Flashback - 02 de Julho de 2003. Escola Preparatória Brownstone.
Ser o aluno novo sempre foi pra mim a coisa mais entediante e absurda do mundo todo. Se levar em consideração que eu já mudei de escola pelo menos três vezes em apenas dois anos, isso acaba se tornando algo odioso para um adolescente de quinze anos. Essa era a condição de ser filho de um pai militar, ou seja, meu pai estava a cada ano em um lugar diferente e como meus pais eram separados, eu acompanhava meu pai onde ele fosse. Isso sempre me deixou bastante ansioso, mas pelo menos, para minha sorte, a matemática era a mesma, não importava onde eu estivesse. Fosse na China ou no Brasil, os números sempre seriam os números.
Os corredores da escola Brownstone estavam praticamente vazios quando eu cheguei para o meu primeiro dia e levando em conta que se tratava de uma cidade do interior, a escola era até grande demais. Pela minha rápida percepção, eu pude contar pelo menos uns quatro andares, fora as quadras de esportes e o ginásio na parte traseira do terreno. A fachada era enorme e escrita em letras antigas, mostrando assim, que se tratava de uma escola bem antiga e tradicional, exatamente como eram as escolas militares.
Eu, por outro lado, dispensaria facilmente as quadras de esportes e o ginásio, contanto que naquela escola antiquada e quase sem graça existisse um clube de matemática. Pelo menos, na minha antiga escola tinha e eu fiquei muito feliz por isso. Pois foi assim, que eu consegui passar pelo último ano sem me aborrecer com nada e sendo o melhor aluno da escola inteira. No fundo, só iria precisar mesmo da matemática e eu estaria completo.
Meu roteiro de aluno transferido, pré estabelecido pela diretora Mackenzie, era composto por tópicos e algumas orientações que eu deveria seguir à risca no tempo que fosse estudar na sua instituição. Claro que pela profissão do meu pai, eu não passaria mais de seis meses naquela escola. Com sorte, talvez eu completasse um ano, mas ainda era muito cedo para ter certeza de alguma coisa. Então, mesmo achando aquilo completamente desnecessário, eu segurei o folheto entre meus dedos e caminhei até a sala da orientação, onde a senhorita Simpson, a orientadora educacional já estava me esperando.
— Bom dia, senhor ! Seja bem-vindo à Escola Preparatória de Brownstone. Eu sou a senhora Simpson e serei a sua orientadora no dia hoje. Preparado para ingressar em nossa instituição? — A velha senhora, que vestia um terninho bem alinhado e óculos ovais, se apresentou. Caminhando até mim, ela me guiou para dentro de sua pequena sala.
— Não muito, nunca é fácil ser o aluno novo e transferido. — Confessei me sentando na cadeira disponível à frente de sua mesa. — Porém farei de tudo para tentar me adaptar rapidamente, outra vez. — Entreguei a ela minha ficha escolar e me recostei na cadeira dura e desconfortável.
— Tenho certeza que o senhor irá conseguir. Nossa escola tem um dos melhores programas escolares do estado. E nós do corpo docente, estaremos sempre a sua disposição, para garantir que o senhor tenha o melhor ano escolar possível. — A senhora Simpson abaixou os óculos e sorriu para mim da maneira mais cordial que conseguia.
— Uma pergunta. Por acaso, vocês têm algum programa que envolva um clube de matemática? — Perguntei a ela enquanto olhava os porta-retratos em sua mesa.
— Temos sim, o oitavo ano, tem um ótimo programa de estudos que envolve química, física e matemática. O grupo é coordenado pelo professor Nathan Williams e você pode o procurar quando achar necessário. — Ela respondeu e me entregou a minha ficha escolar, devidamente preenchida e assinada.
— Bom saber, obrigado pela informação. — Agradeci.
— Para o seu primeiro dia, eu separei um tour bem interessante e necessário pela nossa instituição e quem irá guiá-lo nesse dia, é uma de nossas melhores alunas. Só um minuto — Ela apontou para mim com o dedo. Em seguida, tirou o telefone vermelho do gancho e ligou para alguém na secretaria. — Por favor, Annie, diga para a senhorita entrar.
— Pois não, senhora Simpson, em que posso ajudar? — Escutei uma voz doce ecoar em meus ouvidos.
— Temos um aluno novo e como tradição nessa instituição, ele precisa realizar o tour pelas dependências. Bem como a apresentação do nosso programa escolar. — Senhora Simpson ergueu seus olhos em direção a menina que estava parada atrás de mim.
— Ah sim, claro. Pode deixar comigo, Dolly. Tenho certeza que eu e o senhor , iremos nos dar muito bem. — De canto de olho eu vi a menina parada atrás de mim. Sorridente e inquieta, mas que parecia estar bem familiarizada com tours e alunos novos.
— Muito obrigada, mais uma vez, . Sem a diretora Mackenzie, nós estamos atolados de trabalho e eu, infelizmente, não tenho como acompanhar o senhor nesse tour. — A orientadora, que agora eu descobri que se chamava Dolly Simpson ergueu seu olhar para a tal , que sorriu um pouco sem graça.
— Eu sou a presidente do grêmio estudantil, Dolly. É praticamente meu dever orientar os alunos novos. — Bingo! Mas algo soava estranho, aquela menina era tudo, menos presidente do grêmio de uma escola tão tradicional e antiquada.
— Me lembre de citar isso no memorando do mês que vem. Todos precisam saber o quanto você é necessária para essa escola. — Dolly Simpson bateu alguns papéis em sua enorme mesa de mármore e me olhou, como se estivesse me dizendo que nossa reunião já tinha acabado.
— Já podemos ir, eu acho. — Passei rapidamente por enquanto caminhava em direção ao corredor. — Ela parece estar bem impaciente. — Sussurrei ao perceber que a senhora Simpson já tinha notado a minha saída de sua sala.
— A Dolly tem mesmo essa cara fechada e carrancuda, mas ela é uma ótima orientadora. Só estamos bem atoladas nesses últimos meses. — Percebi um sorriso maroto em assim que a mesma fechou a porta da sala da orientadora.
— Deixe-me me apresentar direito. Eu me chamo . — Estiquei minha mão em sua direção. — Eu vim transferido de Massachusetts.
— Prazer em te conhecer, . Eu me chamo , mas pode me chamar de . Sou aluna daqui desde o segundo ano. — Ela segurou minha mão e no mesmo instante nossos olhares se encontraram.
— Bom, já que você é mesmo a presidente do grêmio, acho que estou em boas mãos, afinal. E a senhora Simpson vai ter a garantia de que esse roteiro vai ser cumprido. — Ajeitei minha mochila nas costas e apontei o tal folheto em sua direção, o que fez torcer o nariz.
— Eh… não! Você não vai se adaptar com esse monte de baboseiras sobre comportamento, regras e etc. Pra você conhecer e aprender sobre essa escola, tem que ser de outra forma. — pegou o folheto de minhas mãos e rindo daquilo ela o jogou na lixeira à nossa frente.
— Ok, tá certo! Você que manda… — Divaguei nas palavras sentindo ela me puxar pelas mãos até o corredor principal. — Para onde vamos, afinal? — Perguntei a ela, assim que paramos no meio do corredor e eu percebi que estávamos sozinhos.
— Se é pra você se familiarizar com esse colégio estúpido e antiquado, você deve saber o que realmente vale a pena conhecer e o que é preciso conhecer. — Com as mãos na cintura, olhava atenta para o vidro no teto acima de nós, como se procurasse alguma coisa.
— O que é que você tá procurando no teto? — Questionei enquanto imitava seu jeito e olhava para cima, sem entender nada.
— Agora já são exatamente onze horas da manhã e isso significa que o laboratório de química está fechado para os professores e alunos. Mas como eu tenho a chave, nada nessa escola fica fechado pra mim depois do horário. — me olhou desorientado e balançou o molho de chaves na frente do meu rosto.
— Como você sabe que já são onze horas da manhã? Descobriu isso no vidro do teto? — Virei meu rosto em sua direção e arquei minha sobrancelha para aquele acontecimento.
— Na verdade. — Ela ponderou alguns segundos me olhando. — Isso é um segredo meu, eu aprendi a contar as horas no vidro do teto quando eu estava no quinto ano. — Ela balançou os ombros enquanto me contava sua lembrança secreta. — Pois, eu não sei se você já percebeu, mas nós não podemos ter relógio próprio nesse lugar. Os únicos relógios que temos, ficam na sala da diretora Mackenzie e na sala dos professores.
— Eu percebi isso, mas não dei toda a atenção necessária. — Balancei os ombros para ela, mostrando que a falta de relógios não me importavam nem um pouco. — Eu odeio o tempo, de qualquer forma. Tempo é algo bem relativo em minha vida e para mim, às vezes, um minuto é uma vida e uma hora não é nada. Você não entenderia. — Sorri virando a cabeça na direção contrária.
— Acho que eu entendo sim, . Brownstone é uma escola tradicional e elitista. Além de ser uma escola militar, ou seja, mais da metade dos alunos aqui são de famílias como a sua. Então, vai por mim, eu te conheço, nem que seja um pouco — se pôs em minha frente e tentou me fazer olhar para ela enquanto sua doce voz falava sobre a minha vida.
Por um instante, eu me peguei observando aquela menina na minha frente e nem de longe, ela parecia com uma líder de torcida. Fato esse, que eu consegui perceber por conta da pulseirinha do time da escola em seu pulso esquerdo e a blusa que ela usava por baixo da jaqueta de veludo verde, a qual era do time de líderes de torcidas. Eu sempre achei que líderes de torcidas eram meninas desgostosas com a vida, com algum problema de baixo auto-estima e bulímicas. Mas, pelo visto, quebrava todos os paradigmas que rondavam essa atividade há anos. Com sua expressão calma e olhos que mais pareciam duas bolas oceânicas, ela possuía um sorriso de quem não precisava se preocupar com nada, além de ser linda demais para ser apenas uma líder de torcida, egocêntrica, egoísta e auto afirmativa. Poucos minutos ao lado dela e eu já conseguia me sentir bem recebido em uma escola nova, coisa que não acontecia há anos. Com ela, eu pude sentir que aquele seria um ano diferente e que eu poderia começar a gostar de fato das pessoas daquela escola.
Naquele momento, por um breve instante, eu cogitei até deixar o clube de matemática de lado. Eu poderia facilmente prestar minha atenção somente em que nada mais iria parecer interessante ou merecedor de meus cuidados, além dela.
— Onde nós vamos mesmo? — Olhei em direção ao seu rosto que observava atentamente algo mais além no corredor.
— No laboratório de química. Estou apenas cuidando para que não haja ninguém nos corredores que possa pegar a gente no flagra. — Um sorriso bem sapeca se formou em seus lábios e eu também não pude deixar de sorrir.
— Estou começando a ficar com medo disso tudo! A orientadora sabe que você apronta essas coisas? — Juntei minhas sobrancelhas e a questionei enquanto caminhávamos lado a lado pelo corredor.
— Tenho quase certeza que a orientadora Simpson não liga pra nada do que eu faça. A não ser que isso favoreça ela. — juntou as mãos, virou-se de frente para mim e respondeu.
— Hm, entendi. Ela parecia gostar bastante de você. — Fiz menção a conversa de mais cedo e ela balançou a cabeça.
— Saiba de uma coisa, bem importante, . Nessa escola, as pessoas apenas fingem estar preocupadas umas com as outras. Principalmente os orientadores e os professores. — Escutei sua observação e em seguida suas mãos sapecas abriram a porta do laboratório de química.
— Vou tomar bastante cuidado com você então, já que está falando. — Passei por ela e balançando os ombros eu larguei minha mochila na primeira bancada perto da porta.
— Eu se fosse você, tomaria cuidado mesmo! Você corre grandes riscos, , riscos de gostar de mim mais do que deve e isso pode ser perigoso. — sorriu arqueando a sobrancelha esquerda enquanto fechava a porta.
— Então tá, tanto faz mesmo! — Desdenhando sua afirmação eu caminhei até uns tubos de ensaios que estavam postos no meio da bancada.
— Eu to brincando , em partes. Comigo você não precisa se preocupar, porque quando eu me importo eu me importo de verdade. Já as outras pessoas daqui, eu não posso garantir — Sylar caminhou até mim com passos despreocupados e um sorriso encantador no rosto.
Ela parecia mais um anjo caído do que uma aluna daquele colégio e naquele momento, eu cogitei estar sonhando ou algo assim. Ela parecia linda demais para ser de verdade e para querer ser minha amiga.
O laboratório estava completamente vazio e apenas alguns materiais que pareciam ser da última aula permaneciam sobre as bancadas. Eu tinha quase certeza que aquilo não acabaria bem, mas eu estava pronto para uma possível detenção, desde que também fosse comigo. Eu só tinha quinze anos, era o aluno transferido e que bem provavelmente levaria toda culpa caso alguém viesse descobrir o que tínhamos feito, mas algo nela não me deixava com medo. Algo nela me acalmava, o que era bem estranho, já que tínhamos nos conhecido não fazia nem duas horas. tinha algo em seu olhar que era capaz de controlar tudo e qualquer coisa. Especialmente a mim, que naquele momento, não conseguia pensar em consequência de atos rebeldes e sim, em ficar perto dela.
— Agora que estamos aqui, o que vamos fazer? Tem algo em mente? — Observando ela mexer nos tubos de ensaio eu a questionei.
— Algumas ideias, na verdade. Mas, acho que você não iria topar. — Ela disse e sentou-se sobre a bancada, me encarando.
— Tô até com medo de perguntar, mas vamos lá, pode falar. — Me sentei na bancada do outro lado e fiquei de frente para ela.
— Cara, não! Não acredito que você pensou que eu te trouxe aqui para transar! — respondeu sugestionando meu sorriso para ela.
— Nessa você me pegou! Agora falando sério, o que você quer fazer aqui? — Apontei para a sala vazia e tentei achar algo interessante que pudesse ser feito.
— Podemos fazer uma bomba! — Ela levou a mão ao queixo de forma pensativa. — Seria uma ideia excelente e divertida, não acha? — Ela completou.
— Deus, , não! Acho melhor então, a gente transar. Eu tenho quase certeza que fazer uma bomba é ilegal, além de muito assustador. — Apontei para ela que desatou a rir.
— Bingo! Te peguei mais uma vez, pontos para mim! — Sua risada era alegre e contagiante. — Agora, sério, vem aqui! Quero te mostrar o real significado de eu amar tanto essa sala. — Rapidamente, vi se esgueirar para perto da janela, se sentando no parapeito.
A janela em questão ficava na parte de trás da sala e dava uma visão direta do jardim privado que tinha na escola. Segundo , aquela era uma parte não permitida aos alunos, mas que de onde a gente estava, era possível ver todo o jardim e uma parte da pista de atletismo. Realmente, era uma visão maravilhosa e eu me senti bem em saber, que mesmo sem me conhecer direito, estava compartilhando seus lugares especiais.
Eu me acomodei ao seu lado e percebi o quanto seus olhos brilhavam enquanto ela olhava para o lado de fora. estava mesmo concertada em admirar a paisagem, enquanto se encostava na lateral e abraçava os joelhos. Algo dizia, dentro do meu coração, que estava precisando conversar e talvez estivesse precisando de amigos. Naquele breve instante, eu percebi que seríamos grandes amigos e que tínhamos acabado de criar um universo apenas nosso. Impenetrável, exclusivo e escondido do mundo exterior.
— Algo me diz, , que você está precisando desabafar sobre alguma coisa. — Me aproximei bem devagar dela e coloquei minha mão sobre seu joelho.
— É tudo tão cansativo, sabe? Ser a aluna perfeita, a filha perfeita, a aluna mais inteligente e que não sente nada...— disparou e então seus olhos escureceram.
— Oh! Eu achei que líderes de torcida não tinham tempo para falar sobre seus sentimentos! — Ironizei meu comentário e ela me olhou seriamente.
— Eu não sei porque, mas tem algo em você que me faz ficar confortável. E você tem feito um julgamento bem errado de mim. — tombou sua cabeça para o lado e tentou engolir o nervosismo.
— Desculpa, vou tentar não ser tão julgador assim. — Segurei sua mão. — Mas, pelo menos você sabe um defeito meu, eu julgo muito as coisas sem antes conhecer.
— Eu não te culpo. Ser filho de pai militar deve ser ruim e deve te afetar bastante na hora de conhecer alguém. — segurou minha mão também e tentou sorrir novamente.
— Que tal, por agora, a gente não falar mais nada e apenas apreciar a vista? — Sugeri a ela que pareceu ficar feliz com isso e apoiou a cabeça em meu ombro.
Nada mais foi dito nas horas que se seguiram depois daquele momento, não eram preciso palavras para expressar o que estava acontecendo. Éramos duas almas que se encontraram em meio ao caos que eram nossas vidas. E não foi preciso muito mais que isso para que nossa amizade repentina virasse algo forte e atemporal.
Ficar naquela sala, sem ter que me preocupar com meu futuro, era a única coisa com a qual eu estava me importando. Mas, como nem tudo eram flores, uma hora aquele sonho teria de acabar e a gente teria de sair dali para encarar o mundo que nos esperava pelos corredores daquela escola estúpida.
— Eu não acredito que isso tá mesmo acontecendo! — Escutei esbravejar assim que ela se aproximou da porta do laboratório.
— O que aconteceu? — Perguntei e fiquei olhando ela bater os pés no chão enquanto bufava de raiva.
— Eu me esqueci que não podia bater a porta. A sala tem um sensor que tranca a porta automaticamente pelo lado de fora. — Juntei as sobrancelhas e comecei a rir quando tentou empurrar a porta com seu corpo.
— Você não vai conseguir abrir a porta desse jeito e vai se machucar. — Falei para ela que se afastou impaciente.
— E qual a sua sugestão, hein? Porque eu não consegui ver nenhuma? — Seu tom era impaciente, mas eu só conseguia rir de tudo aquilo. — Porra, ! Você vai ficar rindo ao invés de me ajudar a abrir essa porta? — Seus olhos me fuzilaram e eu tentei segurar meu riso desesperado.
— Desculpa, é que eu dou risada quando estou nervoso! Será que não tem como chamar alguém? — Sugeri a ela enquanto olhava para seu rosto que começa a se acalmar.
— Não. O turno do próximo zelador é só à noite. E se eu bem sei, agora já não tem mais ninguém na escola. — Novamente voltou a ficar impaciente.
— Eu acho que não tem muito o que fazer e ficaremos trancados aqui até alguém aparecer pra abrir a porta. — Meu tom de voz estava calmo, mas eu estava super nervoso.
— Aí, isso não! Eu não vou conseguir ficar trancada aqui dentro, eu sou claustrofóbica! Já tô ficando sem ar! — disse abanando o rosto e eu consegui ver claramente o medo no seu olhar.
— Ei, calma, calma! Vem cá, não precisa ficar com medo. — Me aproximei devagar dela e toquei seus braços com minhas mãos. — Respira fundo vai, pelo menos umas três vezes. — Enquanto eu falava para ela se acalmar, minhas mãos subiam e desciam por seus braços, de modo que o corpo dela relaxou um pouco.
— Ai que vergonha! Eu não planejei nada disso e agora você conhece meu pior pesadelo: lugares fechados. — sustentava um sorriso tímido nos lábios.
— Vem, vamos voltar para a janela, assim você se acalma. Não vai adiantar ficar nervosa agora! — Abracei e então nós dois voltamos para a janela.
— Espero que não demorem pra achar a gente, se não vamos ter que dormir aqui mesmo! — Ela disse se aconchegando novamente em meu ombro.
— Se for assim… espero que alguém só apareça amanhã! — Sorri brevemente e recebi um tapinha em meu braço como resposta.
— Não fala isso nem brincando, garoto! Já está entardecendo, logo alguém aparece para resgatar a gente. — disse apontando para o céu que começava a escurecer.
— Que pena… espero que um dia, seja eu quem vá resgatar a princesa! — Respondi vagamente, mas pude sentir que estava sorrindo.
— Sua hora vai chegar, um dia, ! Pode ter certeza. — Escutei ela sussurrar e acabei sorrindo também.
Naquele dia, nós ficamos horas presos no laboratório de química, mas se eu pudesse eu voltaria todos os dias para aquele momento. O momento em que eu tive certeza de que seria para sempre minha melhor amiga.
O bar no final da rua estava lotado e tudo que eu conseguia pensar era que naquele momento, eu daria a minha vida para estar na minha casa e na minha cama. Mas eu sempre fiz tudo que estava ao meu alcance para ver minha melhor amiga sorrindo, mesmo que para isso, eu tivesse que comparecer em lugares lotados cheio de pessoas estranhas e completamente fora do meu círculo social.
Essa noite era importante para ela e como em todas as outras vezes, eu estava aqui, esperando ansioso por ela, que para variar já estava atrasada. Ainda que fosse o aniversário da irmã dela, os atrasos em eventos de qualquer ocasião, eram comuns e aconteciam sempre quando se tratava da .
Nós dois nos conhecemos ainda na escola, mais exatamente no sétimo ano. Eu era o aluno transferido de Massachusetts e ela era uma aspirante a líder de torcida, deslocada demais para aquele cargo e muito inteligente para ser apenas a representante da classe. Me lembro exatamente do dia em que nos conhecemos, era uma sexta-feira, antes do feriado de quatro de julho. Nossa escola tinha um programa bem legal para os alunos transferidos, que consistia em um dia com orientação sobre as dependências da escola, apresentação dos professores e do corpo docente. Naquele dia, eventualmente, nós dois acabamos presos no laboratório de química por mais de seis horas. Por isso, sempre quando me perguntam, eu digo que eu e nos conhecemos da maneira mais inusitada que se pode imaginar.
Se fosse em outro lugar, nós dois nunca teríamos nem sequer trocado uma palavra, quem dirá nos tornarmos melhores amigos. Nossa amizade, ajudou muito ambas as partes durante o período caótico e conturbado que todos chamamos de escola. Naquela época e na real, até hoje, os adolescentes ainda são criaturas malvadas e sem nenhum senso de realidade. Então, quando duas pessoas como eu e , se encontram no meio disso e ainda por cima são capazes de sobreviver a tudo, é uma enorme vitória. No final, as amizades são exatamente sobre isso: duas pessoas que ficam juntas acima de tudo e qualquer coisa.
Bom, passar pelo colégio até que foi fácil, pelo menos quando era o sétimo e oitavo ano, onde nós dois éramos apenas mais dois alunos no meio de todos os outros que estudavam naquela escola todos os dias.
Foi quando chegou no ensino médio, ou o famoso colegial, que as coisas começaram a ficar estranhas. ganhou popularidade, se tornando a capitã do time de líderes de torcida mesmo eu achando que aquilo nem era por causa dela. Enfim, acabei me tornando membro do clube de matemática. Eu sempre fui apaixonado por números, fórmulas de Bhaskara, seno, cosseno, tangente etc. Então, pode se dizer, que nossos mundos se dividiram bastante quando isso aconteceu. Só que no fundo, nós ainda éramos melhores amigos e no final das contas, não existiu nenhuma líder de torcida e muito menos fórmula de matemática capaz de me afastar de .
Nós dois chegamos a formatura juntos com as melhores notas e ainda conseguimos entrar para a faculdade de Berkeley. entrou com bolsa integral no curso de moda e eu no curso de economia. Fizemos todo o curso juntos, grudados, exatamente como os melhores amigos costumam fazer. Alguns falavam que era estranho uma garota e um garoto serem assim tão amigos sem rolar nada sexual, ou coisas do gênero. Porém, e eu sempre fomos na regra, a exceção. E felizmente, passamos por mais um obstáculo chamado faculdade, juntos e invencíveis.
Portanto, nessa altura da minha vida, onde eu já estou com meus trinta anos e cansado de esperar a vida acontecer, eu ainda consigo ver tudo que perdi nesses anos, no olhar da . Que mesmo tendo quase a mesma idade que eu, sendo apenas um ano mais nova, ela ainda consegue manter a mesma alegria e a mesma personalidade de quando nos conhecemos. Isso era algo incrível e que eu sempre admirei muito. sempre foi, no fim das contas, a única pessoa capaz de me fazer ficar feliz, leve e até mesmo sorridente.
Nos momentos mais complicados da minha vida, quem esteve sempre do meu lado e me apoiando era a . Teve épocas em que ela deixava de estudar para me ajudar com alguma matéria difícil de matemática, mesmo sem saber de nada daqueles símbolos todos, ela achava um jeito e me ajudava. Foi assim, a vida toda, um sempre ajudando o outro, não importando quais eram as circunstâncias. Até porque, se alguém for fazer as contas, eu e éramos amigos há pelo menos quatorze anos, ou seja, era tempo pra caralho quando se tratava de uma amizade.
De olhos fechados, eu era completamente capaz de achá-la em qualquer lugar, não importava se era era dia ou noite, eu sempre a encontrava. Porque as coisas são entre nós dois sempre foi dessa maneira. Temos uma conexão rara, quase estúpida e completamente necessária em nossas vidas.
e eu somos como almas gêmeas.
Portanto, eu digo facilmente que esse atraso da especialmente hoje não era normal e alguma coisa bem estranha estava acontecendo. Isso eu tinha absoluta certeza. E levando em consideração, que metade dos amigos dela e da irmã já chegaram e ela não, a minha tese tinha fundamento. estava com algum problema e eu poderia apostar que meu celular iria tocar a qualquer minuto com seu pedido de resgate das situações bizarras que ela se metia.
Hayley, sua irmã mais nova, a aniversariante, me viu encostado no balcão de bebidas e veio até mim, enquanto sustentava um sorriso que era muito bonito e também bem conhecido. Hayley era divertida e animada. Resumindo, ela era uma boa companhia e eu adorava aquela ruivinha. Por isso aceitei o convite do seu aniversário. Quero dizer, aceitei por ela e principalmente pela .
O garçom me serviu mais uma bebida e Hayley se aproximou, parecendo estar meio descontente com a situação toda, ou talvez poderia ser pelo atraso de mais de uma hora da . Isso sempre fez as duas brigarem, então eu sabia que aquele limão azedo no olhar de Hayley era pelo atraso de .
— Liga pra ela? Por favor, por mim. — Hayley sorriu com os olhos escuros e quase tristes.
— Vou ligar sim, pera aí. Tenho certeza que a tem uma ótima explicação pra esse atraso todo. — Peguei meu celular em mãos e disquei os números de enquanto checava a hora no relógio.
— Ela não tá atendendo? Sério? — Hayley questionou a demora de pra atender a ligação.
— Caiu direto na caixa postal. Me desculpe, Hayley, mas fica tranquila, ela já deve tá chegando. — Apontei meu copo de bebida a ela que engoliu tudo de uma só vez.
— Valeu mesmo assim. Vou pra pista de dança e assim que ela chegar eu volto. — Hayley disse, apontou para a pista de dança e sumiu rapidamente.
Me virei novamente para posição que estava antes, apoiado no balcão de bebidas do bar eu pedi mais um gin com limão, enquanto esperava a princesa aparecer. Podia sentir a bebida entrando em minha garganta, mas não adiantava em nada, eu ainda estava ansioso pra caralho com tudo isso.
Fazia uns dias já que eu queria e muito ter uma conversa séria com a , sobre algumas coisas que estavam acontecendo comigo e que eu só poderia contar a minha melhor amiga. Portanto de todos naquele bar, eu era o cara mais ansioso do mundo para a chegada da minha melhor amiga.
— ! — Finalmente a voz que eu tanto esperava ouvir.
— ! — Sorrindo feliz, eu olhei diretamente em sua direção. Ela veio correndo de encontro a mim e saltou em meu colo, me abraçando pelo pescoço.
— Que saudades! — Ela se pronunciou assim que soltou meu abraço.
— Eu também, . Você demorou, inclusive. — Voltando à minha posição original, eu apontei a garrafinha de cerveja que estava bebendo para ela.
— Eu sei, me desculpe. Onde está a Hayley? Não vi ela por aqui e é aniversário dela, poxa. — fez biquinho, olhou em volta e me devolveu o olhar.
— Ela falou comigo e voltou para a pista de dança. — Respondi apontando o último lugar que lembrava de ter a visto.
— Depois eu falo com ela, tenho certeza que a Hayley vai me entender. Hoje, eu preciso falar com você. — Ela encostou o dedo na minha camiseta enquanto sorria.
— Eu também, viu só, ainda pensamos a mesma coisa. — Pisquei para ela que devolveu o gesto. — Mas, fala você primeiro. — Passei uma longneck de cerveja pra ela que bebeu rapidinho.
— Eu e o Teddy ficamos noivos e vamos nos casar! — ergueu o dedo com o anel e o colocou bem na frente do meu rosto.
— Noivos, como assim ? Vocês se conhecem não tem um ano, que papo é esse? — Respirei fundo na falha tentativa de não parecer um idiota com aquela notícia.
— É tudo muito repentino, eu sei, mas eu sinto que o Teddy é o cara certo pra mim, sabe? Ele se formou em administração em Stanford e é um cara ótimo. — pediu mais uma cerveja e foi aí que ela desatou mesmo a falar. — Inclusive, ele vem no final de semana pra vocês dois se conhecerem.
— Como é que é? — Quase engasguei com a bebida. — Ele não precisa me conhecer, oras! Se vocês estão se gostando tanto a ponto de casarem, eu não preciso aprovar nada.
— Mas ele vem porque eu quero que ele conheça meu melhor amigo, pode ser? — Ela levantou a sobrancelha esquerda enquanto esperava a minha resposta.
— Tá, pode ser. — Respondi com palavras curtas e balancei a cabeça pra disfarçar aquela cena pra lá de estranha.
— E o que você queria me dizer? — Pude ver em seus olhos que ela se esforçava para lembrar do início da conversa.
— Ah, que eu comprei ingressos pros Celtics na semana que vem. — Inventei uma mentira rápida, pela primeira vez.
— Ah que legal, ! Vai ser importante pra gente ter esses momentos sozinhos antes do meu casamento, quero lembrar de todos eles como sendo os melhores momentos da minha vida — Ela se aproximou e me abraçou um pouco desajeitada.
Assim que me soltou para ir atrás de Hayley na pista de dança, aquilo caiu como uma bomba em cima de mim. Eu iria perder a mulher da minha vida, o amor da minha vida para um cara qualquer, que se chama Teddy e que nem sequer conhece a do jeito que eu conheço.
Finalmente eu entendi assim que vi seu corpo dançando ao som da música junto a irmã, que eu seria obrigado a acabar com esse casamento antes mesmo dele acontecer. Eu não iria deixar que a minha se casasse com alguém que ela nem conhece direito. Devia existir um jeito de mostrar pra ela que o homem da vida dela era eu e que nenhum outro jamais seria dela desse jeito.
Eu tinha uma missão pela frente: impedir um casamento fracassado e minha ajudante estava bem na minha frente. Hayley seria o meu cúpido e tenho certeza que ela me ajudaria a conquistar sua irmã sem nem precisar pensar muito. Antes do tal do Teddy aparecesse pra roubar o que eu lutei tanto para ter em minha vida.
Se existia algum sentido para sermos tão próximos assim, esses anos todos, eu tinha certeza que era para que um dia nós dois ficássemos juntos, casados e com nossos filhos correndo pela casa. Eu tinha total e absoluta certeza do que eu queria e eu sempre quis a . Mesmo nunca admitindo de fato, meu coração sempre soube disso, desde o dia em que nos conhecemos. Nós dois fomos destinados a ficar juntos e não seria nenhum londrino metido a galã que tiraria isso de mim.
O aeroporto estava lotado e isso era normal. O feriado de quatro de Julho estava cada vez mais perto e nessa época do ano todo mundo viajava bastante. Pessoas andavam apressadas de um lado para outro no enorme e redondo saguão, causando em mim uma sensação de claustrofobia da qual eu nunca tinha sentido.
sempre foi claustrofóbica, desde que a conheci, mas comigo, essa era a primeira vez que eu ficava tenso e nervoso em lugares apertados. Isso devia ser pelo fato de que em alguns minutos o voo do tal Teddy iria aterrissar o que me faria perder de vez o resto de paz que eu ainda tinha em minha amizade com a . Ela tinha me convencido depois de muita insistência e mais de meia garrafa de tequila, que aquela era uma ótima oportunidade para conhecer o seu noivo maravilhoso. No fundo, eu não estava nem um pouco afim de conhecer o tal Teddy/noivo perfeito/melhor beijo do planeta.
Não queria saber quem ele era, o que fazia da vida, como conheceu a e muito menos saber os detalhes íntimos das noites de sexo deles. Eu tinha quase certeza que ele iria se gabar com isso pra cima de mim, porque se fosse eu, faria o mesmo. Mas, no fim das contas, como sempre conseguia me convencer de qualquer coisa, eu estava naquele maldito aeroporto, esperando o noivo ridiculamente lindo e sem graça dela chegar. Foi naquele momento, que eu realmente quis me matar por ser tão influenciado por ela e por nunca conseguir dizer não aquele par de olhos maravilhosamente lindos.
Eu andava de um lado a outro próximo ao portão de desembarque, enquanto segurava uma plaquinha com o nome "Teddy Williams" escrito em batom vermelho. Para minha sorte, ou quem sabe completo azar, aquele cara era um britânico que morava nos Estados Unidos. Isso garantiu a ele um certo charme. Eu nunca entendi como as mulheres ficavam atraídas e completamente apaixonadas por caras de nariz pontudo e cachecóis enormes.
não estava isenta disso. Pois lá estava ele, o britânico retardado metido a americano que se casaria com a minha melhor amiga. Carregando apenas uma mala de mãos e óculos quadrados no rosto, ele sorria abertamente ao ver o esperando. Eu por outro lado, me encontrava encostado em uma das pilastras centrais. Mascando um clichetes de uva, eu olhava atento para aquele tal de Teddy, tentando inútilmente achar algo naquele cara, que pudesse servir de motivo para ter se apaixonado tão perdidamente. Mas é claro, que não encontrei nada, pois, não havia nada a ser encontrado. Ele era estranhamente britânico demais e não parecia nem um pouco com um cara que estudou na Califórnia. Com os braços cruzados e um olhar de poucos amigos, eu encarei a cena de Teddy abraçando e beijando , bem na minha frente. Ele parecia saber quem eu era e estava me provocando com aquela cena toda. Sério, não era necessário um beijo de língua no meio de um aeroporto lotado de gente.
E é sério, quem é que se chama Teddy Williams? Ah, por favor. Quando eu achei que aquilo não poderia ficar mais esquisito, pegou Teddy pela mão e o trouxe até onde eu estava. Só não fiquei mais puto, porque era a minha melhor amiga e ela estava mesmo se esforçando para que eu gostasse daquele cara. Então, eu não podia simplesmente ignorar esse fato e tratar o tal cara com desprezo. Mesmo que esse fosse o meu objetivo depois daquele encontro desnecessário e inesquecível. Porque sim, eu iria demorar pelo menos mais uma encarnação para esquecer que presenciei uma cena da sendo engolida pela língua de um cara arrumadinho demais. Eu só queria saber o que ela viu naquele cara? Sinceramente. Porque estava bem difícil de conseguir entender como aquilo era possível? O cara nem era bonito, muito menos interessante. Então, eu realmente não conseguia resolver aquele quebra cabeças de como um mulherão igual a tinha se apaixonado por um cara que se chamava Teddy Williams? Minha melhor amiga já teve gostos melhores para escolher seus namoradinhos, até quando ela namorou o Chester na escola. Um cara que tinha mais músculo do que cérebro e ainda assim era mais interessante e bonito que esse britânico de meia tigela.
Levantei meus olhos do ponto aleatório em que prestava atenção para ver aquele cara se aproximando de mim com a maior cara de pau. Coloquei meu melhor sorriso no rosto e olhei para , que sustentava um olhar esperançoso de que eu gostasse e aprovasse seu noivinho. Sorrindo para os dois, eu estiquei minha mão e cumprimentei ;aquele loirinho com cara de cachorro retardado; pelo menos ele era educado, já que respondeu meu cumprimento na mesma hora. É, pelo menos da educação dos britânicos eu não podia reclamar, todos eles sempre foram os maiores exemplos de educação e finesse. Mas, mesmo assim, eu ainda duvidava se aquela educação toda servia na hora em que os dois transavam e se eu me lembrava bem o histórico da na hora do sexo, era bem provável que ela comandasse aquela relação.
Educação e bons modos, tais como a discrição e o silêncio, nunca fizeram parte do histórico sexual da . E como eu sei disso? Teve uma vez no segundo ano, onde, digamos, que a escola inteira soube que ela estava transando com o capitão do time de hóquei, Daniel King. É, não era à toa que ele tinha King no nome e a partir daquele momento, eu e toda a Brownstone ficamos sabemos do patamar que se encontrava quando o assunto era sexo. Por conta disso, eu garanto que tudo que aquele britânico não tinha, eram requisitos necessários no sexo. Ou seja, tinha de haver outro motivo para que estar tão apaixonada por aquele cara a ponto de ficar noiva dele tão rapidamente.
— Teddy, eu espero que não se importe, mas esse final de semana eu programei de você e o passarem um tempo juntos, se conhecendo. Tem problema? — esticou seu rosto e beijou o queixo dele.
— Pra mim está ótimo, querida. Não vejo problema nenhum em passar um tempo conhecendo seu melhor amigo. — Olhei para Teddy que ergueu a sobrancelha esquerda me encarando.
— Por mim também não, . Vai ser um final de semana inesquecível para o Teddy, tenho certeza absoluta disso. — Filho da mãe, eu conhecia muito bem aquele olharzinho dele, era o olhar de um predador que estava me desafiando para um duelo.
— Que ótimo! Estou muito feliz por saber que vocês dois estão dispostos a ser conhecerem melhor! — sorriu e eu também sorri para ela.
— Você sabe que eu faço de tudo por você. — Respondi o sorriso de em minha direção enquanto sentia que o Teddy não tirava o olhar presunçoso de cima de mim.
— Tenho certeza que vamos nos dar muito bem, não é Teddy? — Tomei a frente e o desafiei da mesma forma.
— Mas é claro, Eidan. Vamos nos dar muito bem. — Ok, só eu que tinha percebido o tom desafiador na voz daquele retardado?
Ele achava mesmo que ia me vencer nessa. Coitado.
— É . Caso você tenha dificuldade em pronunciar nomes americanos. — Pisquei para ele que sorriu em resposta, entendendo perfeitamente que eu não iria ceder fácil aquelas provocações.
Eu não tinha muita certeza sobre o rumo daquele final de semana, mas de uma coisa eu sabia: não seriam dias fáceis para o tal de Teddy. Se ele estava crente de que eu entregaria fácil assim, ele estava redondamente enganado. Eu não entregaria minha melhor amiga e mulher da vida de bandeja para aquele cara com nariz esquisito e perfume caro. Não entregaria a para outro cara, nem que esse cara fosse o príncipe da Inglaterra. Seriam dois dias intensos, turbulentos e agitados, dos quais eu faria de tudo pra colocar aquele Teddy para correr, em um voo direto para Londres, lugar do qual ele nunca deveria ter saído.
nos deixou na antiga quadra de basquete próximo ao seu apartamento e seguiu para o shopping encontrar-se com a Hayley, as duas tinham muita coisa para fazer antes do casamento. Eu fui convidado para ser o padrinho daquele casamento absurdo, mas não estava nem um pouco animado com isso, eu tinha aceitado aquele convite apenas para deixar minha melhor amiga feliz. Nunca, em hipótese nenhuma, eu a faria sofrer em nome dos meus sentimentos. Se fosse realmente necessário, eu abriria mão de tudo para vê-la feliz, nem que para isso eu tivesse que ser o padrinho daquele casamento ridículo. Não tinha planos de desistir de , mas isso não significava que iria estragar tudo para conseguir o que eu queria. No fim de tudo, ela mesma iria descobrir a loucura que estava cometendo.
Ficar sozinho com aquele tal de Teddy, me fazia pensar em inúmeros jeitos de acabar com ele e em nenhuma das opções ele ficava com aquele sorriso presunçoso no rosto. Em todos os jeitos que pensei, ele terminava com algum hematoma e pelo menos um olho roxo. Porém, acabei desistindo de pensar naquilo. não aprovaria meus métodos medievais de acabar com a pose toda daquele inglês metidinho. Portanto, eu iria destruir meu inimigo da maneira que eu conhecia, o bom e velho jogo da verdade. Dessa forma, eu mostraria que ele jamais conheceu a que eu conheço e que ele não a faria feliz mesmo que tentasse. Teddy precisava entender que caso aquele casamento fosse adiante, ele estaria destruindo uma família inteira: a minha família com . Ele precisava entender que se isso continuasse, três crianças ficariam sem pai e mãe. E eu acho que ele não era do tipo que deixa crianças órfãs, mesmo que elas ainda nem tenham nascido.
O sol estava bem forte naquela manhã de sábado em Los Angeles. Eu vestia uma regata cinza chumbo bem confortável, em meus olhos o meu velho rayban me protegia do seu ardente. Ou seja, estava pronto para enfrentar o calor que faria o dia inteiro. Já Teddy, parecia bem desconfortável com todo aquele sol e realmente, não parecia nem um pouco com alguém que morou na Califórnia durante cinco anos de faculdade. O observei mexer nervoso naquele cachecol enorme que estava pendurado em seu pescoço e acabei rindo com aquilo. Ah, qual é! eu não mandei ele viajar para Califórnia cheio de roupas grossas e pesadas. Ele parecia alguém que viajaria para Rússia e não para Los Angeles. Não tive como controlar minha risada ao perceber que ele suava muito com todo aquele calor, definitivamente aquele cara parecia ser de outro planeta. Olhei para seu rosto que estava vermelho e com medo de que ele pudesse vir a morrer queimado por estar cheio de roupas, eu o orientei a retirar toda aquela roupa desnecessária para ficar mais à vontade e curtir melhor. Afinal, por mais que eu quisesse muito acabar com aquele casamento, eu não queria que o noivo morresse por ser burro demais.
— Então, a me disse que vocês são amigos desde a época da escola? — Teddy me perguntou ironicamente enquanto procurava uma árvore que pudesse ficar embaixo.
— Isso é verdade! Posso dizer que conheço a melhor que qualquer pessoa no mundo. — Sorri e caminhei até a cesta de basquete, pegando uma das bolas comunitárias que ficavam disponíveis.
— Espero que a concorde em se mudar comigo para Wembley. Não tem condições nenhuma de morar nesse lugar, aqui é quente demais. — Quase ignorei o que ele disse se não fosse pelo fato dele ter dito a palavra mudança.
— Ah, que é isso! Aqui nem é tão quente assim. E eu acho que a não largaria o estúdio dela aqui para construir tudo do nada na Inglaterra. — Bati a bola de basquete no chão e novamente tentei ignorar que Teddy estava vermelho igual um pimentão.
— Não é como se ela fosse ter muita opção depois do casamento. Minha família inteira é da Inglaterra e eu não posso me mudar para outro país da noite pro dia. Fora que esse calor todo é inaceitável, acho que nenhum ser humano gosta disso — Teddy torceu o nariz e olhou diretamente em meus olhos.
— Olha, meu amigo, acho que essa sua ideia aí é muito ultrapassada. Nenhuma mulher hoje em dia aceita que mandem nela, principalmente no casamento. Então, eu acho que você pode começar a aceitar a ideia de que é a quem vai decidir onde vocês vão morar. — Balancei a cabeça e joguei a bola pra ele que ainda sustentava aquele sorrisinho idiota.
— Eu não teria tanta certeza, . Eu e já conversamos sobre isso e ela pareceu bem receptiva quanto a ideia de se mudar e morar comigo na Inglaterra. Ela mesma já começou a ver apartamentos no centro. — Teddy pegou a bola de basquete em mãos e balançou os ombros enquanto se ajeitava na posição de jogador.
— Eu duvido muito. Como eu disse, eu conheço bastante a pra afirmar que ela jamais aceitaria uma ideia dessas. Você tá mentindo! — Afirmei aquilo enquanto me movia de um lado a outro na quadra.
— , você conheceu a de dezesseis anos que estudava em uma escola militar. Eu conheço a adulta, responsável e que é capaz de tudo para ficar comigo e fazer esse casamento dar certo. — Ele jogou a bola em minha direção e me esperou responder.
— Quem se engana é você, Teddy. Nesse jogo, eu conheço todas as versões da , até mesmo aquelas mais perversas que ninguém nunca nem sonhou conhecer. — Ergui minha sobrancelha direita para ele e joguei a bola fazendo uma cesta de três pontos.
Depois do jogo de basquete, decidi que precisava levar o Teddy ao bar favorito da , eu sentia que só assim ele seria capaz de desistir daquilo sem que eu fizesse absolutamente nada. Aquele bar, tinha muitas histórias para contar, histórias que eu sabia que alguém tradicional e careta como o Teddy, não iria suportar. O bar Sunsuit, era um bar que funcionava vinte e quatro horas. Durante o dia eles servem comidas vegetarianas e à noite, os melhores e mais fortes drinks de toda Los Angeles. Eu aproveitei o fato de que conhecia o dono do lugar, um velho amigo e conhecido nosso da época de escola. Que com toda certeza, tinha ótimas histórias para contar sobre a e algumas garrafas de tequila. Aquela seria minha jogada de mestre. Eu contava com a discrição e o humor ácido de Drake Welling, ex capitão do time de futebol e meu melhor amigo, para me ajudar naquela situação.
— Teddy, esse é o bar favorito da em toda Los Angeles e esse é o Drake Welling. Ex namorado da e meu melhor amigo. — Aproveitei que chegamos no bar e que Teddy não estava entendendo nada, para fazer minha jogada.
— ! Que bom te ver por aqui. Quem é esse? — Drake apontou para Teddy que estava parado ao meu lado com a maior cara de paisagem.
— Esse é o Teddy, noivo da . — Pisquei para Drake que sacou na hora o que estava acontecendo.
— Saquei! Fiquem à vontade, essa ocasião pede um Red legítimo. — Drake disse batendo as mãos no balcão do bar.
— Red? O que é isso? — Teddy encarou a feição de Drake e nos questionou enquanto tentava entender porquê ele estaria ali.
— Sim, é o nosso drink mais famoso. É uma homenagem a e a noite em que descobrimos que bebia mais que um impala antigo. Sinto pena daquela garrafa de Johnnie Walker até hoje, sabia? — Drake olhou para mim e começou a rir.
— Eu sei! Até hoje eu não entendo como aquele cara não teve um infarto. — Respondi a Drake enquanto Teddy parecia engolir algo áspero em sua garganta.
— Do que vocês estão falando? — Teddy olhou para nós dois e nos questionou, seu rosto ainda parecia um pimentão e eu não conseguia me conter.
— Estamos falando do dia em bebeu tequila de ponta cabeça em um pole dance. Era a despedida de solteira da Wendy, lembra? — Drake apontou um copo para mim enquanto sorria e se lembrava dos fatos.
— Como não me lembrar da Wendy, foi a primeira garota que a beijou no colégio. — Peguei a dose de gin que Drake me serviu e apontei para o banco ao meu lado, orientando Teddy a se sentar também.
— , minha noiva, beijou uma garota, como é que é? — Teddy parecia mesmo ter engolido algo naquele momento, seu rosto estava inchado.
— Beijou é pura modéstia, Teddy. e Wendy tiveram ótimos momentos no armário da casa do Jeffrey, durante um sete minutos no paraíso. — Drake riu e esticou um copo para Teddy com o mesmo gin que eu estava bebendo.
— Garotas, tequila, pole dance e o que mais? — Teddy bebeu toda a dose de uma vez.
— Topless no show do Iron Maiden, fuga e briga no acampamento de verão. Venda do gabarito do exame final. Roubo das chaves da mansão Whitney e eu tenho quase certeza que teve uma vez que ela perseguiu aquele ator que fez os filmes da Marvel. O Chris Evans. — Respondeu Drake que lutava para conter sua risada diante do rosto inchado de Teddy.
— Esqueceu daquela vez que ela foi presa bêbada, onde ela insistiu a noite toda que era uma das gêmeas Olsen, lembra? — Apontei para Drake enquanto ele preparava nosso drink.
— Ah eu me lembro, foi quando a gente namorava. — Drake sorriu e esticou dois copos com um líquido vermelho e laranja. — Aqui estão, dois Red saindo.
— Eu… eu preciso de ar, preciso sair daqui! — Teddy disse e apontando para o lado de fora, ele saiu correndo, deixando eu e Drake rindo sozinhos.
Estava quase conseguindo fazer aquele idiota desistir de tudo quando eu e Drake contamos para Teddy, todas as histórias mais divertidas da . Para mim, aquela era a verdadeira e autêntica . A menina que não via problema em beijar uma garota, que fazia topless para chamar atenção de algum roqueiro famoso e que perseguia os seus atores favoritos da Marvel apenas para conseguir um autógrafo. Meu coração conhecia a verdadeira e eu tinha certeza absoluta que aquela ao lado de Teddy, não era a minha melhor amiga. Quase consegui reverter tudo aquilo quando chegou uma foto em meu em meu WhatsApp. Era uma foto de experimentando as opções do vestido de noiva. E aquilo, aquilo mexeu demais comigo.
O sorriso feliz e sincero dela com aquele vestido de noiva, me fez perceber, que não importava mais o que eu achava. Ela estava feliz e tudo o que eu podia fazer mesmo negando, era aceitar aquele casamento e ser o melhor padrinho que ela poderia ter na vida. Mesmo que aquilo estivesse me matando por dentro, eu faria tudo em nome da minha melhor amiga, eu sempre faria de tudo que estivesse ao meu alcance para ver feliz e com um sorriso sincero nos lábios.
"Você vai ser a noiva mais linda de Los Angeles, tenho certeza. Esse vestido ficou perfeito em você"
Foi o que eu respondi e enviei para ela logo após a foto chegar. Naquele momento, a felicidade da minha melhor amiga era mais importante e eu não podia mais afugentar o Teddy. Eu sabia que se fizesse isso, ela jamais me perdoaria e eu não podia, nem por um instante, pensar em viver sem a minha doce .
Eu teria que achar outro jeito daquele casamento não acontecer.
andava nervosa e completamente ansiosa ao se deparar com o vestido branco estendido sobre a cama do quarto de hotel. Era visível, que mesmo com todos a sua volta lhe paparicando e tomando o maior cuidado para que nada saísse do controle ou desse errado, ela ainda estava super nervosa. Os convidados já estavam chegando na capela onde iria acontecer a cerimônia, em principal os pais dela e também os pais do tal de Teddy. As madrinhas que havia convidado, eram sua irmã Hayley e sua melhor amiga, a incrivelmente loira e esbelta Daphne. As duas estavam com ela no quarto de hotel, enquanto a mesma não conseguia decidir entre qual dos dois buquês de flores combinava melhor com aquele vestido sem graça e desnecessário. Os padrinhos eram eu e o melhor amigo do noivo, um idiota de óculos com o porte incrivelmente atlético para alguém que veio de Standford. Hayley tentava fazer não ficar agitada com toda aquela indecisão. Caso contrário, ela não iria conseguir fazer nada e aquilo seria um completo desastre. Eu por outro lado, achava que precisava mesmo era de uma grande e enorme garrafa de tequila. Pois, quem sabe assim, ela conseguiria enxergar a loucura que estava prestes a cometer e desistiria disso de uma vez por todas.
Não estava mais aguentando ficar naquele quarto com as três garotas que me deixavam maluco desde a escola. Aquele trio em específico, sempre foi o terror de qualquer garoto da Brownstone, além dos professores e orientadores. Em qualquer lugar que , Hayley e Daphne estavam, era confusão na certa e em quase todas às vezes, alguém saía machucado ou até preso. Eu mesmo, várias vezes, quase acabei preso por entrar nas loucuras daquelas três. Em especial a , que sempre teve as ideias mais mirabolantes e perigosas, onde eu, , era quem ela escolhia para executar suas ideias malucas. Portanto, não era muito bom para minha saúde mental ou emocional, estar em em uma mesma sala com aquelas três malucas e desorientadas. Mas eu estava, eu fiquei porque era importante para que eu ficasse com ela para garantir de uma certa forma, que nada fosse dar errado. Porém, se eu ia mesmo fazer isso de ficar com até a hora do casamento, aguentando de bandeja a Hayley e a Daphne, como eu já estava fazendo, eu iria precisar de uma dose muito boa de coragem. Foi por esse motivo nobre que eu me dirigi até o bar no canto esquerdo do quarto e me servi de uma dose enorme de uísque. Só assim eu conseguiria passar por esse dia sem cogitar a ideia de me matar ou de matar o noivo, aquele britânico metido a americano e insuportável que atendia pelo nome de Teddy.
— Não acredito que você já vai começar a beber, ! — Escutei a voz de repreensão de e virei meu rosto em sua direção.
— Tanto faz! Já são cinco horas em algum lugar do mundo. — Balancei meus ombros enquanto bebia um gole do líquido marrom.
— Você não tá bem, ! Não pense que eu não percebi que você tá triste e chateado comigo. — Seus olhos escureceram e eu pude ver o resquício de uma lágrima.
— Que seja, tanto faz! O que eu sinto ou deixo de sentir já não importa mais, mesmo. — Sussurrei e mantive minha pose diante dela enquanto me servia de mais uma boa dose.
— O que foi que você disse, ? — perguntou e caminhou até onde eu estava, pegando o copo de minha mão ela bebeu a dose toda.
— Eu disse que estou bem e muito feliz por você. — Forcei um sorriso para ela que encarou meu rosto.
— Porque você está mentindo pra mim? — Ela continuou me encarando enquanto segurava o copo vazio sob a mesa ao meu lado.
— Não tô mentindo! Eu estou mesmo feliz e torcendo muito por esse casamento. — Me esgueirei dela e caminhei até a outra janela.
— Não foge de mim, ! Você tá mentindo sim e eu quero saber por que? — bateu levemente o copo na mesa, atraindo minha atenção. — Você nunca soube mentir e não vai ser agora que vai começar. — Apenas virei meu rosto e a vi cruzando os braços.
— Deixa pra lá , esquece! — Sorri de lado para ela e foquei minha atenção em um ponto aleatório do lado de fora.
— Nada disso, não vou esquecer nada! Eu quero saber porque você insiste em mentir para mim? — Ela apontou para si mesma e se aproximou de mim.
— Talvez eu tenha ficado muito em mentir para as pessoas! — Não me dei ao trabalho de olhar seu rosto, eu sabia que se olhasse não conseguiria me controlar e isso daria uma merda gigantesca.
— Chega, ! Dá pra você olhar pra mim e falar a verdade? Eu odeio quando você começa a se afastar de mim. — O tom triste em sua voz me fez prestar atenção nela, mesmo contra a minha vontade.
— Se eu falar qualquer coisa, , você não vai me perdoar por tentar interferir em sua vida. — Engoli em seco a minha garganta, eu precisava beber de novo.
— Eu continuo sem entender nada e não estou gostando dessa história! — levou a mão até meu queixo e puxou meu rosto em sua direção! — Nós nunca mentimos um para o outro e nunca escondemos nada um do outro.
— Não faça isso comigo, . — Eu disse enquanto encarava seus olhos profundos tão de perto. — Seu toque acaba comigo e você sabe muito bem disso. — Levei minha mão junto a dela.
— … você nunca foi bom em esconder seus sentimentos, mas eu realmente não consigo entender, porque você não consegue me falar a verdade? — Ela sustentava um sorriso lindo e sincero nos lábios.
Tudo que eu queria era beijar aqueles lábios maravilhosos.
— Porque eu não suportaria se você rejeitasse o que eu sinto por você e também, porque eu não posso te impedir de casar com ele. Sua decisão já foi tomada, de qualquer jeito. — Falei com todo meu coração enquanto sentia seu toque doce em meu rosto.
— Me fala, ! Eu preciso saber o que se passa, de verdade, nessa cabecinha e também no seu coração. — se inclinou e sussurrou próximo ao meu rosto. — E eu nunca rejeitaria seus sentimentos, sejam eles quais foram.
Eu não podia pensar em como eu me sentia naquele momento, eu tinha que pensar em como ela ficaria feliz com aquele casamento que de alguma certa maneira, era tudo que tinha sonhado para sua vida. Desde a época do colégio que nós dois conversamos sobre como seria o nosso futuro e o dela era sempre conhecendo alguém legal, se apaixonando e depois, se casando com o tal cara de sorte. É claro, que no meu subconsciente eu sempre tive um fio de esperança onde aquele cara de sorte seria eu. As brincadeiras rolavam entre nossos amigos, sempre tinha alguém pra dizer que em algum dia, eu e iríamos nos descobrir apaixonados um pelo outro e aí, nos casaríamos em alguma igreja cafona de Las Vegas. Isso cresceu ao longo do tempo, mas acabou virando uma ideia ultrapassada. Com o passar dos anos, aquela ideia ficou inconveniente e as piadas não tinham mais graça. Principalmente quando aparecia namorando alguém, fato que acontecia em todos os verões. Eu aprendi aceitar o amor dela como seu melhor amigo e que isso seria tudo que eu teria em minha vida. Para mim estava tudo bem e nunca tive problemas com isso, até aquele momento.
O problema surgiu mesmo, quando ela resolveu me aparecer com o tal de Teddy e nunca, antes, eu me senti tão ameaçado na minha relação com a . Talvez porque ele estivesse com aquela ideia de levar minha melhor amiga para longe. Ou talvez fosse inveja, já que ele era o sortudo que se casaria com a maravilhosa e incomparável . A qual não era só uma melhor amiga, não, ela era a mulher mais sensacional do mundo inteiro. Por isso, eu estava morrendo de inveja pelo fato de um inglês sem graça nenhuma ter conquistado a minha garota. Foram anos e anos ao lado dela, anos de luta, de apoio, de conquistas, de segredos, de carinho e compreensão, de companheirismo e de amor. Porque sim, era amor. Do jeito que fosse, seria sempre amor. Eu não poderia desistir da , mesmo sabendo que poderia estar colocando em risco mais de quinze anos de amizade, eu não poderia mais viver sem o doce amor daquela que era o meu pedaço do céu.
Eu sabia que isso poderia acabar com anos de amizade, mas eu não seria quem sou, se não tentasse. Não tinha como deixar aquela chance escapar e muito menos, deixaria escapar por entre meus dedos. Durante anos, eu acreditei fielmente que se me apaixonasse por ela, nunca mais teria a minha liberdade e que aquilo, acabaria com qualquer chance que eu poderia ter com outra mulher. Mas o que acontecia era que no fundo da minha alma, eu nunca quis outra, eu sempre quis ela. Entretanto, eu reneguei por muito tempo esse sentimento. Talvez por medo, talvez por insegurança ou até mesmo por culpa, pois eu nunca me achei suficiente e merecedor de um coração tão grande, bom e raro quanto o de . Isso me deixou, durante anos, refém de algo que nunca imaginei que existia. E agora, eu teria que correr contra o tempo se quisesse mesmo recuperar todo o tempo perdido ao lado da mulher da minha vida.
estava parada perto da janela, exatamente onde eu mesmo estava a pouco tempo. Ela me encarava com aquele olhar de quem sabia exatamente o que eu pensava, o olhar de quem sempre sabia de tudo.
Nunca consegui mentir para ela, nisso ela tinha razão e também tinha razão em dizer que nunca fui bom esconder o que eu sentia. Exceto quando meus sentimentos diziam lhe respeito, aí sim eu fazia um malabarismo enorme para esconder e disfarçar o amor que eu sentia por ela. Meu coração ficou intacto, desde quando eu a conheci e olha, que quando isso aconteceu, eu só tinha quinze anos. Naquela época, eu só pensava no clube de matemática. Mas de repente, no momento em que conheci , o clube de matemática e a própria matemática ficaram em segundo plano. Eu passei a me dedicar totalmente a fazê-la sorrir. Todos os dias desde aquele dia, eu me dediquei totalmente e inteiramente a , a criatura mais doce que conheci.
Se eu desistisse agora, ela seria a criatura perfeita de outra pessoa e eu não poderia permitir que isso acontecesse. Nem hoje e nem nunca. Eu precisava dela. Precisava do amor dela que era doce como açúcar e que viciava logo na primeira vez. E eu tinha, exatamente, menos de duas horas para convencer a que aquele casamento com o tal do Teddy era uma loucura e que ela tinha a chance de realmente ser feliz ao lado de alguém que a amava por completo.
— É sua última chance, , de me dizer a verdade! — Pude escutar sua voz antes de ela ajeitar a barra do vestido e caminhar em direção a porta. — Depois pode ser tarde demais. — Olhei diretamente em seu rosto e ali eu pude ver uma lágrima insistente em seus olhos.
Porém, não conseguia me mexer e nem responder nada. Apenas olhei em seus olhos e respirei fundo antes de avistar sua majestosa presença deixar aquele quarto. Meu coração apertou e eu sabia que estava sendo um babaca covarde, mas o medo de perder para sempre se eu falasse algo sobre o que eu sentia, ainda era grande demais. Eu nunca tive nada de concreto na minha vida, tudo sempre foi uma constante, de pessoas passageiras e sentimentos rasos. Tudo antes da , era negro e sem nenhum sentido. Minha vida só começou a fazer sentido de verdade, quando a conheci. Sua amizade trouxe tudo o que eu precisava para me sentir feliz e completo. E mesmo que eu não concordasse com aquilo, eu ainda era o mesmo garoto medroso de antes, que morria de medo de parecer gostar demais da menina mais bonita da escola. Aquele garoto inseguro estava comigo, na real sempre esteve. Ele só sumia quando eu estava na presença da minha melhor amiga.
— Se eu fosse você, eu corria e falava tudo pra ela. Antes que realmente seja tarde demais. — Meus pensamentos foram interrompidos pela voz de conhecida de Hayley que estava parada no batente da porta do quarto.
— Eu não posso. Não posso fazer isso comigo e nem com ela. — Abaixei os olhos e respondi a Hayley com o tom de voz triste e conformado.
— Para de ser idiota e medroso, . Tá mais do que na hora de você assumir seus sentimentos por ela. Deus, a vai se casar, em meia hora, com um cara que ela nem ama e você não vai fazer nada? — Hayley arqueou a sobrancelha em minha direção e em seguida caminhou até mim. — Sério, , já passou da hora de vocês ficarem juntos, não acha? Quinze anos e você está com medo de sair da friendzone? Por favor, sem vitimismo e anda logo! Ela já deve estar entrando na limusine e você sabe que se ela chegar na igreja, já era. Né? — Hayley pousou sua mão em meu ombro e abriu um sorriso.
— E se ela me recusar e dizer que não me ama e que mesmo assim vai casar com o Teddy? — Olhei em sua direção e Hayley balançou a cabeça de forma negativa.
— Você realmente acha isso, ? Você realmente acha que ela ama esse tal Teddy? Por favor, vai logo! — Hayley apontou para a porta e como uma avalanche, eu fui atingido pela realidade: não amava o Teddy. Ela me amava.
— Obrigado, Hayley! Eu fico te devendo essa, hein! — Apontei para ela e respondi enquanto corria para ir atrás de e impedir que ela se casasse com o homem errado.
💘
Descer as escadas correndo do hotel pois o elevador estava quebrado, foi o maior desafio físico de minha vida toda. Maior até do que quando eu resolvi ser atleta no segundo ano. Foram doze andares e quase duzentos degraus até eu conseguir chegar na recepção do hotel. Cheguei na porta do hotel bem a tempo de ver a silhueta de vestida de noiva caminhando em direção à limusine que estava lhe esperando do lado de fora.
Me aproximei dela ofegante por ter descido tão depressa. Consegui alcançar seus braços a tempo de impedi-la de entrar naquele carro e seguir para a igreja onde iria casar com aquele cara. Segurando seus braços eu guiei seu pequeno e lindo rosto em minha direção, uma lágrimas se formou em meus olhos e me encarava de maneira curiosa. Nossos sorrisos se encontraram e naquele instante eu senti nossos corações batendo no mesmo ritmo. Já não eram mais necessárias as palavras, mas mesmo assim eram importantes e precisavam ser ditas para resolvermos tudo da maneira correta e sem mentiras.
Os olhos de encaravam os meus de uma maneira angustiada. Dos meus olhos, algumas lágrimas corriam de madeira intensa, os vermelhos e inchados. Eu sempre odiei chorar na frente de e odiava porque ela sempre sabia o motivo pelo qual eu estava chorando. Naquele momento, o motivo era um só: eu não conseguia controlar meus sentimentos quando estava com ela.
relaxou os ombros oriantando ao motorista que esperasse mais um pouco enquanto falava comigo. Dito isso, ela sorriu e colocou a mão em meu ombro, me dando total segurança para que eu pudesse falar com ela sobre tudo que estivesse afligindo meu coração e atormentando minha cabeça. Era por isso e exclusivamente por isso, que eu amava minha melhor amiga e que não poderia em hipótese nenhuma deixá-la ir. Não podia mais adiar o inevitável. Aquela era a hora decisiva. O que aconteceria depois disso eu não saberia responder, mas pelo menos, eu não seria mais o melhor amigo idiota que se contentava em ficar na friendzone.
— ! Você está bem? — Ela respirou fundo e disse meu nome em um tom calmo.
— ! Eu preciso te falar uma coisa e tem que ser agora… — Eu estava ofegante por causa daquela corrida, então tentei ao máximo não parecer um maluco idiota enquanto falava com ela.
— Pode falar, ! Diga o que tanto aflige esse coração e o que tem atormentado essa cabecinha linda. — olhou para mim e tocou minha bochecha com seu polegar. Nesse momento, meu corpo todo estremeceu e meu coração bateu rapidamente.
— eu amo você! Amo você com cada parte do meu corpo, com cada batida do meu coração. Você é minha melhor amiga, você é o doce que minha vida precisa. Eu não posso falar isso sem te lembrar daquele beijo que demos na formatura do terceiro ano e que você apagou depois, porque você tava muito bêbada. Anos e anos eu passei lembrando de como era bom pra caralho, beijar esses seus lábios maravilhosos. Mas, ao invés de me declarar, eu me fechei para o que sentia e me contentei em ter você como minha melhor amiga. O que para alguém como eu era mais do que qualquer coisa. Os anos passaram e eu me conformei em ter sua amizade, em ter sua companhia e sua risada em minhas piadas. Eu me acostumei. E aí você apareceu com o Teddy e tudo desmoronou, eu fui atingido por essa avalanche e comecei a perceber que não poderia viver sem você, que isso era tudo que eu não conseguiria fazer. Caralho, você não tem noção do tamanho do meu amor por você. — Eu estava soluçando pra caralho, mas consegui levar a mão de em direção ao meu peito enquanto encarava seu rosto confuso.
— ! Meu deus, isso é lindo demais, porque você nunca… — Eu não deixei que continuasse, não antes de eu terminar a minha declaração.
— O meu coração é totalmente seu e de mais ninguém. Eu te amo desde o primeiro dia em que nos conhecemos e bendito seja o laboratório de química. Desde então, tudo que aconteceu em nossas vidas só me mostrou o quanto somos ligados e que seremos para sempre, um do outro. Mas, o que eu quero dizer é que, apesar de tudo que eu sinto por você, eu não posso te impedir de se casar com o Teddy, essa decisão tem que ser somente sua e eu não posso interferir em nada. Você é quem tem que saber se ele é o cara certo, se perguntar se ele é o seu príncipe romântico? E quando achar a resposta certa, você vai entender e vai escolher o caminho certo. Eu estou nervoso, mas só quero que entenda que eu não posso mais fazer isso. Então, seja o que você decidir, eu te desejo toda a felicidade do mundo. — Beijei sua testa de maneira carinhosa e me afastei para ver seu rosto. Ela estava ainda mais confusa, só que dessa vez a lágrima estava em seu olho direito e não no meu.
Me afastei e gravei a imagem dela, perfeita. Enquanto a olhava vestida de noiva na minha frente eu caminhei para longe, para o mais longe possível de tudo aquilo. Naquele momento, eu só precisava de um tempo e acredito que também iria precisar de tempo depois daquela declaração toda. Eu não fiquei nem para ver se ela tinha entrado ou não na limusine. Apenas subi na minha moto e segui a estrada até a parte mais alta na montanha que eu mais amava na cidade inteira, o letreiro de Hollywood. Era o meu lugar favorito no mundo todo e era o lugar que eu costumava ir sempre quando queria fugir da minha realidade ou me desprender do mundo real. Era onde eu me encontrava quando eu estava perdido.
Sentado no chão, com as pernas jogadas na grama eu deixei que as lágrimas invadissem meus olhos, bochechas e lábios. Eu adorava ficar sozinho, principalmente quando precisava gritar e desabafar sobre tudo o que estava passando. Aquele era um momento delicado, eu tinha me declarado de uma maneira rápida e intensa para a mulher que eu amava e depois simplesmente saí de lá e deixei minha melhor amiga, sozinha e confusa.
Nessa altura, ela deveria estar a caminho da igreja, para casar e construir a família que ela tanto sonhou ao lado daquele idiota do do Teddy Williams. E agora tudo o que me restou foi torcer e desejar as maiores felicidades do mundo a minha doce e melhor amiga.
Quando aceitei me casar com Teddy, eu tinha absoluta certeza de que tinha tomado a decisão certa. Ele era o cara dos sonhos, bonito, bem sucedido e carinhoso. Mas depois daquele momento, nada mais parecia fazer sentido e tudo que eu conseguia sentir era que eu estava encarando o maior desafio de minha vida. De um lado, estava Teddy, me esperando no altar pronto para ser meu marido e do outro, meu melhor amigo e o cara pelo qual eu sempre fui apaixonada mas não tinha assumido, até aquele momento. Encarando sozinha o meu reflexo no vidro da limousine que espelhava a minha figura vestida de noiva, o meu coração entrou em conflito com a minha razão e eu não sabia o que fazer. Não queria decepcionar ninguém, mas também não podia simplesmente ignorar o fato de que as palavras de atingiram em cheio meu coração e me fizeram, pela primeira vez em anos, questionar todas as decisões de minha vida.
Teddy era uma pessoa maravilhosa e talvez não merecesse nada disso. Porém, o era a minha alma gêmea e no fundo eu só queria mesmo saber se a decisão que estava prestes a tomar era a decisão certa. Mesmo sabendo que um deles iria sair profundamente magoado e com raiva de mim, eu não podia ficar indecisa em uma hora dessas, não podia.
A declaração de sobre o que sentia por mim, despertou tudo estava guardado em meu coração, durante anos. Eu me apaixonei pelo , assim que o vi pela primeira vez. Literalmente, foi amor à primeira vista. Ele era bonito e igualmente misterioso, além de ser muito inteligente e engraçado. Ou seja, ele sempre foi o meu tipo de garoto. Mas as coisas não foram nada fáceis e eu nunca soube lidar com meus sentimentos. Então, para mascarar o que realmente sentia, eu transformei o garoto dos meus sonhos no meu melhor amigo e com o tempo, tudo ficou mais fácil.
Ter o como meu melhor amigo, era maravilhoso. Dessa forma pelo menos ele sempre estaria comigo e me amaria exatamente como eu era. Insegura, teimosa e indecisa. Tê-lo como meu melhor amigo, durante quinze anos, por mais difícil que fosse, era a melhor opção. Porém, no fundo do meu coração, escondido como uma criança medrosa, eu ainda sonhava com o dia em que ele olharia para mim e diria que me amava. Aquele dia tinha chegado, tinha acabado de acontecer, mas por algum motivo maior eu estava em dúvida. E eu não queria estar em dúvida, não agora, quando o cara que eu amava tinha acabado de me dizer que me amava e sempre me amou.
me surpreendeu mais uma vez. A primeira, foi quando dançamos juntos no baile do oitavo ano e ele me beijou. Ele acha que eu não me lembro, porque eu estava bêbada, mas acontece que eu me lembro de cada detalhe, todos os dias. Eu lembro, porque naquele dia, no meu copo não tinha álcool nenhum, foi tudo uma armação minha e da minha amiga, Helena. Eu achava que se estivesse bêbada de verdade, iria conseguir me soltar mais e ele me beijaria. O que de fato aconteceu, mas ele achou que eu estava bêbada e que não me lembrava de nada. A carinha dele achando que eu estava mal e depois cuidando de mim, me fizeram manter isso em segredo durante esses anos todos. Podia parecer meio cruel, mas se não fosse assim, eu não teria tido a coragem suficiente para beijá-lo.
Eu nunca teria, na verdade.
sempre foi um menino lindo, inteligente e solitário, o que o tornava o tipo ideal de todas as garotas da escola. Eu era apenas mais uma líder de torcida incompreendida no meio de tantas outras que não me destacava e com certeza, ele não teria olhado pra mim ou sequer teria sido meu melhor amigo se fosse diferente. sempre foi aquele típico clichê e eu amava isso de todas as formas. Quando o conheci, meu coração parou, minhas mãos suaram e eu tive a certeza de que estava apaixonada por ele. Por sorte, com o passar do anos, tudo ficou mais fácil e o amor que eu sentia por ele se transformou em amizade. Eu aprendi a amá-lo como meu melhor amigo e deixei que meus sentimentos verdadeiros guardados em uma caixinha exclusiva. No fim das contas, amar o como meu melhor amigo, me fez um bem fora do comum e era fácil demais amar aquele garoto, ele nem precisava se esforçar para isso.
Quando tudo parecia estar sob controle, inclusive os meus sentimentos, o Teddy aconteceu e tudo virou uma bola de neve, me atingindo sem dó nem piedade. Foi quando eu entendi e compreendi que eu não poderia, jamais, amar o somente como meu melhor amigo. Ele sempre foi muito mais que isso, ele sempre foi o meu garoto, o meu homem. Eu não conseguia enxergar aquilo, pois tinha aprendido a esconder muito bem meus sentimentos por ele. Aprendi a ver o apenas como meu melhor amigo. Só que agora as coisas não eram mais assim. E mesmo o Teddy sendo um cara incrível, naquele momento, só conseguia pensar em como eu queria pular no colo do e beijá-lo novamente. Só que dessa vez, sem as inseguranças adolescentes e sem a luz agoniante do baile de formatura. Eu precisava beijar o novamente, eu precisava do beijo do meu melhor amigo, mais do que qualquer coisa.
💍💍💍
A igreja no final da rua estava decorada com rosas brancas por todos os lados e do lado de fora, já era possível ouvir os primeiros acordes da marcha nupcial. Eu não tinha ido lá para me casar com o Teddy, eu estava lá para finalmente tornar realidade a minha decisão. Assim que entrei pela enorme e arqueada porta da igreja, eu senti todos os olhares em minha direção, inclusive os olhares de meus pais e de nossos padrinhos. No altar, Teddy esfregava as mãos e me olhava com uma certa tensão e confusão, mas não podia culpá-lo, eu estava ali para romper com ele e acabar com aquele casamento de uma vez por todas. Não era justo continuar com aquilo apenas por um casamento ou para não magoar ninguém, no fim das contas, nós dois nos casaríamos apenas por aparência e não seríamos felizes. Portanto, não era justo com ninguém que eu continuasse com aquilo.
— , o que está acontecendo aqui? — Teddy juntou as sobrancelhas e me perguntou. Ele estava visivelmente confuso e desconfortável com tudo aquilo.
— Me desculpa, Teddy, mas eu não posso continuar com isso. Não seria justo. — Respondi para ele enquanto olhava em seus olhos.
— Do que você tá falando, ? Esse é o nosso casamento. — Teddy inclinou o rosto em minha direção e sussurrou.
— Eu não posso prolongar essa história, não mais. Eu não te amo e não é justo continuar com isso se eu amo outro homem. Me desculpe. — Tentei explicar para ele da maneira mais objetiva possível, mas seu rosto ficou escuro e seus olhos me encaravam fixamente.
— Que merda você acha que tá fazendo, ? Você não pode fazer isso comigo, não na frente de todos os nossos convidados. — Naquele momento, eu senti o olhar de todos em mim.
— Por favor, Teddy, não transforme isso em algo pior do que já é. Me desculpe mesmo, mas eu não posso continuar mentindo pra mim mesma, não mais. — As palavras saíram atropeladas da minha garganta e eu mal conseguia respirar direito.
— Espera, você tá dizendo que vai me trocar por aquele sem noção do seu melhor amigo, ? — Teddy gritou em minha direção e então eu vi em seus olhos a sua decepção comigo.
— Você merece ficar com alguém que goste de você de verdade… — Eu tentei amenizar toda a situação, mas assim que vi suas duas mãos seguraram meu braço na tentativa de impedir que me mexesse, eu percebi que quase cometi o maior erro da minha vida.
— Me solta, Teddy! — Dei um supetão e me livrei dele, que continuava me olhando com os olhos escuros.
— Você é ridícula, ! Se humilhando por alguém que claramente não passa de um zero à esquerda. — Ouvi Teddy falar assim do na frente de todos, fez meu sangue ferver imediatamente.
— E pensar que eu cogitei me casar com você, como eu sou burra! Meu Deus, você é completamente sem noção. — Naquele momento eu podia sentir todos me reprovando e me julgando, mas sinceramente já não me importava mais.
— Vai embora daqui, ! Antes que eu não responda por mim! — Teddy apontou o dedo em minha direção e eu quase tropecei.
— Experimenta tocar nela e você é um homem morto. — A voz rouca de Drake ecoou pela igreja e fez meu corpo todo despertar.
— Drake? — Eu olhei em sua direção, completamente confusa e chocada.
— O me disse para estar aqui e ele tinha razão, esse playboyzinho não vai tocar um dedo em você. Agora vai, ! Eu tomo conta da situação aqui. Vai logo! — Drake apontou a porta da igreja com a cabeça e eu balancei minha cabeça, desacreditada.
— Muito obrigada, Drake! Você é um ótimo amigo. — Abracei Drake em resposta e então olhei para Teddy, que estava com o semblante pegando fogo de raiva.
— Você vai se arrepender disso, ! — Teddy gritou atraindo a atenção toda para si mesmo.
— Quer saber, Teddy, vai se foder! — Mostrei o dedo do meio para ele e fui de costas em direção a porta da igreja.
— Me desculpe, padre, ela é meio doida mas é uma boa pessoa. — Drake falou ao padre e em seguida eu estava correndo para longe dali, antes mesmo de ver a reação final de Teddy.
Eu corri o mais rápido que conseguia para me ver longe daquele casamento sem sentido. Aquela situação toda me encheu o saco e eu precisava correr se quisesse encontrar com o meu verdadeiro príncipe. Só existia um probleminha, eu não sabia para onde ele tinha ido depois da nossa conversa.
Um cartaz pendurado do outro lado da rua me fez parar por um segundo. No título do filme, a palavra “Hollywood” chamou minha atenção e naquele momento eu soube exatamente onde estava. Ele só poderia estar no nosso lugar favorito desde a nossa infância, ele estava no letreiro de Hollywood. Na mesma hora, enquanto as pessoas caminhavam entre elas apressadas, eu me esgueirei para a beira da rua e consegui pedir um táxi. Eu estava com pressa e a cada segundo perdido era um segundo longe dele.
Não me lembrava de como era difícil subir aquela montanha quando se estava de salto alto e com pressa. Lá no alto e bem em frente ao letreiro, estava sentado encarando a vista da cidade, exatamente como fazíamos desde os nossos quinze anos. Retirei os sapatos e corri em sua direção o mais rápido que meus pés conseguiam. Chegando cada vez mais perto dele, eu sentia meu coração acelerado e minha cabeça fervendo de coisas que eu precisava dizer o quanto antes. Se demorasse mais um pouco, talvez o perdesse para sempre.
— ! — Eu gritei ofegante assim que consegui chegar ao topo daquela montanha.
— ? — Ele ergueu a sobrancelha esquerda e encarou meu rosto, confuso com tudo aquilo.
— Eu achei que você estaria aqui, esse é o nosso lugar favorito! — Meu sorriso se alargou quando eu vi seus olhos brilhando contra o sol.
— É sim! Mas o que você está fazendo aqui? Você não devia estar no seu casamento, com o Teddy? — Percebi a ironia em seu tom de voz e com meu coração acelerado me aproximei dele.
— Eu acho que o Teddy vai ter que encontrar outra noiva. Por que essa aqui… — Apontei para mim mesma e sorri. — Essa aqui já tem outro noivo em mente — Assim que cheguei perto de eu percebi o sorriso em seus lábios e aquilo fez meu coração esquentar.
Deus, eu amava aquele homem.
— Do que você tá falando, ? Eu juro que não to entendendo nada. — Ele apontou para meu vestido de noiva e questionou.
— Ai , você sempre foi meio lerdo mesmo, mas eu não te culpo. — Me inclinei em sua direção e encostei os nossos narizes, de modo que consegui sentir a respiração dele batendo em meu rosto.
— Por favor, me diga que eu não estou sonhando. Porque se isso aqui for um sonho, eu não quero acordar nunca mais. — O tom surpreso na voz de voz de mostrou que ele finalmente percebeu o que estava acontecendo e aquilo me fez ficar ainda mais eufórica.
— Isso aqui é bem real , pode ter certeza. Você sempre foi o meu maior sonho. — Coloquei as mãos dele em volta de minha cintura e apertei meu corpo contra o seu, fazendo- o reagir imediatamente.
— Se você soubesse o quanto eu desejei ter você assim tão perto de mim! Eu não estou acreditando que você desistiu do seu casamento por minha causa. — Abri meus olhos e o encarei enquanto sentia seu toque causando choques por toda a minha espinha.
— Saiba de uma coisa, de uma vez por todas. , eu largaria o Teddy mil vezes por você. Sempre! — Encaixando minha cabeça na curva de seu pescoço, eu sentia na minha pele o calor que emanava do corpo dele.
— Meu deus, como eu te amo, ! Caralho! — A voz doce de atingiu meus ouvidos e eu tremia inteira.
— Eu que te amo, . Eu sempre amei. — Nós ainda estávamos abraçados de frente um ao outro, mas eu podia sentir que ele sorria.
— Será que é agora que eu pergunto se eu posso te beijar? — Ele separou nosso abraço e segurou meu rosto com as duas mãos.
— Agora é a hora que você me beija e não pergunta nada. , nós estamos no letreiro de Hollywood, isso aqui é praticamente o final de um filme adolescente, só me beija vai! — Sorri para ele, que também balançou a cabeça sorrindo emocionado.
No segundo seguinte, eu senti os lábios dele nos meus, me beijando como eu sempre sonhei e desejei, desde quando nós tínhamos quinze anos de idade.
Eu não tinha como saber o que o futuro reservava para mim e o , mas de uma coisa eu tinha absoluta certeza, nada era mais certo do que eu e juntos. Assistindo ao pôr do sol do alto do letreiro de Hollywood, eu podia sentir que tudo começava a se encaixar e fazer sentido. Agora, eu estava abraçada com o homem que sempre amei e podia, finalmente, dizer que acreditava em destino. O destino tinha me colocado na vida de e vice versa. Tudo estava como devia estar desde o início. Nós dois juntos e tudo que eu esperava era que em breve ele se tornaria meu marido e nós dois teríamos filhos lindos.
Eu me casaria com meu melhor amigo algum dia e seria, com certeza, a mulher mais feliz do mundo.
Fim.
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Nota da autora: Espero que tenham gostado da história dessa noiva em fuga. É isso, comentem o que acharam e nos vemos por aí!