Nos dias que se seguiram à partida de , sentiu o mundo ao redor se tornar uma névoa densa e fria. Dormia pouco, comia mal, mas mantinha o celular por perto o tempo todo, esperando qualquer sinal dele — uma mensagem, uma ligação, qualquer coisa. Quando percebeu que ele não faria contato, foi ela quem quebrou o silêncio.
As mensagens começaram tímidas, cheias de carinho, dúvidas e súplicas silenciosas:
"Ainda podemos consertar. Eu sei que podemos."
"Você realmente acha que vai me esquecer só porque está me evitando?"
", por favor, não desista da gente."
Ele respondia com gentileza, mas com a mesma frieza dolorosa que partia o coração dela cada vez mais:
"Eu sinto muito, ."
"Isso não está funcionando."
"Eu não quero mais te machucar."
Durante essa semana, mergulhou no trabalho e evitou ao máximo qualquer envolvimento emocional. Respondia às mensagens dela quando necessário, mas tentava manter a distância. Ainda assim, toda vez que o nome dela aparecia na tela do celular, o coração apertava, a culpa o consumia, e ele se perguntava, por breves segundos, se estava fazendo a coisa certa.
Enquanto isso, lutava contra a dor e a esperança que insistia em sobreviver dentro dela. Ela sabia que ainda o amava — e acreditava, com todo o coração, que ele também ainda a amava. Só estava perdido. Confuso.
Na sexta-feira, depois de passar horas encarando a última mensagem visualizada e ignorada, tomou uma decisão. Não podia continuar sendo apenas palavras numa tela. Precisava olhar nos olhos dele. Precisava tentar mais uma vez.
Vestiu algo simples, mas que ele gostava, e pegou um táxi até o prédio onde trabalhava. Esperou do lado de fora, no horário em que ele costumava sair. O coração batia tão forte que ela mal conseguia respirar.
E então, ela o viu.
saiu pelas portas de vidro com uma pasta debaixo do braço, os ombros levemente curvados como se carregasse o peso do mundo. Quando seus olhos encontraram os dela, ele parou abruptamente.
tentou sorrir, mas estava à beira do choro.
— Eu precisava te ver.
Ele ficou em silêncio, os olhos presos nos dela.
Aquela era a primeira vez, em uma semana, que estavam frente a frente. E nada mais parecia preparado para o que viria a seguir.
Ele olhou ao redor, constrangido com os olhares curiosos dos colegas que passavam por eles. E então, soltou um leve suspiro e assentiu.
— Vamos conversar... mas não aqui.
concordou em silêncio, o coração batendo tão rápido que parecia ecoar por todo o corpo.
Pouco tempo depois, estavam subindo o elevador do hotel onde estava hospedado desde que saíra de casa. O clima entre os dois era denso, cheio de coisas não ditas. mantinha as mãos cruzadas diante do corpo, como se aquilo a protegesse de desmoronar ali mesmo.
O quarto era simples, impessoal, e parecia pequeno demais para abrigar tanto sentimento inacabado.
largou a pasta sobre a mesa e passou a mão pelos cabelos, como sempre fazia quando estava nervoso.
— Você não devia ter vindo, .
— E você devia ter me deixado lutar sozinha? — ela retrucou, olhando em volta, notando as roupas dobradas na cadeira, a mala parcialmente aberta, o jeito desorganizado dele que ela conhecia tão bem. — É isso? Vai simplesmente desaparecer da minha vida como se a gente não tivesse construído nada juntos?
Ele sentou na beira da cama, os ombros caídos.
— Não estou tentando apagar você. Só estou tentando... seguir em frente.
— E você acha que isso está funcionando? — ela se aproximou um pouco, cautelosa. — Você parece cansado, . Perdido. Como eu.
Ele levantou os olhos e os dela estavam cheios de uma dor crua.
— Você ainda me ama? — perguntou, quase num sussurro.
Ele demorou a responder. Respirou fundo, olhou para as próprias mãos e, finalmente, encarou-a.
— Isso nunca deixou de ser verdade.
Ela deu um passo mais perto, a voz embargada:
— Então por que está me afastando?
— Porque amar você e não conseguir te fazer feliz... está me matando. — Ele disse, a voz embargada, sincera. — Você merecia mais. Merecia alguém que soubesse como lidar com você, com sua intensidade, seus sonhos, seu jeito direto. E eu… eu falhei.
sentou ao lado dele, mantendo uma distância segura, mas perto o bastante para que ele sentisse sua presença.
— Você não falhou. Nós falhamos. E talvez ainda possamos consertar.
balançou a cabeça, os olhos marejando pela primeira vez em dias.
— Eu não sei como.
— Eu também não. — ela respondeu, com um pequeno sorriso triste. — Mas eu sei o que eu sinto. E sei que ainda não estou pronta pra desistir da gente.
Ele a olhou por um longo tempo. Tinha tanta coisa nos olhos dela — dor, saudade, amor, esperança.
E então, pela primeira vez desde a separação, sentiu o muro dentro dele começar a rachar.
O silêncio se estendeu entre eles, pesado, mas não hostil.
respirou fundo.
— Me deixa tentar de novo.
não respondeu de imediato. Mas também não a mandou embora.
E isso… já era um começo.
O silêncio entre eles era denso, mas diferente do que costumava ser. Não havia raiva, nem acusação. Apenas emoção crua, suspensa entre duas pessoas quebradas que ainda se amavam demais.
virou o rosto lentamente para , seus olhos buscando os dele como se ainda houvesse tempo para salvá-lo — não apenas do fim do relacionamento, mas de si mesmo.
Ele a olhou de volta, e naquele instante, todo o mundo pareceu desaparecer. A distância física entre eles era mínima, mas a emocional parecia feita de quilômetros. Ainda assim, deu o primeiro passo.
— — ela sussurrou o apelido dele depois de tanto tempo, e foi o jeito como ela o disse, tão suave, tão íntimo, que quebrou o resto da resistência dele.
Ele não pensou. Só sentiu.
Com um gesto hesitante, quase inseguro, levou a mão até o rosto dela e a tocou com uma delicadeza que dizia tudo o que ele ainda não conseguia colocar em palavras. fechou os olhos ao sentir o toque, inclinando-se de leve para ele, como se estivesse voltando para casa.
E então ele a beijou.
O beijo não foi calmo, tampouco planejado. Foi intenso, urgente, como se ele estivesse se afogando e só ela pudesse salvá-lo. Havia dúvidas nos lábios de — dúvidas sobre o futuro, sobre merecê-la, sobre estar fazendo o certo —, mas beijava com a certeza de quem sabia exatamente onde queria estar.
Ela o puxou pela camisa, se aproximando ainda mais, e ele cedeu, com um suspiro quase desesperado, como se estivesse se rendendo a tudo o que tentou evitar a semana inteira.
Os lábios se encontraram de novo, agora com mais pressa. Era saudade, era amor, era tudo aquilo que ficou preso durante os dias separados. As mãos dele desceram pelas costas dela, puxando-a para mais perto, enquanto ela cravava os dedos em sua nuca, como se tivesse medo de soltá-lo e perdê-lo outra vez.
O beijo aprofundou-se, quente, trêmulo, carregado de lembranças. sussurrou contra os lábios dele:
— Eu senti tanto a sua falta...
a abraçou com força, como se aquilo pudesse compensar todos os dias que passou longe dela.
— Eu também. Mais do que você imagina.
A intensidade entre os dois crescia, quase incontrolável. As mãos de deslizavam pelo peito dele com familiaridade, e as de percorriam a cintura dela com reverência, como se a redescobrisse a cada toque.
Quando os corpos se deitaram sobre a cama, foi sem pressa, mas com a certeza de que não havia mais volta.
A boca dele encontrou o pescoço dela, depositando beijos entrecortados por respirações aceleradas. se arqueou ao encontrá-lo, os olhos fechados, entregue ao momento, aos sentimentos, a tudo o que ainda existia entre eles.
Não era só desejo — era necessidade. Era a vontade de se reconhecerem de novo, de se reconstruírem no toque, no beijo, na pele.
Quando os lábios de voltaram a encontrar os dela, suas mãos se embrenharam em seus cabelos pretos, puxando-os com força. Suas pernas logo se entrelaçaram aos quadris dele, pressionando sua intimidade já quente de desejo no membro dele, que reagiu instantaneamente ao toque.
arfou contra os lábios de , a respiração falha, o corpo inteiro estremecendo com a forma como ela o tocava.
— ... — ele murmurou com a voz rouca, como se apenas pronunciar o nome dela fosse um pedido de rendição.
Seus olhos se fecharam por um breve instante enquanto sentia o calor dela o envolver, o corpo dela se moldando perfeitamente ao seu, como sempre fora. Era como voltar para algo sagrado, algo que ele achou que havia perdido para sempre.
Ele apoiou uma das mãos na cintura dela, puxando-a com mais firmeza, colando os corpos de vez, sentindo a excitação pulsar com mais intensidade. A outra mão desceu para a coxa dela, segurando-a com firmeza, incentivando aquele contato provocante, desesperado.
— Você não faz ideia do quanto eu senti falta disso... de você. — ele sussurrou contra o pescoço dela, deixando beijos quentes por sua pele, descendo lentamente, como se precisasse provar que ela ainda era real.
gemeu baixinho ao sentir a língua dele percorrer sua pele com desejo contido. O corpo de já estava em chamas, mas era mais do que físico — era emocional.
Ele a queria. Sim. Mas acima de tudo, ele precisava se perder nela, como quem busca refúgio no único lugar onde ainda faz sentido existir.
Seu olhar encontrou o dela mais uma vez, os dois ofegantes, a respiração misturada, os olhos dizendo tudo o que a boca ainda não era capaz.
— Se eu tocar você de verdade agora… — ele murmurou, com os lábios roçando os dela — eu não vou conseguir parar, .
E ela, sem hesitar, respondeu com firmeza, segurando o rosto dele entre as mãos:
— Então não para.
E foi exatamente o que ele fez.
manteve os olhos fixos nos dela por um longo instante, como se quisesse ter certeza de que aquilo era real — de que ela ainda estava ali, ainda queria, ainda o sentia como ele a sentia.
não desviou o olhar. Havia firmeza em sua expressão, uma espécie de redenção silenciosa que dizia:
"Você ainda é meu."
Com os lábios ainda entreabertos pela respiração acelerada, se afastou apenas o suficiente para se levantar da cama. Com movimentos lentos, quase reverentes, começou a despir-se diante dela.
Primeiro, desabotoou a camisa, um botão de cada vez, revelando a pele pálida sob a luz suave do abajur. o observava em silêncio, os olhos viajando por cada centímetro daquele corpo que conhecia tão bem — e que sentia falta de tocar. Quando a camisa caiu ao chão, ele ergueu os olhos para ela, como se esperasse alguma reação. apenas mordeu o lábio inferior, com a respiração presa, o desejo agora visível em cada curva de seu rosto.
Ele desfez o cinto, abriu o zíper da calça e a empurrou para baixo, até que ela escorregasse por suas pernas. Por fim, tirou a cueca, deixando-se completamente exposto diante dela.
Mas não havia vergonha entre eles. Não havia pudor. Só desejo, memória, saudade — e amor ainda pulsando embaixo da pele.
se aproximou novamente e, com delicadeza, levou as mãos até a barra da blusa de . Ela ergueu os braços em resposta silenciosa, permitindo que ele a despisse também. Sua pele se arrepiou ao sentir os dedos dele roçarem sua cintura, sua barriga, seus seios.
Depois, foi a vez da calça. Ele desabotoou lentamente, puxando o tecido por suas pernas, ajoelhando-se à frente dela como se aquilo fosse uma devoção. Por fim, tirou a calcinha com a mesma lentidão, os dedos deslizando por suas coxas como se a redescobrisse.
Quando os corpos finalmente se encontraram, pele contra pele, foi como se o tempo tivesse parado.
deitou-se por cima dela com cuidado, apoiando-se em um braço enquanto o outro traçava uma linha suave do ombro até a cintura.
— É tão estranho… — ela murmurou. — E, ao mesmo tempo, tão certo.
— Eu estava com saudade de sentir você assim… — ele respondeu, encostando a testa na dela.
Não era só aquela semana sem se tocarem. A verdade era que, desde que tudo começara a ruir, desde as primeiras discussões mais sérias, os dois já não se encontravam verdadeiramente daquele jeito. Sempre havia mágoa, distância, medo de tocar e não ser tocado de volta…
— Você é linda... sempre foi. — ele sussurrou, quase com reverência.
enterrou o rosto no pescoço dela, inalando seu cheiro, se permitindo afundar naquela sensação de pertencimento. envolveu-o com as pernas, pressionando-o contra si, e ele gemeu baixo, como se a dor de tudo o que perderam estivesse vindo à tona naquele exato momento.
— Eu senti tanta falta disso… — ela sussurrou, arqueando o corpo sob o dele.
— Eu também. Tanta… que me doía.
Os movimentos começaram lentos, como se ambos estivessem reaprendendo o ritmo um do outro. Cada toque era uma promessa não dita, cada beijo, uma confissão silenciosa.
Não havia pressa, apenas entrega.
E ali, entre os lençóis amassados e os corpos suados, e não estavam apenas fazendo amor. Estavam tentando se lembrar de quem eram — um com o outro,
um no outro.
Porque mesmo com tantas dúvidas, mágoas e cicatrizes… naquele momento, tudo o que existia era aquele reencontro: quente, verdadeiro, profundo.
E nenhuma palavra seria capaz de traduzir o que os corpos diziam tão bem.
Os corpos se moviam devagar no início, como se temessem que o momento fosse frágil demais para ser apressado. arqueou as costas quando sentiu encaixar-se completamente nela, e o gemido que escapou de seus lábios era a mistura perfeita de prazer e alívio.
Era como voltar a respirar depois de muito tempo presa debaixo d’água.
— Meu Deus… — ela sussurrou, cravando os dedos nas costas dele.
fechou os olhos, pressionando a testa contra a dela, lutando para se manter no controle. Estar dentro dela de novo era mais do que físico. Era um retorno ao lugar que ele sempre chamou de lar.
— Eu senti tanto a sua falta... — ele murmurou, com a voz rouca de desejo e emoção.
puxou-o para um beijo profundo, a língua tocando a dele com fome e ternura. Beijava-o como se quisesse tatuá-lo em sua alma. Como se aquele beijo fosse a última chance de fazê-lo sentir que ainda havia amor ali.
Os movimentos dele começaram a se intensificar, as investidas mais firmes, mas ainda ritmadas. Cada estocada era seguida por um gemido baixo, abafado pelos lábios, pelos sussurros, pelos beijos quentes que não cessavam.
— Você é tudo o que eu quero… tudo. — ele sussurrou ao pé do ouvido dela, com a respiração falha.
segurou o rosto dele entre as mãos, forçando-o a encará-la.
— Então me mostra. Me mostra que ainda sou sua.
Os olhos dele brilharam com emoção, e ele a beijou com mais intensidade. Seu quadril acelerou, os movimentos ficando mais profundos, mais quentes, mais intensos. A cama rangia sob eles, mas nada parecia mais alto do que os sons entrecortados que escapavam de suas bocas: gemidos, sussurros, respirações aceleradas.
— ... — ele murmurava seu nome entre beijos, como uma oração. — Você ainda me enlouquece…
Ela envolveu-o mais forte com as pernas, sentindo o prazer crescer em ondas, se espalhando pelo corpo como calor líquido.
— Não para... — ela implorou, mordendo o lábio inferior enquanto as sensações a invadiam. — Me sente, … sente o quanto eu te amo.
Ele afundou o rosto em seu pescoço, a língua traçando um caminho pela pele úmida, enquanto seus corpos se chocavam em um ritmo intenso, cru, apaixonado. Era como se cada investida fosse uma forma de reconstruir tudo o que havia se partido entre eles.
E no auge do prazer, quando seus corpos tremiam juntos e os olhos se encontraram mais uma vez, a verdade veio à tona sem que nenhuma palavra precisasse ser dita:
Eles ainda pertenciam um ao outro.
E naquele momento, nada mais importava.
💐💐💐
O quarto estava mergulhado em silêncio. Apenas o som leve da respiração dos dois preenchia o espaço. A luz do abajur, suave e amarelada, desenhava contornos suaves nas peles suadas e sensíveis, enquanto e permaneciam deitados, um ao lado do outro, envoltos pelos lençois amassados e por tudo o que haviam acabado de compartilhar.
Nenhum dos dois falou de imediato.
, com o rosto virado para ele, observava seu perfil em silêncio. O peito dele ainda subia e descia devagar, como se estivesse tentando encontrar algum tipo de equilíbrio interno. Ela queria dizer algo — algo bonito, esperançoso, reconfortante —, mas as palavras pareciam frágeis demais diante da intensidade do que haviam acabado de viver.
Já mantinha os olhos fixos no teto, como se buscasse alguma resposta ali. O corpo ainda sentia o dela, o calor, a entrega, a certeza que ela colocava em cada toque. Mas sua mente... sua mente não descansava.
"Isso muda tudo?"
"Ou só nos confunde mais?"
— Você está pensando demais — ela disse, com um leve sorriso cansado, a voz ainda rouca de emoção.
Ele se virou para encará-la, e naquele momento, viu. Os olhos dele estavam cheios — de amor, de saudade, mas também de conflito.
— Porque eu
preciso pensar, . Isso… — ele gesticulou com a mão, apontando para eles. — Isso foi real. Mas e depois? A gente vai continuar fingindo que amor resolve tudo?
O sorriso dela desapareceu, substituído por um olhar mais sério.
— Você acha que eu estou fingindo?
— Eu acho que você quer se agarrar à ideia de nós dois. E eu entendo. Deus, eu também quero. Mas não é só isso.
Ela se sentou, puxando o lençol contra o peito, a expressão mudando.
— Você não pode simplesmente transar comigo como se ainda fôssemos um casal e, minutos depois, duvidar de tudo de novo, !
— Não é dúvida! — ele ergueu a voz, sentando também. — É realidade! A gente acabou de se entregar como se nada tivesse acontecido, como se as brigas, a dor, tudo tivesse desaparecido. Mas não desapareceu!
— Eu
sei disso! — retrucou, os olhos marejando. — Eu só… eu só achei que isso significasse que ainda havia algo pra salvar!
— E talvez haja… mas não agora. Não assim. Toda vez que a gente tenta consertar as coisas, acaba quebrando mais ainda.
— Então por que me deixou vir aqui? Por que me beijou? Por que me
fez sentir que ainda sou sua?! — ela disparou, a voz tremendo de emoção. — Se tudo o que você ia fazer era me lembrar que sou insuficiente?!
Ele desviou o olhar, respirando fundo.
— Você nunca foi insuficiente, . Eu é que não consigo ser o homem que você precisa.
Ela apertou os lábios, engolindo o choro. E ali, entre os lençóis que ainda guardavam o calor dos corpos, o clima voltou a esfriar.
A intimidade havia reacendido a chama… mas também iluminado as rachaduras.
E , olhando para o rosto dela, percebeu com pesar: talvez ele tivesse razão desde o início. Talvez o amor não fosse suficiente. E talvez, por mais doloroso que fosse, o divórcio ainda fosse o único caminho que impedisse os dois de continuarem se ferindo.
O silêncio que se instalou após a discussão era diferente de todos os outros. Não havia gritos, não havia portas batendo ou acusações. Era um silêncio denso, carregado, como se cada palavra não dita pesasse mais do que qualquer grito.
permaneceu sentado à beira da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, o rosto enterrado nas mãos. , do outro lado, sentia o lençol escorregar pela pele, frio, estranho… como se cobrisse alguém que ela já não reconhecia.
Ela o olhava, esperando que ele dissesse algo. Qualquer coisa. Um
“fica”, um
“me perdoa”, ou até mesmo um “eu não sei o que estou fazendo”. Mas ele não disse nada.
E aquilo doeu mais do que qualquer verdade cruel.
Porque o silêncio dele parecia uma confirmação.
se levantou sem dizer palavra. Caminhou até suas roupas espalhadas pelo chão e começou a vesti-las com gestos lentos, precisos. Cada peça colocada era como uma armadura.
ergueu o olhar ao ouvir o som das roupas sendo ajeitadas. Observou em silêncio enquanto ela arrumava a blusa, puxava a calça e calçava os sapatos com calma quase calculada.
— … — ele disse, finalmente, em um sussurro.
Ela ergueu o olhar, os olhos marejados, mas firmes.
— Não precisa dizer nada.
Ele abriu a boca, mas não soube o que dizer. Porque qualquer coisa que dissesse agora só a machucaria mais.
— Foi isso, né? — ela perguntou, a voz baixa, trêmula. — Você precisava de um último toque antes de me deixar de vez.
— Não foi assim... — ele tentou, levantando-se.
— Então como foi? — Ela riu, com amargura. — Você me deixou te amar de novo… e agora vai continuar seguindo em frente como se nada tivesse acontecido?
deu um passo, mas ela recuou.
— , eu nunca quis te usar. Eu só... me perdi por um instante.
— E eu me perdi
por completo. — ela rebateu, a voz embargando. — A diferença é que pra mim isso ainda significava alguma coisa.
Ela pegou a bolsa, os olhos firmes nele, mesmo com o coração em pedaços.
— Obrigada por me lembrar por que você quis se divorciar.
E sem esperar mais, virou as costas e saiu do quarto.
não a impediu.
Não porque não quisesse. Mas porque não sabia mais se tinha o direito.
E quando a porta se fechou com um clique baixo e seco, ele sentiu o peso da solidão cair sobre seus ombros de vez.
– do lado de fora do hotel
O ar noturno parecia mais frio do que antes. caminhava apressadamente pela calçada, os braços cruzados sobre o peito como se tentasse conter não só o vento, mas o turbilhão de emoções dentro dela.
Cada passo doía. Não fisicamente — mas na alma.
Ela apertava os lábios para não chorar. Já havia derramado lágrimas demais por . No hotel, se entregou a ele com todo o coração.
De novo. E o que recebeu em troca? Silêncio. Confusão. A constatação dolorosa de que, para ele, aquilo havia sido só um impulso. Uma fraqueza.
Não sabia se sentia raiva dele ou de si mesma. Talvez dos dois.
"Você me deixou te amar de novo..." — ela repetia em pensamento.
E como sempre, foi ela quem saiu machucada.
Chegando ao ponto de táxi, respirou fundo, finalmente permitindo que as lágrimas descessem silenciosamente pelas bochechas. O motorista perguntou para onde ela queria ir.
— Só… pra longe. — ela murmurou, e se encolheu no banco.
Naquela noite, não voltou para casa. Foi para a casa de uma amiga, onde passou horas acordada deitada no sofá, olhando o teto escuro. Pela primeira vez, começou a aceitar que talvez, por mais que doesse, o fim era real.
💐💐💐
– nos dias seguintes
O quarto de hotel parecia ainda menor na manhã seguinte. E mais frio.
acordou sozinho, e quando esticou a mão no lençol ao lado, não encontrou nada além de vazio. O mesmo vazio que sentia por dentro.
O cheiro de ainda estava ali, misturado aos lençois, à pele dele, à memória do que haviam feito. Mas o que deveria ter sido um reencontro se transformou em mais uma lembrança dolorosa.
Ele se sentou na beira da cama e passou longos minutos com o rosto nas mãos. Queria ligar pra ela. Pedir desculpas. Dizer que sentia sua falta. Que a amava. Mas ele já tinha dito isso antes — e, ainda assim, a machucou.
Nos dias que se seguiram, tentou seguir a rotina. Trabalho, reuniões, papéis, e um sorriso educado que não chegava aos olhos. Dormia mal. Comia pouco. Evitava olhar o celular com medo de não encontrar mensagem alguma… ou pior, de encontrar uma e não saber como responder.
As palavras dela ainda ecoavam em sua mente:
"Obrigada por me lembrar por que você quis se divorciar."
E isso doía. Porque ele não a havia usado. Mas também não foi homem o bastante para segurar sua mão depois.
Na terceira noite, ele voltou a abrir a galeria do celular. Viu fotos antigas dos dois, viagens, aniversários, o sofá da sala deles coberto de mantas — e deitada, sorrindo pra ele como se ele fosse o mundo inteiro.
Agora, ele era só mais um estranho.
Ele queria acreditar que fez o certo. Mas a cada dia sem ela… a certeza parecia escorrer por entre os dedos.
💐💐💐
Alguns meses depois
O som do relógio de parede marcava os minutos como uma contagem regressiva silenciosa. A sala era sóbria, com móveis de madeira escura, pastas empilhadas e um cheiro leve de papel e café velho.
estava sentada à esquerda da mesa, vestida de forma simples, elegante, mas com os ombros tensos e as mãos cruzadas no colo. Tinha os olhos fixos na janela, tentando não olhar para o homem sentado do outro lado.
.
Ele havia chegado pouco depois dela, e tudo entre os dois foi silêncio. Nenhum
“oi”. Nenhum
“como você está?”. Só um leve aceno de cabeça e olhares breves que se evitavam.
Ambos estavam ali para o fim.
O advogado, um senhor de meia-idade de fala tranquila, explicava os termos mais uma vez: divisão de bens já acordada, nenhum litígio, e um processo simples.
— Aqui estão os papeis. Precisamos apenas da assinatura de ambos para finalizar. — disse ele, deslizando as folhas sobre a mesa.
Antes de assinar, olhou para . Pela primeira vez em meses, seus olhos se encontraram por mais do que um segundo. E naquele olhar… havia tanto.
Saudade.
Dúvida.
Dor.
E amor. Ainda ali. Silencioso. Mas pulsando.
Ele também a observava. E quando viu sua hesitação, respirou fundo.
E amor. Ainda ali. Silencioso. Mas pulsando.
Ele também a observava. E quando viu sua hesitação, respirou fundo.
— Você ainda pensa naquela noite? — ele perguntou, quebrando o silêncio com uma voz baixa, rouca.
piscou, surpresa. A caneta parou a meio caminho do papel.
— Penso em muitas noites. — ela respondeu, sem desviar o olhar. — Algumas boas, outras... nem tanto.
— Eu penso naquela como a noite em que eu te perdi de vez.
— Você me perdeu muito antes, . Só não quis ver.
Ele assentiu, devagar.
— Eu achei que deixar você ir fosse o certo. Que era o que você precisava pra ser feliz. Mas…
— Mas? — ela perguntou, com a voz firme, mas trêmula.
— Eu só fiquei vazio.
O silêncio retornou. Só que dessa vez, estava cheio de tudo o que ainda não havia sido dito.
olhou para os papéis. Depois para ele.
— Por que está dizendo isso agora? Aqui?
— Porque é a última chance que eu tenho de ser sincero.
Ela sentiu um nó se formar na garganta, mas não chorou. Estava cansada de chorar.
— Você quer que eu não assine? É isso?
hesitou. O ar parecia mais denso agora.
— Eu quero... que você seja feliz. Mesmo que isso signifique que a gente acabe aqui.
o encarou. A caneta ainda entre os dedos, o coração aos pulos.
— Às vezes, o amor não basta.
— Eu sei. — ele disse, com tristeza no olhar. — Mas eu também sei que… tem amores que a gente nunca deixa de sentir.
Ela fechou os olhos por um instante. E quando os abriu, parecia diferente. Mais leve. Mais certa.
E então, finalmente, falou:
— Eu vou assinar.
não tentou impedir. Apenas a observou enquanto ela deixava o nome marcado na folha, junto à última parte da história deles.
Ela empurrou os papeis na direção dele.
— Sua vez.
Ele segurou a caneta por um momento, encarando o próprio nome, o espaço em branco. E então, lentamente, começou a assinar.
segurava a caneta, ainda com os olhos fixos no rosto dela. Sua pergunta pairava no ar:
— Se eu te convidasse pra um café… você aceitaria?
manteve o silêncio por um instante. Não havia mais hesitação em seu olhar, nem raiva, nem mágoa. Apenas uma espécie de serenidade que só quem já sofreu demais consegue carregar.
— Assina primeiro. — ela respondeu, sem desviar os olhos.
segurou o olhar dela por mais um segundo. Então baixou a cabeça e, com um traço firme, assinou o último documento.
Estava feito.
Eles estavam oficialmente divorciados.
O advogado se levantou, recolhendo as folhas com discrição. Murmurou algo sobre enviar cópias nos próximos dias e se retirou, deixando os dois sozinhos na sala.
levantou-se, pegou a bolsa e ajeitou a alça no ombro. Por um segundo, pareceu que simplesmente sairia dali, como se aquele momento fosse apenas mais um ponto final.
Mas então, antes de alcançar a porta, parou.
Virou-se lentamente, os olhos encontrando os dele mais uma vez.
— O café... pode ser amanhã. Às dez, na mesma cafeteria de sempre?
assentiu, surpreso, um pouco confuso.
— Eu estarei lá.
Ela apenas sorriu de leve, acenou com a cabeça e foi embora.
💐💐💐
No dia seguinte — 10h00
O café era discreto, aconchegante, e o cheiro de pão fresco misturava-se ao aroma do café recém-passado. estava lá antes do horário. Sentado junto à janela, mãos entrelaçadas sobre a mesa, olhando para a porta a cada dois minutos.
chegou pontualmente.
Estava serena, os cabelos soltos, uma blusa clara e um brilho nos olhos que ele não via há muito tempo — um brilho que doía, porque ele não sabia mais se era por ele… ou apesar dele.
— Oi. — ela disse, sentando-se à sua frente.
— Oi. — ele respondeu, sorrindo de leve.
Fizeram o pedido, trocaram amenidades. Mas não demorou para o silêncio cair sobre a mesa. Aquele silêncio carregado de tudo o que já foi dito, sentido, e agora precisava ser deixado para trás.
foi a primeira a falar.
— Eu vou me mudar.
piscou, confuso.
— Como assim?
— Consegui uma transferência no trabalho. Estou indo para Busan. Daqui a uma semana.
Ele assentiu devagar, como se digerisse aquilo palavra por palavra.
— Vai ser bom pra você?
— Vai. — ela respondeu com convicção. — Eu preciso de um novo começo.
abaixou os olhos, engolindo a resposta que queria dar.
“E se eu pedisse pra você ficar?” Mas não disse. Não tinha o direito.
— Fico feliz por você. De verdade.
Ela sorriu, e era sincero.
— Obrigada.
Tomaram o café em silêncio por alguns minutos. E quando ela terminou o último gole, levantou-se com calma.
— Adeus, .
Ele também se levantou.
— Adeus, .
Dessa vez, sem beijos. Sem lágrimas. Sem promessas.
Apenas um fim limpo.
Ou talvez… um novo começo. Só que agora, separados.
💐💐💐
A rotina de havia se tornado uma repetição fria de gestos automáticos: acordar, café preto forte demais, horas intermináveis de trabalho, banho, cama. E silêncio. Muito silêncio.
O quarto do hotel parecia encolher a cada dia. Antes, era só um lugar provisório, uma ponte entre o fim e um futuro incerto. Agora, era um lembrete constante de que ele não tinha mais casa. Só paredes brancas e lençois lavados demais.
Naquela noite de sexta-feira, aceitou o convite de dois colegas para tomar uma bebida. Fingiu um sorriso, deu risada em momentos que não achou graça nenhuma, ouviu as histórias dos outros com a cabeça distante.
Sentado num bar iluminado por néons azulados, rodeado por conversas rasas e música alta, ele sentia o peso da ausência de como uma pedra no peito.
Enquanto os amigos falavam sobre relacionamentos passageiros e aplicativos de namoro, olhava para o copo de uísque como se ele pudesse oferecer respostas. Mas tudo o que sentia era um vazio impossível de preencher.
Na volta para o hotel, o carro desacelerou num sinal vermelho. Ele olhou pela janela e viu um casal andando de mãos dadas na calçada. Estavam rindo, os dedos entrelaçados, os ombros se encostando a cada passo.
E por um segundo, ele enxergou ali.
O cabelo preso de qualquer jeito, o jeito como ela encostava o queixo no ombro dele quando ria… a lembrança bateu forte. Forte o suficiente para que ele desviasse o olhar com um nó na garganta.
Ao chegar ao quarto, largou a jaqueta na cadeira e caiu sentado na cama, sem nem tirar os sapatos.
Pegou o celular.
Abriu a conversa com . Estava ali, no topo, como sempre. Nenhuma nova mensagem desde aquela noite. Nenhuma notificação. Nenhuma palavra.
O polegar hesitou sobre o teclado.
"Você chegou bem?"
"Me desculpa."
"Ainda penso em você."
"Ainda dá tempo?"
Apagou tudo. Um por um.
No fim, ficou olhando para a tela em branco, o cursor piscando como se zombasse dele.
Fechou o aplicativo. Jogou o celular longe da cama.
E então se deitou, encarando o teto escuro, ouvindo apenas a própria respiração e os ecos de uma escolha que, dia após dia, doía mais do que ele havia imaginado.
💐💐💐
A luz da manhã invadia o quarto pelas frestas da cortina, mas continuava imóvel na cama. Não dormira mais do que duas horas. Passou a madrugada alternando entre olhar para o teto e fechar os olhos tentando esquecer.
Mas esquecer era impossível. Ela estava em tudo.
No travesseiro ao lado, ainda parecia haver o perfume dela. E o lençol que ele tentava ignorar era o mesmo onde os dois se reencontraram — e se perderam de vez.
Às 8h ele se levantou, tomou um banho demorado e ficou parado por alguns minutos em frente ao espelho, observando o próprio reflexo. Parecia mais velho. Cansado. O vazio dentro dele transbordava pelos olhos.
De volta ao quarto, vestiu-se de forma simples e sentou-se diante da escrivaninha. Havia um bloco de papel em branco e uma caneta preta esquecida ali, de brindes do hotel. Ele não sabia o que pretendia fazer. Só sabia que precisava tirar aquilo do peito.
Começou a escrever.
","
Parou.
Respirou fundo. E continuou.
"Acho que você não vai ler isso. Talvez eu nem tenha coragem de te entregar. Mas preciso escrever, nem que seja só pra mim."
As palavras começaram a sair como uma represa rompida.
"Eu achei que estava te libertando quando te deixei. Que o melhor era seguir caminhos separados. Mas a verdade é que não passei um só dia sem pensar em você. No seu jeito de franzir a testa quando está irritada. Em como o café só ficava certo quando era você quem fazia. No silêncio da casa que só parecia suportável porque você estava lá."
"Eu não sei se mereço te pedir perdão. E talvez você não queira mais ouvir nada de mim. Mas ainda assim, me pego imaginando como seria se a gente tivesse conseguido. Se eu tivesse sido menos covarde. Se eu tivesse lutado."
Ele parou por um momento, engolindo em seco, sentindo o peso de cada linha.
"A verdade é que eu ainda te amo. E a dor de ter deixado você ir me acompanha como sombra. Eu só queria que você soubesse disso. Mesmo que não mude nada."
"Com amor,
."
Ele terminou de escrever e ficou encarando o papel por alguns minutos.
Depois, dobrou a folha com cuidado, guardou na gaveta da escrivaninha… e a fechou.
Não estava pronto para entregá-la. Talvez nunca estivesse.
Mas, pela primeira vez em dias, chorou em silêncio. E foi esse choro que, de algum modo, o fez se sentir mais humano — e mais perdido — do que nunca.