As gravações foram retomadas e eu fiquei um pouco afastada, prestando atenção em como as coisas aconteciam. Tentei ao máximo me distrair para não deixar o cansaço me vencer, mas estava ficando difícil.
A cada “corta!” que o diretor gritava e pedia para recomeçar meu cansaço parecia gritar em resposta “vamos para a casa, você precisa descansar!”. Me levantei mais uma vez, precisava jogar uma água no rosto para despertar, mas antes que pudesse chegar à porta do banheiro, o diretor me chamou mais uma vez. Ele queria tentar uma iluminação diferente para o novo take, então conversamos com a equipe de iluminação e fizemos alguns testes. O resultado agradou tanto a equipe de filmagem quanto a equipe dos idols, e então voltaram a filmar.
Olhei para o relógio e ele marcava o início de mais uma noite, que provavelmente eu passaria em claro. Aproveitei e olhei na agenda, procurando algum compromisso nos próximos dias e por sorte não tinha nada, ou seja, poderia descansar. Quando ia guardar o aparelho no bolso, ele passou a vibrar, olhei na tela e o nome de Dave brilhava. Saí do galpão e atendi.

- Oi maninha. – Ouvi a voz de Dave e só isso me deu a sensação de energias renovadas.
- Oi Dave, a que devo a honra de sua ligação? – Me encostei na parede.
- Só ligando para avisar que minhas passagens estão compradas para daqui duas semanas. – Não segurei o sorriso.
- Isso é incrível! Vou planejar todo o nosso roteiro! – Dave riu do outro lado.
- Está em casa?
- Não, estou acompanhando a gravação do MV que eu projetei o cenário.
- Então não vou me estender muito, liguei apenas para avisar mesmo. Nos falamos outra hora. Te amo baixinha.
- Também te amo Dave. Obrigada pela notícia maravilhosa. – Mandei um beijo estalado próximo ao microfone e Dave riu antes de desligar. Guardei o celular de volta no bolso e voltei para dentro do galpão.

Algumas horas depois as gravações foram encerradas. Quase dei um pulo de felicidade nesse momento, eu precisava urgentemente descansar. Os idols foram para o camarim e o diretor chamou todo o pessoal, nos parabenizou pelo trabalho do dia e desejou um bom descanso. Depois de combinarmos o roteiro do dia seguinte, fomos finalmente liberados.
Eu estava quase chegando no meu carro quando ouvi meu nome ser gritado. Me virei na direção da voz e Jeno e Mark corriam na minha direção, abri a porta e joguei a bolsa no banco do carona e me virei, esperando-os me alcançarem.

- Noona, viemos nos despedir. – Jeno tinha um sorriso lindo no rosto. Mark concordou balançando a cabeça. – Foi muito legal trabalhar com você hoje, noona. – Apenas sorri em resposta.
- Você vem amanhã também? – Mark perguntou com um pequeno sorriso.
- Ah, sim. Eu preciso acompanhar a gravação para poder dar suporte sempre que necessário. – Os dois sorriram ainda mais. – Bom meninos, eu preciso ir. Vejo vocês amanhã.
- Ah claro. Até amanhã então noona. – Jeno fez um pequena reverencia com a cabeça e sorriu, acenando em seguida. Mark repetiu o gesto e sorri uma última vez antes de entrar no carro.

Coloquei o endereço do meu apartamento no gps e liguei o carro e em pouco mais de uma hora eu estava estacionando na minha vaga, peguei a bolsa e desci. Parei em frente a porta do elevador rezando para ele chegar logo, eu precisava urgentemente de um banho e da minha cama. Quando finalmente o elevador chegou e as portas abriram, dois rapazes estavam dentro, acenei de leve com a cabeça e esperei eles saírem. Um deles segurou a porta para mim e sorri em agradecimento, apertei o botão do meu andar e ele liberou a porta, sorrindo – e que sorriso. As portas se fecharam e então peguei o celular na bolsa, verificando as mensagens, respondi as mais importantes, as outras deixaria para mais tarde – isso se eu conseguisse me manter acordada para responde-las.
Entrei finalmente no meu apartamento, soltando um suspiro quando tirei o calçado e pisei apenas de meias no chão. Joguei a bolsa no sofá e fui para meu quarto, já me despindo. Liguei o chuveiro e acabei soltando um gemido quando a água quente bateu em minhas costas. Tentei não demorar muito, já que queria o maior tempo possível na minha cama. Me vesti apenas com uma camiseta larga e me joguei na cama, coloquei o celular para carregar na mesa de cabeceira e me enrolei em meu edredom. Apaguei em minutos.

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Estacionei o carro em uma das vagas e desci, cumprimentei o segurança e adentrei o galpão. Se tudo desse certo, hoje seria o segundo e último dia de gravação e eu poderia voltar para a tranquilidade do escritório. Cumprimentei as pessoas que já estavam em seus postos e me sentei num cantinho para esperar o diretor e equipe. Passei o tempo mandando mensagem para Yoojeong, que dizia estar com saudades da minha companhia e não posso negar que também estava sentindo falta dela.

- Annyeonghaseyo – Ouvi a voz do diretor e me levantei, guardando o celular no bolso da calça. Me aproximei e o cumprimentei, sorrindo. – Vamos trabalhar bem para finalizarmos hoje as gravações desse novo sucesso. – Ele disse alto, olhando para todos ao redor. As pessoas exclamaram em apoio.

Mas como nem tudo são flores, o grupo se atrasou. Percebi o diretor ficando impaciente, o que acabou deixando a todos da mesma forma. Quando as vans finalmente chegaram, o diretor já tinha soltado alguns xingamentos. Os meninos entraram em fila e pareciam um pouco cabisbaixos, seguindo direto para o camarim. Os staffs entraram em seguida, junto do manager que pediu inúmeras desculpas pelo atraso. Me aproximei do espaço de coffee break e sentei por ali. Aproveitei que estava tudo em ordem e fui para o carro, peguei meu notebook e voltei para dentro do galpão. Sentei no mesmo lugar que estava antes e liguei o aparelho, tentaria trabalhar um pouco enquanto não precisassem de mim – no fundo eu torcia para não precisarem mesmo.

- Pausa para o almoço! – O diretor anunciou e toda uma movimentação começou, os staffs correndo de um lado para o outro para pegar as comidas dos idols ao mesmo tempo que as outras equipes se aglomeravam para pegar suas marmitas. Esperei um tempo e quando estava mais tranquilo, pausei o trabalho e deixei o notebook de lado para comer também. Estava quase finalizando meu almoço quando ouvi um pigarro. Levantei o rosto e vi Jeno e Mark sorrindo.
- Annyeonghaseyo noona. – Mark disse com o sorriso lindo no rosto. Respondi o cumprimento e eles puxaram algumas cadeiras para sentar.
- Nosso atraso atrapalhou o trabalho de todos, sinto muito.
- Oh! Mas pelo que ouvi a culpa não foi de vocês e sim do motorista, não? – Eles assentiram. – Então não precisam se desculpar. – Eles se olharam e sorriram na minha direção.
- Você é muito legal noona. – Jeno sorria. Ok, acho que seria melhor eu pedir para ele parar com esses sorrisos, já está ficando um tanto perigoso.
- Muito obrigada. – Fiz uma leve reverencia com a cabeça. Antes que pudéssemos dizer mais alguma coisa, eles foram chamados por um outro integrante, que eu ainda não tinha decorado o nome. – Precisamos ir noona.
- Ah sim. Bom trabalho rapazes! Fighting! – Eles riram e saíram juntos, se juntando ao grupo.

A gravação seguiu sem nenhuma intercorrência. Diria que foi um dia bem mais tranquilo. Consegui adiantar algumas coisas de outros projetos e trocar algumas mensagens com Yoojeong. As horas foram passando e os rapazes tiveram uma pausa para um lanche rápido, bem rápido eu diria, pois foi só piscar e eles tinham voltado a gravar. Olhei mais uma vez para o relógio que já marcava o início de mais uma noite. Torci mentalmente para acabar logo, pois depois de finalizada a gravação, teria que organizar as coisas que seriam descartadas e as que seriam devolvidas para a empresa de aluguel.

- Corta! – O diretor exclamou. – Acabamos por aqui! – Uma salva de palmas se iniciou e os meninos se abraçaram. Percebi Jeno olhando em volta e quando me viu acenou feliz, retribui o cumprimento, mas assim que percebi outros olhos em minha direção, disfarcei. Guardei o notebook e peguei o Ipad na bolsa. Agora começava o segundo turno.

Me aproximei do diretor que me cumprimentou e agradeceu o trabalho. Alguns funcionários do senhor Han se aproximaram também e passei a auxiliá-los na desmontagem dos cenários. Depois de um tempo, olhei em volta e vi a movimentação dos staffs carregando araras de roupas e maletas que acredito serem de maquiagens, acessórios e equipamentos dos cabeleireiros. Voltei a atenção para minha tarefa e acabei me perdendo no meu mundinho.

- Com licença. – Me assustei quando uma mão tocou meu ombro. Me virei e encontrei os dois rapazes sorrindo. – Me desculpe pelo susto noona.
- Tudo bem, eu estava concentrada aqui. – Levantei o Ipad e eles sorriram.
- Viemos nos despedir. – Jeno sorriu e senti um quentinho no coração. Mas que merda é essa ?
- Oh! Foi muito legal trabalhar com vocês. – Disse sincera. Apesar do cansaço, participar desse processo foi muito bom. – Espero nos encontrarmos mais vezes.
- Espero o mesmo. – Mark sorriu, um sorriso tão fofo que eu tive vontade de apertar suas bochechas.
- Esperamos. – Jeno corrigiu e sorri em sua direção. Será que sentiriam falta se eu roubasse os dois para mim? – Pense na proposta de ser nossa tradutora noona, ficaríamos muito felizes de ter você sempre por perto. – Senti minhas bochechas esquentarem.
- Vou pensar. – Pisquei e me virei quando chamaram pelo meu nome. – Preciso voltar ao trabalho rapazes. – Eles assentiram e sorriram uma última vez, saindo do galpão em seguida.

Quando a empresa responsável pelos móveis alugados chegou, uma boa parte dos objetos já estavam separados, o que adiantou o lado deles. Pouco mais de uma hora depois, essa parte já tinha sido finalizada, o que me deu um grande alívio. Logo eu poderia ir para minha casa descansar.

- Finalizamos aqui senhorita. – Um dos funcionários, que desmontava os cenários, se aproximou e eu suspirei em alívio, tirando um riso dele. – Esse foi o último caminhão. Pode ir para a casa, assumimos daqui. – Agradeci e fiz uma reverencia para o homem, que retribuiu. Me despedi de todos que ainda estavam no galpão e quase corri para meu carro. Coloquei minhas coisas no banco do carona e liguei o gps.

Estacionei o meu carro e caminhei para o elevador. Olhei em volta enquanto esperava e um carro passou com os vidros abaixados. Acompanhei o carro e quando passou por mim, o motorista acenou com um sorriso. O sorriso da noite anterior, nunca me esqueceria dele. Acenei e sorri de volta e escutei o barulho do elevador, avisando que tinha chegado.
Entrei em casa quase chorando de alívio. Poderia dormir tranquilamente e para melhorar, não precisaria trabalhar amanhã, já que era final de semana. Guardei o sapato no armário, deixei a bolsa com o notebook na mesa de jantar e fui para meu quarto. Tomei um banho bem relaxante e me vesti com um pijama gostoso. Fui para a cozinha e preparei algo rápido para matar a fome, com o prato com o sanduiche em mãos, me sentei no sofá e liguei a tv. Peguei a manta de dentro do cesto, ao lado do sofá e cobri minhas pernas. Saboreei o lanche enquanto assistia uma novela. Não percebi quando o sono veio, apenas apaguei deitada no sofá, com a tv ligada.





Mais um dia de trabalho, mais uma reunião. Na hora marcada, toda a equipe se juntou na sala de reuniões da toca. O senhor Donghae entrou e nos levantamos para o cumprimentar.

- Podem se sentar. – Assentimos e nos sentamos. Minho estava sentado em minha frente e sorriu quando nossos olhares se esbarraram. – A reunião de hoje, como todos sabem será para o balanço do mês. – Senti minhas mãos suarem. – Não tenho realmente do que reclamar dessa equipe, vocês estão de parabéns! – Senti um alívio tão grande, que quase soltei um suspiro alto. Olhei para Yoojeong que estava ao meu lado e sorrimos uma para a outra. – Oh Minho-ssi, seu trabalho segue impecável como sempre, as emissoras só têm soltado elogios ao seu respeito. – Percebi Minho estufar o peito, ele sorriu e agradeceu. – No Hamyom, acho melhor conversarmos a sós mais tarde. – A mulher piscou algumas vezes e assentiu com a cabeça. Percebi que ela se remexeu na cadeira, como se estivesse desconfortável. – Park Suji, eu tive uma reunião com o conselho e acreditamos ser melhor você ter um assistente, sua demanda tem aumentado e não queremos deixar você com sobrecarga. – Suji sorriu e agradeceu. Fazia um tempo que ele vinha reclamando sobre o excesso de trabalho e dava para ver o quão isso estava mexendo com ele. – Kim Yoojeong e Castellary. – Olhou para nós duas. – Quero vocês trabalhando juntas nesse projeto. - Nos estendeu uma pasta. Yoojeong a pegou e abriu, o nome COWAY estava em destaque. - São comerciais de tv, quero que deem prioridade para esses projetos. - Assentimos. - Caso precisem, passem seus projetos em andamento para Hamyom. - Olhamos para ela, que arregalou os olhos e olhou para Donghae. - Não acha que consegue pegar os projetos delas?
- Consigo sim, chefe. - O tom de voz dela quase me fez revirar os olhos.
- Muito bem. Eu confio em vocês, essa equipe é uma das melhores do escritório, então não me desapontem. - Fechou a pasta e se levantou, fazendo uma breve despedida e saindo da sala.
- Antes de finalizarmos. - Minho disse, chamando a nossa atenção. - -ssi, quais os projetos em que está trabalhando?
- Tenho dois comerciais e um music-video.
- Certo, você consegue manter esse music-video e esse novo projeto que foi passado? - Assenti. - Ótimo, então passe os comerciais para Hamyom-ssi ainda hoje. - Olhou para Hamyom que apenas assentiu. - E você Yoojeong-ssi?
- Tenho dois programas de tv. - Verificou a agenda que estava aberta na mesa. - Mas estão praticamente finalizados, só preciso ajustar a apresentação, as reuniões estão marcadas. - Minho apoiou o rosto em uma das mãos, que estava apoiada no tampo da mesa.
- Certo, finaliza esses dois então e comece o novo junto de -ssi, por favor. - Yoojeong assentiu, fechando a agenda. - -ssi, esqueci de perguntar, mas qual a data de entrega do music-video?
- Duas semanas. Eu já finalizei os ajustes solicitados na primeira reunião e iniciei o projeto executivo.
- Acredito que você consiga entregar tudo então. - Sorriu para mim e apenas assenti. - Bom, vamos voltar ao trabalho. - Se levantou, saindo da sala. Me levantei e esperei Yoojeong para irmos juntas para a mesa, Suji nos seguiu, quase dando pulos de felicidade.
- -ah, vamos organizar primeiro os trabalhos em andamento e depois do almoço vemos essa nova proposta juntas, o que acha?
- Por mim tudo bem. Preciso separar as coisas para entregar para a No Hamyom. - Ela assentiu e nos separamos, indo para nossos lugares.

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- O que será que aconteceu com a Hamyom unnie? - Levantei o olhar do meu prato para o rosto de Yoojeong e dei de ombros.
- Ouvi pela empresa que ela cometeu um erro em um dos projetos e quase perdeu o cliente. - Suji comentou e olhamos em sua direção. - Por que essas caras?
- Desde quando você está sabendo disso?
- Tem um tempo já. - Yoojeong abriu a boca indignada e soltou os cheot-garat na mesa.
- E só agora você diz isso? - Deu um tapa no braço de Suji que reclamou da dor.
- Por que você me bateu? - passou a mão no local atingido e fez um bico.
- Por que você não contou antes?
- Sei lá. - Suji deu de ombros e começou a comer. Yoojeong olhou para mim, ainda indignada.
- Não vou falar nada. - Dei de ombros e voltei a comer. Yoojeong ainda tentou tirar mais algumas informações de Suji, mas não adiantou.

Terminamos o almoço e voltamos para o escritório. Entramos na sala e Hamyom já estava lá, mantinha uma feição nada feliz olhando para a tela do computador. Quando percebeu nossa chegada tentou disfarçar, mas foi trade. Yoojeong e Suji a cumprimentaram e eu apenas ignorei, indo para a minha mesa. Já tinha passado os dois trabalhos para ela e estava livre de ter que lidar com ela. Logo Minho chegou, cumprimentando todo mundo com a animação de sempre.
Desbloqueei a tela do meu computador e verifiquei meus e-mails, respondendo os que precisavam. Atualizei a minha planilha de projetos e dei mais uma revisada no projeto do music-video em andamento.

- Yoojeong, podemos conversar sobre o projeto novo? - Olhei para a minha amiga que sorriu e assentiu. - Vamos para a sala de reuniões. - Me levantei e quando ia passar pela mesa de Minho, ele piscou para mim, abri um pequeno sorriso e segui para a sala de vidro.

Yoojeong entrou na sala e fechou a porta, sentou-se na cadeira ao meu lado e colocou a pasta na mesa.

- Vamos ver do que se trata isso aqui. - Abriu a pasta e começamos a ler o documento. – Aigo! - Yoojeong gritou quando leu o último parágrafo da primeira folha.
- Eu entendi certo? - Olhamos com os olhos arregalados uma para a outra. Não era possível. Peguei a folha e li o parágrafo mais uma vez. - Yoojeong-ah, vamos trabalhar com o BTS. – Olhamos uma para a outra, com os olhos arregalados.
- Eu vou desmaiar. – Yoojeong começou a se abanar. – Amiga, eu vou ver meu Jin oppa! – Colocou as mãos no coração.
- Ok, vamos nos concentrar e terminar de ler todo esse documento. – Respirei fundo e Yoojeong fez o mesmo, nos arrumamos nas cadeiras e voltamos a ler. Basicamente faríamos alguns cenários para o campanha da Coway com o BTS, dos novos aparelhos da marca. Enquanto líamos, íamos anotando e marcando partes importantes.

Finalizamos a leitura e anotações e nos olhamos mais uma vez, um sorriso cresceu em nossos rostos.

- Certo Yoojeong-ah, precisamos ser profissionais e não surtar com esse trabalho ok?! – Ela assentiu.
- Certo amiga, se Donghae-ssi nos passou esse trabalho é porque confia em nós duas e no nosso trabalho.
- Isso! Mas se quiser, podemos sair para beber e você pode surtar à vontade. – Ela riu e bateu palmas. Recolhemos todas as nossas coisas e voltamos para nossas mesas.
- Pelo visto o projeto novo é muito bom. – Suji comentou nos olhando, assim que sentamos em nossos lugares. Yoojeong apenas mostrou a língua para o rapaz que devolveu o gesto. Sorri com a interação dos dois e voltei minha atenção para o computador. Passei a tarde trabalhando no music-video, precisava acelerar o projeto para entregar o mais rápido possível para me dedicar aos cenários da Coway.
- Peguei para você. – Me assustei quando uma pequena garrafa de suco foi colocada diante do meu rosto. Subi o olhar até encontrar o rosto de Minho, que sorria para mim.
- Obrigada Minho-yah. – Sorri e peguei a garrafa de sua mão.
- Vai fazer alguma coisa depois do trabalho? – Olhei para Yoojeong, ela tinha um sorriso no rosto e fez que não com as mãos. Voltei o olhar para Minho.
- Não tenho nada em mente.
- Posso te levar para jantar? – Assenti e o sorriso dele aumentou. – Você veio de carro hoje?
- Não, hoje eu vim de táxi.
- Ótimo, então assim que acabar nosso horário, eu te levo para um restaurante que gosto muito de ir.
- Combinado. – Ele piscou em minha direção e voltou para a própria mesa.

Abri a garrafa e tomei um gole do suco de laranja, voltei minha atenção para o computador e vi subir uma notificação no chat, com uma mensagem de Yoojeong.

“Nunca que eu ia atrapalhar um date seu com Minho-ssi kakakaka Não se esqueça de me contar todos os detalhes! Podemos deixar nossa saída para o fim de semana.”

Sorri e respondi que sim, sairíamos no fim de semana e ela estava responsável por escolher o lugar. Ela concordou e voltamos às nossas tarefas do dia. Me concentrei no projeto e nem percebi o tempo passando.

- -ah, vamos? – Minho estava parado do meu lado e sorria, como sempre.
- Um instante. – Salvei todos os meus trabalhos e fechei, verifiquei a caixa de e-mail e não tinha nada urgente. Bloqueei a máquina e desliguei a tela, organizei minhas coisas na mesa e guardei na bolsa o essencial. Me levantei e sorri para meu colega.

Nos despedimos dos demais e saímos juntos do prédio. Caminhamos lado a lado até onde ele tinha deixado o carro e Minho abriu a porta para que eu entrasse. Deu a volta no carro e entrou, sentando no banco do motorista.

- O restaurante é um pouco longe daqui, mas garanto que você vai gostar. – Deu a partida no carro e saímos. – Posso ligar o rádio?
- Claro! – Ele assentiu e ligou o aparelho, sintonizou uma rádio e a ost de um dorama tocava, reconheci a música e comecei a cantar. Minho me olhou surpreso e sorri em sua direção.
- Você canta bem -ah! – Senti minhas bochechas esquentarem e virei o rosto para a janela. A paisagem acabou me prendendo, Seoul é tão bonita, ainda mais de noite, quando fica toda iluminada. Conversamos pouco durante o trajeto e depois de um bom tempo, Minho estacionou o carro em frente a uma construção com arquitetura antiga, toda em madeira, com um jardim muito bonito na frente. – Chegamos. – Assim que o carro parou por completo, um funcionário abriu a porta para que eu descesse e assim o fiz, agradecendo. Minho parou ao meu lado e estendeu um dos braços para que eu entrelaçasse o meu, assim o fiz e seguimos para dentro do estabelecimento, sendo guiados pelo maitre até uma sala privativa. Nos sentamos um de frente para o outro. Minho fez os pedidos ao garçom que anotou tudo e logo saiu.
- Aqui é lindo. – A sala tinha uma pintura linda em uma das paredes e uma janela enorme que dava para um jardim de areia.
- Igual a você. – Olhei em sua direção já sentindo as bochechas vermelhas. – Fica ainda mais linda com vergonha. – Passei a mão no meu cabelo, jogando-o para o lado e sorri.
- Obrigada oppa. Você também é bem bonito. – Minho ia dizer algo, mas uma batida na porta o interrompeu, o garçom que nos serviria abriu a porta e entrou com nossos pratos. Esperamos ele servir todos os pratos e acompanhamentos em silêncio e assim que ele saiu, Minho saiu de seu lugar e sentou ao meu lado.
- Acho que assim fica melhor. – Piscou e passou a se servir. – Experimenta isso aqui, é uma delícia. – Trouxe o cheot-garat para próximo do meu rosto e o olhei. – Juro que é gostoso. – Abri a boca e ele me serviu. Mastiguei e me surpreendi com o sabor. – Sabia que ia gostar.
- É uma delícia! – Peguei mais um pouco e me servi. Ficamos um tempo em silêncio, apenas saboreando a comida.
- Posso fazer uma pergunta? – Olhei em sua direção e assenti. – Você tem namorado? Ou alguém em mente?
- Oh! Não para as duas perguntas, oppa. – Ele sorriu e virou de frente para a mesa, pegou a taça e bebeu um gole do vinho. Ai Deus, será que hoje eu dava um beijo nesse homem?
- Então se eu te pedir um beijo... – Mordi o lábio inferior e percebi que ele levou o olhar para o local. – Seria um problema? – Se aproximou, passando a língua nos lábios.
- Não seria problema algum. – Me aproximei dele e umedeci meus lábios também. Minho levou uma da mãos até minha nuca e aproximou nossos rostos, colando nossos lábios. O beijo foi calmo e gostoso. Nos afastamos um tempo depois e Minho sorria em minha direção.
- Foi melhor do que eu esperava. – Oh Deus! Senti minha bochechas corarem de novo. – Espero poder te beijar mais vezes. – As palavras fugiram da minha mente e eu não sabia realmente o que dizer naquele momento, então apenas me aproximei mais uma vez, coloquei uma das mãos em seu rosto e deixei um selinho. Me afastei e sorri. – Aigo! – Ele tampou as bochechas com as mãos e abaixou a cabeça sorrindo.

O jantar seguiu tranquilo entre conversa e risadas, trocamos mais alguns beijos. Saímos do restaurante de mãos dadas, parecíamos realmente um casal. Minho era um cavalheiro e isso mexia comigo. Assim que o manobrista chegou com o carro, Minho abriu a porta para que eu entrasse e depois entrou também. Ele sintonizou o rádio em uma estação, mas deixou o volume baixo, para ficar apenas como música ambiente. Em um momento, ele procurou por uma de minhas mãos e as entrelaçou com a sua, dirigindo assim até chegarmos em frente ao meu prédio.

- Uau! Você mora em um dos condomínios mais badalados de Seoul. – Comentou depois que descemos. – Vários famosos moram aqui.
- Sério? Nunca encontrei nenhum deles. – Dei de ombros e Minho sorriu em minha direção. – Adorei o jantar, muito obrigada!
- Não precisa agradecer, -yah. – Se aproximou colocando as duas mãos em meu rosto e se aproximando, iniciando mais um beijo, o último da noite. Nos afastamos, sorrindo um para o outro. Me despedi e caminhei em direção a portaria.

Caminhei pelo condomínio até minha torre, sem conseguir tirar o sorriso do rosto. Não estava nos meus planos me envolver com alguém durante a minha estadia em Seoul, ainda mais se esse alguém fosse do meu trabalho, mas algumas coisas sempre acabam fugindo dos planos. Entrei no meu bloco e esperei pelo elevador, que não demorou a chegar. Peguei o celular na bolsa e verifiquei as notificações, respondi as mensagens de meus pais e o resto responderia depois de um banho.
Entrei em casa, guardei os sapatos no armário e entrei descalça mesmo. Fui direto para meu quarto e joguei a bolsa na cama, me despindo no caminho para o banheiro. Tomei um banho demorado e quando saí, coloquei uma camiseta larga que achei no closet e me joguei na minha cama.
Yoojeong já tinha enviado algumas mensagens, perguntando sobre o jantar e a respondi, contando por cima o que tinha acontecido e em poucos minutos ela já tinha me respondido surtando. Mandei mensagem para minhas amigas de Miami, mas não esperei por resposta, já que elas deviam estar começando o dia de trabalho por lá.
Coloquei o celular na mesa de cabeceira e me deitei de barriga para cima, repassando os acontecimentos do dia. Senti o peito inflar de felicidade ao lembrar do novo trabalho, saber que Donghae confiava em mim mesmo tendo pouco tempo na empresa me deixava extremamente feliz e orgulhosa. E agora de noite o jantar com Minho, levei uma das mãos aos meus lábios e sorri involuntariamente. Não posso negar que ele chamou minha atenção desde o primeiro dia em que comecei o trabalho. Minho sempre foi gentil, mesmo sendo meu superior e sabemos como os chefes costumam ser por aqui. Mas eu precisava manter meus pés no chão, não posso me deixar levar por uma paixonite, e quem garante que ele queira algo sério?
Virei de lado na cama e fechei meus olhos, precisava dormir já que o trabalho me esperava para mais um dia.





Eu estava a ponto de surtar. Dave chegava hoje à noite em Seoul, mas ao invés de estar no aeroporto, esperando meu irmão, eu estava presa numa sala de reunião com mais 10 pessoas, tentando arranjar uma solução para um problema que em nada tinha a ver com meu trabalho. Conferi o horário mais uma vez em meu relógio de pulso e quase chorei ao constatar que me atrasaria.  

- Não acredito que chegaremos em um consenso agora. Vamos pensar em alguma solução e amanhã nos reunimos para resolver isso. – Amém! Quase gritei de alegria quando ouvi essa frase, até me atentar de que teria que retornar a empresa no meu dia de folga. Ajeitei minhas coisas com pressa e sai da sala.  
- -ssi! – Ouvi a voz de Minho atrás de mim e me virei. – Eu sei que você tem planos para amanhã com seu irmão, então pode ficar tranquila. Não precisa vir amanhã, eu dou um jeito aqui. – Se eu beijasse esse homem aqui dentro da empresa, eu poderia ser demitida?  
- Muito obrigada Minho-ssi! – Sorri em agradecimento e me virei, voltando ao meu caminho. Cheguei na sala, que já estava vazia, guardei minhas coisas na bolsa e quando ia saindo, Minho entrou.  
- Se divirta com seu irmão. – Se aproximou e deixou um beijo em minha testa. – E vá com cuidado. – Sorriu e deixou um carinho em meu rosto. – Se eu pudesse te dava um beijo agora, mas é arriscado e você está com pressa. – Pisquei algumas vezes, processando a frase e então sorri. 

Saí do prédio e corri para meu carro, quase chorei com o tempo até chegar em Incheon. Dirigi o mais rápido que pude, levando em consideração a minha segurança e dos outros. Estacionei na primeira vaga que encontrei e desci do carro, correndo para o terminal onde Dave desembarcaria, só parei para ver no painel se o voo dele já tinha chegado, constatando que sim. Droga! Andei apressada até o portão de desembarque sentindo meu coração bater acelerado, e não era só pela corrida. Olhei em volta, observando os bancos no saguão e meus olhos se encheram de lágrimas quando reconheci meu irmão sentado, mexendo no celular. Como se tivesse sentido minha presença, ou por coincidência mesmo, ele levantou o rosto e olhou em minha direção abrindo um sorriso ao me ver. Se levantou e veio até mim, puxando uma mala e colocando a mochila nas costas. Andei até ele também com o rosto já banhado pelas lágrimas que eu não me importei em segurar.  

- Dave. – Murmurei antes de ser abraçada por uma das pessoas mais importantes no mundo para mim. Pela primeira vez em muito tempo eu me senti completa e segura. Eu estava finalmente junto do meu irmão.  
- Que saudade de você, baixinha. - A voz embargada dele só me fez chorar ainda mais. - Se continuar chorando assim, vai inundar o aeroporto. - Fez um carinho em minhas costas, antes de se afastar.  
- Também estava com saudade Dave. E desculpa a demora, me prenderam numa reunião. - Sequei as lágrimas do jeito que deu, devia estar com a maquiagem toda borrada, mas que se dane. Estava feliz demais por ter meu irmão comigo.  
- Sem problemas, não esperei tanto assim. - Abriu um sorriso e acariciou meu cabelo. - Você está mais bonita. - Tombou a cabeça para o lado direito. - Ou será que eu estou meio doido por causa da saudade?  
- Idiota. - Dei um tapa em seu braço. - Vamos logo, temos um longo caminho pela frente. - Dave assentiu e caminhamos de braços enlaçados até o estacionamento. 
- Uau! Esse é seu carro? - Perguntou surpreso quando destravei o alarme do carro.  
- Dá para acreditar? - Abri o porta-malas. 
- Nunca imaginei te ver dirigindo um desse. - Guardou a bagagem e fechei a porta, indo para o banco do motorista. - Não era você que odiava carros grandes? 
- Se eu te disser que estou amando, você acredita? - Colocamos o cinto e liguei o carro, colocando o endereço de casa no gps. - Como já está de noite, vou pedir comida e comemos em casa mesmo ok? - Olhei rápido para Dave que apenas assentiu. - Amanhã vamos comprar um chip para você e faremos um pequeno tour por Seoul.  
- Você que manda.  

Uma hora e meia depois eu estava estacionando o carro na minha vaga no condomínio. Dave soltou algumas exclamações de surpresa durante o trajeto e eu sorria a cada uma delas.  
Descemos do carro e caminhamos juntos até o elevador, rindo de alguma piada idiota que ele soltou.  

- Mas falando sério, John Castellary não brinca em serviço mesmo. - Entramos no elevador assim que a porta se abriu.  
- Você conhece o papai.  
- Me surpreendo até hoje por ele ter aceitado tão fácil assim a sua mudança. - O elevador parou no térreo e um casal entrou. Fizemos uma reverência curta, mas fomos ignorados. Revirei os olhos.  
- Eles nos ignoraram ou foi impressão minha? - Dave perguntou em italiano ao invés de usar inglês.  
- Não foi impressão. Alguns deles são assim mesmo, se acostume. - O rapaz olhou para trás e Dave levantou uma sobrancelha, fazendo a típica cara de “está olhando o quê?” - Nem pense.  
- Você viu a cara dele? - O elevador parou e o casal desceu. - Otário. - Dave soltou assim que eles saíram.  
- Dave! Se controla ou vai apanhar na rua. - Ele apenas revirou os olhos. Alguns segundos depois o elevador parou em meu andar e descemos. - Seja bem-vindo ao meu apartamento. - Digitei a senha e abri a porta, dando espaço para ele passar.  
- É real mesmo essa coisa de tirar o sapato? - Perguntou ao ver dois pares de pantufa no pequeno hall. 
  - Sim, pode deixar o tênis aí mesmo, depois eu te mostro onde guardar.
   - Essa pantufa é para mim? - Assenti e ele calçou, adentrando o apartamento. - Nunca tinha visto apartamento com revestimento de granito assim, nas paredes. Quer dizer, algumas casas que eu fui, tinham uma parede ou outra, mas era de destaque. Aqui é em tudo! - Colocou a mão na parede de cor creme. 
  - Foi uma coisa que estranhei quando viemos visitar os apartamentos para comprar, mas agora me acostumei. 
  - Uh! Gostei da vista. – Passou pelo corredor e parou perto da janela da sala, onde dava para ver uma pequena parte do rio Han. - Gostei da decoração também, ficou bem a sua cara.  
- Eu amo essa vista, foi um dos motivos para escolher aqui. - Parei ao seu lado e me surpreendi quando Dave passou um dos braços pelo meu ombro, me abraçando de lado. Senti os olhos marejarem.  
- Hey! Não precisa chorar maninha. - Me puxou para perto, me abraçando ainda mais apertado. Tarde demais, eu já estava chorando de novo.  
- A culpa é sua. - Brinquei, secando os olhos. - Vou pedir comida e depois a gente arruma suas coisas lá no quarto.  

Liguei num pequeno restaurante que eu costumava pedir sempre e enquanto esperávamos a comida chegar, fomos arrumando as coisas de Dave no quarto de hóspedes.  

- Deixa que eu atendo. - Dave saiu do quarto quando o interfone tocou.  
- Quero só ver. - Parei na entrada do hall, observando meu irmão gastando o coreano dele com o entregador. Confesso que senti um pouco de orgulho nesse momento e a vontade de chorar me invadiu de novo. Até quando isso ia acontecer?  

Arrumamos a mesa de jantar e comemos juntos. Foi a melhor refeição que fiz nos últimos meses, sem sombra de dúvidas.

- Qual a programação de amanhã? – Dave perguntou enquanto lavávamos a pequena louça suja.
- Precisamos comprar seu chip, depois decidimos o que fazer. – Ele assentiu. – Na segunda eu tenho uma reunião de manhã, mas podemos almoçar juntos, que tal?
- Pode ser. Quero conhecer Gangnam e gravar um vídeo dançando igual o PSY. – Não aguentei e comecei a rir, já imaginando a cena.
- Você é muito palhaço Dave!
- E você me ama por isso. – Piscou. – Acabei de lembrar que o papai pediu para fazermos vídeo chamada. – Bateu na própria testa. – Será que ele atende se fizermos agora? – Pegou o celular no tampo da mesa e logo ouvi o barulho da chamada em espera. Ele caminhou até o sofá e se jogou. – Oi pai. – Corri e me joguei em seu colo.
- Oi pai! – John riu do outro lado.
- Olá crianças. Que saudade de ver vocês juntos. Não sabe o quanto esse garoto estava choramingando de saudade da irmã, . – Eu ri com a fala e Dave fez uma careta.
- Não me explana assim pai. – Dave me empurrou, me tirando do colo dele.
- Como foi a viagem?
- Foi tranquila, um tanto cansativa, mas tranquila. Fiz uma escala em Dubai e pelo pouco que vi no aeroporto, já quero conhecer mais.
- Meu cartão de crédito chora ouvindo isso. – John brincou.
- Chora nada. Ele pula de alegria isso sim. – Dave respondeu e John riu.
- Então a próxima viagem em família será em Dubai? Posso programar?
- Quero só ver isso aí. Vai ser fácil, fácil bater as agendas. – Brinquei e meu pai riu. – Aliás, onde você está?
- No escritório de casa. Sua mãe achou que estava muito sem graça e quis reformar. – Virou a tela do celular, mostrando o ambiente. Não consegui segurar a cara de surpresa ao ver as mudanças no ambiente. Antes da reforma, o escritório tinha paredes em azul marinho, estantes de madeira escura que iam do piso ao teto cheias de livros, um sofá de couro marrom, combinando com as estantes e uma grande mesa também de madeira. E agora o lugar tinha paredes pretas, assim como as estantes, o sofá preto tinha linhas retas e detalhes em metalizado prata, mesa de centro de vidro e metal, assim como a mesa do meu pai e atrás dela, uma parede inteira de mármore preto com ranhuras cinzas e brancas.
- Ficou incrível! – John voltou a se filmar e sorriu.
- Mérito todo da sua mãe. – Piscou. – Preciso ir crianças. – Dave e eu reviramos os olhos. – Não façam essas caras, vocês sempre serão minhas crianças.
- Tão clichê. – Dave revirou os olhos mais uma vez.
- Foi bom ver vocês. Me liguem mais vezes.
- Vamos ligar. Amo você pai. – Mandei um beijo para o celular e ele fez um movimento com a mão como se pegasse o beijo e guardasse no coração.
- Amo vocês. – John disse antes de desligar.
- Ele nem me deixou falar “eu te amo”. – Dave disse indignado, colocando o celular no sofá.
- Dave, você vai ficar bravo se eu for dormir? Estou muito cansada.
- Claro que não! Pode ir descansar, vou tentar fazer o mesmo.
- OK, já te mostrei onde ficam as toalhas e o banheiro, caso queira tomar um banho. – Dave assentiu e se levantou.
- Vai lá descansar, nos vemos amanhã cedo. – Deixou um beijo em minha testa e me deu um abraço rápido. Ele foi em direção ao quarto de hóspedes e eu entrei no meu, indo direto para o banheiro. Precisava urgentemente tomar um banho e dormir. O dia tinha sido tão cansativo e estressante. Mas acabou da melhor forma possível.

Sai do banho e vesti um pijama confortável. Ativei o despertador para tocar cedo, queria passar o máximo de tempo possível com meu irmão. Apaguei as luzes e deitei.
Mas o sono não veio. Rolei de um lado para o outro na cama, me cobri e descobri várias vezes, mas o sono não vinha. A euforia por ter Dave no quarto ao lado era tanta, que me causou insônia. Que merda! Joguei a coberta para o lado e me levantei. Saí do quarto e fui até o quarto de hóspedes, quando abri a porta, encontrei Dave mexendo no celular.

- Não consigo dormir. – Disse quando ele me olhou. Dave apenas bateu a mão no espaço ao seu lado da cama e eu fui até lá, me deitando.
- Boa noite baixinha. – Deixou mais um beijo em minha testa e eu fechei os olhos.

Acordei com a claridade do sol entrando no quarto, abri os olhos e encontrei Dave babando no travesseiro do meu lado. Segurei o riso e me levantei. Fui até meu quarto e peguei o celular. Droga! Já era bem mais tarde do que eu pretendia acordar. Fui ao banheiro e depois me arrumei. Escolhi um look confortável para passear e prendi meu cabelo. Preparei um café da manhã simples e fui acordar Dave.

- Hey Dave, hora de acordar. – O chacoalhei algumas vezes, até ele abrir os olhos e resmungar. – O café da manhã está pronto. Se arruma logo para sairmos. - Depois de mais alguns resmungos ele se levantou e eu saí do quarto. Me sentei a mesa e comecei a mexer no celular, passando o tempo nas minhas redes sociais até Dave aparecer. Depois de comer e limpar tudo, pegamos nossas bolsas e saímos.
- Vamos direto para Gangnam. Passamos num shopping e depois damos uma volta pelo bairro. - Dave concordou e liguei o carro. Saímos do condomínio e peguei o acesso a ponte que cruzava o rio Han.
- Engraçado, olhando o rio Han, me deu uma saudade de Londres. - Dave comentou olhando pela janela. - O Allan está pensando em comprar um apartamento lá, ele comentou?
- Não comentou nada. Mas seria bom mesmo para ele.
- Sim, facilitaria bastante para o trabalho. Aliás, quando eu voltar dessas miniférias, vou ficar um tempo no apartamento dele em Nova York.
- Por quê? - Olhei rápido para ele.
- Trabalho.
- Bem-vindo a Gangnam. - Disse quando saímos da ponte e entramos na Eonju-ro. O trânsito estava tranquilo na medida do possível, segui o caminho do gps até chegarmos ao Starfield COEX Mall.
- Bem bonita essa região. - Dave comentou quando entrei no estacionamento do shopping.
- Sim. Tem muitas coisas legais pra ver aqui, podemos escolher algumas coisas e montamos um roteiro.
- Você acha que eu consigo vir aqui durante a semana para dar uma volta? - Estacionei o carro numa vaga e desliguei o carro.
- Consegue sim. Não é tão difícil andar por aqui e estamos pertinho de casa. - Ele concordou e descemos do carro.
- E eu entendo um pouco de coreano, graças a minha irmã caçula. - Me abraçou de lado e andamos assim até o acesso ao mall. Fomos direto a uma loja de eletrônicos e celular e fizemos o que precisávamos. Dave ficou tentado a comprar algumas bugigangas eletrônicas, mas consegui contê-lo.
- Vamos lá na escultura de mãos para você gravar seu vídeo. - Puxei Dave até a parte de fora do prédio espelhado e fomos em direção a grande escultura dourada, esperamos alguns minutos, pois tinham algumas pessoas tirando fotos e filmando. Quando chegou a vez de Dave, gravamos alguns vídeos rápidos e tiramos fotos juntos e individuais. Voltamos para dentro do prédio com as bochechas doloridas de tanto rir um do outro.
- A fome está dando as caras. - Dave comentou. - Mas ela pode esperar um pouco. - Parou em frente a vitrine de uma loja. - Eu gostei desse look, vem. - Me puxou para dentro da loja. A vendedora a princípio nos olhou um pouco torto, mas veio nos atender. Dave arranhou o coreano e conseguiu pedir a roupa que estava na vitrine. Me sentei numa poltrona enquanto ele ia ao provador. - Me sinto um ator de doramas. - Saiu do provador e deu uma volta, mostrando o look.
- Gostei, ficou bem bonito. Posso fotografar? - Ele assentiu e começou a fazer várias poses quando apontei o celular em sua direção. Acabei gravando um pequeno vídeo.
- Vou levar. - Voltou para o provador e uns minutos depois voltou com a muda de roupa nas mãos. Fomos para o caixa e fizemos o pagamento. - Onde vamos comer?
- Deixa eu procurar um restaurante legal aqui. - Peguei o celular da bolsa e pesquisei restaurantes na região. Mostrei as opções e escolhemos um que nos agradou. Fomos para o estacionamento e logo já estávamos a caminho do restaurante.

Estacionei o carro numa vaga próxima ao restaurante e fomos a pé até o local. Era um restaurante de churrasco coreano, parecia ser bem conhecido e tinha boas avaliações quando pesquisamos. Nos sentamos em uma mesa mais ao fundo do e fizemos nossos pedidos.

- Que delícia! - Dave comentou depois de experimentar um pedaço da carne grelhada.
- Sabia que ia gostar. - Comemos em meio a risadas e muita conversa. Era muito bom estar com meu irmão. - Eu comentei com quem vou trabalhar no próximo projeto? - Dave negou com um movimento de cabeça, já que estava com a boca cheia. - BTS. - Sussurrei para não correr o risco de mais alguém ouvir. Se bem que estávamos conversando em inglês, mesmo assim, todo o cuidado é pouco, não é mesmo?
- Sério? Isso é incrível! - Disse depois de engolir. - Um dia ainda trabalharei com eles.
- Tenho certeza de que quando isso acontecer, vai ser um sucesso! - Dave sorriu.
- Pode apostar. - Piscou e voltou a comer.
- O que acha de andarmos de bicicleta amanhã? - Coloquei mais um pouco de comida na boca e esperei sua resposta.
- Muito bom. Preciso me exercitar de alguma forma. - Balancei a cabeça em negativa. Como pode gostar tanto assim de se exercitar, mesmo estando de férias? - Eu fiz uma lista de lugares que quero visitar e preciso da sua ajuda para saber como chegar. - Assenti, ainda mastigando. - Quero conhecer alguns museus e palácios. - Levantei uma das sobrancelhas. - Relaxa, nós vamos juntos ao palácio Gyeongbokgung.
- Bom mesmo!
- Você acha que eu vou perder a oportunidade de vestir um hanbok com minha irmã? Nem ferrando!
- E na próxima sexta-feira, vamos para Busan. - Dave alargou o sorriso. - As passagens de trem estão compradas, chegamos lá de noite, aí teremos o fim de semana todo para conhecer a cidade.
- Você é a melhor! - Pisquei um dos olhos e mandei um beijo, fazendo meu irmão rir.

Terminamos o almoço e decidimos os próximos destinos do dia. Dave queria conhecer o Estádio Olímpico Jamsil, passar pelo antigo prédio da Big Hit Entertainment, e depois encerraríamos o passeio no Coex Aquarium.
A galeria de fotos do meu celular nunca ficou tão cheia como ficou ao final desse dia. Tiramos tantas fotos e gravamos tantos vídeos que a galeria do meu celular ficou lotada. Voltamos para casa quando o sol já tinha se posto. Exaustos.

- Preciso urgente de um banho e uma boa noite de sono. - Dave comentou se jogando no sofá da sala.
- Somos dois. - Abri a porta da geladeira, para pegar uma garrafa de água. - Pode ir tomar banho primeiro. Vou pedir alguma coisa para comermos. - Dave assentiu e se levantou, indo para o quarto de hóspedes.

Peguei o telefone e disquei para o restaurante de frango frito de sempre. Me joguei no sofá e abri as notificações, eram tantas mensagens que fiquei perdida. Respondi meus pais e amigos de Miami e depois respondi os amigos daqui.
Assim que Dave saiu do banho a nossa comida chegou.

- Já sinto saudades desse frango e olha que nem voltei pra L.A. ainda. - Brincou e mordeu mais um pedaço.
- É muito bom mesmo. Foi a primeira comida em que eu viciei quando me mudei.
- E com razão, isso é muito bom. - Terminamos o nosso pequeno jantar e decidimos assistir a um filme. Fomos para o meu quarto, para se caso dormíssemos no meio do filme, não acordarmos doloridos no outro dia.

E foi o que aconteceu. Dave dormiu logo nos primeiros minutos de filme e eu tentei aguentar até o final, mas não consegui resistir a muito mais e dormi antes da metade.





No segundo dia de férias de Dave, resolvemos visitar o Palácio de Gyeongbokgung. Alugamos hanbok e tiramos diversas fotos. Em vários momentos do passeio minha mente me levou à Allan, imaginando o quanto ele ia amar estar aqui tirando fotos lindas de cada pedacinho daquele lugar. Depois do palácio fomos ao Museu Nacional de arte contemporânea e perdemos a noção do tempo concentrados nas obras de arte. Nosso dia se encerrou num restaurante coreano com arquitetura tradicional, e claro que o jantar foi regado de muitas risadas.
Quando o despertador tocou na segunda-feira de manhã, eu pensei seriamente em continuar na minha cama, mas o trabalho me chamava. Me arrumei e escolhi uma roupa mais social, já que teria a primeira reunião com a equipe da COWAY para alinharmos as ideias dos comerciais. Preparei um café da manhã simples e chamei Dave para comermos juntos. Expliquei como funcionava o transporte público para Dave e o aplicativo de transporte, para caso ele quisesse passear enquanto eu estivesse fora. Marcamos de jantar juntos em um restaurante perto de casa. Nos despedimos e saí.
Cheguei no escritório e Yoojeong já estava em sua mesa, a cumprimentei e me sentei no meu lugar, ligando meu computador.

- -yah, acha bom revermos as propostas antes da reunião? - Olhei em sua direção e ela roía uma das unhas.
- Claro! Quer ir para a sala de reuniões ou prefere fazermos aqui mesmo?
- Pode ser aqui mesmo. Eu vou aí. - Se levantou e empurrou sua cadeira para perto da minha. Abri os arquivos salvos na rede e começamos a revisar.
- Bom dia. - Levantamos nossas cabeças quando ouvimos a voz de Suji.
- Bom dia. - Respondemos em uníssono, o que nos fez rir.
- Vocês estão cada dia mais parecidas, como pode isso? - Yoojeong e eu nos olhamos e demos de ombros. - É disso que estou falando. - Fez um estalo com a língua e sentou-se em seu lugar. - Que horas vai ser a reunião de vocês?
- Está marcada para as onze da manhã. - Respondi, já voltando minha atenção para meu monitor.
- Não sabemos se vai demorar, então não sei se vamos conseguir almoçar juntos. - Yoojeong comentou e olhei para Suji, que apenas concordou com a cabeça e então voltamos a nossa revisão.
- O que estão fazendo aí? - Ouvi a voz de Minho e levantei o olhar na direção que vinha. Que homem meus amigos, que homem!
- Revisando as propostas para a reunião com a COWAY. - Yoojeong respondeu e apenas assenti.
- Ah sim. Boa sorte mais tarde. - Sentou-se em seu lugar e não disse mais nada. Não deu nem dois minutos e Hamyom chegou também, cumprimentou todos de forma geral e também foi direto para seu lugar. Respirei fundo e voltei minha atenção para meu trabalho.

Faltando pouco para o horário da reunião, Yoojeong e eu subimos para a sala de reuniões. Preparamos toda a sala, colocando cópias impressas das propostas no tampo da mesa, para todos terem em mãos, e então ajustamos o projetor e o notebook que levamos.

- Pelo horário, logo eles chegam. - Olhei no relógio de pulso e faltavam menos de dez minutos.
- Espero que dê tudo certo e eles aprovem nossas propostas.
- Vai dar certo sim. - Apertei sua mão e Yoojeong sorriu. Passamos alguns minutos conversando sobre amenidades, até que bateram na porta e a abriram. A reunião ia começar.

Cumprimentamos os recém-chegados e os mostramos onde sentar. Yoojeong e eu nos posicionamos de frente para a mesa retangular e ela começou a apresentação. Apresentamos as quatro propostas, mas apenas uma foi aceita sem alterações enquanto duas delas foram solicitadas muitas alterações e a última foi recusada. Finalizada a apresentação, nos sentamos e passamos a anotar todas as observações levantadas.

- Para ser sincero, eu prefiro essa proposta aqui. - Levantou o caderno de apresentação com a proposta número três. - Pelo que foi apresentado, dará menos custo e demoraria menos tempo para ser executado.
- Concordo. Escolhendo essa opção conseguimos acelerar o processo e ainda podemos gravar mais variações dos comerciais. - Os demais concordaram e olhei para Yoojeong que assentia.
- Então todos concordam que podemos descartar todas as outras propostas e ficar só com essa? - Toda a equipe da marca concordou. - Então está decidido. As senhoritas fizeram um ótimo trabalho. - Não consegui segurar o sorriso. Yoojeong fez uma leve reverência. - Então vamos polir essa ideia e nos encontramos na próxima reunião. - Colocou as duas mãos no tampo da mesa e se levantou. Todos se levantaram em seguida. Nos despedimos e quando a última pessoa saiu da sala, fechando a porta Yoojeong e eu nos abraçamos e começamos a pular.
- Não acredito que deu certo. - Nos afastamos. - Eu realmente pensei que eles fossem recusar todas as propostas.
- Por que achou isso? - Perguntei, já arrumando todos os papéis em cima da mesa.
- Na primeira vez que trabalhamos com uma empresa que trabalharia com BTS foi um inferno. Eles queriam algo grandioso e que tudo saísse de forma impecável e viviam repetindo que era o BTS e que nada podia dar errado. - Peguei trauma.
- Uau! Não imaginava que era essa pressão toda.
- Amiga, algumas empresas se acham melhor só por conseguir ter eles como garotos propaganda. - Terminamos de juntar as coisas e saímos da sala.
- Ainda bem que demos sorte então.
- Sim. - Entramos no elevador e fomos para nosso andar. - Preciso passar no setor de T.I., pode levar as coisas para a nossa sala?
- Claro. - Yoojeong colocou os cadernos que carregava em cima da pequena pilha que eu carregava e seguiu para o lado oposto.

Entrei na toca e estava vazia. Já estava no horário de almoço e pelo visto todos foram comer juntos. Deixei tudo em cima da minha mesa e sem querer deixei cair algumas canetas caírem no chão. Bufei e me abaixei para pegá-las.

- Você está saindo com alguém? - Ouvi a voz de Hamyom.
- Saí uma vez com uma pessoa, mas não é nada sério. - Ouvi a voz de Minho. Continuei abaixada.
- E essa pessoa é do escritório?
- Não é da sua conta Hamyom-ah. - Minho disse de forma irônica. Hamyom bufou e escutei o barulho de seus saltos se afastarem. Decidi me levantar como se nada tivesse acontecido. Assim que levantei vi Minho arregalar os olhos. - Desde quando você está aqui?
- Cheguei faz pouco tempo, estava pegando minhas canetas que caíram no chão. - Ele assentiu e pigarreou.
- Vamos almoçar? Suji-yah está no restaurante nos esperando. - Yoojeong entrou na toca já falando e se assustou quando viu Minho. - Oh, não sabia que você estava aqui Minho-shi.
- A reunião ocorreu bem? - Perguntou para Yoojeong e depois olhou para mim.
- Foi sim, tivemos boas notícias. - Yoojeong respondeu animada. Peguei minha carteira e me aproximei da minha amiga, entrelaçando nossos braços.
- Vamos? - Yoojeong assentiu e saímos da sala juntas.

Fomos quase correndo para ao restaurante encontrar Suji. Foi inevitável me sentir sobrando durante o almoço. Eles estavam numa sintonia e conexão absurda. Acho que só eles não percebiam – ou fingiam não perceber.

- Acho que Hamyom-shi e Minho-shi podem estar flertando – Yoojeong quase cuspiu o suco que tomava.
- Por que você acha isso? - Suji se ajeitou na cadeira, se aproximando da mesa.
- Me abaixei para pegar minhas canetas que caíram e eles entraram na toca. Ela estava perguntando se ele estava saindo com alguém e ele disse que estava saindo sim, mas que não era nada sério.
- Ele estava falando de vocês? - Balancei meus ombros, como se dissesse que não sei. - Waa! Esperava mais dele.
- Mas vocês saíram quantas vezes? - Suji me perguntou.
- Saímos duas vezes.
- Então deve ser por isso -yah. - Olhamos para Suji. - Ele te pediu em namoro? - Neguei. - Então por isso que ele deve ter respondido isso. - Deu de ombros e enfiou um pedaço de carne na boca.
- Você tem razão. Não vou encanar com isso. - Ele concordou. Meu celular começou a tocar e o peguei da carteira. O nome de Dave piscava na tela.
- Pode atender amiga. - Assenti e atendi.
- Quero ir em um karaokê. - Mal pude falar oi e ele já tinha falado.
- Ok, mas de onde você tirou isso?
- Acabei de passar em frente a um e me deu vontade. Vamos? Sei que seu dia deve estar apertado, mas seria legal.
- Tudo bem, podemos ir sim. A reunião ocorreu bem, podemos comemorar. Calma aí. - Afastei o telefone do ouvido. - Topam ir em um karaokê hoje?
- Claro! - Os dois concordaram e aproximei o telefone do ouvido mais uma vez.
- Você tem o endereço do escritório, pode nos encontrar lá? Assim vamos todos juntos. Yoojeong e Suji vão com a gente.
- Legal! Nos vemos mais tarde então. - E encerrou a ligação. Deixei o celular na mesa.
- Dave disse que passou em frente a um karaokê e ficou com vontade. - Expliquei e eles riram.
- Então vamos conhecer o famosos Dave. - Suji brincou.
- Mal posso esperar. - Suji arqueou uma das sobrancelhas olhando para Yoojeong.
- Ele é bem legal, acho que vocês vão gostar dele. - Os dois assentiram.

Terminamos o almoço e voltamos para o escritório conversando sobre planos para o fim de semana e acabamos marcando um jantar na minha casa. Chegamos na toca e Minho e Hamyom estavam em seus lugares, concentrados em seus computadores. Fui até minha mesa em silêncio e me sentei, desbloqueando meu computador, não demorou e recebi uma mensagem de Minho, me chamando para conversar, apenas ignorei.
A tarde passou arrastada. Quase acabando o expediente, recebi uma ligação da recepção do prédio informando que Dave havia chegado. Finalizei o trabalho e comecei a arrumar minhas coisas para ir embora. Chamei Suji e Yoojeong que se levantaram praticamente juntos.

- Vão sair juntos? - Minho perguntou.
- Ah, vamos sim Minho-shi. - Yoojeong respondeu e depois me olhou.
- E não convidam mais os amigos? - Hamyom soltou se levantando também.
- É que... - Vamos jantar com meu irmão, por isso não chamei. - Interrompi Yoojeong. - Inclusive ele está esperando lá na recepção. Vamos? - Suji assentiu e puxei minha amiga pela mão, saindo logo da sala. - Nem ferrando eu ia chamar ela pra jantar com o Dave, eu hein.
- Mas o Minho-shi... Vocês não estavam saindo? - Yoojeong abaixou o tom de voz, para não ser ouvida por outras pessoas.
- Não é nada sério, não tem por que ele conhecer meu irmão. - Dei de ombros. Entramos juntos no elevador e assim que descemos na recepção e eu vi meu irmão sentado em um dos sofás, meu sorriso se abriu e fui quase correndo em sua direção. - Demorei? - Dave guardou o celular no bolso da jaqueta e se levantou, me abraçando.
- Não, relaxa, eu que cheguei mais cedo.
- Esses são Suji e Yoojeong, meus amigos do trabalho. - Os apresentei, assim que pararam ao meu lado.
- É um prazer conhecer vocês. - Dave estendeu a mão, cumprimentando primeiro Suji e em seguida Yoojeong.
- O prazer é nosso. - Suji respondeu, chegando um pouco mais perto de Yoojeong. Sorri com o pequeno ato. - A -yah fala muito de você.
- Espero que bem. - Revirei os olhos.
- Até parece.
- Bom, vamos comer primeiro? Estou morrendo de fome. - Yoojeong passou a mão na barriga. Assentimos, concordando com ela.
- Na verdade, hoje vocês serão nossos guias, porque não conheço os karaokês ainda. - Então vamos nessa. Você está de carro? - Assenti.
- Deixei na rua debaixo. Você me mostra o caminho? - Suji assentiu e saímos do prédio.

Chegamos ao restaurante que Suji escolheu, era um lugar acolhedor, com uma comida deliciosa e não parecia ser muito conhecido. Em um certo momento tive a impressão de estar sendo observada, mas pensei que fosse coisa da minha cabeça. Finalizando o jantar, fomos direto para um karaokê que Yoojeong sugeriu.
O lugar era fantástico e bem maior por dentro do que aparentava por fora. Entrando, demos de cara com o balcão de atendimento onde nos cadastramos e reservamos a sala, então passamos por uma porta na lateral do balcão e entramos em um grande hall, decorado de uma maneira muito bonita. No piso, algumas partes eram de vidro e podíamos ver uma espécie de aquário com peixes que passavam por baixo de nós e ia até um pequeno lago artificial, com um paisagismo incrível. Para chegarmos às salas, atravessamos uma pequena ponte de madeira que dava para os corredores cheios de salas, algumas com grandes janelas de vidro e outras mais reservadas. Yoojeong acabou reservando uma sala com vista para o lago, com uma parede toda de vidro.
Entramos e já nos espalhamos, Dave se jogou em um dos pufes, enquanto Suji foi pegar um cardápio em cima da mesa e Yoojeong foi até o grande controle. Fiquei em pé, próxima a parede de vidro, admirando a beleza do lago. Não imaginei que pudesse existir um lugar tão bonito assim.

- Vou pedir umas bebidas e petiscos. - Suji comentou já com um tablet na mão.
- Não peça muita bebida. Amanhã temos que acordar cedo para trabalhar. - Yoojeong comentou. - -yah, canta essa comigo? - Assenti e me aproximei, pegando um dos microfones.

Não me lembro que horas saímos de lá. Só lembro que rimos tanto com as performances exageradas, bebemos além do previsto – Dave saiu quase arrastado –, Yoojeong quase torceu o pé dançando - ou pulando sem parar – enquanto cantava uma música de kpop e eu tive que ser a motorista de três bêbados.
Deixei cada um em sua casa, mesmo a contragosto deles e tive que arrastar um Dave sonolento até meu apartamento. O deixei no quarto de hóspedes e fui direto para o meu, tomar um banho antes de dormir. Sentia minha garganta arranhando, provavelmente acordaria rouca no outro dia, mas quem ligava? Tive uma das noites mais divertidas desde que me mudei para cá, na companhia do meu irmão e de amigos incríveis que essa mudança louca me trouxe.



Continua...



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Nota da autora: Sem nota.






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