Um sinal sonoro, como o de uma orquestra de saxofones me acordou. O maior susto que tomei na vida! Abri os olhos e percebi meu corpo deitado no chão. Olhei o teto branco e virei a cabeça para o lado. Havia um espelho, que só notei ser um espelho porque me refletia. Eu não me lembro de ter vindo parar aqui. O que está havendo?
[✨]
Levantei devagar e tentei entender o que está havendo e, principalmente, onde eu estou. Parece ser um quarto quase todo branco, a não ser pelo chão que é laranja. Tem um microfone pendurado pelo fio bem ao centro. Agachei em um dos cantos para ver se enxergava algo do outro lado, mas uma grave voz me deu outro susto.
— ATENÇÃO!! AFASTE-SE DA PAREDE!
De imediato, me afastei da parede e ouvi um grito vindo da parede onde eu estava encostado.
— ? — questionei a mim mesmo. Posso jurar que é a voz do meu irmão. — ! — gritei por ele e pude ouvir sua voz responder ao longe.
— ! Ahh, cara, você está bem? — perguntou ele.
— Sim! E você? O que está havendo, irmão? — meu coração acelerou, angustiado.
— Eu não sei! Acho que e os outros estão aqui também, ouvi a voz deles…
— SILÊNCIO! — a voz grave voltou a ordenar e, então, nos calamos. — Vamos iniciar as provas!
— Espera! Diz pelo menos onde estamos e porque nos trouxeram aqui! — ouvi a voz de berrar.
— Está bem… — a voz disse, suspirando em irritação e prosseguiu: — Vocês estão na gravação de um novo programa de TV onde bandas irão disputar para ver quem conseguirá o grande prêmio em dinheiro no final.
— Mas que…
— E terão que merecer ganhar, portanto, terão que realizar algumas provas...
A tal voz começou a explicar algumas coisas sobre como irão funcionar as provas. Aparentemente, meus companheiros de banda estão em cubos iguais a este onde estou. Digo "cubos", pois foi assim que a voz nomeou.
Logo as provas começaram, algumas eram fáceis. Como, por exemplo, cantar uma canção de qualquer banda (menos a minha) em apenas um minuto. tirou isso de letra. Pelo menos um de nós tinha que cumprir as provas e assim estaríamos na próxima fase. Infelizmente, as provas não eram sempre tão fáceis assim.
[✨]
Eu não sei de onde eles tiraram que seria divertido colocar membros de bandas famosas para realizar provas em busca de um prêmio. Meu Deus! Estou em looping numa mesma prova. Alguém me socorre!? Eles inventaram que seria ótimo colocar o chão onde pisamos para andar, como uma esteira. Agora eu estou aqui, tentando me equilibrar enquanto toco guitarra. Como que eu me concentro nas notas se preciso me concentrar em ficar em pé?
— -chan!? — ouvi uma voz feminina me chamar, quase sussurrante. Olhei em volta e não vi nada. — -chan! Aqui, rápido… — eu andava, tocava e olhava para os lados, desesperado em achar a origem daquela voz.
— Onde? — sussurrei e ouvi um estalo vindo atrás de mim, como se fosse algo sendo esticado e solto de uma vez. Vi uma brecha entre o chão andante e a parede.
— Pisa nessa parte e finge estar andando. As regras não dizem que você não pode ficar aqui no fundo. Anda, rápido! — a voz sussurrou, me apressando.
Pensei em não ir, poderia ser uma pegadinha dos organizadores para ferrar com minha banda. me odiaria por isso. Porém, me arrisquei, estava realmente difícil tocar e andar ao mesmo tempo. Ainda tenho mais cinco minutos de música e minhas pernas já estão trêmulas. Disfarçadamente, fui andando para trás até o local indicado pelo braço magro que vi se esticar pela fresta aberta. Ao pisar no local, logo notei que o chão realmente não se mexia. Quase gritei de felicidade, empolgado eu fingi estar andando na esteira e toquei com mais vigor. Nessa prova, quanto mais notas eu tocava mais pontos eu conseguia e mais o "musicrômetro", como eles chamam, subia. E o da minha cabine estava quase no topo.
— Parabéns participante , da cabine 7! Você foi o vencedor! — a voz grave anunciou e eu pude ouvir alguns lamentos, mas também ouvi a voz de comemorando.
— TE AMO, MEU IRMÃO! — ele nunca foi tão carinhoso comigo. Chega a ser irônico.
Na última fase, juntaram a banda e pude ver o quão cansado meu irmão estava. Brinquei que ele envelheceu mais cinco anos só nessas horas que estamos aqui. Aparentemente, somos a única banda que sobrou. Mas, obviamente que vencer o programa não seria tão simples.
— A última prova será simples: vocês terão apenas que sobreviver. Boa sorte!
Dizendo apenas isso, nós fomos encaminhados até um local que me pareceu ser um galpão, onde tinha um enorme circuito cheio de obstáculos. Esse programa está, a cada minuto, mais complicado. Todos da banda começamos a passar pelos obstáculos. Um deles consistia em andar por uma passarela inflável cheia de sabão e água. As chances de isso dar errado são enormes… e deram.
— ! — havia escorregado e caído na piscina de bolinhas que tem embaixo da ponte.
— Continua! Continua, ! — gritou , a regra dizia que apenas um de nós teria que conseguir chegar ao final.
Durante o percurso, apenas eu e meu irmão estávamos na disputa. Porém, logo foi vencido pela parte do circuito que tinham braços mecânicos que, literalmente, esmurravam as pessoas. Definitivamente, esses programas deveriam ser proibidos no país! Isso não é entretenimento. Pude ouvir o choro de após cair. Com certeza deve ter doído. Passei pelo mesmo lugar dos braços mecânicos e quase levei um murro gigante nas pernas. Me esquivando, eu corri até o último estágio do circuito. Meus amigos gritavam para me incentivar, mas eu já estava cansado. Mal sentia minhas pernas. Eu só queria desistir dessa merda toda e ir para casa. Eu nem queria estar aqui, maldita hora que aceitamos a proposta misteriosa do nosso empresário.
— ! !
A voz.
Aquela mesma voz feminina que me ajudou quando eu ainda estava naquele maldito cubo (já estou com saudades dele) chamou meu nome. Pendurado numa corda, encostei o rosto na parede que eu escalava e virei a cabeça para tentar ver ela. E eu consegui.
— Wow! — sussurrei para mim mesmo ao bater o olhar nela. A moça estava ao lado de meu irmão e gritava, torcendo por mim.
— Você consegue, ! Eu confio em você! Você consegue! — gritou ela desesperada. — Você consegue, ! Eu te amo — a última frase ela falou em tom sussurrante, mas eu pude ler perfeitamente seus lábios.
— Vamos, meu irmão! Você consegue! — gritou e eu pude ver a moça se emocionar e deixar cair algumas lágrimas.
Tirando forças das palavras dela, eu me esforcei mais, impulsionei com todas as forças que reuni e fui subindo a corda, tentando não cair. Finalmente consegui chegar ao topo e de lá, me joguei para o outro lado e atravessei a faixa, finalizando o circuito do inferno.
Gritos de euforia estouraram e um alerta sonoro indicava o fim da prova e a consagração de minha vitória, da nossa vitória. Meus companheiros de banda correram e me abraçaram, eufóricos. Entre eles eu pude identificar uma pessoa que não era da banda. Tentei me aproximar, mas logo ela foi chamada por outro cara e se afastou.
— Você foi incrível, cara! — disse , me abraçando.
— Obrigado! Tive uma ajuda — sussurrei para ele e os outros ouviram.
— Aquela mulher, você conhece? — perguntou e todos me olharam atentos.
— Nunca vi na minha vida, mas gostaria de conhecer melhor ela. — falei num tom interessado.
— Ih, não vai desistir enquanto não falar com ela, né? — me encarou sorrindo.
— Você me conhece…
Um dos produtores do programa nos interrompeu e nos convidou para conhecer o diretor do programa. Ficamos aguardando numa grande sala climatizada, nos deram comida e algumas bebidas. Com a fome e sede que estou, consumiria tudo. De repente, a porta se abre e um homem alto e bem vestido entra acompanhado dela. Ah, sim, é ela. Meu olhar agora só pertence a ela, não consigo nem prestar atenção no que o diretor está falando.
— … e essa aqui é a nossa produtora executiva, a senhorita , mas podem chamá-la de . — essa foi a única parte que me interessou. O bom é que eu não ouvi "senhora"...
— Prazer em conhecer a senhorita! — disse, em nome do grupo e curvamos em cumprimento.
O diretor ficou lá conversando sobre nosso desempenho durante a competição idiota que eles nos meteram, principalmente sobre a minha performace nas provas. Após nos alugar bastante com seu falatório, finalmente o diretor nos convidou a brindar a nossa vitória. Aproveitei a distração criada por que fingiu interesse em como o programa foi idealizado e me aproximei da moça, ela estava sozinha pegando um doce para comer.
— Com licença, podemos conversar um minuto? — perguntei a ela e me senti uma criança quando quer pedir algo aos pais. me olhou de cima a baixo e pareceu assustada. — Desculpe, não queria te incomodar.
— Espera! — ela segurou meu braço e nossos olhares se cruzaram. Foi a troca de olhar mais intensa que tive com uma mulher na vida. Nem para minha mãe eu consigo sustentar tanto tempo o meu olhar. — -chan…
— Eu li seus lábios naquela hora... — falei num impulso, me arrependendo de ter dito no segundo seguinte. Agora que eu já disse, resolvi completar meu pensamento — Eu… bom, você me ajudou muito hoje. Obrigado. — senti que a respiração dela se alterou, ela ainda segurava meu braço e eu fiz questão de não alertar nada.
— Eu fiz isso porque queria que vocês ganhassem. Vocês merecem o prêmio. Não que as outras bandas não merecessem, mas… bom, eu faria de novo, mas peço que não comente com ninguém sobre isso ou…
— Eu posso ter comentado com meus companheiros… — interrompi ela e falei super sem jeito. Ela me olhou com uma expressão de lamento e suspirou.
— Tudo bem, -chan. — ela sorriu.
— … — dessa vez, eu segurei sua mão e logo notei que estava fria. — Eu sei o que você disse para mim naquela hora. — tentei deixar claro, de maneira não tão explícita assim, que eu vi que ela se declarou para mim.
— E-Eu, …
— Você já me conhecia antes, não é? — apenas afirmou com a cabeça. — Eu posso conhecer você melhor? — o olhar dela, que até então estava fixo em algum ponto da mesa, levantou para me olhar. — Sinto muito por não retribuir ainda o seu sentimento, mas… creio que possamos criar uma relação boa, né? — sorri para ela que confirmou novamente com um jeito de cabeça.
— Você quer…
— Vamos começar do começo, ok?
— OK. — ela riu e soltou minha mão — Sou a , mas pode me chamar de . Prazer — ela estendeu a mão para mim e eu a segurei.
— Prazer, . Me chamo , mas pode me chamar do que você quiser. — rimos com meu comentário e engatamos uma longa conversa.
é uma pessoa incrível. A melhor coisa que fiz foi concordar em participar desse programa maluco, só pelo fato de ter conhecido essa mulher maravilhosa. Ela me contou, numa conversa que tivemos em um restaurante, que é muito fã da banda e deu a ideia de nos convidarem para participar do game. Me disse também que só me ajudou na hora que eu estava tocando sozinho e andando naquela maldita esteira, porque os outros da banda tinham saído da disputa e eu precisava ganhar. E ela não queria que nós perdêssemos assim.
Agradeço aos céus, não só por isso, mas por ter colocado a em minha vida. Graças a ela, pude conhecer um lado meu que não sabia que tinha: o lado pai. Nosso filho hoje está com 5 anos e é a coisa mais preciosa que ela me deu. Sem contar, claro, o amor que ela me dá todos os dias e que eu rapidamente retribuí, acho que dou até mais do que recebo.
"Enquanto estou confuso, enquanto estou com problemas, enquanto estou me lamentando,
deveria me decidir
Com aquela única palavra que você me deu, minha indecisão desaparece
Uma luz brilhou em meu quarto, que parecia vazio"
Colors, FLOW
Fim.
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Nota da autora: Essa fic eu dedico todinha a Ana Paula Ammon, por ter me dado a ideia para ela! Obrigada, amiga! ❤️
Amo muito esse clipe e essa música, nem se fala.
Espero que tenham gostado!