Autora: Li
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Finalizada em: 22/04/2022.






! !!!

Ouvi a voz do me chamar, mas não conseguia abrir os olhos para olhar para ele. Me sentia cansado, esgotado, parecia que meu corpo estava, aos poucos, desistindo de funcionar devidamente. Eu não posso morrer aqui. Não sem antes ver a minha princesa Sayuri crescer. Não sem antes abraçar a minha querida novamente. Não, eu não posso desistir. Mas parece que eu não tenho mais controle sobre o meu próprio corpo. Se existe um Deus, por favor, só proteja as minhas garotas.
Resolvi apenas aceitar e relaxar em meio ao caos da guerra.

[...]

Quase um ano antes…

Meus dias estão resumidos em duas coisas, basicamente: cuidar da minha filha Sayuri, que completou dois anos recentemente, e ver as notícias sobre uma possível guerra entre o meu país e o país vizinho. Torço muito para que isso não ocorra, pois, caso aconteça, certamente serei chamado, pelo cargo que ocupo. Às vezes, só às vezes, eu não queria ser quem sou. O militar respeitado, primeiro-tenente do principal batalhão do exército. Normalmente, quando há combate, o meu batalhão está na linha de frente. Essa parte da minha vida eu gostaria de esquecer ou deixar guardada num potinho em cima da escrivaninha.

— Amor… — por outro lado, eu desejo viver para sempre ao lado de minha amada esposa. me chamou, suavemente, e quando a vi entrando na sala eu me apaixonei novamente. — Oi, meu amorzinho — ela carregou nossa filha no colo e deu um beijo em sua bochecha rosada e grande. Nossa Sayuri é uma criança muito amada e, ainda bem, parecida com a mãe.
— Que bom que chegou — falei e beijei seus lábios num selinho demorado. — Como foi o trabalho? — questionei e comecei a massagear seus ombros. Estão bem tensos.
— Exaustivo! Porém, finalmente terminamos o projeto daquela casa que comentei com você, amor — é arquiteta e trabalha numa grande empresa do ramo de construção civil. Ela é muito boa no que faz.
— Que maravilha, amor! Estou orgulhoso de você! — sorri e lhe dei outro beijo.
— Obrigada, , é importante para mim o seu apoio.
— E você o terá sempre! — Sayuri, que já está no chão, voltou a brincar com sua boneca. Enquanto isso, a TV anunciou a notícia que eu mais temia.

"Interrompemos nosso jornal para um pronunciamento oficial: o Governo Federal acaba de anunciar que está declarada guerra ao país vizinho. O Governo informa também que todos os militares serão convocados e que se mais alguém quiser se voluntariar para participar do combate, deverá comparecer na sede do exército o mais breve possível. O Governo pede também para que as pessoas que não vão para guerra que fiquem em suas casas. A princípio, o Governo não informou sobre uma possível invasão ao nosso país, porém, garantiu que as fronteiras estarão seguras e vigiadas todo o tempo. Mais informações a qualquer momento."

Essa notícia fez meu coração se descompassar. Percebi que também ficou nervosa, ela se virou e olhou para mim, seus olhos tão marcantes me encararam transmitindo toda sua aflição. Ela me abraçou forte e eu enterrei meu rosto em seu pescoço. Sentir seu cheiro me acalmava, sempre. Mas, parece que dessa vez a tensão de uma guerra surgindo foi mais forte para me manter aflito.

[...]

Três meses de concentração.
É o tempo que estou aqui no batalhão, aguardando ordens para ir para o campo de batalha. Eu andava tranquilamente – modo de dizer – pelas espaçosas instalações do exército, quando ouvi uma voz ao longe me chamando.

— Tenente ! Tenente , por favor, espere! — um jovem recruta, que havia se voluntariado para guerra, corria em minha direção, parecia muito cansado pela corrida que deu. Eu parei e me virei para esperá-lo.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei assim que ele chegou próximo a mim.
— O tenente está chamando o senhor — respondeu ele, visivelmente cansado.
— E onde ele está?
— Na sala de reunião 4, senhor — respondeu mais uma vez e bateu continência para mim, fez uma postura orgulhosa. Ri internamente.
— Obrigado, soldado, pode descansar agora — falei e saí.

é meu melhor amigo e segundo-tenente do pelotão que comando.

— Demorou muito, , o recruta não correu o bastante para te avisar? — disse , assim que fechei a porta da sala de reunião onde estávamos.

Ah, me chamo , primeiro-tenente do principal batalhão do exército, ao seu dispor.

— Não deveria brincar desta forma com os recrutas, — repreendi ele e me sentei na cadeira a sua frente, pus minha boina, que faz parte do uniforme, em cima da mesa.
— É bom um pouco de diversão, — ele sorriu brincalhão.
— Estamos no meio de uma guerra política, . Aja como alguém de sua posição, por favor — tinha essa péssima mania de pregar peças nos recrutas.
— Me desculpa, . Prometo me comportar — ele fez uma cara de quem obviamente não iria parar de fazer essas brincadeiras. Me rendi e soltei uma risadinha abafada. — Lia me ligou hoje — ele disse, de repente, mudando a expressão para uma muito parecida com a que tinha agora.
— Como ela está? — Lia é a esposa do .
— Preocupada comigo — ele sorriu vaidoso e completou: — Está na casa dos pais ainda, é mais seguro porque é do outro lado do país. Fico menos preocupado. E a ? Tem falado com ela?
— Falei hoje, mais cedo. Também está preocupada comigo…
— Acho que você está mais preocupado com ela e com a Sayuri — comentou ele e eu não pude negar. Sorri fraco. — Ainda está com aquele mal pressentimento? — demorei um pouco mais de tempo encarando minha boina, só agora notei que minhas mãos tremiam só em pensar nesse fato.
— Sim — levantei o olhar para encarar . — A cada dia mais forte.
— Vai dar tudo certo, meu amigo — podia ser um inconsequente e imaturo às vezes, mas, também às vezes, ele tinha esse lado sensato que o faz o melhor amigo desse mundo. Sinto-me sortudo por tê-lo como amigo.
— Com licença, senhores tenentes — um outro recruta invadiu a sala aos berros.
— O que houve, recruta? — questionou .
— O capitão Matsumoto está chamando pelos senhores. É urgente! Houve um chamado do Governo, senhores. Um chamado para irmos para linha de frente de combate.

Tudo que eu queria. Um arrepio gélido percorreu meu corpo e eu me levantei, juntamente com , peguei minha boina e acompanhei o recruta até o local onde estava nosso capitão. O capitão Matsumoto foi meu mentor quando entrei no exército, anos atrás, tenho um respeito imenso por ele. É uma grande honra para mim ajudá-lo a comandar esse batalhão.
Enquanto o capitão Matsumoto dava as ordens para todos, um arrepio gélido percorreu a extensão de meu corpo. Desde cedo que venho sentindo isso. Tentei ignorar, mas estava cada vez mais frequente a sensação da perda. De que algo terrível aconteceria. Porém, devido às circunstâncias de guerra que vivemos, creio ser compreensível.

[...]

Meses depois…

— Me dá cobertura, recruta — falei para o rapaz próximo a mim. Estamos no meio de um combate intenso com a força inimiga. Estou agachado, próximo a uma das saídas da barreira que fizemos para que não avancem.
— Tenente , é melhor esperar, senhor — ele disse muito aflito. — O tenente disse que era para esperarmos.
— Não vou esperar mais, já está na hora de avançarmos. Se não vier comigo, não o culparia. Apenas proteja-se, ok? — levantei-me e arrumei minha arma numa boa posição para mira. Andei, sorrateiramente, até a saída e avancei atirando.

havia saído para a barreira à frente e não retornou. Me disse para esperar, porém ele está demorando demais. Logo notei que alguns soldados me davam cobertura, isso me deu margem para avançar em segurança até onde estava. Desci pelo buraco que fizemos para montar a barreira e logo perguntei por ele.

— Tenente , onde está ele?
— Mais à esquerda, senhor! — gritou um soldado. O barulho do intenso tiroteio e bombardeio pareceu incomodar muito o rapaz, pois ele fazia uma expressão de alguém com uma dor de cabeça muito forte. Avancei na direção onde me indicou, procurando pelo .
— Onde está você, seu idiota?! — disse para mim mesmo, começando a me irritar com a ausência dele.

Ele é extremamente cuidadoso quando se trata de seguir estratégias de guerra. Porém, o que me preocupava, era que a estratégia que o capitão Matsumoto sugeriu para que parte do nosso pelotão fizesse era de fato suicida. logo se ofereceu para comandar essa parte do plano e meu coração apertou, só pela longínqua possibilidade dele se ferir ou morrer. é meu melhor amigo, quase um irmão. Aliás, o meu irmão de sangue morre de ciúmes da minha relação com o . Não posso negar que são sentimentos diferentes, porém imensamente fortes.

! — finalmente encontrei ele, caído e com a mão na perna.
! O que faz aqui? Ainda não é o momento para você avançar — reclamou ele e gemeu em seguida, apertando o ferimento.
— Cale-se, . Você demorou para dar o sinal, sabia que estava com problemas. Deixe-me ver isso — tirei a mão dele do ferimento e pude ver o estrago que a bala fez em sua coxa. — Está perdendo muito sangue, tem que estancar rápido — puxei o lenço que ele carrega consigo e amarrei em volta de sua coxa. Ele gemeu bastante, reclamando que eu não tenho tato para ser médico. — Eu sou médico, . Pare de reclamar.

Sim, sou formado em medicina há sete anos e entrei para o exército na mesma época. Exerço minha profissão de médico, quando não estou em serviço militar, no hospital da minha família junto com meu irmão mais novo, que nunca quis ser militar. Eu gosto de unir minha paixão por medicina com o prazer que sinto em servir ao meu país. É gratificante.
Após concluir o curativo improvisado, usando gaze que sempre carrego comigo, no , eu empunhei minha arma novamente e me preparei para continuar o plano de ataque. queria levantar, mas eu obriguei um dos recrutas a vigiar ele para que não forçasse a perna. Espiei por cima da mureta e enxerguei a oportunidade de avançar e o fiz. Com rapidez, eu avancei junto com mais dois recrutas. Rápida também foi a sensação de que algo havia dado errado. Incrível como as coisas podem acontecer num piscar errado de olhos. Eu não vi quem atirou, só senti a dor eminente percorrer por mim. Por reflexo, eu soltei uma mão da minha arma e a pus de imediato no local que fui atingido. Logo senti o local aquecer e arder. Pude sentir a bala afundando mais e mais para dentro do meu corpo.
Caí no chão.

[...]

A visão da sorrindo sempre me acalmou, seja lá qual fosse a minha preocupação. Lembro-me com perfeição do dia em que meu irmão me apresentou ela. Eu não queria conhecer ninguém, estava tão focado em concluir meus estudos que não queria desviar minha atenção. Porém, quando vi a entrando pela porta do restaurante eu me apaixonei na hora. Foi instantânea a minha reação de sorrir ao ver o sorriso que ela trazia no rosto naquele dia. No mesmo instante, eu soube que era amor. E que era para sempre.
Nunca achei que fosse me deitar numa poça do meu próprio sangue. A sensação é angustiante. Estou sufocando, provavelmente porque minhas vias aéreas devem estar tomadas pelo meu sangue que corre desgovernado pelo meu interior. Meus olhos vidrados estavam fixos num ponto do céu azul e quase límpido. A imagem do sorriso da apareceu na minha frente e me fez sorrir e chorar. Minha Sayuri, tão pequena e inocente, amorosa. Eu entrei no exército para dar uma vida melhor para . Logo que concluí a faculdade, nós nos casamos e, há dois anos, ganhamos nossa Sayuri. É por elas que luto hoje. É por elas que luto todos os dias. E é por elas que eu quero viver. Mas está tão difícil respirar.

! !!!

continuava a gritar meu nome, faz alguns minutos e eu não conseguia responder. Na verdade, eu não consegui ver e ouvir mais nada agora, só tinha olhos e ouvidos para minhas garotas.
Eu queria ver o sorriso dela mais uma vez. O sorriso das minhas garotas. Só mais uma vez, Deus. Só peço isso.

[...]

Ajustar os broches que recebi pelas minhas conquistas uma última vez foi difícil. Mais do que imaginei. Me preparar para a guerra contra o inimigo pela última vez. Ver o sorriso da e sentir os beijos da Sayuri em minhas bochechas pela última vez foi difícil. Mais do que imaginei. Caminhei, a passos firmes para a glória. Fui como um soldado, um tenente já respeitado, e terminei como um herói. Meu ato de avançar ao inimigo surtiu num ataque ainda mais conciso dos meus comandados, que partiram junto comigo para cima do inimigo.
Saímos com a vitória.
Com o fim da guerra, finalmente pude voltar para casa. Infelizmente, não é da forma que eu queria voltar. Está sendo uma perda imensurável para . Sinto a dor dela. Oh, minha , me perdoe por não ter feito nada para mudar este triste fim.
Me perdoe, meu amor.

"Estamos aqui hoje para homenagear este incrível e imensurável homem, que nos deixou durante a guerra. Muitos nos deixaram, mas este homem foi um verdadeiro herói que morreu pelo seu batalhão. Para sua defesa. Este homem honrado, pai de família, um filho querido, um irmão amado, um líder respeitado. Quero falar, pessoalmente, que ele foi o meu herói. Você jamais será esquecido, meu amigo! Jamais!"

As palavras saíram fáceis e carregadas de sentimentos. Logo ouviu-se uma explosão de aplausos e o choro das pessoas presentes. No altar, via-se um quadro, rodeado com uma coroa de flores, que exibia a foto do capitão Matsumoto.

! — a voz de a me chamar pôde ser ouvida nitidamente por mim. Caminhei devagar até ele, ainda sinto dores por conta das cirurgias que fiz para retirada da bala que me atingiu. Eu quase morri. — Lindas palavras, meu amigo — ele disse à minha aproximação.
— Obrigado, .

Eu tentei sorrir, mas não consegui fazer tão bem. O capitão Matsumoto havia morrido por minha causa. Me contaram que ele havia entrado no campo de batalha, quando viu o meu avanço ao ir atrás do . Quando ele me viu atingido no chão, foi para linha de frente, desprotegido. Levou somente um tiro, direto na cabeça.

— Amor… — apareceu atrás de , tirando toda essa triste situação, ela está linda. O capitão Matsumoto era tio dela, aliás era o único parente vivo que ela tinha. Eu estou devastado com a morte dele, mas, com certeza não se compara com o que ela está sentindo. Ela me abraçou forte, sem me machucar por conta do curativo que tenho, e chorou baixinho.

Me afastei da e dei um selinho demorado. Me sentia responsável por sua dor agora, mesmo eu não tendo realmente culpa do ocorrido. Eu não sei o porquê de eu ter sobrevivido, só sei que estou grato. Imensamente grato pela segunda chance de continuar desfrutando da beleza da minha e da fofura e vivacidade da minha Sayuri. Minhas garotas que eu deposito todo o meu amor.
Hoje posso voltar à paz do meu lar.
Estou livre.

"Agora eu me encontro no meu próprio sangue
(Nunca pensei que deitaria em meu próprio sangue)
O dano feito está muito além do reparo
Eu nunca coloquei minha fé acima de tudo
(Nunca tive muita fé acima de tudo)
Mas agora, eu espero que alguém esteja aí
Estou livre"

Danger Line, Avenged Sevenfold


Fim



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Nota da autora: Fic nova com o meu bombom para comemorar o aniversário de 45 anos dele!! Parabéns, meu amor <3 Te amo!!!
22.04.2022








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