Autora: Emanuele Araújo
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Finalizada em: 01/07/2021
Capítulos: Epígrafe | I | II | III | IV | V | VI | VII | VIII | IX | X |






Você se lembra como nos conhecemos?
Eu lembro como se fosse ontem. Você sozinha naquela mesa de bar e eu, mesmo depois de estar totalmente chapado, ainda tentava decifrar aquele mistério escondido por detrás de um rosto tão angelical.
De certa forma eu queria não ter topado meus olhos em você e ter me encantado logo de cara.
É engraçado como as coisas podem mudar de uma hora para outra em questão de segundos. Como um simples bater de asas de uma borboleta em Sheffield pode causar um tornado na costa da Flórida.
Eu tenho pensado nisso ultimamente. E em como eu queria que tudo tivesse sido diferente.




— Alex, tem certeza de que não quer uma carona? Você parece cansado demais pra pegar um táxi. — Matthew me perguntou, sua voz e feições soaram preocupados. A palma de sua mão sobre minhas costas me traziam certo conforto por ter alguém ao meu lado em dias ruins.
— Tenho, Matt. — o tranquilizei, embora eu saiba que eu não tenho condições algumas de sair por aí no estado em que eu estou. — Eu aviso quando chegar em casa.

O som de meus passos pesados sobre a calçada eram a única coisa que se eram ouvidos naquela rua deserta. O vento gelado se chocando contra meu rosto não me obrigou a me encolher e esconder minha cabeça sob a gola de minha jaqueta e muito menos me fez entrar em alguma cabine telefônica e esperar pela oportunidade certa para continuar a caminhar.
A bebida que eu havia ingerido no bar uns vinte minutos atrás ainda permanecia quente em meu organismo, então eu me sentia seguro para continuar, até porque minha cabeça já não raciocinava direito.
Minha vasta e conturbada mente insistia em voltar a mergulhar nas lembranças de um ano atrás.




Você sabe, eu sempre fui péssimo com cantadas, mas reuni toda a coragem que eu não tinha para atravessar o bar e chegar até você.
Eu estava nervoso. Mas o meu consolo era saber que se eu passasse vergonha, você não se lembraria de mim porque também estava bêbada.
Meu coração disparou quando eu percebi que você acompanhava todos os meus passos até chegar em você.
Eu olhei para você assim que me sentei no banquinho vazio ao seu lado. Você também olhou para mim, seus olhos pareciam duas estrelas brilhando em meio à quase escuridão daquele bar.
Você estava tão linda, tão misteriosa, tão… você. Eu nunca me senti tão estranhamente atraído por uma mulher aleatória assim.

— Desculpe ser inconveniente, eu estou um pouco bêbado e provavelmente não me lembrarei disso, mas eu prometo que se você me disser seu nome agora, eu não vou me esquecer tão cedo. — falei, engrossando a voz e fazendo de tudo para não engolir nenhuma palavra ou soar estúpido demais.

E tudo melhorou quando você sorriu para mim.




— Não foi a melhor forma de abordagem, mas admito que foi criativa. — sua voz carregada de sotaque entrou como uma melodia extremamente agradável em meus ouvidos, sua boca parecia dançar ao envolver os lábios corados pelo batom vermelho na borda do copo onde continha sua bebida.

Meu corpo gelou no momento em que você curvou o seu corpo que parecia tão escultural para mais perto de mim, me analisando com aqueles olhos enigmáticos.

— Bro, a gente tem que ir. — senti Matthew me puxar pela gola da jaqueta sem qualquer aviso prévio, me tirando do banquinho e me fazendo ficar em pé.

Eu teria o xingado muito se você não estivesse ali.

— Um minuto. — pedi a ele e voltei a lhe encarar, eu não poderia sair dali sem ao menos saber seu nome. — Me chamo Alex, Alex Turner. — estendi a mão de forma tão estúpida que eu quis me socar por inteiro. Mas você foi compreensiva, e eu te agradeço muito por isso.

No momento em que sua mão tão delicada tocou a minha, eu senti como se estivesse tocando nas nuvens, cada célula do meu corpo entrou em êxtase quando você sorriu para mim mais uma vez ao enlaçar nossas mãos em um cumprimento formal.
Então você finalmente me disse seu nome.




Tivemos bons momentos a partir dali. Eu não demorei muito pra te encontrar de novo em uma cafeteria no sul da cidade, coincidentemente era a sua cafeteria preferida. E a minha também.
Eu me lembro de você dizer que gostava de cheiro de livros novos misturado ao aroma forte do café quente. Você soava tão entusiasmada ao contar sobre o que gostava de fazer que eu nem sequer tive coragem de dizer que você tinha um pouco de chantilly no cabelo.
Três dias depois eu já poderia dizer que eu estava completamente fisgado por você, como um peixe em uma rede que não tinha chance alguma de escapar. Eu sabia que estaria fodido totalmente se houvesse sequer algum vestígio de sentimento.
Mas eu devo dizer que fiquei feliz quando você me disse que era recíproco.
Uma pena não ter durado tanto.




Em meio às lembranças fatídicas que pareciam martelar minha cabeça a cada passo que dou, levantei meu olhar ao dobrar uma rua que agora estava relativamente movimentada por conta do pub Battleship na sub esquina.
E por um momento, ao encarar aqueles olhares fúteis e vazios que só estavam aguardando por um momento de diversão, eu achei que tinha te visto na fila para entrar no Battleship.
Mas era só alguém parecido. Muito parecido, por sinal.
Ela não era nada além de uma ilusão de ótica sob a luz de um aviso.
Ela estava perto, muito perto, o suficiente pra ser seu fantasma. Parecia ter os mesmos olhos, o mesmo rosto e a mesma curvatura corporal.
Direcionei meu corpo para ir até ela, meus pés agiam no automático a cada passo que eu dava e minha cabeça queria aceitar o fato de que era você.
Pronunciei de imediato o seu nome numa pergunta esperançosa, o coração acelerado a ponto de querer escapar de minha caixa torácica.
Ela me olhou, o semblante confuso e debochado ao mesmo tempo. Olhou para a amiga ao seu lado e negou com a cabeça.

— Acho que você se enganou, mas a gente pode se divertir um pouco, o que acha? — diz tocando meu ombro, o seu hálito quente cheirava a cigarro e vodka.

"O que você tá fazendo, Alexander? Saia logo daí."
Apenas neguei com a cabeça e segui meu caminho ao caminhar até o final da rua e dobrar na primeira esquina à esquerda.
E foi assim que as minhas chances se queimaram totalmente como um papel em meio ao fogo quando perguntei se podia chamá-la pelo seu nome.


VI


Não me lembro quantos passos dei até chegar em outra parte da cidade, recordo-me de cortar caminho por algumas ruas que hora ou outra estavam movimentadas.
Não que eu me importe com isso.
Novamente, como um trocadilho que minha cabeça perturbada me fazia cair sempre e sempre, pensei que tinha te visto no Rusty Hook, bem adiante, confortavelmente aconchegada numa cadeira feita de vime do lado de fora do estabelecimento.
Os fios de cabelo presos desajeitadamente com um grampo, o corpo coberto por uma camisa xadrez vermelha e um short jeans acompanhado de uma meia arrastão por toda a extensão das pernas.
Eu me aproximei para olhar mais de perto, ela observava minha aproximação e nada fez para me impedir.
Apenas sentei-me no braço da cadeira onde ela estava, troquei duas palavras e beijei quem quer que estivesse sentada ali.
Ela estava perto, tão perto que o calor de seu corpo me aqueceu quando ela me abraçou firmemente. Eu sentia falta daquela sensação. Eu queria que ela fosse você. Daria tudo por isso.
Até que perguntei de forma ridiculamente educada e que me fez me arrepender no mesmo segundo:

—Por favor, posso te chamar pelo nome dela?




Ao voltar a perambular sem rumo algum, optei por chamar um táxi. Nenhum deles parou para mim. Talvez não quisessem transportar um bêbado que só buscava encontrar a mulher amada em alguma esquina por aqui.
Um táxi parou para mim quando fiz um gesto com a mão. Abri a porta e entrei, sentando-me no banco traseiro, sentindo aquela quentura proveniente do aquecedor do carro misturado ao cheiro de hortelã do aromatizador pendurado no espelho retrovisor.

— Pra onde, amigo? — o taxista perguntou ao colocar um palito de dente entre a boca, o mordiscando levemente.
— High Green. — me limitei a responder, olhando para a janela e observando as gotículas de sereno que dançavam no ar. Encostei a cabeça no vidro gélido, sentindo os pelinhos de meu rosto se arrepiarem brevemente com o contato.
— Prefere ir por algum atalho? — a voz do taxista soou novamente enquanto ele me encarava pelo retrovisor pouco embaçado.
— Eu não tenho pressa, pode ir por onde quiser. — respondi, cruzando os braços à altura do peito e afundando mais o corpo contra o banco. Talvez eu quisesse sumir um pouco. Então guardei meus atalhos para mim mesmo.

E eu prolonguei minha carona até em casa, eu o deixei ir pelo caminho mais longo.
Tantos lugares foram varridos por meus olhos, mas nenhum deles está gravado em minha mente agora.
Puxei o cinto de segurança antes que o taxista falasse algo, e minha mente entrou em transe quando puxei fortemente o ar para meus pulmões, sentindo aquele doce cheiro familiar.
Era o seu perfume. Eu senti seu cheiro no cinto de segurança, até aqui me persegues?




Em certo ponto, quando os zeros haviam se alinhado no meu relógio de pulso, eu pensei que tinha te visto no Parrot's Beak, mexendo no alarme de incêndio.
— Pode parar aqui, por favor? — questionei o taxista, sem tirar os olhos daquela figura feminina há alguns metros de onde eu estava.

Ele não retrucou, e eu apenas lhe paguei pela corrida e desci do veículo.
O som vindo de dentro do local estava alto demais pra eu ouvi-la falar, mas eu podia deduzir que ela estava esbravejando alguns palavrões.
Ela tinha um braço quebrado, o gesso quase como um gibi carregado de assinaturas e ilustrações por toda a extensão dele.
Ela estava perto, tão perto que as paredes estavam molhadas. Eu poderia imaginar que no estado em que eu estava, não demoraria muito para irmos para outro local mais reservado.

— Hey… — a chamei, me encostando no pilar de concreto que sustentava a varanda acima de nós.

Eu não lembro bem o que falei com ela, eu estava concentrado em pensar que ela era você.

— Foi mal, gatinho. Mas… — ela disse em certo ponto, mascando o chiclete que provavelmente já estaria sem gosto enquanto ela escreveu com o Letraset em mãos: "Não, você não pode me chamar pelo nome dela."




Me diga o lugar onde você se esconde. Eu já não sei mais o que é suposto fazer pra te encontrar.
Estou preocupado em acabar esquecendo seu rosto, suas feições, a sua voz, o seu jeito.
E eu perguntei pra todo mundo, ninguém sabe me dizer. Você simplesmente desapareceu da minha vida do mesmo jeito até entrou. Do nada, me deixando um vazio enorme.
Eu costumava ter o seu número de telefone na minha agenda, mas é como se fosse apenas o número de alguém que eu costumava conhecer. Todas as minhas ligações caem na caixa postal, e eu já perdi as contas de quantas mensagens já pensei em te enviar.
Sabe, eu tenho medo de estar louco. Eu honestamente estou começando a achar que te imaginei esse tempo todo.




Eu já não sabia onde eu estava. Meus pés cansados apenas carregavam meu corpo para mais adiante, minha cabeça agora doía e meus olhos estavam marejados demais a ponto de deixar minha visão turva.
Eu estava agora em outro ponto da cidade, talvez eu estivesse perto da minha casa, não sei. A rua me parecia familiar, mas eu não estava certo.
Eu vi sua irmã na esquina, ou pelo menos eu achei que fosse. Era tão parecida com você. Parecida a ponto de me fazer parar no meio da rua e me fazer pensar no próximo passo.
Ela estava ao telefone, talvez com o mediador. A voz dela era calma, não parecia irritada. O pé direito batia levemente contra o asfalto enquanto o corpo coberto com poucas peças de pano sob um sobretudo bege estava encostado no poste do telefone público.
Quando vi que ela estava sozinha, eu pensei que ela iria entender. Eu esperava que ela me entendesse. Ela estava perto, bom, não dava pra chegar mais perto. Ela finalizou o telefonema, colocando o telefone no gancho e me olhou.
Eu não sei ao certo o que dizer. Eu só gostaria de te ter comigo uma única noite mais uma vez. Mesmo que eu tenha certeza de que você não estava lá. Mas eu queria que estivesse.
O meu olhar talvez desesperado para ela lhe fez olhar para os lados e pousar a mão em meu rosto. Seu toque era tão sutil, me fez fechar os olhos e idealizar que era você ali comigo, me confortando e me dizendo que ficaria tudo bem.
Meu coração equivocado se sentiu um pouco melhor e por um momento eu pensei que minha vida estaria completa quando ela me disse com a voz suave e um sorriso triste no rosto:

— Eu realmente não deveria… mas, sim, você pode me chamar do que você quiser.


Fim.



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Nota da autora: Obrigada por terem lido, espero que tenham gostado e até a próxima!


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