Nunca pude me definir como uma garota festiva e rodeada de amigos, muito pelo contrário, sempre fui aquela menina dos livros, filmes e bandas. Uma pessoa de poucos amigos, porém, amizades fortes e verdadeiras, daquelas que nunca me deixaram passar sozinha por um momento difícil.
Toda a minha adolescência foi pacata, visto que a única rebeldia estava fortemente associada aos inúmeros momentos em que corri atrás dos meus ídolos. Comprava livros e mais livros, mesmo que a minha estante estivesse cheia de obras para ler.
Até que tudo mudou subitamente.
Entrei na faculdade, troquei os livros de ficção pelos acadêmicos. Troquei os posters de banda por post-its com datas de provas e conteúdos importantes. Resumindo, me transformei em uma garota cheia de responsabilidades.
Deixei de lado aquele universo dos livros, filmes e bandas para correr atrás de projetos acadêmicos, atividades complementares e ganhei como bônus uma preocupação constante em relação ao mercado de trabalho.
É claro que a minha banda favorita ter dado “uma pausa” também contribuiu indiretamente para esse processo.
Contudo, novamente, tudo mudou subitamente.
Um ano atrás eles voltaram com força total, lançando vídeo clipes e um álbum inédito para o deleite de seus fãs. E, obviamente, a adolescente que existia em mim também resolveu dar as caras. Renascendo das cinzas como as famosas fênix.
Aqueles sentimentos oprimidos voltaram com tanta intensidade que acabei me inscrevendo, sem pensar duas vezes, no concurso “Love Is On The Radio” da Rádio BBC, cujo prêmio seria um jantar com o .
O garoto pelo qual havia me apaixonado na minha adolescência e o mais gostoso que o planeta Terra já viu. Tudo bem, sou suspeita para falar, mas dane-se! Ele é um gato mesmo.
— , você vai al-
Ignorei o chamado da quando entrei correndo na nossa casa, estava ansiosa demais pelo resultado do concurso para prestar atenção ao meu redor. Subi as escadas aos tropeços, jogando minha mochila de qualquer jeito em cima da minha cama enquanto já ligava o notebook.
Faltavam 15 minutos para o programa começar e, dessa vez, iria dar certo. Perdi as contas de quantas promoções envolvendo já havia participado, apesar disso, tinha total ciência de quantas tinha ganhado: zero.
“Não por muito tempo”, pensei, digitando o site da rádio e esperando ansiosamente que a tela carregasse.
Finalmente o programa começou, mas os radialistas conversavam sobre temas que eu simplesmente não conseguia prestar atenção. Já estava descascando o meu esmalte de tanta ânsia e cada minuto demorava uma eternidade.
Blá, blá, blá, os apresentadores continuavam falando até que...
“— Atenção fãs de , estamos ao lado desse ma.ra.vi.lho.so — avisou a radialista, Suzy, de um modo animado —, e em breve iremos anunciar a vencedora ou o vencedor do concurso “Love Is On The Radio”.”
Aquela voz informando que iria liberar o resultado da promoção preencheu o meu quarto, fazendo com que o meu coração batesse mais forte no peito.
Agora me tornei um poço cheio de expectativas.
Encarei minhas mãos, estavam trêmulas. Tentei respirar fundo para controlar o meu corpo e a mente, no entanto, era simplesmente impossível.
Podia perceber uma corrente elétrica percorrendo as minhas células, em um misto de ansiedade, medo e esperança. Estava começando a me questionar se era possível escutar as batidas do meu coração de tão fortes que eram.
“— , você terminou um relacionamento há pouco tempo… Já se adaptou à vida de solteiro?”
Escutei a risada de nos alto falantes do notebook, preenchendo o espaço ao meu redor. Foi impossível não sorrir só por imaginar ouvir aquele riso pessoalmente.
Já era tarde demais, minha cabeça havia começado a planejar cada momento daquele encontro. Ignorando totalmente o fato de que ainda não sabia o resultado.
“— Eu devo estar um pouco enferrujado na arte da conquista, mas ainda tenho o meu charme — respondeu o tranquilamente, mas era possível sentir o humor em sua voz.
— Ah, disso eu tenho certeza — disse Suzy.
— Bem, espero não decepcionar a vencedora — declarou em um tom brincalhão e, novamente, risadas preenchem o ambiente.”
Na minha cabeça de fã, sempre teorizei que fosse um cara super divertido e, claramente, charmoso. Sendo que a sua risada me ajudava a construir essa hipótese, porque era do tipo que conseguia te fazer rir junto e ao mesmo tempo te deixar balançada.
“— Então, vamos logo ao que interessa, certo? Lembrando que vamos ligar ao vivo para quem ganhar o “Love Is On The Radio” e, a melhor parte, a vencedora ou o vencedor vai ter um jantar especial com uma das pessoas mais charmosas que eu conheço — Suzy informou animada.”
Aquele aviso fez com que procurasse desesperadamente pelo meu celular dentro da minha mochila.
Cadê? CADÊ?
Finalmente o encontrei, jogado no fundo da mochila, e segurei o mesmo com firmeza na altura do meu peito enquanto me jogava na poltrona diante do computador conectado ao site da rádio.
Fiquei ainda mais nervosa, repetindo mentalmente a palavra “por favor’’, como se fosse um mantra.
Definitivamente, eu estava mais inquieta do que o normal. Não conseguia diferenciar se aquela sensação diferente dentro do meu peito era o universo avisando que iria dar certo ou apenas uma projeção da minha cabeça. O fato é que eu queria ganhar, afinal, era um jantar com o .
Repetindo: um jantar com o
“Quem não iria querer isso, afinal?” perguntei mentalmente, sabendo que a resposta era “ninguém”.
“— , quer fazer as honras e apertar o botão do sorteio? — perguntou Bob, um dos apresentadores do programa.
— Claro, Bob — ele respondeu prontamente.
— Que soem os tambores — Bob incentivou e uma espécie de batucada na mesa tornou-se audível.”
O estúdio ficou em silêncio.
O meu quarto ficou em silêncio.
“— Aumentem o volume! Pois a vencedora da promoção “Love Is On The Radio” é… Brown! Parabéns! vai ligar para você agora mesmo.”
Brown?!
?!
Brown?!
Meu Deus!
Meu.
Deus.
Essa sou eu!
Arregalei meus olhos e, por um pequeno instante, estava paralisada. Simplesmente não consegui acreditar que havia acabado de ouvir o meu nome, isso parecia surreal demais para ser verdade.
De repente, tudo ao redor ficou mais iluminado, como se uma nova atmosfera estivesse se formando. Comecei a me sentir radiante e nenhuma palavra poderia descrever com clareza os sentimentos que estavam me dominando.
No entanto, poucos segundos se passaram antes do celular começar a tocar e me trazer de volta à realidade. Quer por sinal, tornou-se uma realidade bem mais bonita. Meus olhos pousaram na tela do aparelho, especificamente no número desconhecido.
Não precisei pensar muito, atendendo antes que o telefone desse o terceiro toque.
— Alô?! — minha voz saiu um pouco afobada e pude ouvir a risada marcante do do outro lado da linha.
Inegavelmente, a risada mais linda do mundo.
— Ei, , quer jantar comigo na sexta? — indagou e sua voz soou incrivelmente terna nos meus ouvido.
— Aí. Meu. Deus! — gritei pausadamente. — QUERO! Claro que eu quero.
“— Olha aí, , ela está bem animada — disse Bob e mais risadas ecoaram pelo estúdio.”
Precisei tirar o som do computador, para que pudesse prestar mais atenção no telefone. Ou melhor, na voz do .
— Você tem uma voz bonita, — admitiu e eu me vi sorrindo, sentindo o coração bater em um ritmo ainda mais frenético. — Te vejo na sexta.
— Sim. Claro. Sexta — afirmei nervosa demais e o solta um risinho leve.
— Até lá, então. Vou precisar passar para o pessoal da rádio, eles precisam confirmar umas questões com você — explicou e me despedi antes que o mesmo passe o telefone para outra pessoa.
Instantes depois uma voz feminina soou na linha, me fazendo uma série de perguntas para confirmar dados, assim como passou as informações de como será o jantar.
Fiquei ainda mais animada ao descobrir que o próprio viria me buscar em casa às 19 horas na sexta e que o próprio escolheria o restaurante.
Quando finalmente a ligação se encerrou, sentei na minha cama, deixando que o meu aparelho caísse sobre o colchão, com os olhos fixos em um ponto aleatório na minha frente.
Ele gostou da minha voz?
Foi o primeiro pensamento que ecoou na minha mente, fato que me fez questionar se tudo aquilo estava realmente acontecendo ou se era um delírio.
— — sussuro ainda em uma espécie de semi transe, a ficha caindo lentamente. — Céus. KATE! — berrei dessa vez, me levantando e começando a pular sozinha no meu quarto. — KATE! MEU DEUS! KATE!
— , porra, o que foi? — apareceu na porta do meu quarto, meio descabelada e com a mão no coração como se tivesse vindo correndo ao meu encontro.
— GANHEI! , eu ganhei o concurso — expliquei me jogando nos braços da minha melhor amiga e fazendo com que a mesma pulasse comigo.
Os longos cabelos negros da balançavam enquanto a gente pulava e ela dava gargalhadas descontroladas da minha situação. Somente quando seus olhos de avelã encontraram com os meus, pude ver aquele brilho característico que deixava nítido o quanto estava feliz por mim.
— Parabéns, gatinha. Sabe o que isso significa?
— Que eu vou morrer de tanta ansiedade até sexta?
— Eu ia dizer que precisamos ir às compras —. A felicidade ilumina seu rosto e completa: — Mas isso também.
O sorriso que se espalha pela minha face é ainda maior. Como estudante de Moda, vê a roupa como algo além de um conjunto de tecido. Logo, a morena sempre ajuda na escolha daquela famosa “roupa perfeita” para cada determinada ocasião.
— Que tal... — minha voz ganhou um tom sugestivo. — A gente almoçar rapidinho e ir logo? — perguntei com um sorriso cúmplice.
O olhar animado da foi o suficiente como resposta. Segurei na sua mão, puxando-a para a cozinha sem conseguir tirar do meu rosto aquele sorriso. Era difícil não permitir que o sentimento dentro de mim ficasse nítido no meu corpo.
Ainda tinha medo de acordar e descobrir que tudo aquilo era um sonho. Entretanto, enquanto não acordasse, iria aproveitar cada segundo.
❤ ❤ ❤
Poucas pessoas circulavam pelos corredores do shopping naquele momento, a maioria andava rapidamente. Provavelmente queriam chegar logo nos seus respectivos compromissos, visto que ainda estávamos no meio da semana.
Respirei fundo antes de entrar na última loja que restava e foi somente nesse momento que a ficha caiu. Nunca imaginei que ia ser tão difícil escolher uma roupa apropriada para participar de um simples jantar.
Quem eu queria enganar? Não era um simples jantar.
Em poucos dias iria sentar na frente de .
Isso estava começando a me deixar verdadeiramente assustada, porque eu conhecia a imagem que queria passar. Nós nunca sabemos ao certo se aquela pessoa que está diante das câmeras é a sua versão verdadeira ou apenas uma máscara.
Poderia ser uma máscara. Eu poderia odiar a versão por trás dela. Ou ele poderia simplesmente não me mostrar o seu verdadeiro eu.
— Terra chamando — chamou minha atenção estalando o dedo na frente do meu rosto. — Em que você tanto pensa, ein?
— Estou começando a ficar apavorada — confessei, com medo que ela achasse idiotice da minha parte.
— — me envolveu em seus braços de um modo amoroso e segurou meu rosto com as duas mãos quando se afastou. — É normal estar nervosa ou apavorada, como você disse. Mas, assim que encontramos a roupa certa, essa tensão vai diminuir um pouco. É tudo questão de confiança.
Sorri, tinha essa tendência de facilitar a vida. Dei mais uma abraço rápido na minha amiga e entramos juntas na loja.
— Ei, boa tarde — cumprimentou a vendedora —, tudo bem? Estamos procurando um vestido para a minha amiga ali.
— E vocês já tem alguma ideia em mente?
— Queremos algo romântico e, ao mesmo tempo, sensual, entende?
Não me lembro de ter dito isso, mas resolvi deixar a no comando dessa vez.
Andamos pela loja juntamente com a vendedora, que mostrou empolgada várias opções de vestidos. sempre fazia um pose de crítica gastronômica enquanto analisava cada peça.
Depois de um tempo, a morena havia separado três opções. Dois vestidos eram pretos e o terceiro era na cor branca.
— Vamos lá, prove todos — incentivou , sentando-se em uma poltrona na frente do provador.
Entrei no provador, pendurando os três vestidos e encarando-os. Sentia que um deles seria finalmente o perfeito para a ocasião.
❤ ❤ ❤
Quinta-feira, 10:05
A professora estava toda empolgada falando sobre o processo de reabilitação de algumas aves silvestres que haviam sido resgatadas de alguns traficantes de animais. Algo me dizia que, de fato, a aula era interessantíssima.
Havia escolhido a disciplina optativa sobre “Reabilitação de Animais Silvestres” justamente por ser a área na qual resolvi me especializar quando concluísse a graduação em medicina veterinária. Apesar de que pretendo trabalhar especificamente com felinos, tudo desse tema me atraía.
No entanto, qualquer aula havia ficado chata nesses últimos dias, porque a única coisa que preenchia a minha mente era o meu jantar na sexta-feira. Ainda não acreditava que era realmente verdade.
Senti meu celular vibrando e acabei cedendo à curiosidade, deslizando meu dedo na tela para ver uma mensagem de um número desconhecido.
Número Desconhecido [10:15]:
Oi,
Franzi minha testa, abrindo o aplicativo de mensagem para ver a foto e esqueci totalmente como se respira quando reconheci o sorridente.
? Meu. Deus. O que eu respondo? Como eu respondo?
[10:16]:
Ei, , tudo bem?
Hahaha, pode me chamar de
Respondi quase que imediatamente e revirei meus olhos, me sentindo uma total idiota. Deveria ter dito algo melhor.
[10:17]:
Estou bem
e você?
[10:17]:
Ótima.
, respira! Você está parecendo uma louca respondendo tão rápido.
Certo? Certo.
[10:18]:
Estou te atrapalhando?
O QUÊ?!
Meu. Deus.
Ele está perguntando se está me atrapalhando? Socorro. O que digo?!
Foco, !
Fale como uma pessoa normal.
Digitei e apaguei a mensagem várias vezes, com medo de dar a impressão de que eu era realmente uma fã totalmente desesperada.
Ah, dane-se!
[10:20]:
Claro que não, pode falar
[10:22]:
Ah, que ótimo
Peguei seu número com o pessoal da rádio, espero que não se importe
Só queria saber se você tem alguma preferência, sabe?
Em relação a comida ou restaurante.
[10:23]:
Sinceramente?
Fico mais tempo na universidade do que em qualquer outro lugar
Os restaurantes que eu conheço estão restritos aos quarteirões da universidade.
O quê?! Que merda eu acabei de falar?
Ah, , vai se danar. Inferno!
Agora ele acha que eu sou louca, desesperada e uma nerd viciada em estudos.
não visualizou a mensagem.
Ao fundo, a professora estava tirando uma dúvida de algum estudante sobre o manejo. Provavelmente algo importante, mas eu só conseguia olhar para a conversa com o .
Ele não estava mais online, talvez isso fosse o universo me dizendo para prestar atenção na aula ou querendo me pas-
Cristo. Ele ficou online.
Cacete, porque ele está digitando tão devagar?
[10:27]:
Você precisa urgentemente ampliar as suas opções
Posso te ajudar nisso ;)
Quase gritei quando li a mensagem, precisei me lembrar que deveria estar prestando atenção na aula. Portanto, respirei fundo e tentei conter minhas reações.
[10:28]:
Já pode começar na sexta
Deixo a escolha em suas mãos :)
[10:30]:
Espertinha haha
Preciso ir agora
Os caras estão me esperando no estúdio
Até sexta, senhorita universitária
[10:30]:
hahaha
Boa sorte aí, senhor astro do rock
ficou offline, provavelmente iria ficar um bom tempo fora das redes sociais e eu fiquei encarando aquela conversa, tentando processar todas aquelas palavras ditas.
A aula tornou-se mais secular do que já estava.
Fiz a única coisa certa naquele momento e mandei mensagem para a . Informei a mesma que iria largar às 12 horas e que tínhamos um assunto muito, muito mesmo, urgente para debater, portanto, ela deveria me encontrar na lanchonete de sempre.
Esforcei-me para prestar atenção nas informações que a professora passava, agora ela estava falando algo sobre os tipos de pico das aves e eu definitivamente não conseguia entender como a aula tinha chegado naquele ponto.
Meu telefone vibrou novamente após o que me pareceu uma eternidade e não preciso comentar que abri o aplicativo de mensagens em um tempo recorde, mas, para a minha tristeza, era apenas a avisando que já tinha chegado.
Infelizmente, ainda restavam trinta minutos para a minha aula terminar.
A professora continuava a ministrar o conteúdo de um modo tranquilo, parando um pouco para olhar a hora no seu relógio de pulso.
— Meus queridos, vou liberar vocês um pouco mais cedo hoje, pois não adianta começar esse conteúdo agora e ter que fragmentar o nosso raciocínio — , anunciou em um tom solene e eu abri um sorriso animado enquanto afirmava para ninguém em específico.
Todos começaram a organizar as suas mochilas e eu fiz o mesmo, jogando todo o meu material super rápido dentro da minha. Saí correndo da sala, indo o mais rápido possível para a lanchonete na qual eu e a sempre nos encontrávamos quando não queríamos fazer o almoço.
Foi fácil encontrar , ela estava arrumada demais para o ambiente devido a uma apresentação que havia tido no seu curso.
— Ei — falei assim que sentei na sua frente, colocando minha mochila na cadeira vazia ao meu lado e já fui pegando o meu telefone. — Preciso que você leia essa conversa, urgentemente — dei ênfase na palavra e minha amiga franziu a testa, mas pegou o meu celular.
Observei enquanto os olhos da foram de um lado para o outro, também consegui perceber que ela releu as mensagens algumas vezes e simplesmente começou a rir.
— Amiga? “Restritos aos quarteirões da universidade”? — Ergui o dedo do meio na sua direção e ela deu uma gargalhada, jogando a cabeça para trás. — Então, isso foi um flerte entre vocês? Alguém tá muito enferrujada e eu não estou falando do… Qual o nome dele mesmo?
— , argh, , ok? Já te falei mil vezes.
— Tá, tá — falou erguendo as mãos em um sinal de redenção e lendo novamente as mensagens.
— Acha mesmo que foi um flerte?
deu apenas uma risada, antes de mudar totalmente de assunto e deixar minha mente criar inúmeras teorias sobre o real significado daquela troca de mensagens.
❤ ❤ ❤
Sempre fui uma garota um pouco ansiosa e precisei aprender a lidar com isso. Entretanto, não existia meditação, respiração profunda ou qualquer outra técnica que pudesse ajudar naquele instante, porque cada pequena parte minha vibrava.
A ansiedade estava controlando meu corpo e os meus pensamentos. Todas as minhas energias estavam voltadas para o momento que eu ouviria o toque da campainha, sinalizando a chegada dele.
Algo me dizia que tudo aquilo era insano, talvez fosse um sonho e, em algum momento, meus olhos iriam se abrir. Era justamente disso que tinha medo, pois não queria despertar e perceber que tudo se tratava apenas de um sonho muito bem elaborado da minha cabeça.
— , e se eu não estiver bonita o suficiente? — indaguei para a minha melhor amiga, que estava jogada em sua cama, com seu cabelo todo bagunçado e um sorriso divertido nos lábios.
Voltei meu foco para o espelho na minha frente mais uma vez. Havíamos escolhido um vestido preto cujo comprimento era um pouco acima do joelho e que possuía um decote em “v” discreto. Sua manga era feita de tule da mesma cor transparente com bolinhas pretas, dando um ar romântico e sensual ao mesmo tempo.
estava certa, era o vestido perfeito.
— Amiga, por favor, você está linda — respondeu revirando os olhos, como se aquilo fosse óbvio.
Ela se levantou, ficando ao meu lado e observando os nossos reflexos. Ambos sorriram, um sorriso de cumplicidade de quem se conhecia há muitos anos. Ela passou as mãos pelos meus fios, arrumando-os e, ao mesmo tempo, trazendo uma sensação de conforto.
— Você realmente está linda, — garantiu, me abraçando de lado e continuou: — Uma de parar o trânsito.
Com o automóvel estacionado na frente da casa, batucando os dedos no volante e tentando imaginar como seria a dona daquela voz tão doce que havia ficado a semana toda na minha cabeça, me encontrava em um estado de espírito ridiculamente agoniante.
Não foi desse jeito que imaginei o meu primeiro encontro depois de um relacionamento de quase três anos. Na verdade, pretendia ficar longe das questões do coração durante um bom tempo. Ok, aquilo não era exatamente um encontro romântico, estava mais para um encontro com uma fã.
Apesar disso, era um pouco estranho.
E conseguia me deixar assustado.
Talvez fosse o fato do último relacionamento não ter sido tão saudável quanto as redes sociais mostravam. Provavelmente eu ainda sentia uma espécie de medo, mesmo aquilo não sendo um encontro romântico.
Apesar de tudo, sentia uma certa animação, maior do que tinha previsto. Já fui em muitos encontros, entretanto, nenhum com uma fã e muito mesmo com uma garota que nunca tinha visto.
Meus olhos se voltaram para o buquê cuidadosamente colocado no banco do passageiro, minha intenção não era ser sentimental ou algo similar, só queria ser educado. E, mesmo assim, estava com medo de não ter feito a escolha certa.
Acabei optando por um buquê com flores do campo, uma mistura equilibrada de flores delicadas nas cores branca, amarela e rosa. Era um arranjo leve, com um aroma silvestre que havia tomado conta do carro.
Com um último suspiro, dei mais uma conferida na minha aparência, arrumei alguns fios rebeldes do meu cabelo e peguei o buquê. Caminhei apressadamente na direção da porta, inclinando um pouco a cabeça só para me certificar que estava no número certo.
Toquei a campainha uma única vez. Esperei alguns minutos antes de ouvir passos vindos na direção de onde me encontrava e a porta foi aberta em um único movimento.
Uma estava parada na minha frente, com um sorriso que iluminava seu rosto e refletia no brilho dos seus olhos . Ela usava um vestido preto, mas fiquei atraído pelo seu rosto, sem conseguir prestar atenção em mais nada.
Meu coração bateu estranhamente mais forte.
Me vi em um pleno estado de encantamento com aquela beleza tão singular. Seus traços delicados e o seu semblante sereno transmitiam algo que sou incapaz de traduzir em palavras.
Um certo frio tomou conta da minha barriga e precisei piscar algumas vezes para conseguir me concentrar. Assim como também tive que limpar a garganta antes de perguntar com uma certa cautela:
— ?
— Pode me chamar só de ou — disse acenando positivamente com a cabeça e sorrindo de um modo acanhado.
Uma sensação de felicidade tomou conta da minha mente, não havia percebido até ela confirmar o quanto tinha desejado que fosse a .
— Sua voz não faz jus a sua beleza, — falei tranquilamente e imediatamente percebi a face da garota ruborizar.
— ! — ela diz sorrindo ainda mais envergonhada e somente nesse momento seus olhos recaem sobre o buquê de rosas silvestres em minha mão.
— Trouxe para você — expliquei, estendendo as flores na sua direção —, espero que goste.
— Obrigada, elas são lindas — respondeu com suas íris brilhando enquanto segurava as flores e as aproximava do seu rosto, fechando os olhos ao apreciar o seu aroma silvestre. — Vou guardar em um vaso e podemos ir.
Apenas concordei com a cabeça enquanto permanecia parado na porta, observando a garota sair do seu campo de visão. Não sei ao certo quanto tempo esperei, mas a voltou sem as flores, contudo, seu sorriso encantador ainda estava presente.
— Pronta? — indaguei sorrindo e estendendo minha mão na direção da garota.
estava nervosa. Percebi isso pela forma cautelosa que seus olhos fluíram do meu rosto para a minha mão. Ela ponderou um pouco antes de finalmente entrelaçar nossos dedos. E aquele leve tremor não passou despercebido por mim.
Não entendi ao certo o porquê do meu ato, mas me inclinei levemente ao mesmo tempo que puxava sua mão na direção da minha boca para depositar um beijo delicado no seu dorso.
Quando voltei a encarar seu rosto, tinha um sorriso ainda mais amoroso em seus lábios. Um desejo estranho gritou no meu peito, tive vontade de abraçá-la. De conseguir sentir com mais nitidez o aroma dos seus cabelos. Quis sentir melhor a textura da sua pele. Dos seus lábios.
— Qual restaurante você escolheu? — Sua pergunta me tirou do devaneio e eu neguei com a cabeça.
— Surpresa.
Ela abriu a boca, pronta para questionar, mas acabou desistindo instantes depois. Antes que mudasse de ideia, resolvi guiá-la até o carro, apenas soltando sua mão quando abri a porta do passageiro para que ela entrasse.
Todo o trajeto até o restaurante foi silencioso até demais, gerando um certo constrangimento. Apesar disso, não fui capaz de pensar em algo para dizer, pois meu corpo estava tenso e a minha mente se encontrava em uma espécie de alvoroço, sem saber ao certo o que pensar. Tinha até receio de acabar dizendo alguma besteira, só não entendia o porquê daquele sentimento. Afinal, já dei inúmeras entrevistas e nunca fiquei assim.
Conseguia perceber que a também se sentia daquela forma. Vi com o canto do olho que a tamborilava os dedos na superfície da sua coxa. Evitando ao máximo olhar na minha direção.
O silêncio era sufocante e fiquei aliviado quando estacionei o carro na frente do restaurante La Taberna Italiana. Optei por algo italiano, acreditando que era difícil encontrar alguém que não gostasse de uma boa massa. Entretanto, agora comecei a me questionar se ela tratava-se de uma exceção.
Saí do carro rápido, rodeando-o e abrindo a porta para a , que aceitou a minha ajuda para sair do automóvel. Travei o carro logo após fechar a porta e dei um meio sorriso na direção da garota.
— Chegamos — anunciei e mantive nossas mãos unidas enquanto guiava a em direção a porta principal
A fachada era toda de pedras rústicas e iluminada com uma luz avermelhada. Antes mesmo de entrar você já se sentia confortável e esse também foi um dos fatores que me fez escolher aquele lugar, era um dos meus favoritos.
— Boa noite, tenho uma reserva para dois no nome de — informei ao hostess assim que pararam na frente do pequeno púlpito na entrada do lugar.
— Boa noite, senhor, só um instante — falou educadamente enquanto olhava para a tela do tablet na sua frente. — Por aqui, por favor.
O hostess indicou com a mão para dentro do restaurante e acompanhamos em silêncio. Ao lançar um olhar por sobre o ombro, vi que demostrava estar encantada com a beleza e delicadeza do ambiente.
O lugar era uma típica cantina italiana, as paredes cheias de quadros com pinturas em preto e branco da Toscana, toalhas xadrez sobre as mesas com velas iluminando-as e o cheiro de massa e molho fresco predominando pelo ar. Ao fundo, uma música ambiente tocava e tornava aquele local ainda mais aconchegante.
Quando sentamos à mesa, um garçom trouxe rapidamente o cardápio e a cartela de vinhos. A fase da estava levemente avermelhada, a garota ainda tinha aquela timidez pairando ao seu redor e, por algum motivo desconhecido, achei aquilo encantador.
Agradecemos ao garçom que se afastou educadamente para nos dar privacidade durante a escolha. Ergui a cartela de vinhos, mas meus olhos estavam fixos nela por trás da mesma. A folheava o cardápio rápido demais para estar de fato procurando alguma opção.
— Você tem alguma preferência? — perguntei balançando a cartela na minha mão e ela negou rapidamente.
— Não, pode escolher — disse, sem levantar o rosto na minha direção. Sua voz soou nervosa e eu franzi o cenho. Observei quando ela lançou um olhar inquieto para as opções. Talvez não possuísse tanto conhecimento sobre esse tipo de bebida e não queria arriscar fazer a escolha errada. — Eu posso tomar o mesmo que você.
Sua conclusão fez com que minha hipótese torna-se ainda mais verídica na minha mente. Mas, acenei em concordância antes de falar:
— Eu estou dirigindo, .
Não pude desviar minha atenção dela quando finalmente aqueles olhos cruzaram com os meus. Sorrimos juntos no mesmo momento. E que sorriso lindo ela tinha. Foi suficiente para fazer meu coração bater com mais intensidade no peito.
Uma inquietação ainda maior tomou conta do meu ser e senti um frio na barriga quando ela mordeu seu próprio lábio inferior. Ansiosa. Quem sabe também vivenciando aquela mesma sensação estranha que se apoderava de mim.
De alguma forma, aquilo ajudou. Afinal, soube que não era o único abalado com o jantar e tal constatação fez com que sorrisse ainda mais para a .
— No entanto, vou escolher um para você. — Deslizei minha mão pela mesa, retirando lentamente a cartela de vinhos de suas mãos, fazendo com que a nossa pele roçasse e vi a estremecer com aquilo. Sorrindo, argumentei: — Vou esperar você escolher o jantar, para saber o vinho certo.
Dei uma piscadela na sua direção e percebi quando aquela camada de timidez se quebrou. O sorriso em seus lábios mudou e, por mais que ainda existisse algo carinho nele, era algo mais perspicaz agora.
— Me surpreenda então, .
Não sei de onde saiu aquilo, entretanto, gostei do tom desafiador em sua voz. A postura dela relaxou um pouco enquanto a mesma procurava agora com mais afinco o que iria pedir. Depois de muito ponderar, ela escolheu uma opção de nhoque.
Acenei na direção do garçom, que se aproximou em seguida. Fiz o pedido com a voz baixa, não queria que a soubesse exatamente o que estava solicitando. Apesar da curiosidade ficar estampada em sua fase, ela não questionou.
— Acredito que estou em desvantagem aqui — declarei assim que o garçom se afastou novamente e fixei minha atenção a sentada à frente. — Você deve saber várias coisas sobre mim e eu só sei seu nome.
riu, ou melhor, deu uma gargalhada. Imediatamente, ela levou as mãos a sua boca e olhamos ao redor, pois sua risada havia quebrado o silêncio do lugar.
Ninguém parecia ter se importado e ficou aliviada.
— Não sei se tem coisas interessantes para contar, sendo bem sincera — ela respondeu, dando de ombros.
— Você pode tentar.
— Ok — disse prolongando aquela única palavra enquanto ficava um pouco pensativa. — Eu estou no penúltimo período de medicina veterinária, moro junto com a minha melhor amiga e não me considero uma pessoa impulsiva, logo, sem muitas histórias engraçadas para contar.
— E você já sabe o que vai fazer quando se formar? — questionei, genuinamente curioso.
Todo o seu rosto se iluminou diante daquela simples pergunta. Os dos seus olhos brilhavam de um jeito familiar, com a mesma chama que os meus ficam quando o assunto é música. Sorri e arrumei minha postura, prestando mais atenção quando ela começou a falar:
— Quero trabalhar com animais silvestres, especificamente com felinos. Já faço estágio nessa área há dois anos praticamente, quer ver umas fotos?
— É claro — respondi e observei a garota buscar pela sua bolsa.
Estávamos com uma mesa de distância entre nós. “Longe demais”, pensei enquanto já me levantava e movia minha cadeira para o lado, ficando em sua diagonal. Vi quando o garçom fez menção de se aproximar, contudo, neguei com a cabeça e eu mesmo mudei a disposição dos pratos.
Notei que estava me fitando com a testa franzida. Dei uma piscadela na sua direção antes de responder. Sua face ficou ruborizada imediatamente e eu julgando que era impossível sua beleza ficar ainda mais evidente.
— Estávamos muito longe um do outro — expliquei, dando de ombros e foi sua vez de lançar um sorriso carinhoso na minha direção.
Observei deslizar rapidamente o dedo pela tela do smartphone, procurando pelas fotos. Poucos segundos foram o suficiente para que ela virasse o aparelho na minha direção. Me inclinei um pouco mais, sentindo o cheiro floral que emanava dela.
Somente nesse instante, percebi que não havia se jogado em meus braços como uma fã faria. Desviei minha atenção do aparelho, aproveitando a nossa proximidade para olhar com mais precisão o seu rosto.
Desde o primeiro contato, notei os traços delicados dela. Era impossível negar que tinha uma beleza singular, no entanto, vendo-a tão de perto senti como se estivesse admirando uma obra de arte. Daquelas em que você pode ficar horas e mais horas apenas apreciando e ainda não teria uma total dimensão da sua grandeza.
Lentamente, percebeu que meu foco não estava em seu telefone. Percebi quando a mesma puxou o ar e girou seu rosto em direção ao meu.
O mundo parou no momento em que seus olhos capturaram os meus. Meu subconsciente sabia que estávamos no restaurante e que tinha várias pessoas ao nosso redor, só que o meu coração batia mais forte por uma única pessoa.
Seus lábios estavam próximos dos meus. Perigosamente próximos. Eu só precisaria me inclinar um pouco mais e…
— Com licença, trouxe o vinho — o garçom anunciou e fomos forçados a quebrar o nosso contato.
— Obrigado — agradeci e deslizei a taça da pela mesa. O líquido vermelho-rubi com reflexos violáceos preencheu a mesma e, mais uma vez, esperei o garçom se afastar para voltar a falar: — Experimente.
Ela olhou por um momento para a sua taça, sentindo o aroma fresco e agradável da bebida. Aquele vinho deixava um cheiro de frutas vermelhas, especiarias e toque floral no ar.
A fechou os olhos quando deu o primeiro gole e escutei a mesma soltar um pequeno gemido de satisfação.
— Nossa, é realmente muito bom.
— Prunotto Barbera D' Alba — falei, pronunciando da forma como havia aprendido na Itália —, é indicado para tomar com massas ao molho tomate
— Hum, você entende de vinhos — constatou, pensativa. — Isso é uma novidade para mim.
Acabei rindo do seu comentário, mas aproveitei o momento para colocar meu braço no apoio da sua cadeira.
— Fico feliz em saber que ainda posso te surpreender — disse no meu tom mais galanteador, capturando aqueles olhos com os meus.
Vi engolir em seco e dar um longo gole no seu vinho. Precisei conter o meu sorriso, estava achando encantadora a forma como ela estava nervosa. Não passou despercebido por ela o tom da minha voz, talvez estivesse questionando se tinha algo mais por trás das minhas palavras e...
— Tenho uma pergunta para você.
— Pode fazer — respondeu, se remexendo na cadeira.
— Você tem namorado ou algo assim? — Precisei perguntar e descobrir se aquele desconforto era somente timidez ou o fato de que ela já estava comprometida com alguém.
foi pega de surpresa com aquele questionamento e acabou tomando mais um gole do vinho antes de responder:
— Não.
Uma única palavra. Surpreendentemente, me deixou aliviado.
— Também tenho uma pergunta para você — anuncia depois de dar mais um gole no seu vinho. Ela realmente estava ficando mais desinibida. Apenas sorri, acenando para que perguntasse.
ficou ponderando durante um tempo, franzindo um pouco a testa antes de criar coragem para dizer:
— Ok, não é exatamente uma pergunta, acho que se encaixa mais na categoria curiosidade — disse e rimos juntos. — Quem é o de verdade?
Quis ter uma taça de vinho agora. Ninguém nunca havia me perguntado isso, não tão diretamente.
— É uma curiosidade bem pertinente. — falei para ganhar tempo enquanto pensava em algo. — Bem, todos acham que o é o mais impulsivo da banda, mas a verdade é que eu sou de longe o mais impulsivo de todos. — Arregalei os olhos, dando ênfase em minhas palavras. — As histórias mais malucas que passei com os caras, a culpa é sempre minha.
— Eu te imaginava um cara divertido, mas impulsivo não.
— Sua vez.
— Ah! — ponderou por alguns segundos e soltou o ar antes de falar rapidamente: — Estou com medo de me formar.
— O quê? Você parece saber muito bem o que quer para estar com medo.
— Meus pais não queriam que eu fizesse veterinária, tenho medo de, no final, eles estarem certos.
— Entendo — digo sincero, porque eu realmente entendia. Afinal, dizer aos pais que quer viver da música não é exatamente o que eles esperam ouvir do filho.
Um silêncio constrangedor invadiu aquele pequeno espaço que compartilhamos e eu achei que era hora de mudar de assunto.
— Estou de fato interessado nessas fotos.
Apontei para o aparelho que agora estava jogado sobre a mesa. ficou me encarando durante um tempo, vi quando assentiu. Provavelmente entendendo que também era melhor mudar de assunto. E a verdade é que eu realmente estava curioso, queria saber mais sobre a garota que tinha me deixado ansioso apenas com a sua voz.
endireitou a postura antes de começar a me mostrar várias fotos e contar histórias referentes a ela. Demos boas risadas e quando o jantar chegou, não consegui voltar para o meu lugar anterior.
Comemos próximos um ao outro, conseguia me deixar incrivelmente à vontade. Só no final da noite foi que notei a forma como havíamos conversado, sem nenhuma barreira, como se fossemos velhos conhecidos.
— Você é realmente uma boa companhia, , como eu imaginava.
— Ainda bem que não decepcionei a vencedora do concurso, então.
— Não, você não decepcionou. — Subitamente, levou as mãos à boca. — Aí, meu Deus, não tiramos uma foto.
— Isso é um absurdo — falei, fingindo estar revoltado com aquela situação. — Vamos tirar então.
A pegou novamente o celular, abrindo a câmera e posicionando-o para que tirássemos algumas selfies. Fizemos várias poses e quando a ficou satisfeita, começou a dar uma olhada nelas.
— Nossa, você realmente não precisa de aperfeiçoamentos.
— O quê? — indaguei, rindo.
A não tirou os olhos do telefone quando deu de ombros e respondeu:
— São tantos filtros, tantas edições, que na maioria dos casos não é real.
— Você tem razão e posso ser sincero? — perguntei. apenas assentiu e eu continuei:— Nem sempre sou isso aqui, a verdade é que passo mais tempo desarrumado do que assim. Tudo o que as pessoas veem em shows, redes sociais e programas é uma montagem, alguém escolheu aquela roupa. Só que eu não conseguiria fingir ser alguém que não sou, pelo menos não em relação a minha personalidade. No entanto, é o que mais tem por aí, as pessoas fingem ser algo que não são.
— Ah, o tempo todo. Já cansei de ver casais super felizes na internet e do nada postar uma foto para dizer que tudo tinha acabado quando no dia anterior estavam em uma praia chique e… — calou-se de repente, arregalando os olhos e fazendo um careta. — Me desculpe, eu não quis dizer que você e a…
— Está tudo bem, . — Abanei o ar para deixar esse assunto de lado e peguei o celular de suas mãos, procurando uma foto que me agradasse. — Gostei dessa.
olhou para a foto que eu tinha selecionado e sorriu.
— Vou postar essa então.
— Escolha outra, , essa já é a que eu vou postar — informei, enfático e riu.
Percebi que realmente gostava da sua risada e antes que qualquer tema um pouco tenso pudesse entrar na roda, resolvi questionar se ela queria uma sobremesa. O brilho que vi em seu rosto deixou claro que a garota era uma fã de doces.
Deixei que ela fizesse a escolha dessa vez e devo admitir que ela tinha talento para doces. Continuamos rindo e conversando durante um longo tempo, só percebi que quase uma hora havia se passado quando notei o restaurante praticamente vazio.
Estava chegando a hora de deixá-la em casa e aquilo me incomodava de um jeito diferente. Quase doloroso.
❤ ❤ ❤
O retorno para a casa da foi totalmente diferente, porque agora a gente não conseguia ficar em silêncio e tudo o que desejei era poder prolongar ainda mais aquele tempo ao lado dela. Só que, infelizmente, já estávamos andando até a porta da sua casa.
— — chamei assim que paramos na frente da porta. Estampei um meio sorriso, mas estava focado no rosto da e em suas reações. — Eu realmente gostei de jantar com você, foi... Surpreendente.
— Talvez não precise terminar agora, se você quiser, pode entrar.
Gostei de ouvir aquilo.
Gostei bastante de ouvir aquilo.
— Gostaria, mas amanhã tenho um compromisso de trabalho super cedo.
— Entendo — disse balançando a cabeça e se virando para colocar a chave no ferrolho da porta.
— .
Seu nome saiu como uma súplica pelos meus lábios e a se virou imediatamente na minha direção.
— .
— Vou guardar esse convite para o nosso próximo jantar.
— Eu não vou retirar o convite — respondeu, lançando aquele sorriso tão encantador na minha direção.
— Eu aviso quando chegar em casa — avisei, me aproximando lentamente e depositando um beijo delicado na bochecha dela.
Nossos olhos se encontraram quando me afastei e vi a piscar algumas vezes antes de concordar.
Observei a entrar, só dando as costas quando a porta bateu na minha frente. Se no começo da noite, havia vindo para cá com medo desse jantar, agora voltei para casa distraído.
Minha mente estava repassando os momentos que tínhamos compartilhado, revivendo os detalhes do rosto da , o perfume da sua pele e o som da sua risada.
Droga, ia ser difícil tirar aquela garota da minha cabeça.
Estava tão inebriado que só consegui me jogar na cama quando cheguei em casa. Queria falar com ela novamente e antes mesmo de fazer qualquer coisa, digitei uma mensagem para ela.
[00:02]:
Acabei de chegar em casa
Obrigado pela noite
[00:03]:
Eu é que deveria agradecer
Gostei de conhecer você
[00:04]:
Eu também gostei,
A gente vai se falando?
Me senti um adolescente esperando a resposta da garota. Não conseguia lembrar da última vez que fiquei tão nervoso com uma mulher, mas a havia despertado algo dentro de mim. Algo que não sentia há muito tempo, mas estava gostando daquela sensação.
[00:06]:
A gente vai se falando.
[00:07]:
Preciso ir dormir agora
Boa noite, .
[00:08]:
Boa noite,
Se cuida.
Precisei fazer um grande esforço para me levantar e tomar um banho. Estava cansado da semana e sabia que os próximos dias seriam ainda mais corridos. Amanhã, apesar de ser sábado, ficaria o dia todo no estúdio fazendo uns últimos ajustes. Só teria o domingo para descansar um pouco, porque na segunda iria começar a turnê.
Apesar disso, estava sorrindo.
E, por mais que não conseguisse entender muito bem o porquê daquele sorriso e das batidas mais fortes do meu coração, estava claro que existia uma certa magia diferente no ar.
❤ ❤ ❤
Dois dias haviam se passado desde aquele jantar. E, apesar da rotina puxada, eu acordava e ia dormir pensando naquelas poucas horas que tínhamos passado juntos.
Queria ligar para ela, ouvir sua voz. Tentar falar algo engraçado para que desse aquela sua risadinha tímida que só ela possuía. Ou quem sabe falar algo sacana para que a garota ficasse com o rosto todo corado.
Independente de qual seria a minha ideia, hoje era a minha última oportunidade. De noite entraria em um avião e só voltaria depois de dois meses.
— Você está desenvolvendo uma teoria científica ou o quê? — Ouvi questionar ao meu lado e girei meu tronco, arqueando uma sobrancelha. Ele riu antes de explicar: — Está segurando as baquetas a séculos, não deveria ter terminado de arrumar isso?
— Estava pensando.
— Sei, aposto que era na garota do jantar de sexta.
— Como você sabe? — indaguei, finalmente terminando de guardar o equipamento.
— Você tem pensando em outra coisa ultimamente? — devolveu na forma de outra pergunta, sorrindo de um modo divertido na minha direção.
— Vamos lá, , vá falar com ela — incentivou dando dois tapinhas no meu ombro. — Até porque está sendo inútil na missão de organizar e verificar os equipamentos.
Apesar de existir funcionários para isso, a gente gostava de fazer uma pequena vistoria nos instrumentos. Virou uma espécie de tradição para a banda e estamos nisso desde cedo.
Poderia reclamar, argumentar que eu já tinha ajudado bastante. Mas, dane-se. Ele estava certo e, antes que meu lado racional tomasse conta, digitei uma mensagem para a
[14:04]:
Oi, onde você está?
Um minuto se passou. mantinha seus olhos atentos sobre mim e me vi pronto para ligar. Contudo, ela ficou online e começou a digitar.
[14:05]:
Na faculdade, esperando começar a aula.
Por quê?
Não respondi aquela pergunta, ignorando momentaneamente. Quando meus olhos se voltaram para , seu rosto deixava claro que o rapaz estava pronto para dizer algo como “eu já sabia”.
— Sim, estou indo falar com ela — anunciei já procurando pela minha carteira e as chaves do carro.
Só consegui ouvir a risada do meu melhor amigo enquanto me afastava. Estava a uns bons quilômetros de distância, no entanto, o universo resolveu me ajudar e tive sorte durante o trajeto. Em vez de quarenta minutos, consegui estacionar na frente do prédio do curso de medicina veterinária com trinta.
Peguei meu celular, digitando enquanto já andava na direção do edifício na minha frente.
[14:36]:
Qual é a sua sala?
[10:37]:
202
Você não me respondeu
Por quê?
Sorri. Ela era mais curiosa do que eu. Não esperei o maldito elevador, subi as escadas pulando de dois em dois degraus, conseguindo chegar no segundo andar em um tempo recorde.
Alguma energia muito diferente movia meu corpo em direção a porta da sala 202.
Sentia a adrenalina influenciando meu corpo por estar agindo de modo impulsivo. Só que também existia uma ânsia, uma ânsia por algo que eu ainda desconhecia.
[14:42]:
Porque estou na porta da sua sala.
Esperei impacientemente até que a porta se abriu e vi a deslizando para fora. Seus olhos se arregalaram quando me viram, algo no seu rosto me dizia que ela duvidou da minha presença ali.
Sem conseguir me conter, encontrei com a no meio do caminho. A estudante abriu a boca para dizer alguma coisa, mas se deteve quando minhas mãos seguraram o seu rosto.
— Vou sair em turnê hoje a noite — sussurrei, sentindo sua respiração quente batendo contra o meu rosto.
estava com os olhos fixos na minha boca e o movimento da sua língua para umedecer os próprios lábios foi a gota d’água. Se existia ainda alguma barreira que me segurava, ela explodiu.
Captei sua boca com a minha, em um beijo desesperado. Era uma mistura de sentimentos, a emoção do primeiro beijo e o aperto no beijo da despedida. Só que não desaceleramos e eu sabia que estávamos dando um show para quem quisesse ver.
levou suas mãos até a minha nuca, acariciando a região e me fazendo soltar um gemido contido entre o beijo. Aquele beijo estava irradiando pelo meu corpo e curiosamente ia principalmente na direção do coração.
Naquele momento soube que estava me apaixonando por ela. Talvez já fosse tarde demais.
Escorreguei uma mão para a cintura dela, puxando seu corpo contra o meu e mordisquei o lábio inferior para quebrar o beijo.
Sorrimos um para o outro. Ambos imersos em sensações e sentimentos complicados demais para qualquer um falar. Logo, soltei seu rosto e envolvi a em meus braços.
— Dois meses — falei baixinho perto do ouvido dela.
— Estarei aqui quando você voltar.
Suas palavras iluminaram a minha mente. Dois meses iriam passar rápido. E ela estaria aqui, me esperando.
Now that I've found you my heart's beating faster ♫
Hoje estava fazendo um mês que o havia começado a turnê, consequentemente, também faltavam trinta dias para que ele retornasse. E, durante todo esse tempo, meu dia começava e terminava do mesmo jeito. Acordava pensando nele e ia dormir pensando nele.
Não no , o baterista da minha banda favorita. Mas no que dava risada do meu desespero por conta de uma prova e depois me acalmava, dizendo que ia ficar tudo bem.
No que, quando conseguia me ligar, ficava contando histórias engraçadas e fazia questão de ouvir as minhas ou simplesmente escutar um resumo do meu dia. A gente não tinha conversado sobre o beijo, porque era como se quiséssemos conhecer um ao outro o máximo possível. Estávamos sempre ocupados com outros assuntos.
Só que a lembrança daquele lábios sobre os meus ainda era muito viva dentro de mim, como se estivesse acabado de acontecer. Como se suas mãos ainda estivessem em torno do meu corpo e quando eu abrisse as pálpebras veria seus olhos brilhando enquanto me admirava.
O som de uma nova notificação me assustou. Estava tão imersa em meus pensamentos que fiquei distraída. Deslizando o dedo na tela, sorri quando vi que era uma mensagem do .
[00:15]:
Me diz que você está lendo um livro e não estudando de meia-noite
Se meus cálculos estiverem certos… Por conta do fuso horário
Um sorriso apaixonado se formou em meus lábios, depois desse tempo todo trocando mensagens e algumas ligações, conhecia minha rotina muito bem. Incluindo a minha dedicação exagerada à universidade.
já havia me dito várias vezes que precisava urgentemente começar a fazer outras coisas além de estudar e me dedicar a vida academia. Ele já tinha prometido que iria me mostrar um pouco o outro lado da vida e preciso admitir que estava ansiosa por isso.
Não porque queria desesperadamente fazer coisas diferentes, sempre fui acostumada com a rotina. Mas porque queria desesperadamente fazer qualquer coisa com ele.
[00:16]:
Aqui já passou da meia noite
E, claro que não, estava vendo seriado
Menti, mordendo meu lábio inferior e imaginando jogando a cabeça para trás enquanto dava uma gargalhada.
[00:17]:
Mentirosa!
Eu preciso ir, vamos entrar no palco daqui a pouco
Só queria te desejar boa prova amanhã e…
Esperei, ansiosa pela continuação da mensagem. Mas me conhecia. Ele estava fazendo de propósito para que eu ficasse curiosa.
[00:19]:
E o que, ?
[00:20]:
Merda, queria está aí para ver sua carinha de curiosidade
E, , durma bem
Espero que os próximos trinta dias passem mais rápido
Se a respiração não fosse um mecanismo automático do nosso corpo, com toda certeza teria morrido asfixiada nesse instante. estava contando os dias assim como eu, quem sabe aquilo fosse um sinal de que o baterista estava desenvolvendo os mesmos sentimentos que preenchiam o meu peito.
Estava apaixonada por ele. E morrendo de medo do sentimento não ser correspondido.
❤ ❤ ❤
Um mês depois...
Sexta-feira, 20:00
Olhei o telefone mais uma vez. Nenhuma mensagem de desde que o havia entrado no avião. Pelo tempo, ele já havia chegado. Mas, a ausência de uma mensagem estava me deixando ansiosa.
Escutei bufando ao meu lado e arqueei uma sobrancelha na sua direção, questionando-a.
— Você não para de olhar esse telefone, deveria sair comigo. Relaxar um pouco, .
— Estou relaxada — afirmei apontando para o meu pijama confortável e ela revirou os olhos, rindo. — Não estou afim de sair, amiga, só quero descansar na frente da TV depois dessa semana.
— Sei.
Abri a boca para fazer algum comentário sarcástico, mas a campainha tocou. se levantou animada, seus amigos haviam chegado e eu sabia que ela não voltaria nem tão cedo para casa.
— Ainda dá tempo.
— Na próxima, prometo.
Era mentira. sabia, mas só deu de ombros e depositou um beijo no alto na minha cabeça antes de ir na direção da porta. Gritei um se cuida, começando a procurar algum filme ou seriado legal na Netflix.
Cliquei na setinha de gêneros e fiquei encarando aquela lista. Eram tantas opções, no entanto, nenhuma chamou a minha atenção com mais intensidade.
— Então, resolveu ver um filme?
Aquela voz. Conhecia muito bem aquela voz.
Girei meu tronco lentamente, com medo de ser loucura da minha mente e estar tão ansiosa para encontrar que comecei a ouvir a sua voz.
Não queria um delírio da minha cabeça.
estava parado atrás do sofá, no meio da minha sala, com um sorriso divertido em seus lábios. Aquela visão mexia com cada parte da minha cabeça, fazendo com que o ato de me manter no controle se tornasse difícil.
Ele usava uma calça jeans claro, uma camisa preta com os dois primeiros botões abertos e a correntinha de prata descendo pelo seu peito musculoso fazia um contraste com a cor da camisa.
— me deixou entrar e disse que estava atrasada — explicou, provavelmente devido ao meu silêncio.
— ! — gritei seu nome, me levantando em um único movimento e correndo para os seus braços.
Ouvi sua risada ao mesmo tempo que seus braços envolveram o meu corpo. Seu cheiro foi o primeiro estímulo que me invadiu, segundos antes do calor do seu corpo aquecer o meu.
— Surpresa — ele sussurrou próximo ao meu ouvido e estremeci, sentindo meu corpo se arrepiar por completo.
— Você gosta de fazer surpresas — falei sorrindo, com a cabeça afundada contra o tronco dele.
— E você gostou? — questionou, passando seus dedos pelos meus cabelos.
— O único lado ruim é que estou toda desarrumada e de pijama.
— Você fica bonita de qualquer jeito, .
Ele afastou um pouco os nossos corpos, sorrindo antes de beijar a minha testa com delicadeza. Pressionando os seus lábios contra a minha pele em uma carícia demora.
Fechei meus olhos, apreciando aquele contato. Sentindo o aroma do seu corpo e permitindo que o seu calor me envolvesse, relaxando cada pequena parte de mim.
— Quer comer ou beber alguma coisa? — perguntei baixinho, sem querer sair de perto dele.
— Comi no avião, mas aceito algo para beber. — Abri a boca para questionar o que exatamente ele queria e ergui meu rosto, parando ao notar seu olhar desafiador. — Pode escolher, .
Droga.
Eu não era tão boa quanto ele com bebidas, no entanto, gostava de vinho. Eu apostava que deveria ter alguma coisa.
Me afastei lentamente daqueles braços, indo até a cozinha e procurando por algo na geladeira. Achei duas garrafas, optei pelo vinho suave, sem saber ao certo se era a melhor opção ou não.
Peguei chocolate e duas taças, voltando para a sala logo em seguida. O baterista estava na frente da televisão, procurando alguma música no Spotify, mas reconheci imediatamente a que estava tocando.
— Ed Sheeran?
— Era o que você estava ouvindo — explicou, aproximando-se para pegar o vinho. — Suave?
— Não me pergunte com o que ele combina, era o que tinha — afirmei e começamos a rir juntos.
serviu as duas taças de vinho, dando um pequeno gole na sua. Vi quando ele fechou suas pálpebras, talvez apreciando o sabor da bebida.
Sorri, observando com mais afinco as suas feições e repetindo o seu ato antes de indagar:
— Então, quer me contar como foi a turnê?
— Quero, mas não agora. — Ele sorriu, colocando as nossas taças sobre a mesa de centro e pousando suas mãos delicadamente na minha cintura. — Agora, você vai dançar comigo.
O baterista envolveu minha cintura com as duas mãos, aproximando os nossos corpos. Sorri enquanto afundava meus dedos em sua nuca, fazendo movimentos circulares com os meus polegares.
Ao fundo, percebi que a música havia mudado. Agora tocava "All Of Me" do John Legend e me guiava pela sala seguindo o ritmo da música.
Sentia o calor do seu corpo e uma atmosfera suave ao nosso redor, preenchendo a sala de um modo que o mundo ao meu redor simplesmente desapareceu. Eu somente nós dois.
O mais velho me fez rir quando segurou na minha mão e girou meu corpo ao redor do meu eixo. Mas, rapidamente, estava de volta aos seus braços, dançando na melodia tranquila da música.
Levantei meu rosto e olhei para ele. Seu rosto estava banhado pela luz ambiente vinda da televisão. Ele era tão bonito e tão malditamente sexy que fazia meu coração bater em um ritmo desgovernado.
— — chamou, subindo sua mão da minha cintura pelas minhas costas até segurar o meu rosto.
Devido a nossa diferença de altura, fiquei na ponta dos pés e lentamente fui me aproximando. Cada vez mais perto até que eu podia sentir seu hálito quente e doce nos meus lábios.
se inclinou e me beijou. Seus lábios eram suaves e sua boca tinha um gosto bom, fresco e picante. Foi diferente da outra vez, não tinha aquela sensação de despedida, mas sim de reencontro.
Cheguei mais perto e aprofundei o beijo, enredando meus braços ao redor de seu pescoço, puxando-o para mim. soltou meu rosto para envolver minha cintura e me impulsionar, segundos depois estava com as pernas em volta no tronco dele.
Ele sorriu entre o beijo, pousando suas mãos no meu traseiro e apertando-o. Mordendo meu lábio inferior e afastando um pouco nossos rostos para perguntar:
— Onde fica o seu quarto?
— Segunda porta depois da escada — respondi antes de afundar meu rosto na curva do seu pescoço e inalar o cheiro dele, sentindo o sabor da sua carne.
Algumas palavras desconexas saíram da boca de , mas ignorei e continuei beijando seu pescoço. Sabia que deveria dar uma pausa enquanto o subia as escadas, só que meu corpo inteiro fervilhava de desejo e a racionalidade tinha saído completamente da minha mente.
Senti minhas costas colidindo contra a parede antes de me colocar no chão e capturar novamente meus lábios com os seus. Mantive uma das mãos firmes na nuca do , enquanto buscava às cegas a maçaneta do meu quarto.
Quando encontrei e abri a porta, nem precisei sinalizar, porque o baterista já me guiava para dentro do quarto. Suas mãos afundaram pelo moletom grosso que usava, subindo pelas minhas costas e deixando sua marca em mim.
Ele arfou contra o beijo ao notar a ausência de um sutiã e afastou seu rosto do meu em seguida. O desejo estava estampado em seus olhos , fazendo o meu corpo vibrar em resposta.
O puxou o tecido para cima e eu levantei meus braços para facilitar seu trabalho. Ele voltou a capturar meus lábios com os seus, ao mesmo tempo que suas mãos trabalhavam no short que usava.
Logo, aquela peça foi embora junto com a minha calcinha e eu estava totalmente nua. Tomei a iniciativa, puxando a camisa do também que em pouco tempo se juntou as minhas roupas no chão do quarto.
A gente se afastou apenas o suficiente para ter uma visão parcial do corpo um do outro. Lambi meus lábios, enquanto admirava o tronco bem definido de , seus braços fortes e me questionava o que aquela calça escondia.
O olhar que o me lançava era de puro fascínio e eu fiquei satisfeita em exercer aquele poder sobre ele. Apesar da nudez completa, não estava com vergonha, ao contrário, havia me tornado uma represa cheia de desejos.
Um sorriso malicioso se formou nos lábios do enquanto ele guiava meu corpo na direção da cama, aproximando-se no caminho e fazendo com que os nossos corpos ficassem a poucos centímetros de distância, sendo possível sentir no ar o calor que emanava de ambos.
Fiquei apoiada sobre os cotovelos enquanto ele estendia o braço, afagando o meu rosto com uma delicadeza surpreendente e, com as pontas dos dedos, desenhava a lateral do meu pescoço.
— — chamou, enquanto deslizava seus dedos pelo meus braços, fazendo um carinho delicado.
— Oi — respondi baixinho.
Fechei minhas pálpebras, ainda tentando digerir que aquilo estava realmente acontecendo. E desejando profundamente que aquele momento fosse prolongado o máximo possível.
— Tenho pensado nisso desde o jantar — confessou em um sussurro e eu abri meus olhos, percebendo o seu olhar faminto e desesperado, deslizando sobre meus seios nus.
Ele se ajoelhou, afastando um pouco as minhas pernas e se inclinando sobre elas. Traçando um caminho de beijos e mordidas pelas minhas panturrilhas e coxas. Caí para trás, sem forças para sustentar meu corpo e ao mesmo tempo ansiava por mais.
Suas mãos continuaram subindo pelo meu corpo, assim como sua boca, e estavam cada vez mais e mais perto do meu sexo. Já estava latejante, quando suas mãos fortes tomam meus joelhos e abrem bruscamente as minhas pernas, para expor-me ainda mais.
Gemi. Surpresa com a atitude mais firme. Apesar disso, fiquei ainda mais surpresa com a gentileza da sua primeira acaricia, deslizando o dedo no meu clitóris e para baixo, sentindo toda a minha umidade.
— Você está me provocando — afirmei, com a voz mais baixa que um sussurro. Contudo, ouviu, pois deu uma risada rouca em resposta.
— Estou.
Ele sorriu lentamente e, em seguida, levou o dedo sobre os lábios, chupando-o. Arfei, me remexendo e jogando o quadril na direção do . Aquela havia sido a vista mais erótica que tinha vivenciado em toda a minha vida.
Ele se dobrou sobre o meu corpo novamente e, antes que eu pudesse processar qualquer informação, deslizou sua língua sobre a minha entrada até o meu clitóris.
— Ah, , por favor — grito, apertando com força os lençóis de cama.
Ele obedeceu a minha súplica chupando meu clitóris, causando uma emoção intensa no meu corpo. Apenas conseguia gemer e me contorcer de prazer embaixo dele, sentindo cada vez mais necessidade.
Senti o deslizar o dedo dentro de mim, seguindo o mesmo ritmo que a sua língua me estimulava. estava cravando suas digitais em mim e eu gostava disso, pois estava totalmente entregue às incríveis sensações que cada toque dele proporcionava.
Percebi que estava perigosamente perto de atingir o meu ápice e me contorci, tentando me desvencilhar de . O compreendeu a situação quando minha musculatura contraiu, apertando seu dedo. Isso pareceu estimulá-lo ainda mais, pois planou sua mão sobre meu ventre, firmando-me ali.
penetrou um segundo dedo e eu soube que não poderia mais me segurar. Nem se eu quisesse, iria conseguir. Bastou só mais alguns estímulos para sentir cada parte de mim estremecer e um gemido de prazer escapar dos meus lábios devido a poderosa liberação.
me soltou e beijou ainda mais minhas coxas, subindo pelo meu abdômen. Mordiscando. Acariciando. Beijando todos os lugares. Traçando seu caminho ascendente até os meus mamilos.
O primeiro contato foi lento, sua língua acariciou cada um devagar, como se estivesse experimentando meu gosto. Depois, seu lábio envolveu minha carne já sensível e sugou-o, fazendo com que meu mamilo endurecesse na sua boca.
Grunhi, desesperada. Uma necessidade avassaladora crescia dentro de mim, sendo quase impossível de controlar. Queria mais. Queria tudo.
Enfiei minhas mãos nos fios macios do cabelo dele, puxando-o para cima. O baterista se moveu para a minha boca, capturando meus lábios em um beijo feroz. Consegui sentir meu próprio gosto quando ele deslizou sua língua na minha suavemente, me deixando ainda mais excitada.
— … Eu… Ah… , preciso de você.
— Cacete, eu também preciso de você, .
se afastou, tirando sua calça e a cueca em um único movimento. Meu queixo caiu quando finalmente tive um vislumbre de toda a sua magnitude. Ele pareceu não perceber a forma selvagem com a qual eu estava admirando seu corpo, pois estava ocupado pegando uma camisinha dentro da carteira e vestindo-a.
No momento seguinte, ele cobriu meu corpo com o seu, apoiando-se nos cotovelos. Senti quente e duro contra mim, seu cheiro inebriante me atingiu com uma potência avassaladora.
Sorrimos um para o outro quando se acomodou melhor entre as minhas pernas e pude sentir seu pênis contra a minha entrada. O baterista não empurrou imediatamente e acabei levantando meus quadris, implorando para que ele acabasse com aquela tortura.
Ele me beijou, sem pressa. Tranquilo. E notei meu corpo relaxar debaixo dele, senti meu coração bater mais forte com aquele beijo tão íntimo.
Então, ele avançou.
Me senti totalmente preenchida de um modo único. E um misto de sentimentos invadiu meu corpo. Felicidade. Prazer. Amor. Cada um sendo potencializado à medida em que adquirimos um ritmo próprio.
Seu pau deslizava dentro de mim, às vezes, rápido, às vezes lento. Fazendo o prazer crescer dentro do meu corpo a cada nova estocada, se acumulando.
— Ah, como você é gostosa, . — Ouvi sua voz rouca e só consegui soltar um gemido em resposta.
Ele se retirou quase que por inteiro e capturou meus olhos com os seus antes de deslizar novamente. Chamei seu nome em meio a gemidos quando fui preenchida por todo o seu comprimento. Seu ritmo era suave e lento, levando-me até a borda, e o quarto se tornou uma massa de grunhidos e gemidos.
Quando se retirou completamente mais uma vez, eu estava pronta para protestar, mas fui virada bruscamente, ficando de quatro na cama. me preencheu em uma única investida, fazendo um gemido alto escapar de ambas as bocas.
— Cacete, , que delícia — arfei, com a cabeça afundada no colchão.
O soltou uma risada rouca, se inclinando e depositando vários beijos nas minhas costas enquanto entrava e saída da minha boceta em movimentos lentos, precisos e cada vez mais profundos.
Ele empurrou seus quadris lentamente, arrastando seu pênis dentro e fora, com a precisão de um perito, encontrando meu ponto mais sensível a cada vez. Meu prazer continuava crescendo e eu já não sabia mais o que dizia entre meus gemidos, agarrando com força os lençóis.
Suas mãos apertaram a lateral da minha cintura e eu senti que ele empurrava mais duro agora. Consegui ouvir as nossas peles batendo, o atrito dos nossos corpos e os gemidos de ambos.
— Eu quero fazer isso a noite toda com você, . — Sua voz tinha um tom sensual e envolvente. Mas não tive forças para responder.
Não iria aguentar a noite toda; precisava gozar. Precisava me deixar ser consumida por todo aquele prazer que aumentava a cada fricção dos nossos corpos.
— Eu vou gozar, … Ah.
soltou uma de suas mãos da minha cintura, escorregando até a minha intimidade e atingindo meu clítoris. Gritei. Gritei quando o prazer invadiu cada parte do meu corpo, cada pequena porção da minha mente.
Minhas pernas tremiam enquanto aquela sensação me consumia de tal modo que, se não fosse pela forma como o me manteve presa a ele, teria desabado na cama.
O baterista não parou. Investiu com ainda mais força, ampliando meu prazer e atingindo o seu. O som rouco que saiu da sua garganta acompanhado pelo seu peso em cima de mim instantes depois me disse que ele havia chegado lá também.
Com um suspiro, ele se retirou e deitei com um baque silencioso na cama. Fiquei com os olhos fechados, respirando fundo e apenas ouvindo provavelmente retirando a camisinha e jogando-a no lixo do meu banheiro.
Quando senti o colchão se afundando ao meu lado, não perdi tempo e me aninhei em seus braços firmes. O quarto agora era uma mistura de aromas, sentia o cheiro do sexo misturado ao perfume do . Sorri, sabendo que não esqueceria facilmente daquele odor.
Ergui meu rosto e os nossos olhos se encontram. O baterista sorriu, sendo pego no flagra enquanto me encarava e disse:
— É engraçado como uma coisa levou à outra.
— Como assim? — indaguei antes de apoiar meu rosto no seu peitoral e puxar o ar com força para apreciar aquele cheiro inebriante que vinha da sua pele.
— Talvez ache loucura o que eu vou dizer agora, mas eu estou completamente apaixonado por você. — fez uma pausa, notei seu peito subir devido a sua respiração profunda e fiquei paralisada com as suas palavras, sem saber se meu coração ainda sabia como bater. — Eu falei a verdade sobre a sua voz, me apaixonei por ela e pela energia que me transmitiu. Loucura, não é? No jantar… — Ele fez outra pausa, como se fosse difícil organizar todas as ideias que se passava na sua cabeça. — Eu fiquei fascinado pelo seu sorriso, pela risada… Enfim, eu… Eu só queria saber mais sobre você, queria conhecer melhor a garota que conseguiu me deixar inseguro quando abriu a porta. Depois veio todas aquelas conversas… Depois do que acabou de acontecer… Eu estou apaixonado por você, . E se você quiser, eu quero tentar fazer isso aqui dar certo.
— , eu…
— Shi. — Ele me interrompeu, segurando meu queixo e fazendo com que levantasse o rosto novamente. — Vamos descansar agora, amanhã conversamos sobre isso.
Tinha tanta coisa que queria falar naquele momento, só que quando o me puxou novamente para o calor do seus braços, minha mente se apagou. Só conseguia escutar as batidas do seu coração, seu ritmo tranquilo embalou o meu sono.
❤ ❤ ❤
Batidas na porta acabaram com o meu sono. Mas, foi o braço de jogado sobre a minha cintura que realmente me despertou. Aos poucos percebi que estava envolvida completamente pelo , porque o outro braço me servia de travesseiro e conseguia sentir sua respiração quente batendo contra meu rosto.
— ! Você morreu aí dentro? Droga, eu preciso saber o que aconteceu ontem — gritava e batia na porta ao mesmo tempo.
Bufei e escutei uma risada baixinha do baterista ao meu lado, trazendo lufadas de ar contra meu rosto.
— Eu devo informar sua amiga? — indagou baixinho com uma voz rouca de sono e por alguns instantes, tirou seu braço de cima da minha barriga para coçar os olhos.
Olhei para o ao meu lado, seus olhos estavam ainda mais brilhantes devido a luminosidade do quarto. Se fosse em outro momento, teria reclamado de ter deixado a cortina aberta, só que agora eu queria agradecer. Ele ficava ainda mais bonito com aquela luz suave da manhã batendo em sua face.
— Você quer responder ou… — sussurrei em resposta, mas não conclui a frase.
Ontem foi tudo tão inesperado que não sabia ao certo o que significava. Várias palavras ainda estavam presas na minha garganta, queria dizer ao que também estava apaixonada por ele. Por outro lado, não sabia como agir naquele momento. Afinal, nunca estive envolvida com alguém famoso como ele.
— Você quer que ela saiba? — indaguei, minha voz saiu quase como um cochicho.
pareceu entender minha linha de pensamento, porque sorriu de um modo amoroso, inclinando-se para dar um beijo casto nos meus lábios.
— Não me importo da sua amiga saber, só não quero que a mí-
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— ! — vociferou interrompendo a fala do . — PUTA MERDA, ACORDA! — Suas batidas na porta foram com mais força do que antes e deu uma gargalhada alta o suficiente para ter certeza que a minha melhor amiga tinha ouvido.
— Só diz que tô dormindo, porque é o que pretendo voltar a fazer.
Observei o baterista se desvencilhar dos meus braços e caminhar nu pelo quarto em busca da sua cueca e da calça. Ele vestiu as peças rapidamente enquanto se dirigia pela porta, abrindo uma pequena fresta na porta, apenas o suficiente para que aparecesse somente o seu rosto. Quando falou, sua voz era em um tom baixo:
— Ei, bom dia, . A está dormindo.
— Ah. — Ouvi minha amiga dizer e tenho certeza, pelo silêncio momentâneo, que ela estava processando a informação. — Ok. — diz prolongando a palavra e limpando a garganta antes de continuar: — Vou dar uma volta.
— Eu aviso quando ela acordar.
agradeceu antes de fechar a porta. Ouvi o clique da porta sendo trancada e fiquei apenas observando enquanto o ia até a cortida para fecha-lá.
— Você pretende dormir o sábado todo? — Era uma pergunta simples, mas o tom da sua voz sugeria que ele não queria uma resposta positiva da minha parte.
— Depende.
sorriu ao voltar para o meu lado na cama, apoiando seu peso em um dos braços enquanto sua mão livre começou a fazer movimentos circulares no meu abdômen.
— Hum. — Fingi que estava pensativa. — Bem, você tem outros planos?
— Ah, tenho sim. Muitos — disse enfático.
— Muitos?
— Aham — afirmou, aproximando seu rosto do meu e depositando um beijo no meu queixo.
— Posso saber quais? — perguntei, já fechando meus olhos ao sentir um beijo delicado no canto da minha boca.
— Eu pretendo te mostrar todos esses planos.
calou qualquer pergunta com um beijo. Seus lábios já eram íntimos dos meus e nosso encaixe era algo único. Contribuí aquele contato com todo o sentimento que florescia dentro de mim, pois queria que ele percebesse o quanto meu coração já pertencia a ele.
O amor nunca tem uma explicação lógica. Não se explica com disparos neuroquímicos ou com qualquer tentativa científica. A verdade é que ele vai crescendo de um modo sorrateiro e quando você percebe já é tarde demais, o sentimento já te consumiu.
É como um feitiço do qual você não consegue escapar e, durante aquele beijo, pude sentir a magia no ar.
Fim.
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