O sorriso de é algo que sempre me deixa desconsertada, sem saber o que fazer ou falar. Sempre que o vejo andando pelos corredores da universidade, sempre cercado por seus amigos ou pessoas desconhecidas que visam o status que ele tem por ser representante de classe, ele está sorrindo. Seu sorriso ilumina o ambiente. Hoje não está sendo diferente, estou andando pelo corredor, sozinha, cheia de livros nas mãos e, enquanto ando, mantenho meus olhos sobre as letras do livro de Estrutura da Língua Inglesa, concentrada na leitura. Eu me distraio muito fácil, coisas interessantes puxam a minha atenção como um imã gigantesco que me suga para elas. Estou num momento como esse agora. Por isso, eu não o vi vindo na minha direção.
Então, houve o choque.
Todos os meus livros caíram e minha mochila pendem para frente junto com o meu corpo. Estou caída no chão, a cabeça doendo um pouco por conta do choque, e o rosto quente pela vergonha de ter muitos pares de olhos sobre mim agora. Eu quero me enfiar em algum buraco.
— Você não olha mais para onde anda?! — eu digo, irritada e, ao olhar a pessoa que esbarrou em mim, eu perco minha fala.
— Eu não te vi, desculpe — a voz de responde, junto com sua imagem bela, mas, o sorriso não é presente em sua face.
— -san?! — minha voz sai trêmula e surpresa demais para o meu gosto.
— Está machucada? Me perdoe por isso, eu estava distraído — ele diz em tom preocupado.
O distraído? Isso é uma novidade para mim, ele nunca se distraiu em todos esses anos que o conheço. É, eu não o conheci esse ano, quando entrei na universidade junto com ele, mas sim há cinco anos, ainda no ensino fundamental, mas eu nunca tive coragem de falar com ele. Motivo? Porque eu sou uma tonta.
— -chan?
Ele chama meu nome e eu paraliso com os olhos arregalados. Ele sabe o meu nome?! De repente, meus pulmões desaprendem o simples ato de respirar e meu coração erra as batidas de maneira burra e torta. Mas, o ápice da tontice, é quando eu vejo a mão de se aproximar do meu braço e eu recuo de maneira brusca, assustando-o.
— Bom, eu vou... eu tenho que ir — ele diz e se levanta nitidamente sem jeito após o meu ato sem sentido.
Ao vê-lo se afastar de mim, indo pelo caminho que estava antes, eu percebi que ainda estou no chão e que ainda estão me encarando como se eu fosse um alien. Bruscamente eu me levanto, cato minhas coisas e sigo na mesma direção de , eu preciso me explicar, ele deve achar que eu sou uma louca que não sabe falar direito na presença dele. Mas, é bem isso mesmo que eu sou, né? Eu mal consigo pronunciar um “estou bem, não se preocupe” quando estou na frente dele. Por que é tão difícil estar na presença de ?
Finalmente eu o achei, após rodar praticamente o campus inteiro atrás dele, o encontro no lugar mais óbvio que ele poderia estar: o ginásio de esportes. Além de representante de nossa turma, também é jogador e capitão do time de vôlei da universidade, mais um motivo para ele ser conhecido por aqui. Eu me aproximei dele, que está sozinho na quadra enrolando uma atadura no pulso. Meu corpo está trêmulo e eu ensaio mentalmente o que irei falar, mas, antes mesmo de eu tentar falar algo, ele ergue o rosto e me vê, parando o enrolar da atadura.
— -chan... — diz ele, surpreso em me ver ali, normalmente eu gosto de ver os jogos do time, mas prefiro que ninguém me veja, principalmente o .
— -san... eu... — comecei a falar, mas ele me interrompe.
— Você está bem? Me parecia assustada na hora que nos esbarramos — diz ele ainda com a mão que enfaixava a outra parada na mesma posição com a atadura estirada.
— Es-Estou sim, obrigada por perguntar — eu digo num tom tímido demais.
— Senta aí — convida ele e aponta com o nariz para o chão da quadra onde ele está sentado. Ele volta a girar a atadura.
— Ah, não precisa eu... eu vim apenas pedir desculpas pelo meu comportamento de mais cedo — ele me encara confuso e volta a parar o movimento com a mão.
— Está tudo bem, . Não se preocupe — o sorriso dele... o maldito sorriso dele. — Senta aí, você nunca foi muito boa em mentir — ele diz e ri, senti meu rosto avermelhar ainda mais.
— Men-Mentir? — digo, assustada.
— Sim, desde o fundamental que você fica extremamente vermelha quando mente, tipo agora — conclui ele em tom vitorioso e volta a rodar a atadura, mas para seu movimento desfazendo todo o enrolar para começar novamente. — Yah... — resmunga ele.
— Quer ajuda? — ofereci e ele volta a me olhar.
— Só se você sentar — diz ele e sorri novamente. — Detesto ver as pessoas em pé quando estou sentado.
Peguei minha mochila, arriei ao meu lado e me sentei próxima à . Ele estende a mão com a atadura para mim e eu seguro com muita timidez, estar perto dele para mim já é um grande sacrifício, porque eu gosto muito dele. Acho que ele não faz ideia disso, mas eu sou apaixonada nele desde o fundamental. Comecei a enrolar devagar a atadura no pulso dele e passei por seus dedos para imobilizar melhor. Esses dias, teve uma torção no dedo durante os treinos e precisa usar essa atadura na mão para não piorar a entorse. Após finalizar, me encara sorrindo. Ah, o maldito sorriso...
— Você... — comecei a falar, mas parei.
— Eu? — diz ele esperando que eu conclua a frase, os olhos dele sobre mim me deixam nervosa.
— Achei que você não se lembrasse de mim... — eu digo, finalmente, e ele solta uma risada nasal.
— Claro que me lembro de você, . Você era a menina mais tímida da sala, sempre foi e eu... — ele para de falar e olha para algum ponto no chão próximo ao seu pé.
— Você? — dessa vez é a minha vez de aguardar o fim da frase dele.
— Sempre achei você fofa — confessa ele e agora, certamente, a minha face está mais vermelha que um tomate maduro. De imediato, eu olho para baixo e encaro o chão. — Bom... — ele pigarreia, mudando de assunto — está livre depois daqui?
— Hã? — eu digo, surpresa.
— Quer ir comer um lanche comigo? — questiona ele e logo completa: — Só para agradecer pelo que fez — ele mostra a mão enfaixada.
— Ah, não precisa, -san, não precisa... — eu digo fazendo um gesto com as mãos em negativo.
— Me trate apenas de Keigo, afinal, a gente se conhece a bastante tempo, né? — diz ele.
— É, mas...
— Só , . , esse é o meu nome, lembra? — diz ele num tom óbvio e ri. — Você sempre foi tão certinha... — afirma, nostálgico.
— Hey, eu não sou certinha, tá? Posso ser mais... — eu paro para pensar em uma palavra melhor, mas não consigo achar em tempo hábil — “não certinha” quando eu quero — concluo e ele ri abertamente. — Não ria, ! — eu digo, inconscientemente e logo percebo que o chamei apenas pelo nome.
— Ah, ela sabe falar somente o meu nome — seu tom brincalhão me faz rir. — E ela sorri também, que fofa — logo eu fico mais envergonhada e escondo meu sorriso com as mãos. — Não deveria esconder...
A mão de vem direto na minha e a segura com firmeza, puxando-a para longe de meu rosto. Minha outra mão desce sem o meu comando e mostra minha expressão atônica diante ao gesto dele. A mão dele está tão quentinha e aconchegante que eu não sei se quero que ele me solte ou se quero que o comando que meu cérebro grita para que eu faça realmente seja executado. O berro é claro: levanta e sai correndo. Enquanto eu vivo o meu dilema interno, entre o meu cérebro e o restante do meu corpo, eu não percebo a aproximação sorrateira dele até sentir o beijo em minha boca. Ainda de olhos abertos eu vejo o rosto de muito perto do meu, colado, me beijando.
Eu me afasto, assustada com o gesto repentino dele, e ele pede desculpas por ter feito.
— Se não quiser ir à lanchonete, eu vou entender. Se não quiser falar comigo depois, eu vou entender — diz ele, envergonhado e sem olhar para mim.
— Tá-Tá tudo bem, ... eu...
Me aproximo dele e seguro sua mão, o que o faz olhar para mim, tímido. Eu sorrio e isso parece confortá-lo de alguma forma, logo o sorriso perfeito que ele tem se forma em seu rosto, iluminando o ambiente.
O sorriso dele ilumina a minha vida.
[...]
Alguns meses depois...
O dia monótono de outono pede um programa diferente, justamente por isso que e eu nos encontraremos no karaokê para nos distrairmos. Depois que começamos a namorar, nos vemos quase todo dia longe da faculdade em programas de casal ou ele vai até minha casa para conversarmos sobre aleatoriedades o dia inteiro. Ele é um namorado muito gentil e, às vezes, eu sinto que não sou a melhor pessoa para estar ao lado dele, sinto que não o mereço dessa forma.
— -chan! — a voz dele me distrai de meus pensamentos infortúnios e faz com que eu coloque um falso sorriso no rosto para que ele não note.
— Demorei muito? — pergunto, assim que me aproximo dele, estamos parados na frente do karaokê.
— Não — ele responde com um sorriso fofo. — Está muito lindo, amor — ele diz e me dá um selinho rápido.
— Você também está, amor — devolvo o elogio, afinal eu tenho o namorado mais lindo da cidade.
— Vamos entrar?
Eu concordo com um gesto de cabeça e nós adentramos ao karaokê, finalmente. A semana que se passou foi bastante tesa para todos no campus por motivos de: provas finais de período. Eu estava tão esgotada mentalmente que eu mal via a hora de chegar esse sábado, vulgo hoje, para poder não pensar mais nos livros que preciso ler para o meu trabalho final, que aliás é o meu próximo desafio.
e eu escolhemos uma sala só para nós dois e nos acomodamos. Ele analisa o cardápio de músicas enquanto eu escolho o nosso lanche e faço o pedido através do aplicativo do local.
— Amor, que tal essa aqui para começarmos? — questiona sem olhar para mim, com os olhos vidrados na tela do tablet onde mostra o cardápio de músicas.
— Qual? — estiquei a cabeça para ver também.
— Essa — ele aponta para uma das músicas e em seguida olha para mim com um sorriso maroto.
— Você quer cantar essa, não quer? — pergunto, retoricamente e já rindo.
— Te conheço desde o fundamental, amor. Eu sei quando você realmente quer algo, bobo — respondo e ele solta uma risadinha.
— Não é justo você me conhecer tão bem, nos conhecemos na mesma época.
— Mas você também me conhece, ué.
— Mas não tão bem quanto você me conhece. Não é justo, Mori — ele faz um bico emburrado e eu amoleço.
— Awn, que fofo!
Me aproximei dele e o abracei, dando beijinhos em seu rosto, logo ele desmancha o bico emburrado dos lábios e começa a rir sentindo cócegas. Finalizei a brincadeira dando um longo beijo nele que logo depois escolhe a música e começa a cantar empolgado, enquanto dança apontando para mim. tem uma voz muito bonita, mas, em comparação, sua desenvoltura na dança é péssima. Mesmo assim, eu acho extremamente fofo.
Meses depois...
Eu realmente adoro o inverno. Para mim, é a melhor estação do ano, parece combinar perfeitamente comigo. Hoje o dia amanheceu perfeitamente nevoso, quando está assim, eu adoro sair para brincar na neve, literalmente. Já não curte muito quando o dia está com muita neve, ele acha até perigoso. De qualquer forma, eu e ele estamos passeando pelas ruas próximas à faculdade onde há dois grandes parques, é em um deles que estamos agora.
— Não acha melhor voltarmos, ? — comenta ele, pela enésima vez, enquanto tenta se aquecer abraçando o próprio corpo. Apesar de estar com dois casacos grossos e gorro, Keigo sente bastante frio.
— Vamos passear mais um pouco, o dia está lindo, amor — respondo novamente e continuo tirando fotos com meu celular da paisagem.
— Está frio, amor — ele reclama.
— Você quer voltar? — eu parei de andar e me virei bruscamente para ele que me encara um pouco surpreso.
— Não vou voltar sem você. Não quero te deixar sozinha — diz ele.
— Não irei me perder nesse parque, .
— Eu sei que não, mas voltou a nevar, você pode ficar presa em algum lugar, cair, não sei. Acidentes acontecem, Ali — diz ele, preocupado.
— Amor, eu só quero andar e apreciar a paisagem — suspiro cansada. A faculdade realmente está consumindo minhas energias, agora que estou prestes a entregar o meu trabalho final de conclusão de curso.
— Você precisa esquecer um pouco o seu trabalho, você fez um excelente trabalho e com certeza será aprovado — fala, percebendo ser esse o meu tormento, afinal, é o único tormento que domina a minha mente no momento, mas, infelizmente, não é o único.
— Eu preciso que você pare de falar sobre isso, está bem?! — estouro e ele me encara assustado.
— Não precisa falar assim, — reclama e eu saio andando sem prestar mais atenção no que ele diz. — Hey, , espera — corre atrás de mim e segura meu braço, parando a minha caminhada.
— Me deixa em paz, , eu quero... — não consigo terminar a frase. O meu outro tormento surge para me deixar louca de uma vez.
— Calma, ...
— Eu estou cansada, , cansada... — me livro do aperto dele e saio correndo.
— !
Eu sei que está correndo atrás de mim, mas eu não vejo, pois corro sem olhar para trás. A neve está caindo cada vez mais forte e agora, quando chego na saída do parque, percebo que ele não está mais atrás de mim, fato que me faz estranhar, mas não me impede de continuar andando. Os flocos caem em meu rosto, me impedindo de enxergar direito, mas eu consigo notar que há poucas pessoas na rua justamente pela intensidade de neve que cai agora. Por não conseguir enxergar direito, eu acabo entrando em um lugar que eu não costumo ir, na verdade eu nunca passei por aqui. Há uma floresta próxima ao terreno da faculdade, local de difícil acesso. É justamente aqui onde vim parar.
A angústia de não conhecer o local e não conseguir enxergar direito para onde ando está me deixando mais assustada e preocupada tanto comigo quanto com , será que ele veio atrás de mim? Eu fugi dele porque eu quero terminar, eu não o mereço. De fato, eu estou instável emocionalmente e isso acabou abalando também a minha relação com ele, apesar de ser um homem bem paciente e me amar de verdade, eu não quero dar esse “trabalho” para ele, atrasando sua vida com alguém que não consegue controlar as próprias emoções. Eu sei que é bobagem, mas eu não consigo evitar pensar dessa forma mesmo que uma boa parte do meu coração grite para que eu não fique longe dele.
— ! — o grito de ecoa próximo a mim e me faz parar de andar, ainda protegendo meu rosto com os braços para tentar enxergar. — ! Onde você está, amor!?
— ! Aqui! — grito de volta e ouço passos ficando mais próximos. Por detrás de uma árvore, surge com a expressão angustiada.
— Graças a Deus eu te achei, amor! — ele diz e me abraça de imediato.
— Não deveria ter vindo, eu...
— Não diga nada, eu não vou ficar longe de você — alerta ele e completa, dessa vez olhando para mim, ainda agarrado ao meu corpo: — Se aquela cena foi uma tentativa de terminar comigo, saiba que não funcionou. Nada funcionará. Eu sei o que você está tentando fazer e eu não vou deixar você executar seu plano de se livrar de mim. Não, , não vou — conclui ele, angustiado.
— Eu não queria te deixar assim, ... eu... — solto um suspiro frustrado. — Eu só queria entender o que está acontecendo comigo. Eu não consigo controlar meus sentimentos.
— Você me ama? — pergunta ele, de repente.
— Claro que eu te amo! — respondo, sem pestanejar.
— Então nada mais importa para mim, . Para você? Algo mais importa? — os olhos dele cintilantes me encaram e eu não consigo dizer não para eles.
— Não... — respondo com a voz fraca. — Será que...
— Vai melhorar quando você apresentar o seu trabalho final. Você vai ver — ele diz, carinhoso e afagando minhas costas.
— E se não melhorar?
— Eu estarei com você ainda assim — ele sorri docemente.
O sorriso de sempre me acalma de uma forma que eu nunca sei explicar. Assim como da primeira vez, eu me rendi ao amor que sinto por ele e o beijo de maneira urgente. Ficamos ali, abraçados e nos beijamos embaixo da neve.
Eu não poderia sonhar nada mais lindo que isso.
[...]
Abri os olhos devagar, minha cabeça dói levemente e sinto meu corpo reclamar também. Lembro-me que, na tarde passada, eu havia corrido para fugir de algo, só não me recordo direito do quê. Resolvo levantar e percebo que já é de dia e o barulho de pessoas do lado de fora me indica isso. Provavelmente já deve ser o meio da manhã de domingo e faz um dia lindo lá fora, o Sol realmente está radiante hoje. Sento-me na cadeira da escrivaninha, que fica próxima à janela, e abro meu caderno, pegando a caneca e volto a escrever de onde parei na última vez.
Sempre as mesmas perguntas pairam em minha mente, os meus questionamentos: será que eu algum dia eu deixarei de sonhar para realmente ter você? Será que eu estou ficando louca em imaginar uma vida inteira ao seu lado sendo que você nem sabe que eu existo? Será que eu finalmente terei coragem de externar o meu amor por você, ?
Eu suspiro mais uma sentindo-me frustrada comigo mesma por não conseguir, até hoje, realmente dizer para ele que eu gosto dele e que eu queria conhecê-lo melhor e não apenas em meus sonhos.
— Devolve, cara! Toca para mim, ! — a voz de um rapaz grita próximo à minha janela e chama minha atenção.
Interrompendo minha escrita em meu caderno, eu levanto da cadeira e me aproximo mais da janela, olhando para baixo. Perto do portão da minha casa eu consigo ver três rapazes e um deles logo prende minha atenção, trata-se de Keigo, o cara que eu conheço desde o ensino fundamental e que eu nunca tive coragem de realmente conversar com ele, mas, mesmo assim, nutri um grande e forte amor por ele todos esses anos.
Minha curiosidade em saber o que faz aqui na minha rua me faz abrir a janela para ver e ouvir melhor. Um dos amigos dele joga uma bola de basquete na direção dele, que agarra com maestria. Ele sempre foi habilidoso nos esportes, principalmente basquete, sempre o admirei por isso. Sem contar o fato dele ficar bem sexy quando está jogando. Eu frequento todos os jogos do time de basquete da faculdade onde estudamos, em cursos diferentes, mas creio que eu nunca tenha me visto por lá.
Sempre imaginei o olhar doce dele me encarando, deve ser uma sensação boa, assim como essa que sinto agora. Meu coração está acelerado e minhas mãos tremendo, mas por que? Quando me dou conta, está olhando para mim. Assustada, eu recuo meu rosto para longe da janela. Com certeza é mais um delírio meu, eu devo estar imaginando isso, certamente. Sim, é isso.
— -chan?! — a voz dele me grita e eu levo as mãos à boca, incrédula. — Está tudo bem, -chan? — pergunta ele e eu tenho certeza de que não estou delirando. Voltei a colocar meu rosto na janela e o vi me encarando com um sorriso meigo no rosto. — Oi, -chan!
— -san? O-O-O-O que fa-faz a-a-aqui? — me odeio por gaguejar justo agora. Ele solta uma risada abafada olhando rapidamente para a bola de basquete em suas mãos e volta o olhar para mim.
— Eu estou de passagem. Na verdade, vamos jogar na quadra aqui perto, tá afim de assistir? — questiona enquanto gira a bola nos dedos.
— Eu-Eu? — ele ri novamente. Me sinto uma palhaça.
— Vo-Você — ele me imita e solta uma risada genuína.
— ! — eu digo, irritada e logo volto a usar a formalidade com ele. — Quero dizer, -san...
— Me chame de , , nos conhecemos há anos, sua boba. Estudamos juntos na faculdade, por que ainda me chama assim? Somos amigos ou não? — pergunta ele parando a bola de basquete com uma das mãos e começa a jogá-la para cima, catando-a em seguida.
— Somos?!
— Isso foi uma pergunta?
— Não... somos, acho.
— Claro que somos, boba — ele ri novamente e eu amoleço com seu sorriso. — Então, quer ir nos ver jogar? Quer ir me ver jogar?
A proposta que eu não posso recusar, sendo um delírio ou não.
— Já desço, por favor, me esperem!
Corri de volta para dentro do quarto ainda sem acreditar se isso realmente está acontecendo ou se é mais um delírio meu. Deus, por favor, eu não quero que seja um delírio. Faça ser real!
Eu me arrumo muito rápido, tomei um banho mais rápido ainda e desci até o portão. No meio do caminho eu chego a cogitar que , na verdade, não está à minha espera, que é uma maluquice achar que ele me notaria. Mas, ao abrir a porta e vê-lo parado encostado no muro da vizinha e sorrindo ao me ver caminhar até ele, me faz acreditar de que não é um sonho afinal. Ele realmente está aqui.
— Se arrumou rápido, mas está muito linda, -chan — comenta ele ainda jogando a bola para cima e a catando depois, caminhando até mim.
— Obrigada, ... — eu digo, tímida.
— Vamos? — indaga e eu concordo com a cabeça. — Ainda fica tímida quando estou perto? Fofa — ele segura a bola com uma das mãos e com a outra envolve os meus ombros. — Gosto da sua companhia — comenta ele, abraçado a mim que fico imóvel, mesmo em movimento ao caminhar junto com ele em direção à quadra que há aqui perto.
— Eu... eu também gosto, — respondo, ainda muito tímida e sem saber o que fazer direito.
— Vai torcer por mim hoje? — eu o encaro e ele está dando mais um de seus famosos sorrisos encantadores. — Você sempre torce, mas hoje eu quero sua torcida por mim de novo, por favor, -chan! Sempre me anima vê-la torcendo por mim — a declaração dele me faz parar de andar, ele para também me olhando confuso. — O que houve?
— ... — eu fico ofegante, muito ofegante, nervosa demais para concluir a frase. Acho que ele percebe meu nervosismo e segura minhas mãos com a sua mão livre tão macia e quentinha.
— -chan, você está gelada. Está se sentindo mal? — indaga, preocupado.
— Eu amo você, !
A minha revelação repentina o faz soltar a minha mão, ouvi os amigos dele soltarem um som surpreso e se afastarem de nós. Só estamos e eu agora, nos encarando: ele muito surpreso e eu muito nervosa e trêmula. O que ele vai fazer agora que sabe que eu o amo? O olhar dele está pela primeira vez indecifrável para mim. Um mix de confusão, medo e surpresa. Medo é um dos sentimentos que tenho agora, ele pode simplesmente me rejeitar e eu perderia a amizade dele. Mas, ele pode também me beijar. Porém, a última possibilidade é quase impossível. é tão lindo e desejado por quase todo o campus que eu não tenho a mínima chance de ganhar a atenção dele nesse sentido. Não é possível, nem nos meus melhores sonhos...
De repente, ouço a bola de basquete quicar no chão e os braços de envolverem minha cintura, me puxando para ele. E depois, o beijo. E não, eu não estou sonhando dessa vez. Sentir o calor do corpo dele me faz saber de que não é um sonho, um delírio meu, é real. está de fato me beijando e como o beijo dele é bom, acolhedor, quentinho e, ao mesmo tempo, sexy e quente.
— ... — eu digo ao fim do beijo, que eu mesma interrompi. — Isso não é um sonho? — minha garganta dá um nó ao repensar nessa possibilidade e externá-la para ele que me encara sorrindo.
— Não — sussurra ele e se aproxima de mim, beijando-me novamente com doçura. Ao fim, ele dá uma leve mordida em minha bochecha.
— Ai... — gemi com a mordida e ele sorri.
— Sentiu isso?
— Senti — respondi, meio boba.
— Então é real, -chan — diz ele. — Eu estava esperando você me dar um simples sinal de que gostava de mim também. Você demorou... — suspira ele, fechando os olhos de leve.
— Achei que... achei que você não me via dessa forma, ...
— Mas eu sempre vi, sua bobinha. Porém, você nunca me deu margem para mostrar isso, sempre se esquivou de mim, . Desde o ensino médio — revela ele me deixando muito surpresa. — Você vivia para cima e para baixo com seu caderno, sempre escrevendo. Me deixava curioso em saber o que tanto você escrevia neles — diz ele me deixando envergonhada.
— É melhor você não ler — eu digo e ele sorri.
— Se prefere assim, então eu não leio, mas eu quero que me diga uma coisa.
— O que? — encarei ele.
— Você me ama mesmo ou eu estou sonhando? — dessa vez, eu tive que rir com a ironia dessa frase.
— Não, , você não está sonhando — respondi. — Eu amo você, seu bobo! Eu te amo!
Abracei ele com força, sentindo os músculos de seu corpo se enrijecerem ao me abraçar de volta. O calor dele é tão aconchegante, moraria aqui para sempre se eu pudesse. Logo, voltamos a nos beijar ainda abraçados e no mesmo lugar.
O beijo mais real que dei em toda minha vida. O amor real que finalmente sai de meus sonhos e se materializa em forma de beijo e abraço quentinho. sempre foi o meu sonho e eu consegui realizá-lo. Agora, nada me impede de viver meus demais sonhos ao lado dele, agora que sei que sou correspondida.
Será uma vida feliz, afinal.
Fim
Encontrou algum erro de script na história? Me mande um e-mail ou entre em contato com o CAA.
Nota da autora: Demorou, mas saiu! E aí? O que acharam desse sonho que se tornou real? Hahaha eu adorei escrever e, confesso que demorei tempo demais para escrever já que o tempo e o bloqueio me impediram, mas finalmente saiu!! <3
Espero que tenham gostado e convido vocês a lerem minhas outras histórias no link abaixo!