"Ela parece que está soprando um beijo para mim
E de repente o céu é uma tesoura
Sentado no chão com um pandeiro
Esmagando um punhado de amor
Não leve isso para o lado pessoal
Você não é a única pessoa
Que o tempo quer prejudicar, amor
É aí que você se engana."
⏮︎⏸︎⏭︎
Na luz amarelada, era mais fácil ver o rosto dela.
Estava suado, com os mesmos fios enrolados presos na testa e na lateral das bochechas, que não se soltavam por nada enquanto ela se movia em cima dele, fechando os olhos em uma viagem particular, aumentando o ritmo de acordo com a seu bel-prazer. Jungkook não conseguia segurar o grunhido de dentro da garganta, ainda mais quando focava o olhar e a boca no pescoço exposto, e as mãos alternavam entre puxar seus cabelos para trás e puxar sua cintura para mais perto, ou mais para cima, ou simplesmente para ajudá-la a mandar ver do jeito que queria.
Quando a respiração da garota foi ficando mais densa e menos espaçada, Jungkook sabia o que estava vindo. Arqueando mais as costas, ele segurou ainda mais firme em suas costas e apoiou um braço para trás, trazendo mais impulso para se enterrar dentro dela por baixo, sem interromper o momento para mudar para uma posição mais confortável que não fosse meter com ela por cima e bem no meio da cama, sem nenhum encosto. não lutou contra as estocadas, escondendo o barulho que escapava de sua boca sem controle com uma mão, agarrando ainda mais os ombros de Jungkook e sentindo o corpo mole, as pernas se derreterem à medida que o prazer explodia de dentro para fora, em um rompante agudo e fugaz.
Ele ofegou com ímpeto, as duas mãos agora apoiando o corpo, cessando os movimentos até parar e recuperar o fôlego. Um sorrisinho brotou dos lábios dela, e Deus do céu, aquilo era paradisíaco. O sorriso dela depois de conseguir seu orgasmo era melhor do que todo o resto. Ele tinha a sensação de dever cumprido, um dever que tinha um significado ainda mais profundo — vingança. Entre quatro paredes, perdia toda a pose de certinha e se mostrava tão vulnerável na frente de seu adversário que não percebia que estava concedendo pontos para o outro.
Deitar com o inimigo realmente tinha suas vantagens.
Ela ainda continuava de olhos fechados e unhas gravadas em sua pele quando começou a se mover devagar, automaticamente, sentindo outra ânsia por mais um round, querendo alcançar o céu de novo como só Jungkook tinha sido capaz de dar.
Ainda arfante, ele encarou o corpo dela em cima do seu, seu pau ainda bem encaixado e bem ereto, recebendo outra dose de sangue que o deixou totalmente desperto para mais uma sessão onde faria aquela expressão tentadora de novo, tentadora e pecadora.
— Você sabe bem como usar esse quadril… — ele murmurou, sem tirar os olhos de seu tronco, agarrando uma parte de sua bunda e depositando mais um tapa ali, avermelhando ainda mais sua pele. arquejou, abrindo os olhos lentamente — Quantas vezes preciso te foder até você cansar?
— Por que aceitou a proposta se não é capaz de aguentar? — ela o encarou de cima, aproximando o rosto até perto de seu nariz. Jungkook passou de um sorriso provocativo para um sorriso ácido, e perdeu ambos completamente quando ela se inclinou para perto de seu nariz, encostando suas testas, ficando mais próxima do que jamais esteve.
Em um movimento, ele levou as mãos até a lateral de seu rosto, afastando-o dele, enquanto automaticamente chegava um pouco para trás.
— O que pensa que está fazendo? — seus dentes rangeram com um tom de alerta. parou e franziu o cenho.
— Eu não ia te beijar.
— Pareceu que ia.
— Não ia — ela se abaixou até a base de sua orelha, deixando um rastro de ar quente pela curva de seu pescoço até passar a língua por sua pele úmida. Jungkook mordeu o lábio inferior, fechando os olhos com o torpor, agradecendo por ela não ver o seu próprio momento vulnerável, mesmo que claramente visse o arrepio que aquilo causava em toda a sua extensão.
Agarrando sua cintura, ele mudou de posição, jogando seu corpo para o lado em um movimento rápido, deitando-a na cama com os cabelos espalhados pelo travesseiro, parecendo uma completa bagunça com aqueles olhos minguados, mas ainda cheios de tesão. Olhos que o transtornavam, que controlavam de um jeito implícito, e Jungkook jamais deixaria aquela garota controlar qualquer coisa.
— Você me olha assim… — puxou o quadril dela para a frente, encaixando-se novamente no meio de suas pernas. soltou um gemido baixo, pedinte — E até penso em ficar mais um pouco. Mas… — ele se aproximou de seu peito, beijando entre seus seios, subindo pelo pescoço — Sua hora já acabou.
E então, rapidamente, Jungkook a soltou, levantando-se da cama e notando o relógio em cima da mesinha de cabeceira. 1:50 da manhã.
ainda piscou os olhos mais uma vez, puxando a ponta do lençol quando se viu livre de toda a atmosfera sexual e encarou o mesmo lugar que ele olhou.
— Você sempre vai embora antes das 2 — ela constatou, com a voz sonolenta.
— Você é bem observadora pra quem tá transando de verdade há uma semana — ele puxou a calça jeans escura do chão, abotoando a mesma — Passar das 2 é coisa de quem pretende ficar o resto da noite. E uma hora essa merda acaba e o sol nasce, não faz muito meu estilo.
— É mais uma regra? — ela deu de ombros. Ele colocou a camisa.
— Pode tratar assim — respondeu, despreocupado, sem se lembrar de como levava a sério qualquer tipo de regra.
Quando terminou de se vestir, ele a viu se levantar, ainda enrolada com o tecido e tentando ajeitar os cabelos loucos que ficavam facilmente descontrolados depois de tanta atividade. Ela saiu na frente, olhando para o corredor, atestando a ausência de Candice, antes de parar e destrancar a porta da frente.
— Então… Até mais — disse ela, singelamente. Ele apenas assentiu, abrindo a porta para sair pela mesma, mas voltou a fechá-la rapidamente.
— Me dá o seu número — falou, em um tom que não combinava com um pedido. franziu o cenho, confusa.
— Por que você quer meu número?
— Por que a gente precisa se comunicar? — disse, retórico — Até as mais amadoras relações casuais precisam ter algum tipo de comunicação. E não dá pra ficar aparecendo aqui contando com a sorte que você vai estar, mesmo que sua vida social seja um fracasso.
— Quem disse que a minha…
— O número, .
bufou, encarando o celular estendido e dando uma última revirada de olhos antes de pegá-lo e começar a digitar. Quando terminou, voltou a devolvê-lo.
— Eu devia pedir o seu também? — ela disse com ironia. Ele riu pelo nariz, balançando a cabeça.
— Não precisa, não vou ficar com esse número por muito tempo.
Ela arqueou as sobrancelhas, mas não perguntou. Com um pequeno aceno de cabeça, Jungkook voltou a abrir a porta e murmurou um boa noite antes de deixar a casa.
📸💔🎤
Jungkook sempre parecia muito cansado quando chegava em casa.
Teoricamente, nada poderia ser culpado por isso a não ser o próprio trabalho. Viver sem horários fixos e em um ritmo que acelera e desacelera sem aviso prévio causava um tipo de ansiedade que ele tentava controlar com o máximo de rotina que conseguia manter, mesmo que nos últimos tempos nem aquilo estava conseguindo manter seus olhos fechados à noite.
Quando saiu do banho, ele andou pela sala em busca de uma dose ou duas de soju para apagar de vez. Sentia o corpo cansado, ainda que mais relaxado do que antes, mas descartava a causa da insônia como um problema da
mente. Porque se olhasse para a mente, ele veria o
motivo, e todo mundo era a favor de Jungkook fugir o máximo desse motivo específico.
Mas era muito mais difícil fugir das coisas quando estava sozinho.
A sala do apartamento era grande e a aconchegante, com aquele sofá que era simbólico, junto com as almofadas com estampas de pajem de copas porque
ela gostava de tarô, e outro símbolo de Ás estava gravado na caixa do violão, repousado no chão ao lado da TV, guardando também aquele caderno cheio de partituras e letras inacabadas, e logo ao lado existia aquele porta-retrato simples que mostrava um dia bom, e as polaroids jogadas logo atrás…
Era um beco de fantasmas. E estavam espalhados pela casa inteira, nos mínimos detalhes, olhando pra ele da escuridão, esperando a outra parte de sua vida que tinha ido embora e nunca mais voltaria.
Ele olhou para a carta gravada no violão e então para o rosto de Ali no retrato e viu a similaridade. Ali era um Ás de copas, uma carta que começa tudo e que termina tudo, não importa o quanto você tenha acumulado na jogada.
Jungkook se inclinou para a frente e baixou a foto, voltando a andar e andar, a respirar, a mandar embora qualquer lembrança insignificante que, além de tirarem seu sono, tirariam sua sanidade.
Esse tipo de coisa não sumia de um jeito tão simples.
Sem pensar muito, ele andou até o celular jogado em cima da mesa, com o coração pulando no peito, temendo o que aconteceria, temendo que ficasse louco caso não tentasse de novo, nem que fosse pela última vez. Largando o copo, discou os números que sabia de cabeça, esperando um toque, algo que dissesse que ela ainda estava ali, em algum lugar. Que ainda tivesse esperanças que ele ligasse.
Por favor, Ali, só dessa vez. Atenda pra que eu possa ver que você ainda quer, que tudo foi um mal entendido, que você ainda me ama… A última vez, Ali, é a última…
Quando a voz eletrônica avisou sobre a caixa postal, ele grunhiu em frustração e lançou o celular com força à parede mais próxima, ouvindo o barulho dos vários circuitos trincando de uma vez só e virou-se para a janela, passando as duas mãos pelo cabelo, sentindo-se perdido e desesperado por um instante, além de se odiar ainda mais quando percebeu o quanto a queria.
Ainda queria. Mesmo que ela tivesse quebrado seu coração e desaparecido completamente.
Era fácil se sentir culpado até por isso. Levou um tempo considerável até Ali Dalphin se desfazer de todas as amarras e medos no começo e dizer
sim ao seu pedido, a
todos os seus pedidos, porque sempre foi perigoso e dramático se relacionar com Jeon Jungkook, ainda que o amasse e parecesse
certo. Quando todo o incêndio se espalhou, ele só sentia raiva e medo, as duas coisas se concretizando no final das contas. Agora ele encarava sua
raiva com mais inteligência — sendo ela um rosto e um nome, e agora, sendo a garota que levava para cama — do que seu
medo, que estava há quilômetros de distância, sabe-se lá com quem, ou quais planos que não o incluíam.
Mas tinha saudade, muita saudade. E esse sentimento era totalmente capaz de deixar alguém sem rumo.
4 meses atrás.
usuario0678: “Jungkook (BTS) foi visto com sua namorada, a modelo francesa Ali Dalphin, saindo de um restaurante bem caro em Gangnam. Dizem que foi ele quem pagou a conta, é claro.”
usuario9337: “Fiquei sabendo que ele paga sempre. Achei que modelos ganhavam bem.”
usuario0678: “Ela só é bonita, mas fiquei sabendo que a família é rica. Ela não devia estar procurando se casar com um conde ou coisa parecida da Europa? Por quer namorar um cara 5 anos mais novo? Os dois não tem nada a ver.”
usuario7383: “Também acho, olha pra ela, tem uma imagem muito vulgar. Aposto que fez a cabeça dele pra que fizesse todas aquelas tatuagens.”
usuario0678: “Ya! Não que não estejam bonitas, mas agora fiquei pensando se ele fez porque realmente queria ou se foi pra agradá-la. Você não precisa dessas coisas, JK!”
usuario9283: “Se ela o obrigou a fazer alguma coisa, só mostra o quanto é uma vadia interesseira. Imagina se inventa de aparecer grávida? O JK realmente não merece uma mulher assim…”
O celular foi tirado das mãos de Ali repentinamente.
— Já falei pra parar de ler essas coisas — Jungkook suspirou cansado, jogando o celular de qualquer jeito no sofá, e chegou por trás das costas da garota, ainda parada encarando a janela, e abraçou um pouco dos seus ombros — Por que não escolhe outra coisa pra ler? Você disse que queria ler aquele livro difícil do Sartre que eu não vou entender, mas posso te acompanhar… — ele soprou na base de seu ouvido, fungando o cheiro de seu cabelo delicadamente. Ali bufou, afastando-se bruscamente do garoto.
— Desgraçados — grunhiu, andando até o outro lado do apartamento, trincando o maxilar em uma atitude de controle emocional que nem sempre dava certo — Como podem dizer uma coisa dessas? Aliás,
por quê espalham tantas coisas desse tipo?! São mentiras, difamações! E eu nem posso dizer nada…
— Ali, se acalma…
— Me acalmar?! Como você pode estar pedindo pra eu me acalmar, Jungkook? — falou alto, exasperada. Era a coisa errada a se dizer naquele momento — Já leu essas matérias? Os comentários, a repercussão… Ou pelo menos leu eles
direito?! Viu a última que diz que só estou com você por puro interesse? Que eu até podia ser rica, mas não era famosa o suficiente?! Que
obriguei você…
— Eu sei o que disseram, mas não importa, não é a verdade! Você não precisa se preocupar com especulações, Ali, por favor…
— Claro que não, já que não fazem nenhuma sobre você — disse afiada, estreitando os olhos — É sempre a garota que se fode, Jungkook. Isso é o que há de errado nas pessoas. Elas dizem o que querem dizer porque sabem que nada do que eu explique vai adiantar. Porque eu provavelmente não sou boa o suficiente pra uma celebridade tão boazinha e tão perfeitinha como você, a porra do
Golden Maknae.
Ela cuspiu as palavras com desprezo, arrependendo-se logo em seguida mas não fazendo questão de mencionar isso. Seus pés bateram com pressa até a pequena bancada ao lado do corredor, depositando mais whisky no copo, uma atitude repetitiva que tinha acabado com uma garrafa inteira em uma semana.
Jungkook suspirou, sem se abalar com as palavras raivosas da namorada porque a conhecia e respeitava o momento conturbado. Ainda assim, não era justo.
— Eu tô com você nessa, Ali, e não
contra você. Pode entender isso? — afirmou, pacientemente, se aproximando ao seu lado — A gente tá junto. É o que importa. Não há nada de errado em ficar nervosa, mas não precisa tratar o assunto como se você estivesse sozinha. E tudo isso vai passar, as pessoas vão esquecer e as coisas vão voltar ao normal. Ou tão normal como sempre foi pra nós dois.
A garota piscou os olhos e baixou os ombros, suspirando pesado, largando o corpo quase vazio na bancada novamente.
— Tudo bem, me desculpe, a culpa não é sua. Só é difícil ser acusada de tantas coisas e não poder se defender.
— Sei como é, não é a primeira vez que eu presencio. Mas já deixei meus advogados em prontidão, e as leis de difamação online na Coreia são eficientes, só precisamos esperar. Não tenho controle sobre o que pensam ou falam nas ruas, mas posso afastá-los o máximo que eu puder de você — ele passou uma das mãos em sua nuca, puxando-a para perto, aninhando sua cabeça em seu peito. Ali se deixou ser abraçada, mas uma ponta de exasperação ainda brilhava em sua face, com os olhos cravados no chão, a mente ainda conturbada com a única saída que tinha, que era
esperar.
— Tudo culpa da maldita que tirou aquelas fotos — ela quebrou o silêncio, e Jungkook suspirou de um jeito cansado.
— Não vamos falar sobre isso de novo.
— Como você pode ficar tão calmo? — Ali se afastou novamente, frustrada em todas as células do corpo — Ela te agrediu! Você mesmo disse isso, ela te chutou ou seja lá o que fez pra conseguir fugir, e isso é o bastante. Você poderia denunciá-la, e então viraríamos esse jogo, você…
— Ali, não é assim que as coisas funcionam, já conversamos sobre. Acha que eu não faria isso, se pudesse? — ele se afastou há alguns passos, gesticulando com as mãos — Mas retaliar só vai piorar tudo, pra todo mundo. Pra mim, pra você, pra empresa… São contratos e mais contratos que impedem esse tipo de coisa, e não é como se a Hybe já não tivesse feito o possível contra eles. No fim de tudo, é o máximo que pudemos fazer — Jungkook colocou as duas mãos no quadril, observando a garota parada, com as mãos em prontidão para pegar mais bebida — Vem aqui.
Ele puxou o braço dela que já se preparava para agarrar o álcool e a abraçou, levando-a até o sofá de novo, depositando um beijo rápido em sua boca.
— Esse assunto não vai durar pra sempre, eu prometo. Vamos passar por isso, é só a gente tomar mais cuidado — sua voz era doce e sincera, confiante com o que dizia. Fez Ali gostar ainda mais dele — Já considerou minha proposta de morar aqui?
— No meio disso tudo? — ela deu uma risada fraca — Não sei se é uma boa ideia. Diriam que eu estou tentando te dar um golpe da barriga ou seja lá o que…
— Ou que eu pretendo casar com você, o que não é uma mentira — ele deu de ombros, recebendo um tapa logo em seguida.
— Quer parar de brincar com essas coisas? — Ali tremeu os lábios, com um medo irracional da ideia, mesmo que não seja a primeira vez que tinha escutado. Jungkook riu, beijando sua testa, balançando a cabeça para dispersar o assunto.
— Tudo bem, não vou mais dizer isso… Por enquanto — ele se esquivou de mais um tapa. Às vezes, o cara romântico e inconveniente que morava embaixo do exterior de idol a irritava de verdade — Mas você sabe que eu te amo. E estou disposto a passar por cima de qualquer situação pra gente ficar bem. Pode pensar no assunto com carinho?
A pergunta foi direcionada com um olhar intenso, carinhoso e profundo. Ali se sentiu sufocada por eles por um instante. Uma vontade louca e petulante de sair correndo daquela casa e nunca mais voltar. Seul estava deixando-a doente, e aquele apartamento parecia um buraco ainda mais apertado.
Mesmo assim, ela assentiu e tentou sorrir, sentindo o garoto puxar sua cabeça mais uma vez para colocar em seu peito. A respiração dele era calma e tranquila, o que sempre considerou um exercício de relaxamento para ela; ouvir os batimentos de Jungkook. Ouvir seu peito descendo e subindo. Ficar ali pra sempre.
Mas não ficou por mais nem um dia.
Na manhã seguinte, ele não a encontrou ao seu lado na cama e em lugar nenhum da casa. Ela não atendia o celular e também havia levado todas as roupas guardadas. Ele olhou para as flores que havia trazido no dia anterior, as rosas brancas que eram suas preferidas em cima da mesa e viu o post-it escrito e colado à mesa de madeira:
“Sei que você vai entender tudo bem rápido, mas precisei fazer isso. Por mim e só por mim. Você sabe o que deve e o que não deve fazer sobre isso, então, por favor, me deixa respirar por um tempo. Prometo que vamos nos acertar depois. Ali.”
Ele virou a carta e bateu na mesa, engolindo em seco, atônito e agitado ao mesmo tempo, sentindo seu futuro se tornar embaçado e incerto, mais incerto do que jamais foi.
Ali tinha ido embora. E levou todas as suas certezas junto com ela.
📸💔🎤
Jungkook acordou com mais dor de cabeça do que se lembrava.
Acordou de bruços no sofá, recebendo a luz forte do sol no rosto, fazendo-o se proteger com uma almofada e grunhir quando tentou se levantar. A imagem à sua frente era composta de vidros vazios: soju, cerveja e makgeolli. A
porra do makgeolli. Ele nem se lembrava em que horas havia colocado as mãos naquilo.
Mas olhando para as fotos espalhadas no chão, talvez soubesse do motivo.
Esta não era a noite que pretendia passar.
O telefone quebrado estava do outro lado do cômodo. Quando andou até lá, ele viu se era possível montar e conseguir ligá-lo de novo, mas pelo visto as pessoas adquiriam forças estúpidas quando estavam com raiva. Ele bufou, não achando grandes problemas nisso. Havia prometido a si mesmo que se ligasse para ela de novo, mudaria de número. E realmente mudaria. Ele bloquearia todas as formas as quais ela pudesse chegar perto, de qualquer direção.
Foi assim também que puxou uma caixa de papelão no armário e começou a guardar os presentes pequenos. As coisas bregas e artesanais que remetiam a memórias tanto boas quanto ruins. Não importava. No fim de tudo, memórias eram apenas memórias. Não passariam de espectros entulhando seu espaço, impedindo que ele seguisse em frente.
Quando saiu de casa para o escritório de contabilidade, foi para dizer ao senhor Hong Chi-Su que queria uma casa. Grande, espaçosa e bonita, podendo ser transformada e maleada como quisesse e que colocasse o apartamento à venda o mais rápido possível, e que ficasse à vontade para vender todos os móveis de dentro dele.
Por fim, quando voltou para casa, já tentou começar a vê-la como um fragmento do passado. Que a vida continua e que
precisava continuar, que certas mágoas não deveriam ser alimentadas, assim como certas esperanças.
Antes de fechar a caixa, ele encarou o sorriso dela escapando da foto no porta-retrato. Era do ano passado, quando os dois tinham fugido do trabalho para uma viagem relâmpago à Islândia para apreciarem a aurora boreal. Estava tão frio que era difícil se mexer, mas era mais importante registrar o momento, e enquadrar como uma lembrança de um dia bom, um dia de
certezas. O cara daquela foto tinha certeza que amava a garota, e que sempre a amaria.
Jungkook bufou, puxando o objeto para fora e fechando o resto da caixa, colocando-a junto com as outras que iriam para qualquer lugar que ele não estivesse.
Ali Dalphin agora seria definitivamente limpada de sua mente e coração, mesmo que a foto no chão representasse um último fôlego inconsciente de fé. Mas uma
verdade se fazia presente desde o início do dia, desde que ela deixou aquela carta medíocre e desde que se viu sozinho e perdido pela primeira vez:
Jeon Jungkook jamais se apaixonaria de novo. Nunca mais. Por ninguém.