Um soldado, em sentido genérico, é uma pessoa que trabalha voluntariamente ou em consequência do serviço militar obrigatório, nas forças militarizadas de um país soberano, recebendo treinamento e equipamento para defender esse país e seus interesses. É exatamente assim que está descrito na internet. E lá as pessoas podem encontrar informações sobre todos os tipos de soldados, suas categorias, sua formação. São tópicos sobre exército, marinha, aeronáutica, guarda costeira e outros tipos de forças armadas, como o US Navy SEAL’s, que exige que seus candidatos façam no mínimo 72 flexões em 2 minutos, 6,5 quilômetros de corrida em até 31 minutos e quase 1 quilômetro de natação em menos de 20 minutos. Ou o Grupo de Serviços Especiais SSG, do Paquistão, que inclui em seu treinamento uma caminhada de 60 quilômetros a ser realizada em no máximo 12 horas! Além disso, os soldados precisam correr 8 quilômetros em 50 minutos. Mas não há uma única palavra na rede de superfície sobre a unidade de Elite, porém, nas camadas mais profundas da internet, nos fóruns da Dark Web, aquele nome significava perigo, ninguém deveria se meter com soldados Elite.
Ser uma Elite é tudo que sou, embora ser uma Elite significasse que eu poderia ser e fazer qualquer coisa. Nascida em uma família militar extremamente rígida e crente que mulheres deveriam ser donas de casa enquanto os homens deveriam lutar nas guerras, todos os homens da minha família por parte de pai eram do exército. Aprendi tudo que um soldado raso sabia, mas aprendi ainda mais do que eles. Seguir regras e obedecer foi a primeira coisa que ensinaram, a disciplina sempre foi a resposta para tudo e naquele lugar não havia lugar para rebeldia. Ser bom em absolutamente tudo era a segunda coisa mais importante. Aprendi a fazer nós melhores nas cordas, aprendi a atirar melhor, a lutar melhor, e aprendi que ser o melhor era a única forma de sobreviver dentro e fora dos campos de guerra.
Dizem que tudo na vida não acontece por acaso, que mesmo que você faça suas próprias escolhas ao longo dela, seu destino já foi escrito e não há nada o que fazer para mudá-lo. Muitos acreditam nisso, e eu era uma dessas pessoas, afinal, eu não escolhi como minha vida começou e só comecei a fazer minhas próprias escolhas aos quatorze anos, e aí entendi que, na verdade, não importa o que os outros queiram ou façam, você é o dono do seu futuro.
Meu nome... Meu nome não é importante. É só mais um maldito nome dentre os outros milhares que existem, mas meu codinome diz tudo o que qualquer pessoa precisa saber sobre mim. Eu sou a Sentinela, e essa é minha história.
CENSURADO “Sentinela”, FBI V.I.P, ELITE.
Coordenadas: 38.52010, -77.45227, Quântico, Virginia, EUA.
07 de agosto de 2017.
Quando a mulher pisou no andar da UAC, foi recepcionada com vários olhares curiosos vindos das pessoas que trabalhavam ali e que não estavam acostumados com rostos novos naquele andar. Ela nunca teve problemas com os olhares em cima dela, afinal, era ela que sempre estava um passo à frente de sua equipe, dando ordens a eles e aos outros soldados com patentes abaixo da dela, mas isso não queria dizer que ela gostasse de ser o centro das atenções. Uma parte importante da sua profissão era não chamar atenção, mas no primeiro dia de trabalho não havia muito o que fazer.
Ela passou pelas portas de vidro que continha o logo do FBI e parou por alguns segundos para observar seu novo local de trabalho, se situando. Uma daquelas 8 mesas seria sua em breve. Era estranho se vestir com roupas leves e carregar uma mochila ao invés de um colete a prova de balas e armas. E 7 anos no exército, pulando de missão em missão só ensinou uma coisa para ela: que pessoas são capazes de qualquer coisa.
Ainda não sabia porque havia aceitado aquela proposta, Sentinela detestava ficar em lugares fechados e principalmente detestava mexer com papéis e fazer relatórios. Quando seu superior a indicou a esse emprego, disse que ela faria parte de uma das maiores equipes de caça a assassinos e psicopatas do mundo, e que isso iria ajudá-la a melhorar suas habilidades sociais, que era um dos maiores requisitos para ser uma boa ELITE, podendo usufruir disso para se infiltrar em qualquer lugar. E que lugar seria melhor para aprender a mentir e manipular do que na Unidade de Análise Comportamental do FBI?
Já havia feito uma pré-entrevista com o diretor da UAC, e naquele momento, faria sua entrevista final com Aaron Hotchner, o líder da equipe da qual participaria. E não estava nenhum pouco nervosa, apenas desconfortável, muitas pessoas juntas em um local desconhecido poderiam resultar em problemas.
— Hum, oi? — Uma voz disse ao seu lado. Ao se virar, uma garota loira de óculos, uns quinze centímetros mais baixa que ela, com uma flor rosa na cabeça e vestido roxo, estava parada a olhando com um olhar curioso. Sentinela arqueou a sobrancelha, esperando que ela continuasse. Falar ou “socializar”, não era um dos seus fortes. — Posso te ajudar, querida?
Ela estava acostumada a ser chamada de Sentinela, senhora, soldado, comandante, e só uma pessoa havia a chamado de querida antes e ele com certeza não se vestia como um arco-íris.
— Estou aqui para uma entrevista com o Agente Supervisor Aaron Hotchner.
— Ah sim, eu sou Penelope Garcia, Analista Técnica da UAC — Ela estendeu a mão em direção a soldado que a cumprimentou. — Vem comigo, vou te mostrar onde é. Adorei suas botas, onde comprou? — Ela perguntou enquanto a guiava em direção a uma pequena escada que levava a uma porta não muito longe de onde estavam.
— Em uma loja de artigos do exército.
— Então você gosta de roupas mais rústicas?
— Gosto de roupas que não afetam minha agilidade.
E assim Penelope bateu na porta antes de anunciá-la.
— Hotch, chegou alguém para fazer uma entrevista.
Ao olhar para dentro da sala, sentado atrás de uma mesa muito bem-organizada, de costas para uma estante cheia de livros, estava um homem de terno e cabelos pretos, aparentava ter uns quarenta e poucos, ele era sério e antes de ser chamado, estava bem concentrado em algo na tela de seu notebook, os cenhos franzidos e os olhos atentos. Ele ergueu os olhos para as duas mulheres, se levantando logo depois.
— Sentinela. É um prazer conhecê-la pessoalmente. — Ele contornou a mesa e se aproximou a cumprimentando. — Já ouvi falar muito de você. Suas recomendações são extremamente positivas.
— Fico feliz em ouvir isso, senhor.
— Seu nome é Sentinela?
E só então perceberam que a mulher loira ainda estava ali, entre eles.
— Obrigado Garcia, eu assumo daqui.
— Sim senhor. — E ela saiu fechando a porta. Hotchner apontou para a poltrona em frente a sua mesa, e enquanto ela se acomodava, ele voltou a se sentar em sua cadeira, colocando o notebook de lado, apoiando os dois braços na mesa e entrelaçando os dedos.
— Você tem uma ficha e tanto. Medalhas de honra, treinamento especializado em armas e luta corporal, entrou para os Elites no seu segundo ano de cadete, participou de duas missões extremamente perigosas e sucedeu em cada uma delas. É impressionante. Não são muitos soldados que acumulam tantos feitos assim. Seu General disse que nossa parceria seria beneficiadora para ambos os lados. Você aprenderia mais sobre as mentes criminosas e nos ajudaria nos casos com suas habilidades. Você já sabe por quanto tempo pretende ficar no FBI?
— Pelo tempo que meu comando achar necessário, senhor.
Hotchner franziu o cenho.
— Então você não veio voluntariamente?
— Após sua formação, Elites tem a obrigação de se especializarem em outros segmentos fora do exército. Investigação Criminal é o que mais me interessou, então aceitei a proposta de entrar temporariamente para o FBI. Mesmo seguindo ordens, de certa forma, foi minha escolha estar aqui, então sim, estou aqui voluntariamente.
— Tudo bem. — Ele se recostou, relaxando sua expressão facial. — Ele também disse que você pode ter alguns problemas com interações sociais. Comunicação é uma parte importante do trabalho. Acha que será um problema?
— Me comunicar sobre questões de trabalho e quando é preciso não é um problema para mim. Só prefiro não tagarelar sobre assuntos irrelevantes no trabalho. Minha vida pessoal só diz respeito a mim. Como o senhor sabe, soldados Elites são treinados primeiramente para o combate, relacionamentos platônicos ou românticos são vistos como perdas de tempo e energia, somos encorajados a não nos envolvermos. Mas quanto ao nosso trabalho, isso é o que sabemos fazer de melhor, não terá problemas comigo quanto a isso.
— Certo, você comandou sua própria equipe nos anos de treinamento e no tempo que passou no Afeganistão. Receber ordens de um superior será um incômodo para você?
— Eu fui treinada por profissionais rígidos, em um regime fechado onde até a hora de ir ao banheiro era controlada. A base de um bom soldado é saber que regras existem para que o caos não se instale. Elites sabem seguir regras. Nós obedecemos e respeitamos os nossos superiores desde que exista o respeito mútuo.
— Mas se por acaso acontecesse algo que a única opção para resolver a situação fosse quebrar as regras, você quebraria?
— Isso dependeria da situação. Algumas vezes, é melhor deixar que algo se resolva sozinha, do que trazer mais tempestade para o local.
— Seu superior nos relatou que você se envolveu romanticamente com seu comandante. — Sentinela enrijeceu o corpo, os músculos ficando tensos, sabia que as pessoas iriam fazer perguntas sobre o que havia acontecido entre ela e Keegan, mas não sabia que seria assim tão rápido.
“Quando as pessoas começarem a fazer perguntas sobre nós, não se desespere, seja breve e calma. Não dê motivos para que eles façam mais perguntas.”
A voz de Keegan soou em sua cabeça como se fosse uma memória recente, como se ele tivesse ali, do lado dela. Ela quase conseguia o materializar naquela sala, se lembrando do que ele havia dito à ela anos atrás, quando todos haviam descoberto que eles estavam em um relacionamento que não era mais secreto.
— Você acha que um relacionamento seja com um membro da equipe, ou com alguém fora dela pode ocasionar uma influência em suas decisões no campo?
— Meu relacionamento não me afetou dentro do campo, na briga eu era um soldado e ele o Comandante. Ambos seguíamos apenas ordens, não sentimentos.
— Entendo. — Ele fez uma pausa, e ela sabia que ele estava a analisando, afinal, era isso o que os perfiladores faziam, eles perfilavam. – Um acordo foi selado pelo Diretor da UAC e o seu General, certo? Para que esse projeto fosse autorizado, você deveria ter um acompanhamento psicológico de um terapeuta. Você está de acordo?
— Sim, senhor.
— E está de acordo que os resultados sejam compartilhados comigo?
— Sim, senhor.
— Bom, então não acho que eu tenha mais perguntas por enquanto. Se aceitar, faremos um teste, e se você se adaptar, estará na equipe.
Nesse momento, eles ouviram duas batidas na porta, antes de uma garota loira entrar carregando uma pasta em suas mãos.
— Oi, Hotch, desculpe interromper, mas a equipe está na sala de reuniões, temos um caso.
— Ótimo. — Ele disse se levantando, assim como a soldado. — JJ, essa é Sentinela, ela fará um teste conosco por alguns dias. Sentinela, essa é a agente Jennifer Jareau, nossa Agente Assessora. Ela cuida da imprensa e dos nossos contatos.
— É um prazer conhecê-la. — A loira disse estendendo a mão para garota que a cumprimentou.
E enquanto seguiam em direção a sala de reuniões, ela observava o local mais uma vez. Não parecia tão ruim assim, era melhor do que os campos em que dormiam no Afeganistão sujeitos a acordarem com uma bomba explodindo próxima à ela, ou até mesmo nunca mais voltando a acordar. Não que ela tivesse medo da morte, nunca teve.
— Agentes. — Hotchner disse assim que entrou na sala onde algumas pessoas se sentavam ao redor de uma mesa redonda. Aquela foi a primeira vez em três anos que Sentinela se sentiu intrigada ao ver um homem. Ele tinha aparência jovem. O rosto fino e delicado, com traços marcantes e expressivos. Seu nariz é reto e levemente arrebitado, sua boca é pequena e rosada, e seu queixo é pontudo. Suas sobrancelhas são finas e arqueadas, e seus cílios são longos e escuros. Seus olhos são verdes e brilhantes, escondidos atrás de uma lente de grau. Seu cabelo é castanho e macio, meio bagunçado, mas um bagunçado que deu certo. Não deveria ter mais do que 27 anos. Assim que Hotch se pronunciou, todos levantaram seus olhos, inclusive aquele rapaz. O olhar inocente em seu rosto a deixou confusa, inocência não caía bem em trabalhos perigosos. – Esta é Sentinela. Ela vai nos acompanhar por um tempo. Esses são os Agentes Morgan, Prentiss e , Garcia você já conheceu. Sentinela será uma Agente V.I.P em treinamento.
Morgan e Prentiss acenaram em reconhecimento, enquanto , o jovem de olhos inocentes, lhe deu um sorriso tímido. Sentinela arqueou uma sobrancelha com curiosidade. Ele parecia deslocado, com sua aparência jovem e inocente. Mas ela sabia que não deveria subestimar ninguém ali. Eles eram todos profissionais, cada um com suas próprias habilidades e experiências.
— Sentinela é um nome bem incomum. — Agente Morgan, disse.
— É um codinome.
— Era do exército? — A Agente Prentiss, uma mulher de cabelos escuros perguntou e Sentinela assentiu.
— Ainda sou.
— Sentinela é uma Comandante Elite. — Hotchner disse. — Ela irá nos acompanhar nas nossas próximas missões como forma de aprendizado.
— O que é um comandante Elite?
— Elite é um programa de soldados universais onde cada país participante concede seus melhores soldados a cada ano, para que treinem e se aprimorem em absolutamente tudo. São chamados de Super soldados por suas incríveis habilidades dentro do campo e fora dele. Infelizmente o programa Elite foi encerrado em 2014, e ninguém realmente sabe o motivo. — Aquele rapaz de olhos verdes disse. — Ser um comandante Elite significa que ela é comandante de sua própria equipe.
— Não é muito nova para ser uma Comandante?
— Não.
— Antes de começarmos, eu gostaria de dar um aviso a todos.
Hotchner parou ao lado de Sentinela que tinha os pés separados, a coluna reta e os braços para trás, em posição de sentido.
— Como disse, Sentinela é de um programa de soldados universais, e assim como é habilidosa, ela é perigosa, por tanto para evitar desentendimentos e acidentes vocês não devem tentar assustá-la, pregar peças, ou tocá-la sem sua permissão.
— Por quê? – Agente Derek perguntou soltando uma risadinha. – Ela vai tentar nos matar?
— Provavelmente.
E o silêncio foi gerado entre eles que se entreolharam, alguns chocados e outros intrigados.
— Eu geralmente tenho controle sobre minhas ações, mas às vezes, principalmente em momento de tensão, não consigo controlar meus reflexos, então um toque em uma das minhas áreas restritas por mais inocente que seja, pode desencadear um acidente grave. – Ela explicou enquanto alternava seu olhar entre todos da sala. — Eu não desejo ferir nenhum de vocês, mas eu fui treinada para matar. Manterei a minha distância de segurança, e peço que façam o mesmo.
— Nossa, com essa personalidade, nem imagino como faz amigos. – A Agente Prentiss brincou, tentando quebrar o clima, mas a soldado não pareceu entender a brincadeira e não esboçou nenhuma reação ou expressão, fazendo-a pigarrear e se virar para a Agente Jareau. — JJ qual é o caso?
— A polícia de Oregon City nos contatou. Três semanas atrás, George Milton foi encontrado morto, asfixiado dentro de casa pelos vizinhos que não o viam sair a dias. Uma semana depois, na terça-feira, Amanda Sharon foi encontrada afogada na piscina do clube da cidade. Na semana passada, ainda na terça-feira, Eric Richard amanheceu enforcado em uma pracinha perto de sua casa. Junto de cada corpo eles acharam uma carta de baralho feita a mão. Respectivamente um ás de copas, um dois de paus e um três de ouros.
— Vitimologia diferente, locais diferentes, método diferente. A única coisa que liga os três assassinatos sãos as cartas e o dia de assassinato. Terça-feira. — Emily disse.
— Hoje é Segunda. Algo me diz que o suspeito vai atacar amanhã novamente. — Derek comentou e Hotch balançou a cabeça assentindo. Logo ele olhou para a garota novata que tinha os olhos pregados na tela da televisão, examinando as fotos dos falecidos.
— Sentinela, trouxe a mala que eu pedi?
Ela rapidamente desceu os olhos para o superior.
— Está no carro, senhor.
— Ótimo, saímos em dez minutos, temos 17 horas até que ele faça outra vítima. Discutiremos o perfil no jato.
Sentinela já havia viajado de avião antes, isso era óbvio, mas eram sempre aviões de carga do exército, que já saiam de suas bases prontos para soltar os soldados que lá dentro estavam em cima das linhas inimigas. E aquela era a primeira vez que ela via assentos de luxo e entrava em um avião particular.
Enquanto os outros discutiam o caso, ela os observava, assim como Hotch pediu que ela fizesse, já que ela não era perfiladora e nunca havia trabalhado em uma investigação assim antes, seria bom para que ela entendesse melhor como o processo funcionava. E enquanto ela guardava as informações que ouvia em sua mente, ela também parou para analisar cada um dos membros.
Emily Prentiss, a mulher de cabelos pretos, pela forma com que ela conversava, parecia ser calma e equilibrada.
Derek Morgan, parecia ser alguém suave, conversava com a voz calma, se referia à Penélope Garcia com apelidos carinhosos e fazia uma piada ou outra para aliviar o clima.
Penélope só aparecia em um monitor de computador, já que havia ficado na sede onde seus computadores também estavam, parecia ser alegre, comunicativa e não se envolvia muito nos detalhes do caso, apenas ouvia o que os outros tinham a dizer.
Jennifer Jareau, assim como Penélope, ouvia com atenção o que os outros tinham a dizer, ela não era uma perfiladora, era encarregada de falar com a imprensa e cuidar das comunicações do time. Ela era como Emily, calma e serena.
Aaron Hotchner era extremamente sério, sagaz, determinado e focado. Estavam a quarenta minutos no mesmo lugar e todos ali haviam sorrido pelo menos uma vez, menos ele. Sentinela reconhecia aquela personalidade, a de formar uma casca sem emoções por fora de seu corpo, se mantendo profissional em todas as ocasiões. Ele a lembrava de seu Capitão, que agia assim dentro dos campos, mas que era um doce com quem ele amava.
E por último ela observou enquanto fazia um discurso sobre estatísticas. Ele gostava de falar, e parecia se divertir enquanto explicava o tópico para seus colegas, ele parecia ser muito inteligente, porém muito estranho. Mesmo assim, ele conseguiu fazer com que ela ficasse curiosa sobre ele.
— Prentiss, Morgan e eu nos encarregamos de falar com os familiares das vítimas, JJ, quero que fale com a imprensa e veja se o assassino entrou em contato com eles, talvez ele queira visibilidade. , você e Sentinela vão para a delegacia falar com os policiais. , mostre a ela como se monta um mapa geográfico.
— O que é um mapa geográfico? — Ela perguntou, e jurou que pôde ver os olhos do rapaz brilharem antes de começar a falar.
— O perfil geográfico é uma técnica de investigação criminal que envolve o uso de dados geográficos e comportamentais para identificar a área de atuação de um assassino em série ou criminoso em série. O perfil geográfico é criado com base em informações sobre as vítimas e a cena do crime, bem como em dados demográficos e geográficos da área onde os crimes ocorreram. O objetivo é identificar padrões de comportamento do criminoso, como áreas de conforto, rotas de fuga e locais de descarte de corpos, para ajudar a polícia a localizar o suspeito ou antecipar seus próximos movimentos...
— Você nunca consegue resumir suas explicações, não é mesmo, garoto maravilha? — Derek brincou e enquanto os outros riram, e apenas deu um sorriso de canto, possivelmente desconfortável com o comentário, Sentinela arqueou a sobrancelha para o moreno. Ela não sabia absolutamente nada daquela equipe, mas ela não viu nada de errado em falar muito, ele parecia gostar, então por que cortar o barato do rapaz?
— Eu não entendo muito sobre o que vocês fazem, mas se eu quiser aprender, não vai ser com explicações resumidas.
— Calma, princesa guerreira, foi só uma piada. sabe que não quis ofendê-lo. — Derek jogou as mãos para cima, e enquanto isso, Hotchner olhava alternadamente entre o Agente e Sentinela que não havia mudado sua expressão, ela não estava irritada, mas também não estava feliz.
— Não me chame de princesa.
— Está bom, não está mais aqui quem falou.
— Foquem no caso, temos um assassino a solta que não vai esperar que vocês se enturmem. Lidem com suas diferenças depois. — Aaron disse antes de voltar seus olhos para o arquivo em suas mãos. E ela sabia que provavelmente havia cometido um deslize, ela era uma intrusa ali, não conhecia aquelas pessoas, então não deveria fazer suposições e muito menos tentar se intrometer nas brincadeiras deles.
— Eu peço desculpas, como o Agente Hotchner sabe, eu não sou boa com interações sociais. Pode ter parecido que eu estava irritada, mas não estou.
Derek sorriu.
— Está tudo bem. Sem preocupações.
— É, até porque temos que nos preocupar é com como diabos vamos pegar esse cara. — Emily disse, e logo depois olhou para a garota. — Você não tem nada para falar?
— Ainda não. Eu nunca participei de investigações antes, eu só era mandada para efetuar a prisão ou para resgatar alguém. Não sei como funciona ainda. Mas irei aprender rápido, sou boa nisso.
Quando e Sentinela desceram do Jato, seguiram em direção a uma SUV chevrolet suburbano que estava esperando por eles. A chave foi oferecida ao Agente que recusou dizendo que não dirigia, então ela tomou o volante para si. O caminho não foi longo, a delegacia não ficava muito longe do Aeroporto e foi bem silencioso, nenhum dos dois abria a boca para dizer uma palavra, ela porque era acostumada a ficar calada, e ele só estava calado para não a aborrecer. sempre gostou muito de pesquisar sobre coisas que geralmente as outras pessoas não conheciam, ele gostava de ser um centro de informação para qualquer um que precisasse, e ele não sabia muito sobre os Elites, mas sabia que por trás de seus rostos normalmente sem expressão, havia muita fúria e ele não queria ser o alvo da fúria dela. Apesar de que ela realmente parecia inofensiva, ninguém jamais poderia imaginar o quão perigosa ela era, não apenas olhando para seu rosto de anjo e seu olhar de menina inocente.
— Detetive Hathaway? Eu sou o Agente do FBI.
se identificou assim que entrou na delegacia, enquanto a mulher o seguia e observava as pessoas trabalhando. Desconfiança era um de seus maiores defeitos, mas ainda assim a havia revelado muitos perigos. Uma das coisas que lhe foi ensinada é que nunca estamos seguros. Dentro de sua casa, no trabalho, em uma delegacia ou em um comboio militar, sempre haveria chances de algo letal acontecer.
— E quem é essa?
— Sentinela. – Ela respondeu.
— Que tipo de nome é esse?
— É um codinome.
— No FBI dão codinomes?
— Não.
— Ela é uma Agente em treinamento. – interrompeu. – É uma Elite.
— O que é uma Elite?
— Onde podemos nos instalar? – A mulher perguntou desviando do assunto. Quanto mais tempo perdiam com explicações sobre coisas que as outras pessoas não precisavam saber, mais pessoas poderiam morrer.
O Detetive os levou até uma mesa no fundo da delegacia. Havia um quadro de provas perto da janela com as fotos das vítimas e suas informações. Em frente a ela ficava uma mesa grande com seis cadeiras, provavelmente para a equipe de Hotchner poder se instalar.
— Então, como você começa um perfil geográfico? — Sentinela perguntou assim que o detetive se afastou.
— A criação de um perfil geográfico envolve várias etapas, primeiro nós coletamos as informações sobre os crimes, como as localizações, a vitimologia, as circunstâncias do crime e qualquer tipo de informação que seja relevante para o caso. Depois nós analisamos as informações coletadas para identificar padrões ou características comuns. Por exemplo, onde os crimes ocorreram, qual dia da semana, e se foi perto de alguma área de alto risco, se tem rotas de fuga, se o local é ou não movimentado.
— Certo. — Sentinela pegou um pincel e se aproximou do quadro branco onde o mapa da cidade estava, marcando o local de cada assassinato, um mais longe que o outro. Ela seguiu colocando as informações no quadro, enquanto a explicava como funcionava a exclusão das áreas e como eles calculavam as possíveis rotas que o suspeito poderia ter pegado e quais seriam os outros possíveis lugares que ele poderia atacar. Não era tão difícil quanto o nome fazia parecer.
— Exatamente, Sentinela. — concordou, observando enquanto ela marcava os locais dos crimes no mapa. – E a partir dessas informações, podemos começar a prever onde o suspeito pode atacar a seguir. Isso é chamado de previsão geográfica. É uma ferramenta poderosa para nos ajudar a antecipar os movimentos do suspeito e, esperamos, capturá-lo. Você aprende rápido.
Sentinela assentiu, absorvendo as informações. Ela olhou para o mapa da cidade coberto de marcas e linhas, cada uma representando um crime e uma vida perdida. Era uma visão sombria, mas também uma lembrança do porquê estava fazendo isso — para impedir que mais vidas fossem perdidas.
- Entendi. — Ela disse finalmente, sua voz firme e determinada. — Vamos pegar esse cara.
— Isso não faz sentido nenhum. A zona de conforto dele é a cidade inteira? Cada crime é em um lugar diferente, não dá nem para triangular a localização, e nem determinar onde o desconhecido talvez resida. — JJ disse olhando para o quadro.
— Ele claramente sabe o que está fazendo. — Sentinela disse e todos olharam para ela.
— Você tem uma teoria?
— Não, mas isso me lembrou algo em uma das missões que participei, as milícias locais tentavam distrair os soldados para que eles não procurassem perto do local onde a base deles estava instalada, então eles mandavam um homem para cada canto da cidade soltar bombas, dar tiros para o alto para chamar nossa atenção.
— Talvez ele saiba o que está fazendo, talvez saiba como a polícia faz suas investigações, talvez até saiba que o FBI já está aqui. E se ele estiver matando em locais diferentes justamente para que a investigação fique mais lenta? – Derek levantou a questão.
— Talvez as pessoas sejam aleatórias, mas os locais não. — Emily disse.
— Vou ligar para a Garcia e pedir para que ela revire as vidas das vítimas, deve ter alguma coisa que ligue essas pessoas.
— E quanto aos crimes parecidos? — Hotchner perguntou, mas o detetive balançou a cabeça em negação.
— Não, nós nunca lidamos com algo assim.
— Talvez não aqui, mas quem sabe em outra cidade. Morgan, peça para a Garcia fazer uma varredura nas cidades próximas e veja se houve algum crime parecido com as mesmas circunstâncias em dois anos.
Hotchner se virou para o detetive.
— Nós também vamos precisar de todas as informações que você tiver sobre crimes semelhantes em outras cidades nos últimos dois anos. Quanto mais dados tivermos, melhor será nossa chance de encontrar um padrão.
O detetive assentiu, parecendo um pouco sobrecarregado, mas determinado.
— Vou entrar em contato com os departamentos de polícia das cidades vizinhas e ver o que posso encontrar.
Sentinela e estavam parados em frente ao quadro de provas, ambos escorados na mesa atrás de si, ela de braços cruzados e ele com os braços para trás, as mãos apoiando na mesa, ambos esperando um milagre acontecer e uma luz se acender em suas mentes dizendo algo que poderia ser útil para a investigação. Já era dia, eles haviam ficado algumas horas no hotel, mal conseguiram descansar e já estavam ali novamente, tentando desvendar o mistério daqueles assassinatos. De repente em um movimento brusco, acabou batendo seu cotovelo no braço da garota, pulando para longe logo depois.
— Me desculpe, eu não queria...
— Fique calmo, Agente. – Disse ela sem tirar os olhos do quadro. — Não é como se eu fosse de porcelana. Não vou quebrar com um simples toque.
— É que Hotch disse ontem que não deveríamos tocar em você por conta dos seus sentidos aguçados. Não queria que se sentisse ofendida e quebrasse meu braço.
Sentinela teve vontade de rir, levando os olhos até o rapaz que estava obviamente preocupado.
— Não é assim que funciona. Eu estou vendo você, reconheço sua presença e sei que está perto de mim. Se você me tocar, nada vai acontecer, porque não estou em alerta e não te vejo como uma ameaça. Mas se fosse uma ameaça, a história seria diferente. – E ela voltou a olhar para o quadro, enquanto absorvia as informações e constatando que não havia perigo, ele voltou a se escorar perto dela.
Quando os outros chegaram, sem sequer nenhuma pista, os nervos começavam a subir. Já era terça feira, a qualquer momento um novo corpo iria aparecer, eles não faziam ideia do que fazer nem de como iriam pegar aquele assassino.
— Nós deixamos passar alguma coisa. – A voz de Emily chamou a atenção dos outros. – Alguma dessas vítimas pode ter as respostas para sabermos quem é o assassino.
— Penelope já vasculhou a vida de cada um deles, não há nada que os conecte. Trabalhavam em setores diferentes de diferentes empresas, moravam em lugares extremamente afastados dos outros, não faziam nenhuma atividade conjunta e nem tinham amigos em comum. – JJ respondeu. – Se tem algo que liga uma vítima a outra é o assassino. E se não descobrirmos quem ele é, não vamos conseguir pará-lo.
— NNW, SSE, ENE. — Sentinela sussurrou, mais para si mesma, do que para qualquer outro, mesmo assim chamando a atenção deles para ela.
— Como é? — perguntou.
— Os locais dos crimes. Me lembra os pontos sub-colaterais da bússola. O primeiro foi no Nor-nordeste, seguindo para o Su-sudeste, depois subiu para o És-nordeste.
— Isso é muito interessante, Sentinela. Você acha que o assassino está seguindo algum padrão geométrico ou simbólico com os locais dos crimes? — Hotch perguntou, olhando para o mapa que mostrava os pontos vermelhos onde os corpos foram encontrados.
— Não, senhor, eu só vi os pontos e pensei sobre isso, não sei se é algo assim ou não.
— Se seguir essa lógica, ele vai descer novamente e ir para o Oés-sudoeste. — seguiu a linha de raciocínio e desenhou no mapa.
— Mas espera... Essa é a área da delegacia... Ele vai atacar aqui perto? — O detetive perguntou. — E como vamos saber o que procurar?
— É uma possibilidade. — respondeu ao detetive. — Mas lembre-se, isso é apenas uma teoria baseada nos padrões que identificamos até agora. O suspeito pode mudar seu padrão a qualquer momento.
— Mas agora que temos uma ideia de onde ele pode atacar a seguir, podemos aumentar a vigilância nessa área e alertar as autoridades locais. — Hotchner acrescentou. — Coloque seus homens na rua. – Hotchner o orientou. — Diga para procurarem por qualquer coisa suspeita. Nós vamos tentar trabalhar num perfil e divulgaremos pelo rádio para que...
Sentinela parou de escutar. Keegan uma vez havia dito a ela que ela tinha algo como um sexto sentido, pois ela sempre parecia sentir quando algo estava prestes a acontecer e por isso ela era tão boa no que fazia, como se previsse as ações dos inimigos. Ele disse “Quando você passa por perigos e situações de vida ou morte, às vezes você tem a sorte de desenvolver um sexto sentido que te avisa quando algo está prestes a acontecer. E você parece ter isso.” E ele não estava errado, seu sexto sentido estava apitando naquele momento, como um sino em sua cabeça, um arrepio na espinha.
Ela se desencostou da mesa e deu alguns passos em direção a janela da delegacia que dava para a rua, enquanto olhava em volta de si, chamando a atenção dos seus colegas que a olhavam com confusão em seus rostos. Franzindo o cenho, ela procurou por um barulho que parecia ter escutado vindo lá de fora, e logo deu de cara com um carro em alta velocidade indo em direção a delegacia. Se virou de uma vez, berrando para que todos se protegessem. Vendo entre ela e a mesa, a soldado avançou em direção a ele, uma mão agarrando sua camisa e a outra se posicionando entre o topo de sua cabeça e sua nuca, girando com força, se jogando sobre a mesa e puxando consigo, os dois rolaram e pousando no chão em um impacto duro, ela por cima do corpo dele, a mão atrás de sua cabeça prevenindo que ele a batesse no chão, e seu corpo protegendo o dele dos estilhaços do vidro que voaram por todos os lados. O impacto foi ensurdecedor, o som de vidro quebrando e metal retorcendo preencheu a sala. O carro bateu na mesa e a empurrou para o lado, mas Sentinela conseguiu proteger do impacto.
— Todo mundo está bem? – Hotchner perguntou, e olhando ao redor da sala, Sentinela viu que seus colegas estavam se levantando lentamente, alguns com cortes e contusões, mas pareciam estar bem.
Os policiais que estavam de pé logo avançaram com armas empunhada em direção ao carro, gritando para que o motorista saísse com as mãos na cabeça.
— Você está bem? — Sentinela perguntou, com os joelhos posicionados ao lado do corpo do rapaz que de olhos arregalados e coração acelerado assentiu. Ela então se ergueu pegando a arma do coldre e indo em direção ao carro.
— Ela está morta. — O detetive disse após checar o pulso da mulher no volante que tinha a cabeça sangrando, escorada no volante.
— Gente, olha isso aqui. — Derek apontou para dentro do carro, o banco do passageiro cheio de cartas de baralho. Eram 4 de espadas.
— O suspeito deve estar aqui por algum lugar, temos que procurá-lo. Ele acabou de invadir uma delegacia, não vou deixar isso barato.
— Senhor? – Sentinela se virou para Hotchner. — Devo ir com eles?
— Não. Vocês se machucaram?
— Não, senhor.
também negou enquanto se levantava do chão com a ajuda de Emily.
— Obrigado. – Ele agradeceu a mulher que apenas assentiu e começou a juntar os papéis que estavam jogados pelo chão.
Sentinela nunca entendeu o porquê as pessoas colocavam picles nos sanduíches. Amargava, deixava um gosto ruim na boca e o cheiro lembrava o suor dos soldados durante os dias que passavam nos campos de batalha. Quando a tarde chegou, a soldado estava voltando para a delegacia, tinha saído para comprar uns sanduíches para a equipe, já que estavam ali há horas sem comer e ela sabia o quão era difícil se concentrar quando seu estômago tentava engolir seu fígado. Em uma de suas primeiras missões como Elite, ela e seus companheiros ficaram dias sem comer, apenas tomando poucas mls de água por dia. Foi uma das piores experiências que ela teve, e jamais queria passar por aquilo novamente.
Se aproximando da porta de entrada, ela observou uma garota parada, observando o guincho retirando o carro de dentro do departamento. Ela abraçava um notebook com todas as forças contra o seu peito e a expressão em seu rosto era de medo e preocupação. Geralmente, Sentinela passaria reto e ignoraria, como fazia nas missões, tentando se manter o mais afastada possível dos civis, mas já que agora estava trabalhando com pessoas normais, ela deveria ao menos tentar agir como uma.
— Posso ajudar? – A garota em sua frente deu um pulo para trás, quase soltando o notebook.
— Anh, eu só estava olhando... – Ela começou a falar, mas pausou ao ver o crachá que ela usava. – Você é do FBI?
— Sou.
— Então é verdade, vocês estão trabalhando no caso daquelas três pessoas assassinadas?
— Quatro. – Ela apontando para o carro que estava sendo guinchado. A garota em sua frente se encolheu, usando uma das mãos para tampar a boca enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.
— Oh meu Deus, eu não acredito nisso.
— Você é parente de alguma das vítimas? – Sentinela perguntou e a garota negou antes de se voltar para ela.
— Não, eu não sou. Mas eu acho que posso estar conectada com as mortes.
— Ei, você está bem? – Emily se aproximou de que dava mais uma olhada pelos perfis das vítimas, examinando-as novamente. Ele estava sentado em uma cadeira com os pés em cima da mesa, as pastas em seu colo. Ele ainda não havia parado para pensar no que havia acontecido, mas agora que Prentiss havia tocado no assunto...
— Ela poderia ter apenas pulado para o lado, era mais fácil para ela se esquivar do que fazer o que fez. Além disso, ela segurou minha cabeça para não bater no chão. – Ele comentou movendo as sobrancelhas, confuso. – E ela usou o ombro para parar a mesa que o carro arrastou, não deixando me atingir. – Ele piscou algumas vezes antes de olhá-la. – Ela nem me conhece, poderia ter se machucado por minha causa. Geralmente quando você está em uma situação de perigo e não conhece as outras pessoas, seu instinto tende a fazer você se salvar primeiro, e só depois pensar nos outros.
— Talvez ela já tenha caído pelo charme do Agente de olhos grandes que gosta de conversar demais. – Emily brincou, vendo o rapaz rolar os olhos. – E aquela manobra, nossa, foi sensacional, vocês voaram por cima da mesa.
— Olha, eu não sei de absolutamente nada sobre soldados Elites, mas sei que aquela cena foi digna de filme de ação. – JJ comentou se aproximando. – Eles devem ter um treinamento bem pesado. Já notaram o jeito com que ela anda? É cautelosa, está sempre olhando em volta do lugar como se estivesse procurando por algo suspeito. E tem sempre uma mão perto da arma.
— Como é o treinamento deles? – Emily se virou para que deu de ombros. – Você não sabe?
— Eu não faço ideia.
— Achei que soubesse de tudo.
— Os Elites são muito reservados, nunca vi um demonstrar sua tática para o público, ou falar sobre seu treinamento. Sei que eles existem há mais de 90 anos, dizem que eles foram criados depois dos conflitos da Primeira Guerra Mundial e que tiveram envolvimento direto com a morte de Hitler na Segunda Guerra. Mas são só rumores, nada nunca foi comprovado ou assumido por eles, na verdade, até pouco tempo atrás eu nem sequer acreditava que eles realmente existissem.
— Ou talvez ela só quisesse impressionar o chefe. – JJ apontou para Hotch, que agora conversava com o detetive do outro lado da sala.
— Não, acho que ela só fez por puro reflexo mesmo, lembra do que ela falou, sobre não controlar os próprios reflexos? Será que o nome deles é tipo um acróstico ou foi escolhido aleatoriamente?
— Eu acho que deve ter algum significado que se ligue diretamente com o que eles fazem. E por falar nisso, achei que essas tropas especiais do exército só recrutavam homens. – JJ comentou. – Não sabia que aceitavam mulheres também, afinal, não existe grupo mais patriarcal do que os militares.
— Eles recrutam quem passa com noventa por cento de sucesso nas provas práticas e teóricas que lhe são dadas. – A voz de Sentinela fez com que os três pularem ao verem que ela estava bem ao lado deles. – Eles não querem saber nosso gênero, só querem que o trabalho seja feito. – E antes que um deles abrisse a boca para falar algo, ela continuou. – Eu a encontrei do lado de fora do departamento. – Apontou para a garota encolhida em seu lado. – Acho que vão querer ouvir o que ela tem a dizer. O nome dela é Perséfone.
E todos viram como o rosto dela estava molhado e vermelho. JJ deu um passo à frente.
— Oi, eu sou a Jennifer. Por que não vem comigo, podemos conversar melhor ali na cozinha. Talvez você possa beber uma água e se acalmar, está bom?
Perséfone assentiu e seguiu a Agente, enquanto a soldado e os outros observavam elas se afastarem.
— Eminente, Leal, Impávido, Tenaz e Enfurecido. – A soldado falou, fazendo e Emily olharem em direção a ela que deixou de olhar as duas mulheres para encará-los, a expressão neutra. – É isso o que significa a sigla. São as qualidades que um soldado deve ter e demonstrar durante as provas e os treinamentos na academia para que consiga ser um Elite.
— Parece um status difícil de manter.
Ela não respondeu, apenas acenou com a cabeça e colocou a sacola com os sanduíches em cima da mesa.
— Achei que estariam com fome.
Emily e se olharam antes de sorrir para ela e cada pegar um. Quando olharam novamente em direção a ela para agradecer, ela já havia dado as costas e estava indo em direção ao outro lado da sala.
Quando Hotch e Derek chegaram na delegacia, seguiram em direção a sala de interrogatório, onde Perséfone estava sentada.
— Ela disse mesmo que estava envolvida nas mortes? – Derek perguntou para Sentinela que estava do outro lado do vidro espelhado, olhando a garota que estava menos nervosa do que antes, conversando com JJ.
— Sim. Ela está contando tudo para a agente Jareau.
— Quando eu vi as notícias nos jornais, eu não acreditei que fosse culpa minha, e eu queria vir até aqui e falar com vocês, mas depois de ver o carro que entrou dentro do departamento, eu percebi que a culpa era minha.
— Como assim? Pode me explicar melhor?
— Eu estou no segundo ano do ensino médio, nada muito emocionante acontece na minha vida e eu comecei a procurar outros jeitos de me distrair, então eu comecei a escrever.
— Escrever?
— Sim, no começo eu escrevia fanfics curtas com meus ídolos, mas uns meses atrás eu decidi que queria escrever algo mais original, então eu comecei a trabalhar em um projeto que é um romance policial, onde uma série de assassinatos começou a acontecer, e dois detetives, Isabela e David, começaram a investigar e acabam se aproximando. O problema é que quando o assassino descobre quem são os investigadores do caso, ele tenta intimidá-los e joga um carro em alta velocidade contra a delegacia.
— Então você está me dizendo que todas as mortes que aconteceram no seu livro, estão acontecendo na realidade? – JJ perguntou e a garota assentiu, os olhos se enchendo de lágrimas mais uma vez. Assim, ela abriu o notebook e o virou em direção à Agente. Lá estavam as páginas do Tumblr onde ela havia postado os capítulos da história com a data. Todas postadas dois dias antes de cada assassinato.
— Eu juro que não queria que nada disso estivesse acontecendo, não queria que alguém se inspirasse na minha história e começasse a matar pessoas. – E ela se desmanchou em lágrimas, JJ deu uma olhada por cima do ombro, em direção ao vidro e Hotch entendeu o sinal.
— Qual o nome dela?
— Perséfone Jones. – Sentinela respondeu.
Assim, ele abriu a porta ao lado, entrando e parando ao lado da Agente Jareau.
— Senhorita Jones, eu entendo que você talvez não tenha tido a intenção de machucar ninguém, mas alguém que lê sua história é o assassino. Você faz ideia de quem pode ser? É alguém que constantemente tenta entrar em contato com você, te faz elogios, curte todos os seus posts nas redes sociais, até mesmo tenta marcar encontros.
— Não, eu não uso minha identidade verdadeira na internet, sei que pode ser perigoso, mas tem uma pessoa, ele sempre comenta nos meus capítulos, faz citações das partes que ele mais gostou, uma vez até me mandou mensagens, mas eu nunca respondia porque achei que podia ser algum dos meus colegas que descobriu o que eu faço e estava tentando tirar sarro de mim ou só provar que era realmente eu para contar para o resto da escola. – Respondeu fungando, secando o rosto com a manga do suéter.
— Você entende que vamos precisar vasculhar seu computador se quisermos encontrar essa pessoa, certo? – JJ perguntou e ela assentiu.
— Sim, foi exatamente por isso que eu o trouxe, se fui eu quem criei esse monstro, eu quero ajudar a acabar com ele. Eu até pensei em deletar todos os posts, mas eu não sabia se ia ajudar ou não.
— Você fez bem em vir até nós. – Hotch disse antes de dar as costas para sair da sala.
— Eu estou em perigo?
Aaron se virou novamente em direção a ela.
— Acredito que não, se sua identidade é escondida, então ficará bem.
— Meus pais não estão na cidade, eles viajaram para passar uma semana romântica em Vancouver. Eu estou sozinha em casa, será que eu poderia ficar aqui, até que vocês peguem o responsável?
— Garcia, pode falar! – Derek disse, sentado na mesa do QG, usando um computador local para ler a história que Perséfone havia escrito. A garota estava sentada na sala de espera, encolhida no sofá, olhando para o nada, esperando que JJ dissesse que ela poderia ficar ali até que o assassino fosse pego.
— Eu dei uma limpa no notebook da nossa escritora, mas não achei absolutamente nada de suspeito. Então eu fui ao blog dela, consegui descobrir quem é que estava mandando mensagem para ela, e olha, era um admirador e tanto, ele manda mensagem todos os dias para ela, comenta em todos os posts que ela faz e tem uma centena de perguntas que ele mandou para ela pela caixa de perguntas, mas ela nunca o respondeu. Ainda vai demorar um pouquinho para eu rastrear o IP, mas logo terei uma resposta.
— Obrigada, amor.
— A novata está aí?
— Não, ela e Hotch foram ao necrotério ver o que o legista fala sobre a morte da quarta vítima. – disse após entrar na sala. – Por quê?
— Bom, depois que vocês saíram, eu fui dar uma olhada na ficha dela, sabe, para saber quem é ela, não podia deixar uma assassina desconhecida a sós com vocês.
— Isso é muito errado, Garcia, se ela descobrir...
— Qual é, ela não vai descobrir, até porque eu fui barrada por todos os protocolos possíveis, a ficha dela está protegida a sete chaves, com um cadeado gigante, dentro de uma caixa impermeável no fundo do oceano. Não consegui acessar absolutamente nada.
— Isso não me surpreende, Elites conseguiram manter suas identidades e até mesmo a sua existência longe dos holofotes e os olhos de curiosos por décadas.
— Mas você não entendeu, garoto maravilha, não há registro de nada, nem mesmo usando a foto dela no banco de dados não achei nada, nem carteira de motorista, nem foto do anuário da escola, multa por velocidade, nada. E o que eu achei, está trancado, é como se ela não existisse. Isso é muito suspeito. Pelo que eu sei ela pode até mesmo ser uma espiã russa que está infiltrada no FBI para nos destruir.
— Você está assistindo muita série policial, Garcia. E ela não me parece ser uma pessoa ruim e por eu já ter sido militar eu entendo que o treinamento pode ser pesado e pode mudar você.
— Não sei não, Derek, não me sinto segura em não saber absolutamente nada sobre uma pessoa que voa com vocês.
— Bom, se for te deixar mais tranquila, ela salvou a vida do hoje.
— Como assim?
— Bom, o carro que entrou na delegacia ia acertar o em cheio se ela não tivesse dado uma de Ninja e pulasse por cima da mesa com ele. Foi um show e tanto. Acho que estamos mais seguras com ela do que com um departamento inteiro de polícia.
— E eu acho melhor você parar de procurar coisa onde não tem, Penélope. – a orientou. – Não vai ser nada legal se ela descobrir que você está tentando hackear a ficha dela. Hotch Também não vai gostar de saber disso, eu acho que se ele confiou nela para entrar na equipe, então eu acho que ela merece um voto de confiança.
— Tudo bem, vocês venceram, vou parar de procurar, por enquanto. Quando eu tiver notícias sobre o usuário eu comunico a vocês.
— Como vocês já suspeitavam, ela estava morta antes de bater com a cabeça no volante durante o acidente. Havia uma perfuração profunda e única em seu peito que atravessou seu peito. Meu palpite é que usaram um espeto de churrasco ou uma espada samurai.
— Exatamente como está descrito no capítulo que Perséfone postou ontem. – Sentinela diz enquanto cruzava os braços.
— Tem algum outro ferimento?
— Não, e não há sinais de luta também, suas unhas estavam limpas sem nenhum resíduo de tecido ou pele, não havia marcas de defesa nos braços e nem algo do tipo.
— Se ela não se defendeu, então ela conhecia o assassino ou pelo menos ele parecia ser inofensivo para a vítima. – Hotchner constatou. – Pode ser que ele estivesse disfarçado de guarda de trânsito ou de chofer, existem muitos cruzamentos perto da delegacia e muitos lugares com estacionamento que disponibilizam manobristas para os clientes. Obrigado, doutor.
— Estou à disposição.
— O que me deixa confusa é como ele conseguiu fazer o carro ir em direção a delegacia em linha reta sem ter alguém lá para dirigir? – A soldado perguntou enquanto ambos caminhavam pelos corredores, saindo do necrotério. – Se a mulher foi morta antes de colidir, não teria como ela ter dirigido em linha reta e nem acelerado.
— Talvez ele tenha posicionado o corpo para que o peso dela ficasse contra o acelerador e quando ela colidiu contra a delegacia, o corpo deve ter saído do lugar, parando de acelerar. E se o carro não tiver direção hidráulica, o volante fica duro e precisa de esforço para virar, por isso o carro foi em linha reta.
— Mas, espera. – Sentinela parou de andar e assim Hotch também. – O carro teria que atravessar um cruzamento para conseguir chegar à delegacia, e o dia estava movimentado, como o carro não bateu com nenhum outro durante o trajeto? – E a expressão dela pareceu se suavizar quando uma ideia surgiu em sua ideia. – E se ele estava controlando o carro remotamente?
— Como assim?
— No exército uma vez meu parceiro controlou um tanque usando um controle de vídeo game. Ele mesmo criou o dispositivo que hackeou o sistema operacional do tanque que tinha uma inteligência virtual como copiloto. Se o motorista morresse, a IV tomava controle e levava o tanque até o destino iniciando a sequência de destruição. Como um carro bomba. E se o homem que está fazendo isso seja da área de tecnologia e segurança?
— Por isso nenhuma das vítimas tinha marcas de defesa, não esperavam que aquela pessoa fosse atacá-los. Isso faz sentido, vou pedir para a Garcia descobrir se as vítimas tinham algum serviço em comum. – Ele pegou o telefone discando o número da analista. – Garcia, quero que puxe todos os serviços de segurança e internet que as vítimas poderiam ter em comum.
— Sim, senhor.
Ao voltarem para a Delegacia, o líder de Equipe passou todas as informações para o resto da equipe que começou a trabalhar em um perfil enquanto Sentinela novamente apenas observava como eles discutiam os tópicos.
— Sim, senhor. Todas as vítimas tinham contratado o mesmo serviço de segurança para suas casas e escritórios. A empresa se chama SecureTech e é especializada em sistemas de alarme, câmeras, fechaduras inteligentes e controle remoto de veículos. – Garcia respondeu com sua voz animada.
— Controle remoto de veículos? – Derek repetiu, confirmando as suspeitas da equipe. – Você estava certa, Sentinela.
— Isso mesmo. A SecureTech oferece um aplicativo que permite ao usuário ligar, desligar, travar, destravar e até dirigir seu carro pelo celular. É como um controle remoto universal para o seu automóvel. – Garcia explicou.
— Isso é incrível. E assustador. – Emily comentou.
— Concordo. E sabe o que é mais assustador? A SecureTech tem acesso aos dados dos clientes, incluindo suas rotas, horários, localizações e hábitos de direção. Eles podem rastrear cada movimento dos usuários e até interferir no funcionamento dos veículos ou dispositivos de segurança. – Garcia continuou.
— Então o assassino pode ser alguém que trabalha na SecureTech ou que tenha acesso aos seus sistemas. Ele pode ter usado o aplicativo para controlar o carro da última vítima. – Hotch deduziu.
— Exatamente. E eu tenho uma lista dos funcionários da SecureTech e estou mandando para vocês agora.
— Essa lista é muito grande, vamos precisar reduzi-la, Penélope. – Hotcher disse. – Veja se alguém teve algum tipo de problema com a polícia como agressão, violência doméstica ou algo assim.
— Ok, chefe. Estou analisando os antecedentes criminais dos funcionários da SecureTech e encontrei dois nomes que se destacam: Lucas Mendes e Mariana Silva. Ambos foram presos por agressão física contra seus ex-parceiros e têm histórico de violência doméstica. Eles também são engenheiros de software e têm acesso aos servidores da empresa. – Garcia disse, enviando as fichas dos suspeitos para os celulares da equipe.
— Ótimo trabalho, Garcia. Vamos interrogar esses dois e ver se algum deles tem alguma ligação com as vítimas ou com a Perséfone. Obrigado pela ajuda. – Hotch agradeceu.
— De nada, chefe. Estou sempre à disposição. – Garcia se despediu.
— Onde está a Perséfone? – Hotchner perguntou ao ver que ela não estava na sala de espera.
— Ela quis ir para casa. Queria ligar para os pais e avisar sobre o que está acontecendo. O computador ficou conosco e estamos monitorando o blog, se algo acontecer, saberemos.
JJ foi quem o respondeu.
— Espera um minuto. – franziu o cenho, olhando para o quadro de provas e para o mapa, fazendo todos pararem o que estavam fazendo para prestar a atenção nele. Ele pegou uma caneta, circulando o local onde ficava a casa de Penelope, bem no meio dos pontos. – Se o suspeito conseguiu hackear um carro e controlá-lo remotamente, como é que ele não conseguiu encontrar o endereço de IP da Perséfone e assim o seu endereço residencial? Alguém com uma obsessão assim tão forte e que tem essas habilidades já teria confrontado sua vítima há muito tempo.
— Talvez ele quisesse dar um presente para ela antes de confrontá-la, tornando as ficções que ela escrevia em realidade. – Emily comentou.
— Ou ela estava mentindo ao dizer que não sabia quem era o assassino. – Sentinela comentou.
— Você viu o estado dela quando ela chegou aqui!
— Você está na Unidade de Análise Comportamental há muito mais tempo que eu, Agente Jareau. – Sentinela retrucou, a voz calma e a expressão neutra como sempre. – Sabe muito bem que pessoas mentem.
— Não vamos tirar conclusões precipitadas, Sentinela. A Perséfone pode estar assustada e confusa, mas isso não significa que ela esteja envolvida nos assassinatos. Ela pode ser apenas uma vítima inocente que foi usada pelo suspeito para realizar suas fantasias. – Hotch interveio, tentando acalmar os ânimos.
— Mas tem razão, é estranho que o suspeito não tenha tentado rastrear a Perséfone. Talvez ele tenha algum motivo para não fazer isso. – Derek sugeriu.
— Ou talvez ele já tenha feito isso e esteja esperando o momento certo para atacá-la. – Emily acrescentou.
— De qualquer forma, precisamos protegê-la. Derek, você e Sentinela vão para a casa dela, verifique se ela está bem. Emily e JJ vêm comigo e com o detetive para a sede da SecureTech, temos que interrogar os suspeitos, talvez um deles nos dê alguma pista sobre o que está acontecendo. – Hotch ordenou.
— Certo, chefe. Vamos nessa. – Derek concordou, pegando sua arma e seu distintivo. Sentinela o seguiu em silêncio.
— E eu vou ficar de olho no blog da Perséfone. Quem sabe ela não posta algo novo que nos ajude a entender o que está acontecendo. – Garcia disse pelo telefone.
Quando Derek e Sentinela chegaram à casa da Perséfone e bateram na porta, não houve resposta. Eles olharam um para o outro e decidiram entrar. E quando perceberam que a porta estava destrancada, ficaram em alerta. Eles entraram com cuidado, armas em punho, e vasculharam a casa. Não havia ninguém lá. Apenas um computador Desktop ligado na sala, com o blog da Perséfone aberto na tela.
— Aparentemente ela tinha um outro computador. Onde ela está? – Derek perguntou, olhando em volta.
Aproximando-se do computador, Sentinela viu que havia uma nova postagem no blog, datada de pouco mais de 20 minutos atrás, mas que por um erro de conexão não havia sido postada. Ela leu em voz alta:
— Olá, meus queridos leitores. Eu sei que vocês estão ansiosos pelo próximo capítulo da minha história, mas com tudo o que está acontecendo, infelizmente, não sei se conseguirei continuá-la. Como vocês podem ter visto nas notícias, três pessoas foram assassinadas na minha cidade e a pessoa que cometeu esses crimes é alguém que lê o meu blog. Eu vou encontrá-lo. Sim, ele mesmo. O assassino que está transformando as minhas ficções em realidade. Ele me mandou uma mensagem e me disse onde ele está. Ele quer me ver. Ele quer me mostrar algo. E eu vou. Eu preciso saber quem ele é. Eu preciso saber por quê. Se eu não voltar a postar, é porque estou morta, e eu agradeço a todo o amor e carinho que me deram.
— Ela foi encontrar o assassino? Ela ficou louca? – Derek exclamou, incrédulo.
— Ou ela está mentindo. Talvez ela seja cúmplice dele ou até mesmo a mente por trás de tudo isso. – Sentinela sugeriu, desconfiada.
— De qualquer forma, precisamos encontrá-la antes que seja tarde demais. Garcia, você está nos ouvindo? – Derek chamou pelo rádio.
— Sim, estou aqui. O que aconteceu? – Garcia respondeu, preocupada.
— A Perséfone sumiu. Ela deixou uma mensagem no blog dizendo que foi encontrar o assassino. Você consegue rastrear o celular dela ou o IP da mensagem? – Derek perguntou.
— Deixe-me ver… – Garcia disse, digitando freneticamente no seu computador. – Achei! O celular dela está em um galpão abandonado na periferia da cidade.
— Então vamos para lá agora. Mande o endereço para nós e avise ao Hotch e aos outros. – Derek ordenou.
— Ok, feito. Cuidado, pessoal. Não sabemos o que esse louco pode fazer com ela ou com vocês.
— Obrigado, Garcia.
Enquanto isso, no galpão, Perséfone estava cara a cara com o assassino. Ela olhou nos olhos dele, tentando entender o que o levou a cometer esses crimes horríveis. Ela sabia que poderia estar olhando para a face da morte, mas não sentia medo. Ela sentia raiva. Raiva pelo fato de que suas histórias, que deveriam ser uma fuga da realidade, haviam se tornado um pesadelo vivo.
— Por quê? — ela perguntou, sua voz firme, apesar do perigo iminente.
O assassino sorriu, um sorriso frio e cruel que enviou calafrios pela espinha de Perséfone.
— Não era isso o que você queria? — ele respondeu simplesmente. — Você escreveu uma vez que queria ser tão famosa que seus colegas da escola iriam pensar mil vezes antes de te humilharem novamente, que iria fazer com que eles beijassem os seus pés.
— Eu estava com raiva naquele dia, mas eu jamais iria querer que pessoas morressem por minha causa. – Ela berrou, as lágrimas descendo por seu rosto, o homem misterioso se aproximou ainda mais, fazendo com que ela prendesse a respiração ao vê-lo erguer a mão em direção ao rosto dela, tremendo quando seus dedos frios tocaram sua pele, um misto de nojo e medo
— Eu fiz isso para te ver feliz, minha Perséfone. – A doçura em sua voz apenas o deixava ainda mais assustador.
A garota sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto o assassino tocava seu rosto. Ela queria gritar, correr, mas estava paralisada pelo medo e pela repulsa. O arrependimento de ter aceitado ir até aquele local começava a corroê-la por dentro.
— Feliz? — ela sussurrou, incrédula. — Você acha que isso me faz feliz? Você acha que matar pessoas inocentes me faz feliz?
O assassino pareceu surpreso com a reação dela, como se não conseguisse entender por que ela não estava grata pelo que ele havia feito.
— Mas eu fiz isso por você… Eu te amo. — Ele disse, sua voz cheia de confusão e desespero.
— Você é um monstro. – Ela gritou, empurrando-o para longe. — Você é um monstro!
Nesse momento, a porta do galpão se abriu com um estrondo e Derek e Sentinela entraram, armas em punho. O assassino se acovardando, empurrou Perséfone para o chão e correu em direção a porta dos fundos do lugar, não acatando as ordens de Morgan. Sentinela não pensou duas vezes antes de avançar atrás do rapaz, pulando por cima da garota caída no chão que se desmanchava em lágrimas, ela se jogou contra a porta que levava a saída lateral e com sua postura imponente e olhar determinado, lançou-se em uma perseguição frenética pelas ruas movimentadas, enquanto Derek tentava acalmar a garota.
Seus músculos se contraíam e relaxavam em um ritmo constante, impulsionando-a para frente com uma velocidade, os anos de treinamento entrando em cena para que ela conseguisse ter uma alta performance. Seu coração batia forte no peito, cada batida ressoando em seus ouvidos como um tambor de guerra.
As pessoas nas ruas se afastavam ao vê-la passar, seus olhos arregalados de surpresa. Seu alvo a lançava olhares nervosos por cima do ombro, o medo evidente em seu rosto. Ela desviava habilmente dos pedestres, saltava sobre obstáculos e deslizava por espaços estreitos sem muitos problemas. Sua respiração era constante e controlada, cada inspiração e expiração sincronizada com seus movimentos. Ao atravessar a rua, ela saltou por cima do capô de um carro, aterrissando do outro lado antes de retomar a corrida.
O homem tentou despistá-la, virando abruptamente em uma esquina e correndo por um mercado de rua lotado, mas a soldado estava em seu encalço. Ela seguiu o rastro dele através do labirinto de barracas e pessoas, vendo-o jogar coisas no caminho para tentar bloqueá-la, e a cada vez que ele olhava para trás, mais perto dele ela estava, o pânico começando a tomar conta de seu corpo. E em uma tentativa desesperada de escapar, ele avançou em direção a uma criança para agarrá-la, mas antes que suas mãos sujas pudessem tocar a pequena inocente, Sentinela saltou, como se estivesse em uma competição de salto em distância nas olimpíadas, os pés batendo nas costas do homem que perdeu o equilíbrio e foi jogado para frente, capotando no chão e parando a metros de onde antes estava. As pessoas abriram uma roda em volta deles, a mãe da criança a agarrando e a puxando para um abraço protetor enquanto Sentinela caminhou em direção ao homem que se contorcia no chão. O soldado de Elite tomando forma ao ver que ele enfiou a mão por dentro da jaqueta sacando uma arma, ativando os instintos da mulher que ágil rápido, a adrenalina subindo a cabeça, e ela agarrou o braço do homem, jogando o joelho por cima e indo em direção ao chão, todos ali o ouvindo berrar com agonia quando seu osso se partiu ao meio.
Poucos segundos depois Derek apareceu acompanhado de outros policiais que imediatamente ergueram o homem que chorava pelo seu braço e o levaram para fora da feira, em direção às viaturas. Morgan deixou de olhar para o assassino e encarou Sentinela que depois de entregar a arma do homem para um dos policiais, começava a fazer o caminho em direção ao galpão onde provavelmente o carro ainda estaria, com as pessoas aplaudindo-a e a elogiando pela perseguição bem-sucedida.
— Nós vamos precisar ir para o hospital, Agente Morgan, o suspeito está com uma fratura no braço esquerdo. – Um dos policiais falou e o Agente franziu o cenho, olhando em volta procurando pela soldado que não havia ido muito longe.
— Sentinela. – Ele correu para alcançá-la, a mulher parou de andar e se virou em direção a ele. – Como ele quebrou o braço?
— Ele apontou a arma para mim e eu o desarmei.
— Quebrando o braço dele?
Ela assentiu.
— Hotchner não vai gostar disso. Não usamos violência contra os suspeitos a não ser que realmente seja necessário. Não somos justiceiros.
— Ele tentou agarrar uma criança e apontou uma arma para mim, foi necessário.
— Achei que um Soldado de Elite soubesse desarmar alguém sem machucá-la.
— Soldados Elite não são treinados para desarmar ninguém, Agente Morgan, somos treinados para matar. – Ela deu as costas.
Morgan observou-a enquanto ela se afastava, uma mistura de frustração e admiração em seu rosto. Ele sabia que ela estava certa, que a situação exigia ações drásticas, mas ainda assim, a brutalidade dela o surpreendeu. Ele suspirou, pegando o celular no bolso.
Quando Sentinela entrou novamente na delegacia, sabia que estava encrencada quando o Agente Hotchner marchou em direção a ela e ordenou que ela o seguisse até a sala de interrogação, passando pelos outros agentes que estavam ali e recolhiam os papeis e fechavam as pastas já que o caso havia sido encerrado. Ele fechou a porta e enquanto ela ficava parada perto do canto da sala, entrando em posição de sentido, colocando as mãos para trás, erguendo um pouco o queixo e separando os pés, em respeito ao seu superior, ele parou perto da porta.
— Você quebrou o braço do suspeito?
Mesmo aquilo soando como uma pergunta, ela sabia que ele já sabia a resposta, então apenas assentiu.
— Tem noção do problema que isso pode nos causar? Ele pode tentar processar o departamento por tortura e excesso de violência.
— Ele estava armado e ameaçando a vida de uma criança e a minha. Eu não tive escolha, senhor. E aquilo não foi tortura, não chegou nem perto de ser.
Hotchner a encarou com uma expressão severa e cruzou os braços.
— Poderia apenas tê-lo desarmado e o imobilizado. Você é especialista em combate corpo-a-corpo e não sabe desarmar um suspeito sem machucá-lo? Independentemente de ser um soldado de elite ou não, você não está no campo de guerra, não é assim que fazemos as coisas por aqui. Você agiu por impulso.
— Sinto muito, senhor.
Hotchner não pareceu satisfeito com sua resposta genérica, principalmente pelo fato dela obviamente não demonstrar que sentia muito. Ele se aproximou e disse em um tom firme:
— Sentir muito não é o suficiente, Sentinela. Se você quiser continuar trabalhando conosco, vai ter que aprender a controlar a sua raiva.
— Eu não estava com raiva, senhor. – Ela o respondeu, a expressão neutra começando a irritar o Agente Supervisor que não conseguia ver um pingo de remorso em seu rosto. – Fui programada para agir assim em qualquer situação de perigo, a hesitação pode levar a perda de vidas inocentes e não podemos deixar que isso aconteça.
— Você foi treinada para agir assim em uma guerra, não em uma investigação criminal. – Hotchner retrucou, irritado. – Você precisa entender que há uma diferença entre ser um soldado e ser um agente do FBI. Nós seguimos regras e protocolos, nós respeitamos os direitos humanos, nós não usamos a violência como primeira opção. Pode ter salvado a vida da criança, mas também pode ter arrumado um problemão para mim.
— Eu sei disso, senhor. Mas eu também sei que se eu não tivesse agido daquela forma, o suspeito poderia ter atirado na criança ou em mim. Ele estava desesperado, encurralado, ele não iria se render facilmente. Eu fiz o que achei que era necessário para garantir a segurança de todos.
— E você acha que isso justifica quebrar o braço dele? – Ele estava furioso. – Sabe quantas testemunhas viram você fazendo isso? Quantas câmeras registraram a sua ação? Sabe como isso vai parecer para o júri, para a imprensa, para o público?
— Sim, senhor, por isso eu já acionei meu técnico, ele vai apagar as imagens de segurança que captaram aquele momento.
— O quê?
— Soldados Elites precisam manter a descrição e a furtividade por questões de segurança, por isso, não podemos ser filmados em ação, e nem ter nossas habilidades documentadas. Os vídeos de segurança já devem ter sido deletados. E sobre as consequências, irei arcar com todas, não importa o que seja. – Ela respondeu, sem demonstrar medo ou arrependimento.
— Você pediu para apagar as imagens de segurança? – Hotchner repetiu, furioso. – Você está louca? Isso é obstrução de justiça, um crime federal. Isso pode te levar para a cadeia.
— Soldados Elites não podem ser presos, temos imunidade diplomática, quando cometemos um erro tão grave que a única solução seria a prisão, nossos superiores nos mandam para um tribunal Elite que define qual será nossa missão de punição. Se completarmos a missão, somos absolvidos, se não, bom, é porque morremos na missão. O senhor deseja que eu acione o tribunal Elite para que possam averiguar esse caso?
Pela primeira vez, talvez em toda a sua vida, Hotchner ficou sem palavras ao escutar algo tão absurdo. Ali, ele entendeu que não sabia absolutamente nada sobre os Elites e que o buraco era bem mais embaixo. O Agente respirou fundo e pediu para que ela o aguardasse ali enquanto ele iria fazer uma ligação. Deixando-a sozinha na sala, e ignorando os olhares curiosos das pessoas que estavam do lado de fora ouvindo seus gritos, ele seguiu até o estacionamento da delegacia onde ligou diretamente para o General de Sentinela.
Hotchner discou o número e esperou que ele atendesse. Ele sabia que estava se metendo em um território perigoso, mas ele não tinha outra escolha. Ele precisava resolver aquela situação antes que ela se tornasse um escândalo.
— General O’Neil. – Uma voz grave e autoritária soou do outro lado da linha.
— General, aqui é o Agente Hotchner, do FBI. Eu preciso falar com o senhor sobre a sua agente, a Sentinela. – Hotchner disse, tentando soar respeitoso e profissional.
— O que houve com ela?
— Ela causou um problema sério aqui na delegacia. Ela quebrou o braço de um suspeito e disse que pediu para seu técnico apagar as imagens de segurança que registraram a sua ação. Ela disse que fez isso por questões de segurança. Quando eu a pressionei dizendo que ela poderia ser presa por isso, ela alegou que Soldados de Elite não podem ser presos e que tem imunidade diplomática. – Hotchner explicou, resumindo os fatos. – E que todas suas ações que são consideradas crimes, são levadas para o tribunal Elite.
— Sim, isso é verdade. Mas isso não quer dizer que ela não deva seguir suas ordens. Como ela chegou a quebrar o braço do seu suspeito? – A voz do General estava calma, como se não achasse que aquilo fosse um problema.
— Eles estavam em perseguição, o suspeito sacou uma arma, ela revidou e acabou quebrando o braço dele.
— Certo, e qual foi a ordem que ela desobedeceu?
— Nenhuma, mas ela exagerou na violência.
— Ela foi treinada para isso, Agente Hotchner, o que você esperava que ela fizesse? Carinho no suspeito? – E agora ele estava irritado, o que fez com que Hotchner também se irritasse pelo tom de voz do homem. — Se não quer ela faça algo, ordene que ela não faça. Caso contrário, ela vai fazer o que for preciso para completar a missão. Você foi avisado disso na reunião.
— Fui avisado que ela é altamente eficaz e perigosa, que noventa e nove por cento de suas missões eram bem-sucedidas e que ela saberia seguir as nossas regras e leis. Ninguém me disse que eu deveria ordenar a ela que não tentasse torturar outros seres humanos. Porque, independente do que aquele homem fez, ele ainda é um ser humano. E ela precisa ser punida.
— Tudo bem, farei isso, vou encaminhar o caso para A Corte dos Elites.
— Com todo respeito, senhor, ela deveria ser punida por mim, ela estava sob meu comando quando agiu daquela maneira. Mas eu também preciso saber mais sobre ela, sobre o seu treinamento, e entender melhor quem ela é. – Hotchner disse, sinceramente.
— Eu sinto muito, Agente Hotchner, mas eu não posso te dizer nada sobre isso. É informação confidencial, de segurança nacional. Você não tem autorização para saber disso.
— Eu entendo isso, General. E eu respeito o seu trabalho, mas eu também preciso fazer o meu. Eu preciso de uma solução para esse impasse, de uma forma de lidar com a Sentinela e evitar que isso se repita no futuro. – Hotchner disse, com firmeza e determinação.
— Não posso revelar informações confidenciais sobre meus soldados, preciso protegê-los, e suas missões. Eu tenho o dever de garantir que eles possam continuar fazendo o que fazem sem serem incomodados ou questionados.
— Então nós temos um problema, General. Porque eu não posso ignorar o que aconteceu aqui hoje. Eu não posso deixá-la impune por seus atos. Eu não posso permitir que os Soldados Elites façam o que quiserem sem prestar contas à lei ou à justiça. – Hotchner disse, com convicção e desafio.
— Essa conversa não vai levar a lugar nenhum, Agente. Se não está satisfeito com o progresso dela, mande-a de volta. Mas nenhuma informação sobre os Elites ou sobre Sentinela saíra da minha boca. Se quiser puni-la com suas leis, fique à vontade, mas ela é um recurso muito valioso para ficar presa por causa de uma ação que ela tomou para proteger outras pessoas. Nenhum tribunal vai aceitar essas acusações, vão mandá-la direto para nós.
Aaron respirou fundo, realmente, aquela conversa não levaria a lugar nenhum, mas ele não estava preocupado com sua autoridade sendo abalada, e sim com a segurança das pessoas de dentro e de fora de sua equipe.
— Deixe-me falar com ela. – A voz do General disse novamente. – Leve o celular para ela. Pode colocar na viva voz se quiser ouvir.
— Claro, General. – O Agente concordou, embora relutante. Ele pegou seu celular e caminhou até a sala onde a mulher estava ainda na mesma posição. Lá ele colocou o celular na viva voz e se aproximou dela para que ela pudesse escutá-lo.
— Sentinela! – A voz do General saiu alta e rude do celular, a mulher bateu continência assim que o ouviu, mesmo que ele não estivesse ali, Hotchner ficou abismado com aquela ação, nunca havia visto um soldado ser tão respeitosos assim com seus superiores, aquilo beirava à submissão, e ele não gostava disso. Ele estava começando a entender que talvez ela só estivesse agindo daquela maneira porque alguém poderia tê-la ordenado que usasse toda a sua violência em seu trabalho.
— Senhor!
— Você está ciente do que fez, Sentinela? – O General perguntou, sua voz era dura e autoritária.
— Sim, senhor! – A resposta da Sentinela foi rápida e firme.
— Você sabe que suas ações têm consequências, não sabe?
— Sim, senhor!
— E você está preparada para enfrentar essas consequências?
— Sim, senhor!
— Muito bem. – O General disse, parecendo satisfeito com as respostas dela. – Você está sob o comando do Agente Hotchner, siga suas ordens, obedeça a suas leis, eu não quero ouvir dizer que você causou mais problemas, me entendeu?
— Senhor, sim senhor.
— Agente Hotchner, você pode desligar agora.
Hotchner desligou o celular e olhou para a Sentinela. Ela ainda estava em posição de sentido, seu rosto era uma máscara de determinação e disciplina. Ele não podia deixar de se perguntar o que passava pela cabeça dela naquele momento.
— Sentinela, se você quiser continuar trabalhando conosco, terá que entender uma coisa: A confiança é uma das coisas mais importantes nesse trabalho, eu preciso confiar que você vai fazer a coisa certa se eu te deixar sozinha. E você tem que entender que nem tudo se resolve com violência. — Ele disse, tentando soar amigável e compreensivo. Ela, por outro lado, permaneceu neutra, na mesma posição. Hotchner então entendeu que se quisesse que aquilo desse certo, ele teria que ajudá-la a ver por cima da muralha que o exército implantou na cabeça dela. – Descansar, soldado.
E instantaneamente ela relaxou o corpo, os braços caídos ao lado do corpo, os ombros relaxados, a expressão se suavizou. Hotchner observou a mudança na postura da Sentinela e sentiu uma ponta de esperança. Talvez ela não fosse tão rígida e inflexível quanto parecia. Talvez ela tivesse alguma capacidade de adaptação e aprendizado.
— Eu sei que você está acostumada a seguir ordens, mas eu quero que você saiba que você também tem voz e opinião. Você pode me fazer perguntas, me dar sugestões, me expressar seus sentimentos. Você é uma pessoa. Você tem valor, você tem direitos, você tem dignidade. Você entende o que eu estou dizendo? – Ele disse, olhando nos olhos dela com sinceridade e respeito.
A Sentinela ficou em silêncio por alguns segundos, processando as palavras dele, olhando-o com um misto de confusão e curiosidade. Ele teria que desfazer anos de lavagem cerebral e doutrinação que ela sofrera nas mãos do exército. Ela foi condicionada a seguir ordens sem questionar, a matar sem hesitar, a morrer sem lamentar. Hotchner suspirou, sabendo que aquilo seria um longo processo.
— Eu não quero que você seja uma fonte de problemas constantes para mim e para o departamento. Você precisa aprender a seguir as nossas regras e protocolos, ou você vai acabar se prejudicando ou prejudicando alguém. Quero um relatório detalhado sobre o que aconteceu hoje, quero que me diga o que sentiu antes, durante e depois do ato. Vou te inscrever no treinamento intensivo de conduta profissional e ética que vai durar em torno de duas semanas. E você não vai participar das prisões em campo, vai acompanhar o Agente nas montagens dos mapas geográficos, e nos interrogatórios.
— Entendo, senhor.
— E o mais importante, nunca mais tome qualquer tipo de ação ou decisão sem me consultar primeiro, não chame seus colegas elites para interferir nas minhas investigações, você me entendeu?
— Sim, senhor.
— Ótimo. – Hotchner balançou a cabeça mais aliviado. – Volte para o hotel e prepare suas coisas, nos encontramos no aeroporto em uma hora.
Ela assentiu e assim se dirigiu a porta, saindo da sala com a cabeça erguida, indo em direção a saída da delegacia. Quando se aproximava do carro, ouviu uma voz chamando por ela, ao se virar, vinha em sua direção, caminhando em passos rápidos, com uma das mãos segurando a alça da sua pasta e a outra enfiada em seu bolso da calça.
— Foi tudo bem com o Hotch?
A mulher piscou se perguntando por que ele estava lhe perguntando aquilo, mas para evitar ainda mais conflitos, ela assentiu.
— Sinto muito que tudo isso tenha acontecido. O nosso departamento está no centro de um problema com os governadores e acho que Hotch só quer proteger a equipe, sabe? – Ele comentou ainda se aproximando. – Pode me dar uma carona para o hotel? Os outros já foram e eu acho que o chefe vai ficar por mais algum tempo terminando os relatórios para o detetive.
— Tudo bem. – Ela respondeu, entrando no banco do motorista enquanto o outro rapaz rodeava o carro e entrava no lado do passageiro já colocando o cinto de segurança.
Ela ligou o carro e saiu da delegacia, seguindo as placas que indicavam o caminho para o hotel. Olhando de relance para , que estava sentado ao seu lado, lendo um livro, ela se perguntou o que ele pensava dela, se ele a via como uma colega ou como uma ameaça, já estando acostumada com o medo que as pessoas sentiam dela quando descobriram seus feitos. Mas não tinha cabeça para pensar sobre aquelas coisas, era seu primeiro caso e ela já havia conseguido uma punição. Ela riu em silêncio pensando no que Keegan diria.
“Você é igualzinha a mim quando entrei para o programa Elite, vivia recebendo punições e me metendo em encrencas, mas olhe só para mim hoje, sou um capitão. Continue por esse caminho que você será também.”
Era como se ele estivesse ali falando aquilo no ouvido dela.
Ela suspirou. Tinha achado que havia o superado, mas estava claro que não. Keegan ainda ficaria por um longo tempo em seu coração, pelo menos até que alguém chegasse para substituí-lo.
Enquanto crescia, Sentinela aprendeu a detestar qualquer data comemorativa que fizesse com que sua família se reunisse, afinal, sempre era bombardeada com olhares e comentários maldosos mesmo quando ainda era criança, então ela sempre se escondia até que tudo aquilo terminasse. No exército era diferente, apesar de que sempre preferia a solidão, desde que seu relacionamento com Keegan havia começado, ela se sentia mais à vontade de ficar em meio à multidão pois sabia que ele estaria por ali, em meio a todas aquelas pessoas, para segurar sua mão, caso ela precisasse de alguém para apoiá-la.
Ela estava parada de fora do hangar, onde acontecia a celebração, olhava para as estrelas, em busca de qualquer coisa que mantivesse sua mente longe de pensamentos negativos e dúvidas que tinha sobre sua vida atual. Por mais que o treinamento fosse pesado ao ponto de lhe arrancar sangue todas as vezes, não era exatamente isso o que a preocupava naquele momento, e sim, o fato de que a cada dia que se passava, mais apaixonada pelo seu capitão ela estava, e isso poderia levar a um desastre. Já fazia um ano que estavam juntos, faltava pouco para ela se graduar como Elite, e sabia que seu futuro era incerto, mas se ela pudesse escolher, ela o escolheria. Ela sentia uma mistura de orgulho e medo, de amor e angústia, pois esses eram os sentimentos que acompanhavam uma vida de mentiras, na sombra do medo de que algum dia alguém descobriria sobre seu caso, que destruísse suas carreiras, e o pior: que tentassem os separar.
— Sentinela. — A voz do rapaz de cabelos pretos e olhos azuis, chamou a atenção da garota que se virou em direção a ele, que passava pelo meio dos outros soldados para se aproximar. — O Capitão Russ está te procurando, disse que é urgente.
Ela assentiu e passou por ele, pronta para ir atrás do seu superior, mas a mão do soldado foi de encontro com seu pulso, fazendo-a o olhar de cenho franzido. Rip era um dos soldados que fazia parte de sua equipe, e por consequência do destino ele tinha uma queda por ela. Tinha sido o primeiro homem com quem ela tinha se envolvido sexualmente e aquilo fez despertar um certo tipo de obsessão possessiva sobre ela, mesmo sabendo que aquilo só havia acontecido pois ela havia sido pressionada pelos outros soldados, portanto, sabia que ela não demonstrava interesse por ele. Ao contrário dos outros, ele via como ela olhava para Keegan, como ela se derretia toda quando ele falava com ela, como ela se esforçava para esconder seus sentimentos. Rip sentia ciúmes, raiva e frustração. Ele não gostava de Keegan, achava que ele era um capitão arrogante, que não merecia o amor de Sentinela. Ele queria que ela fosse dele, que ela o escolhesse, que ela o amasse. Ele estava disposto a fazer qualquer coisa para conseguir isso.
— Será que nós podemos conversar depois?
— Rip…
— Qual é, não é possível que aquele dia não tenha significado nada para você…
— Não significou. Pelo amor de Deus, já faz mais de um ano, esqueça que aquilo aconteceu, quando eu pedi para você, eu avisei que não existia sentimentos, era só uma troca de favores e você concordou. Esqueça isso. — E puxou seu braço de volta, se espremendo entre os outros soldados, procurando pelo Capitão, o achando não muito longe dali, escorado em uma parede, usando uma calça jeans, uma jaqueta jeans e uma camisa escura por debaixo dela, nada muito diferente do que costumava usar. E ele percebeu que algo estava a irritando por causa do seu cenho franzido.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não, só o Rip sendo o Rip. Enfim, ele me disse que você estava me procurando.
— Quero te mostrar uma coisa. Me acompanha?
— Mas a contagem para o ano novo vai começar.
— Vão ser só alguns minutos, prometo que vamos voltar a tempo de ver os fogos.
— Está bem.
E assim ela o seguiu para dentro da base.
Já na sala do Capitão, assim que ela ultrapassou a porta, ele a fechou, trancando-a atrás de si, e baixando as persianas das janelas para que ninguém pudesse espionar sua conversa.
— O que você… — A garota começou a se virar para ele, mas foi interrompida quando os lábios de Keegan tomaram os seus, as mãos em seu rosto, e as mãos dela pousando em seus ombros.
— Que saudades, porra. — Ele rosnou contra os lábios dela, empurrando—a para trás, fazendo-a rir, o coração saltando em seu peito. Logo as mãos dele estavam na cintura dela, a puxando para cima e a sentando em cima de sua mesa, se enfiando em meio as pernas dela e abraçando seu corpo com os braços dele.
— Isso era sua emergência?
— Sim, eu estava morrendo de abstinência de você. — Ele desceu os beijos para o pescoço dela, fazendo-a rir com sua barba fazendo cosquinhas. — Mas não, na verdade eu queria te mostrar outra coisa, só não sei se consigo manter minhas mãos longe de você.
— Seja forte, você consegue. — Ela sussurrou, e ele grunhiu.
— Não com você sussurrando desse jeito.
Ela riu e lhe deu um selinho antes de empurrá-lo para longe, vendo a falsa expressão de traição no rosto dele.
— Vamos, Capitão. Seja forte!
— Tudo bem. — Ele passou a mão no rosto antes de dar a volta na mesa e abriu uma das gavetas, de lá tirando um envelope. A garota girou na mesa, agora de frente para onde sua cadeira ficava e consequentemente de frente para ele. Ele estendeu o envelope para a garota que ergueu uma sobrancelha antes de pegá-lo em mãos. Keegan se sentou na sua cadeira e se recostou, cruzando os braços.
— Um contrato de casamento?
O homem soltou um riso.
— Não sabia que você queria se casar, mas se é o que deseja, posso conseguir uma cerimônia amanhã.
— Haha, muito engraçado. — Ela zombou antes de abrir o envelope e tirar alguns papéis de lá. — O que é isso?
— Um exame completo de sangue.
— Tá, mas porque está me entregando isso?
— Para você saber que eu estou limpo. — Ela cerrou os olhos. — Você me disse uma vez que tinha curiosidade de saber qual era a sensação de me sentir gozando dentro de você, então eu fiz um teste para te mostrar que eu estou limpo, e que se você quiser, podemos tentar. Você não vai engravidar, de qualquer maneira.
Sentinela abaixou os olhos para analisar os papéis. O que ele dizia não era mentira.
— Querida, eu não quis te ofender. — Ele puxou a cadeira para frente, tocando os joelhos dela.
Ela ergueu os olhos do papel para ele.
— Acho melhor abaixar suas calças então, Capitão.
Keegan arregalou os olhos antes de começar a rir.
— Aqui? — Ele perguntou vendo a garota descer da mesa.
— Uhum. — Ela murmurou, enfiando as mãos de baixo do vestido e puxando sua calcinha para baixo, deixando-a cair sobre seus pés calçados com o scarpin vermelho. Keegan xingou antes de levar as mãos até o cinto e abrir as calças enquanto ela subia seu vestido. Kate se sentou no colo dele, enfiando a mão em suas calças e colocando seu membro para fora. — Mas temos que ser rápidos, ou os outros vão perceber nosso sumiço.
— Já faz tanto tempo que eu nem sei quanto tempo vou aguentar.
— Só faz alguns dias, Keegan.
— Pareceram anos, porra.
(...)
DIAS ATUAIS
21 de agosto de 2017
Aquela sensação era rara de se sentir, Sentinela na maioria das vezes que acordava sentia alívio por finalmente estar livre dos pesadelos que rondavam suas noites, mas naquele momento ela tinha vontade de voltar a dormir só para poder relembrar os melhores momentos de sua vida que foram ao lado daquele homem. Keegan era tudo o que uma mulher gostaria de ter. Ele era forte, destemido, rebelde e perigoso, mas com ela, ele era terno, atencioso, alegre e ardente. O Capitão era profissional no horário de trabalho, é claro, e nunca havia pegado leve com Sentinela por terem um relacionamento, mas quando estavam sozinhos, o homem fazia com que a jovem esquecesse todos os seus problemas, os seus medos e suas inseguranças. Sentinela havia passado a maior parte de sua vida reprimindo seus sentimentos e aguentando calada as injustiças que era obrigada a presenciar, mas Keegan havia a ensinado que ninguém além de si mesma poderia sabotar sua vida, e havia deixado claro para ela que não importa a decisão que ela tomasse, ele iria apoiá-la.
Todavia, ela se questionava se o que sentia pelo seu Capitão era apenas um sintoma de seus “problemas com o papai”, algum tipo de compensação afetiva, por ele ser mais velho e por ela ter tido uma relação conturbada com o pai na infância. Mas então ela percebia que aquele não era o caso, pois nada que ele fazia a lembrava de seu pai, pelo contrário, ele sempre foi um homem muito melhor do que o homem que a criou.
— O que você vai fazer esse fim de semana? — Ela sentia que nunca ia se acostumar com toda aquela invasão de espaço pessoal. A garota olhou para a dona da voz que chamou sua atenção, vendo Emily parar ao seu lado, perto demais. — Nós sempre nos reunimos pelo menos uma vez por mês em um barzinho no centro da cidade, sabe, para colocar os assuntos em dia e nos distrairmos um pouco.
— Vocês ficam juntos todos os dias, a semana inteira e quando suas folgas chegam, vocês saem juntos novamente? — Emily assentiu. — Por quê?
— Porque nós gostamos de ficar juntos.
— Entendi.
Uma das coisas que ela estava acostumada é que sempre ao final dos seus treinamentos ou depois de missões, mesmo que ela dividisse o quarto com outra Elite, ambas não se falavam, elas apenas queriam descansar, por isso era tudo bem silencioso e calmo. Mas ali, Sentinela havia aprendido que sempre que tinham um tempo livre, as pessoas saíam para jantares, festas e bares com os amigos e colegas de trabalho, o que não fazia sentido nenhum na cabeça dela. Ela cresceu isolada de amizades e nunca havia ido para uma festa na adolescência, sempre usando todo seu tempo livre da escola para estudar e treinar na Academia Militar, e depois de se alistar, era a mesma coisa, apenas com pouquíssimas exceções, então fazia mais sentido para ela continuar seguindo sua rotina de sempre, do que simplesmente tentar mudar o que já estava dando certo.
A garota abaixou a cabeça novamente, voltando a guardar os papéis em seus devidos lugares, detestava deixar a mesa bagunçada e uma coisinha sequer fora do lugar a tirava do sério. TOC era pouco.
— Então o que você acha de ir com a gente? Tem umas bebidas bem legais...
— Não, obrigada, eu não bebo.
Prentiss percebeu que ela não havia demonstrado nenhum tipo de interesse, mas não estava disposta a desistir.
— Lá tem refrigerante se você quiser.
— Prefiro ficar em casa.
— Você não se sente solitária?
Direta demais? Talvez.
— Não.
— Ah, tudo bem... – Emily ainda assim não queria desistir, sabia que Sentinela tinha muito mais para oferecer do que suas habilidades em campo e assim como Hotchner, ela queria que ela se sentisse bem na equipe, confortável o suficiente não para contar seus segredos, mas pelo menos para conversar sobre assuntos fúteis. – E que tal amanhã? Talvez a gente possa tomar um café da manhã, o que você acha? Eu conheço uma cafeteria que tem o melhor café da cidade, você vai adorar, tenho certeza.
— Eu não bebo café.
— Você não bebe café? Como você consegue ficar acordada depois de tantas horas de trabalho? – A soldado deu de ombros, não se importando em responder com palavras. E a Agente só sentia que começava a ficar sem opções. – Talvez um chá, então?
— Não.
— O que você gosta de beber?
— Água.
Sentinela se levantou, pronta para ir em direção a sala de reuniões antes de Emily se enfiar em sua frente com um sorriso no rosto, fazendo-a ficar confusa. O que diabos ela queria?
— Posso te fazer uma pergunta? E, se possível, você pode por favor responder com toda a sinceridade do mundo?
A mulher respirou fundo antes de dar um passo para trás, se afastando da Agente e se sentando na ponta da mesa, cruzando os braços, esperando. Entendendo aquilo como um sim, Emily começou:
— Você não acha meio estranho o fato de trabalharmos juntos, apreendendo criminosos, mas sem conhecer absolutamente nada um sobre o outro?
— Não, eu não acho!
— Então para você está tudo bem trabalhar com a gente sem saber nada sobre quem somos ou o que já fizemos no passado? Ou quais são os problemas que afetam nossas vidas pessoais? Nada?
— A vida pessoal de vocês não me interessa e nós não temos que nos conhecer, temos que confiar um no outro, é bem simples.
E ela se desencostou do móvel, mas Emily deu um passo novamente em direção a ela, fazendo com que Sentinela recuasse novamente, desta vez se afastando para o lado para ter seu espaço pessoal de volta, a insistência da Agente começando a tirá-la do sério, não entendendo por que ela estava tão interessada em sua vida pessoal, e por que ela queria tanto que ela fosse com ela para algum lugar. Ela só queria ficar em paz, sem ter que lidar com perguntas inconvenientes ou convites indesejados.
— Tá e como nós vamos confiar um no outro se nós não sabemos absolutamente nada sobre você? Como podemos confiar as nossas vidas a você se a única coisa que nós sabemos é o seu codinome e que é de uma equipe de elite do exército?
— Isso deveria ser o suficiente para que confiem em mim, o que há de errado nisso?
— Não, não quis dizer que há algo de errado, é só que, bom, eu acho que você está perdendo uma ótima oportunidade de se divertir e fazer novos amigos. Você não precisa nos contar seus segredos, mas talvez uma conversa aqui outra ali não iria machucar você. A vida não é sempre sobre só o trabalho, falar sobre coisas que nós gostamos é uma maneira legal de passar o tempo.
— Eu agradeço, mas agora precisamos ir, o Agente Hotchner já deve estar na sala de reuniões nos esperando. – E assim ela novamente se afastou da mulher que não tentou pará-la, mas a seguiu.
— Você poderia começar por aí. Não precisa chamar o Hotch de Agente Hotchner e nem outros pelos sobrenomes, pode nos chamar pelo nome.
— Agente Prentiss! – Desta vez foi Sentinela quem fez Emily parar de andar e encará-la. – Pare! Só vou pedir uma vez. Eu agradeço que esteja tentando me aproximar da equipe, mas não vim aqui para fazer amizades, vim para um treinamento obrigatório e primeiramente para seguir ordens, e eu agradeceria se parasse de me encurralar e tentar mudar a minha cabeça. Eu sei bem o que quero e eu não quero você em cima de mim o tempo todo.
— Entendo. — Emily assentiu, um pouco decepcionada, mas respeitando sua decisão. – Eu sinto muito, não quis te pressionar, só quero que saiba que estamos aqui para você, se precisar de algo.
— Obrigada, Agente Prentiss. — Sentinela agradeceu formalmente antes de se virar e caminhar em direção à sala de reuniões. Na sala de reuniões, o Agente Hotchner estava esperando por elas. Ele olhou para Emily com uma expressão interrogativa, mas ela apenas balançou a cabeça, indicando que a conversa não havia sido bem-sucedida.
— Vamos começar. — Disse Hotchner, abrindo uma pasta em sua frente. — Duas adolescentes de 14 e 15 anos foram encontradas mortas no mesmo dia, na área florestal de Phoenix na última semana. As mães tentaram relatar o desaparecimento assim que a escola ligou avisando que as meninas não haviam aparecido para a aula.
— Kathleen Williams, mãe de Amanda Williams, de 14 anos, disse que no domingo ela havia combinado de dormir na casa de Sarah Miller, a vítima de 15 anos, e Sarah disse à mãe dela, Roberta Miller, que iria dormir na casa de Amanda e que chegaram a levar seus uniformes.
— Obviamente elas tinham outros planos. — Derek comentou. — Alguma delas tinha namorado?
— Não, as duas eram solteiras e tinham ótimas notas na escola. Eram populares, tinham vários amigos, e se tinham inimigas, as mães desconhecem.
— As mães são solteiras? – Emily perguntou e JJ negou.
— Casadas, os pais das meninas são militares, estavam em serviço. Acabaram de ser avisados.
Sentinela não demonstrou, mas aquela informação mexeu com ela, fazendo-a se lembrar de seu pai e como ele não dava a mínima para ela em sua adolescência, a humilhando em qualquer chance que tinha.
— E as causas das mortes? — perguntou, olhando as fotos das vítimas. — Elas parecem ter sido estranguladas, mas não há marcas de corda ou de mãos.
— Isso mesmo, . — Hotchner confirmou. — O legista encontrou vestígios de um líquido viscoso na garganta das meninas, que parece ter sido injetado por uma agulha. Esse líquido causou uma reação alérgica severa, levando à asfixia e à morte.
— Que tipo de líquido? – Derek questionou, franzindo a testa.
— Ainda não se sabe, mas os testes preliminares indicam que é de origem animal. Talvez algum tipo de veneno ou toxina.
— Então o assassino é um cientista maluco que usa animais como arma? — Morgan especulou.
— Ou um caçador que sabe como extrair e usar essas substâncias. — Prentiss sugeriu.
— Ou alguém que tem acesso a esses materiais, como um veterinário ou um biólogo. — JJ acrescentou.
— De qualquer forma, parece que o assassino tem um conhecimento específico e um método sofisticado para matar. — Hotchner concluiu. — E ele escolheu duas meninas que eram amigas e que mentiram para suas mães sobre onde iriam, talvez soubesse que os pais eram militares, e que não estavam em casa.
— Talvez o suspeito tenha algo contra pais militares que deixam suas famílias sem segurança para irem para outro país. Talvez seja um trauma. – Derek comentou.
— Ou os pais podem ter algum inimigo em comum e por isso atacaram as meninas, para se vingarem. Deveríamos vasculhar as vidas dos pais. Garcia?
— Sem chance, menino maravilha, tudo sobre os militares e suas famílias estão em arquivos confidenciais, não posso acessar. – Penelope negou.
— Você não pode ajudar? – Derek chamou a atenção de Sentinela que até o momento havia se mantido calada. Ela balançou a cabeça negando.
— Seja o que for, nós vamos descobrir. Decolamos em 20 minutos.
E enquanto os outros se preparavam para irem para o aeroporto, Prentiss seguiu Hotchner até sua sala, onde fechou a porta atrás deles ao entrarem. O Agente foi em direção a sua mesa, colocando o arquivo do caso dentro de sua pasta antes de se virar para Emily, curioso para saber como havia sido a conversa com a Soldado.
— E então?
— Eu estou preocupada com ela, Hotch. Ela é muito fechada e isolada. Não se comunica com ninguém da equipe, nem se interessa em conhecer mais sobre nós. Ela parece não ter vida social, nem hobbies e ela nem sequer bebe café. Acho que você estava certo sobre ela ter sido condicionada a seguir ordens, eu acho que a única maneira de fazer com que ela se abra para nós é se você ordenar.
Aaron respirou fundo, olhando pela janela da sala, vendo que a garota já havia pegado sua mala de roupas e já havia saído dali enquanto os outros ainda estavam conversando sobre algo, provavelmente ela já deveria estar a caminho do aeroporto.
— O que será que fizeram com ela no exército?
— Isso não é só obra do exército. – Ele comentou, tirando os olhos da janela e olhando para a mulher. – Eles moldam a personalidade de um soldado como eles querem, mas isso me parece um trauma de infância.
— Você não teve acesso a nada sobre ela? Talvez algo que pudesse nos ajudar a construir uma ponte de confiança?
— Tudo o que sei e que não é confidencial é que ela não teve oportunidade de desenvolver suas habilidades sociais ou emocionais e que essa era sua maior dificuldade. — Hotch explicou, tentando fazer Prentiss compreender a situação de Sentinela. – E acho que a melhor maneira de fazer com que ela confie em nós o suficiente para se abrir é não a forçar a isso.
— Bom, eu tentei chamá-la para uma social esse fim de semana, mas ela não gostou muito do convite. E eu acho que exagerei demais nas perguntas. — Ela pausou por um momento. — E o que a terapeuta disse sobre ela?
— Disse que não fala muito e que mesmo com a permissão para falar, ela só se comunica quando é questionada sobre algo, mas que a maior parte das perguntas ela não responde, pois diz que as respostas são confidenciais. Vai demorar um tempo para que a psiquiatra consiga fazer ela entender que nem tudo sobre a vida dela precisa ser trancada. Até lá, nós só precisamos dar um tempo para que ela conheça o território e se acostume com a equipe, continue tentando convidá-la para eventos, mas seja clara e objetiva e quando ela negar, apenas deixe o assunto esfriar antes de voltar a chamá-la. Ajam como ela e tenho certeza de que vamos conseguir bons resultados. Passe isso para a equipe.
— Sim, senhor.
— Agora é melhor irmos, temos um assassino para pegar.
A equipe se preparou para embarcar no jato da BAU, levando suas malas e seus equipamentos. Sentinela se sentou em uma poltrona, ao lado de , que estava lendo um livro sobre plantas venenosas. Ela olhou pela janela e viu o céu azul, sem nuvens. Sentiu uma pontada de nostalgia, lembrando-se de quando era criança e sonhava em viajar pelo mundo com seus pais, mas estavam muito ocupados usando-a para descontar suas frustrações. Por um momento, ela se perguntou se eles ainda estavam vivos, a última vez que havia os visto foi na noite em que brigou com seu pai na casa de seu avô e no dia seguinte se alistou.
#FLASHBACK
12 de maio de 2010
A garota estava sentada na mesa de jantar, onde todos os outros convidados também estavam. Aquela era mansão de seu avô, onde todas as comemorações da família costumavam acontecer. E não seria diferente na comemoração da promoção de trabalho que seu irmão havia recebido. Nicolas era um soldado como qualquer outro homem daquela família, e acabara de ser promovido para Sargento, mesmo que não estivesse em campo, apenas trabalhando na área da administração.
Durante todo o jantar, a menina se manteve quieta, sabendo que não era bem-vinda ali e que só estava ali para cuidar de Clair, sua irmãzinha mais nova, enquanto seus pais e seu irmão gargalhavam com as piadas que os parentes faziam. Ela gostava de Clair, toda aquela inocência a fazia bem, e ela gostava de a fazer rir, porque se lembrava que antes de tudo, ela foi uma criança feliz até aquela consulta no médico. E ela esperava que a pequena Clair não passasse pelo que ela passou. Ela também era um dos motivos pelos quais ela estava lutando tanto para ser boa, pois um dia ela queria ser uma boa inspiração
— Mas vocês querem saber uma novidade? – A voz de seu irmão disse sobre as outras que pararam de tagarelar para ouvi-lo. O olhando de relance antes de voltar a dar a comida para Clair que estava ao seu lado na cadeirinha, ela pode ver que ele já estava meio bêbado, provavelmente faria um discurso ou algo assim. – Minha irmãzinha querida anda muito ocupada, não é mesmo?
Como um estalo, ela virou seu rosto em direção a ele novamente, e assim sentiu que todos da mesa a olharam antes de voltar a atenção para ele.
— Eu encontrei com um amigo antigo da escola que estava trabalhando como instrutor na Academia Militar Bunker Hill e ele me parabenizou dizendo que minha irmã mais nova era a melhor aluna que ele já havia tido.
A garota sempre foi uma pessoa calma, nunca se desesperou em nenhum tipo de situação, geralmente quando as pessoas falavam coisas sobre ela, ela abaixava a cabeça e deixava que falassem pois sabia que revidar só geraria conflito, mas naquele momento, sabendo que tudo pelo que ela havia lutado nos últimos quatro anos poderia ir pelo ralo por causa de Nick, fez com que ela entrasse em desespero.
— Cale a boca. – Esbravejou e logo escutou o barulho de algo batendo na mesa, e ao olhar para a ponta dela, seu avô é quem havia batido com a mão na madeira.
— Não seja rude, sua pirralha.
— Do que você está falando, Nicolas? – Ao ouvir a voz de seu pai, ela olhou para ele que não tinha uma expressão feliz no rosto. Ela podia sentir seu coração na sua garganta. Sophie, sua prima e uma das únicas pessoas que não a humilhavam por não ter um útero, estava ao seu lado e segurou a sua mão em cima da mesa, assustada e seu tio, pai de Sophie, que estava ao lado dela, colocou os talheres ao lado do seu prato.
Ela sabia que alguma coisa estava prestes a acontecer.
— Ela esteve treinando no Bunker Hill escondida de todo mundo por quatro anos, e falava abertamente que se alistaria no exército ao se formar no ensino médio.
E ela pôde ouvir as risadas dos outros convidados, soltando comentários com deboche. A maioria vindo dos homens. Mas ela não conseguia tirar os olhos de seu pai, que a encarava sem ao menos piscar. Já fazia algum tempo que ele não a olhava com tanto ódio assim. Ela até estava começando a pensar que ele havia voltado a amar.
— Então ao invés de fazer seu serviço em casa e ajudar a sua mãe, você estava desobedecendo minhas ordens? Quem você acha que é para fazer algo assim? Eu já disse que seu lugar é em casa, fazendo o trabalho de uma mulher. – Ele rosnou.
— Existem mulheres no exército... – Sua voz saiu mais baixa do que ela queria.
— Eu não quero saber. – Ele gritou, e todos os cochichos acabaram. – Você não consegue nem sequer ser útil e trazer filhos ao mundo, o que acha que vai fazer no exército? Acha que consegue ir para a guerra? Que consegue carregar um fuzil enquanto atravessa um pântano? Que consegue carregar um colega baleado que pesa oitenta quilos no meio do fogo cruzado? Você não consegue!
— Eu consigo, sim.
— Não discuta comigo, sua ingrata. – Ele berrou novamente, mas dessa vez se levantou de uma vez, batendo com as coxas na mesa fazendo com que ela tremesse. – Eu te dei casa, roupas, comida e a única coisa que eu pedi para que você fizesse, mesmo depois de se provar inútil, era ficar em casa e ajudar a sua mãe nas tarefas, mas você só conseguiu desonrar o meu nome.
E depois de anos de injustiça, sendo chamada por vários nomes e humilhada de todos os jeitos possíveis, a garota explodiu:
— Eu não tenho culpa, porra. — Vendo a perplexidade no rosto dele, talvez não imaginado que ela teria coragem de um dia levantar a voz para ele. – Eu não tenho culpa de ter tido câncer com 6 anos de idade. E eu não mereço ser tratada como um pedaço de merda por algo que eu não tinha controle. Eu era uma criança, caralho.
— Abaixe sua voz.
— Não! – Ela berrou. — Eu estou cansada dessa merda, eu não pedi para nascer e nem para ter o útero removido quando eu ainda nem sabia o que era isso. Estou cansada de me sentir culpada por uma infelicidade do destino e por você ser um pai de merda.
— Me respeite. — Ele deu a volta na mesa indo em sua direção, agarrando o seu pescoço e a arrastando para fora da mesa, derrubando sua cadeira. Sophie berrou ao seu lado e ela pode ouvir Clair começando a chorar enquanto ele apertava seu pescoço e a jogava com violência no chão da sala ao lado. – Não grite comigo, sua vadiazinha.
— Jordan, se afaste. — Joe, o pai de Sophie, entrou no meio dos dois, segurando-o e impedindo de avançar em sua direção enquanto ela segurava seu pescoço, as lágrimas caindo dos seus olhos, se perguntando o que ela havia feito para merecer ser tratada daquele jeito. Aquele era seu pai, como ele poderia machucá-la? Ele deveria a amar, não é mesmo? E as outras pessoas, seus outros parentes, assim como sua própria mãe apenas a olhava, Joe e Sophie eram os únicos que haviam intervindo. – Ela é sua filha.
— Ela é uma vagabunda, é só para isso que ela vai servir. Para ser a porra de um depósito de esperma para outros homens, porque é isso o que mulheres que não dão fruto servem. Eu deveria matá-la para que não desonre essa família.
— Você enlouqueceu? — Joe gritou o empurrando para longe. – Sophie, leve ela para o carro...
— Não! Deixe-o vir. — Ela nunca havia tido tanta certeza de algo como quando disse aquelas palavras. E todos a olharam enquanto ela se levantava, e empurrava gentilmente Sophie para longe, e entrou em posição de luta. — Solte-o tio Joe, se ele quer tanto me matar, deixe-o. Eu não tenho mais medo.
— Sua filha da puta...
Não houve luta. Ela desviou das mãos do homem antes de achar o momento perfeito para girar o corpo, transferindo o peso do pé de trás para a frente, lançando um soco direto contra o rosto dele, o desequilibrando, logo em seguida saltando e dando um giro, acertando-o com o pé no peito, aterrissando ainda em posição de luta enquanto Jordan caia para trás, batendo com a cabeça com tanta força que o fez desmaiar.
Ela o encarou por alguns segundos, o coração quase saindo pela boca, a respiração acelerada, antes de olhar em volta, observando que todos estavam calados e imóveis, ninguém se atrevendo a confrontá-la, não depois daquilo, nem mesmo Nick que havia iniciado aquele tumulto, não depois de verem o sangue e ódio nos olhos daquela garota.
— Quando ele acordar, diga a ele que assim que eu conseguir minhas patentes, eu vou voltar para esfregar na cara dele, e um aviso: Se algum de vocês entrar no meu caminho, eu vou passar por cima como um trator.
E quando ela deu as costas, sabia que o maior desafio da sua vida estava para começar.
#FLASHBACK OFF
— Sentinela! — A voz de seu chefe chamou sua atenção e ao tirar os olhos da janela, ela observou que todos a olhavam com expectativa. Hotchner estava com o cenho franzido, esperando provavelmente sua resposta. que estava ao seu lado, estava mais curioso sobre o fato dela ter tido uma expressão dolorosa em seu rosto durante o momento em que ela se distraiu.
— Desculpe, senhor, eu acabei me distraindo por um momento.
— Você vai acompanhar Emily e Derek até as casas das vítimas, vai observar como eles conduzem as perguntas. Por ser militar, talvez sua presença ajude os pais a se abrirem sobre suas vidas. Mas tome cuidado com o que vai dizer. Estão em um momento delicado, não queremos que eles se fechem para nós, então comporte-se.
— Sim, senhor.
— O resto de nós vai para a delegacia montar nosso QG e começar a trabalhar em um perfil.
Quando Derek estacionou em frente à casa dos Millers, Sentinela que estava sentada no banco de trás foi a primeira a descer, mas esperou pelos outros dois antes de segui-los em direção a casa. Roberta Miller já sabia que eles estavam indo ali para entrevistá-la, então não demorou muito para atender a porta, ela estava com roupas confortáveis, o rosto inchado, provavelmente de tanto chorar. Junto dela estava Edward Miller que havia acabado de chegar de sua base. Ele ainda estava com a farda.
— Senhores Miller, eu sou o Agente Derek Morgan, essas são as Agentes Emily Prentiss e Sentinela, viemos fazer algumas perguntas se não se importarem.
— Podem entrar, não sei o que mais posso dizer, eu já disse tudo o que sabia para a polícia. – Roberta deixou que os três entrassem na sala de estar, onde havia um sofá, uma poltrona, uma mesa de centro e uma TV. Havia também vários porta-retratos com fotos de Sarah em diferentes idades, sorrindo e feliz. Sentinela sentiu um aperto no coração, imaginando a dor dos pais ao perderem a filha única. Reparou também nas medalhas de Edward emolduradas em cima da lareira junto de fotos da pequena Sarah.
— Por favor, sentem-se. Querem alguma coisa para beber? Água, café, chá? — Roberta ofereceu, tentando ser educada.
— Não, obrigado. Nós não vamos demorar. — Derek recusou, sentando-se no sofá. Emily sentou-se ao seu lado e Sentinela ficou em pé, atrás deles.
— Nós só queremos fazer algumas perguntas sobre a Sarah, sobre a sua personalidade, os seus hábitos, os seus amigos, os seus planos. Talvez vocês possam nos ajudar a entender melhor o que aconteceu com ela. — Emily explicou, com delicadeza.
— Tudo bem. Nós faremos o que pudermos. — Edward disse, sentando-se na poltrona. Ele estava com o rosto sério e cansado, mas também determinado a cooperar.
— Obrigado. Nós sabemos que isso é difícil para vocês, mas nós estamos aqui para ajudá-los. Nós queremos encontrar o responsável pela morte da Sarah e levá-lo à justiça.
— Eu só quero saber quem fez isso com a nossa filha, e por quê. Ela era uma menina tão boa, tão doce, tão inteligente. Ela não merecia isso. — Roberta disse, com lágrimas nos olhos.
— Sabemos disso, nós vimos as suas notas na escola, as suas medalhas nos esportes. Ela era uma aluna exemplar, uma atleta talentosa, uma pessoa dedicada. Ela tinha um futuro brilhante pela frente. — Emily disse, com admiração.
— Sim, ela tinha. Ela queria ser médica e trabalhar com voluntariado, como o avô dela. Ela adorava ajudar as pessoas, cuidar dos animais, ler livros. Ela era a nossa luz, o nosso orgulho, a nossa vida. — Edward disse, com emoção. Não contendo as lágrimas e escondendo o rosto com as mãos, Roberta passando a mão em suas costas. – Eu deveria estar aqui para proteger minha menininha.
Sentinela não era uma pessoa que se emocionava fácil, mas aquilo lhe dava gatilhos. Quantas vezes quando ela era criança, havia ido para a cama chorando, implorando para Deus para trazer seu pai de volta para casa e para fazê-lo amá-la novamente? Ela havia perdido as contas. Algumas pessoas não merecem os destinos que tem, e aquilo era decepcionante.
— Vocês se importam se eu der uma olhada no quarto dela? — A Agente pediu e os pais concordaram, a direcionando para o quarto da menina, deixando que Derek continuasse as perguntas.
— Ela tinha algum namorado? Talvez um admirador secreto? — Derek perguntou, mudando de assunto.
— Não que nós soubéssemos. Ela nunca nos falou de nenhum garoto especial na sua vida. Ela dizia que estava focada nos estudos e que não tinha tempo para namorar. Mas ela tinha muitos amigos, tanto meninos quanto meninas. Ela se dava bem com todo mundo. — Roberta respondeu, pensativa.
— Vocês conheciam os amigos dela? Sabiam com quem ela andava?
— Sim, nós conhecíamos alguns dos seus amigos mais próximos. Eles vinham aqui em casa às vezes, para estudar ou para se divertir. — Edward respondeu, lembrando-se dos rostos dos jovens.
— Vocês se lembram dos nomes deles? Podem nos dar uma lista? Talvez eles possam nos dar mais informações sobre a Sarah e sobre o que ela fazia fora de casa. — Derek pediu, interessado.
— Claro. Tenho os números de alguns deles. Está anotado em algum lugar. — Roberta disse se levantando e saindo da sala, só para retornar pouquíssimo tempo depois com um bloco de notas e entregar para Sentinela.
— Obrigado. Isso vai ser muito útil para a nossa investigação. Nós vamos entrar em contato com eles e fazer algumas perguntas também. Sentinela, você tem alguma pergunta para os senhores Miller? — Derek perguntou, virando-se para a soldado.
— Senhor Miller, qual sua patente?
— Sargento Major.
— Foi promovido há quanto tempo?
— Faz seis meses. Por quê? O que isso tem a ver com o caso?
— Você entrou em conflito com algum vizinho ou talvez algum parente próximo por ter sido promovido? – Sentinela perguntou e o homem franziu o cenho negando.
— Não, não tive nenhum conflito com ninguém. — Edward respondeu, parecendo confuso.
— E você, senhora Miller, teve algum problema com alguém recentemente? — Sentinela perguntou, virando-se para Roberta.
— Não, eu não tive problemas com ninguém. — Roberta respondeu, parecendo tão confusa quanto o marido. – Por quê? Acha que alguém próximo pode ter feito isso com ela?
— Não sabemos, mas precisamos descartar todas as possibilidades.
— Obrigada pelas respostas. Nós vamos fazer o possível para resolver esse caso o mais rápido possível. — Emily disse descendo as escadas da casa depois de deixar o quarto da menina e estendendo a mão para os Millers. — Obrigada pela cooperação.
— Por favor, encontrem quem fez isso com a nossa menina. — Edward pediu, apertando a mão de Emily.
— Nós vamos fazer o nosso melhor, senhor Miller. — Derek disse, também apertando a mão do homem.
E não demoraram muito para chegar na casa dos pais da segunda vítima.
Na casa dos Williams, Derek e Emily repetiram o mesmo processo de perguntas que haviam feito aos Millers, mas dessa vez pediram que Sentinela desse uma olhada no quarto de Amanda, e com as permissões dos dois, ela seguiu a escada, indo parar na última porta do corredor que era o quarto da garotinha.
O quarto era dividido entre rosa e camuflagem. Havia fotos dela e de seu pai por todos os lados e apenas algumas com ela e sua mãe, havia uma roupa camuflada pendurada atrás da porta. Ela era uma menina que admirava seu pai. Sentinela olhou ao redor do quarto, ela notou a cama de solteiro com lençóis rosa e uma colcha de camuflagem. Havia um tapete rosa no chão e cortinas de camuflagem nas janelas. O contraste era estranho, mas de alguma forma funcionava.
Ela se aproximou das fotos na parede, observando a garotinha sorridente ao lado do pai em uniforme militar. Amanda parecia tão feliz e orgulhosa. As poucas fotos com a mãe mostravam uma mulher bonita, mas havia uma tristeza em seus olhos que Sentinela não podia ignorar.
Ela então se virou para a roupa camuflada pendurada atrás da porta. Era pequena, claramente feita para Amanda. Ela podia imaginar a garotinha vestindo-a, brincando de soldado como o pai.
Sentinela sentiu uma pontada de tristeza. A garotinha sentia falta de seu pai e ela um dia teve aqueles mesmos sentimentos, indo dormir chorando algumas noites abraçadas a alguma camisa de seu pai, sentindo sua falta, rezando para que Deus o trouxesse de volta vivo das missões, apesar dele mesmo um dia ter dito a ela que preferia morrer na guerra do que chegar em casa e saber que tinha uma filha como ela.
— Não tive coragem de entrar aqui ainda. – A voz do pai da menina soou atrás do soldado que se virou em direção a porta, vendo-o parado lá, olhando para as fotos espalhadas pelo quarto.
— Ela tinha muito orgulho de você.
— É, ela dizia que assim que completasse seus dezoito anos, ela iria se alistar para podermos passar mais tempo juntos. — E Sentinela viu a tristeza no olhar do homem. — Não pode imaginar a minha felicidade quando ela disse isso, que pai não gostaria que a filha seguisse seu exemplo.
O meu. Ela pensou.
— De qual unidade você era? — Sentinela o olhou de cenho franzido. — O FBI não dá codinomes para seus agentes. Você anda como um soldado, e tem as emoções de um robô.
— Sou da última edição do programa de soldados de Elite. — Ela o respondeu antes de sua atenção se fixar em um coelhinho branco minúsculo, do tamanho de uma borracha, em cima da mesa de estudos de Amanda. Aquilo não combinava com o quarto. Ela não tinha nem sequer uma pelúcia, por que teria um coelhinho de brinquedo?
— Nunca achei que viveria o suficiente para conhecer um Elite...
— Você sabe onde Amanda conseguiu isso? — Ela o interrompeu, ignorando sua frase totalmente. O homem negou. Sentinela então saiu do quarto e desceu as escadas caminhando em direção a mãe da vítima que estava sentada no sofá frente a Derek e Emily. — Senhora Williams, sabe onde Amanda conseguiu esse coelhinho?
— Acho que foi alguém da escola que deu para ela há umas duas semanas. Ela chegou em casa saltitando de felicidade por causa desse brinquedo. Por quê? Acha que quem deu isso a ela pode ter algo a ver com sua morte?
— Não exatamente, é só curiosidade, na verdade.
— Senhor e Senhora Williams, obrigado por terem respondido nossas perguntas, assim que tivermos novidades, retornaremos.
— Por favor, achem o responsável.
— Faremos o possível.
E ao saírem da casa, após entrarem no carro, Emily se virou para Sentinela que estava sentada no banco de trás.
— Eu achei um coelhinho idêntico aquele no quarto da Sarah.
— Acha que pode ser uma assinatura do assassino?
— Eu não sei, mas eu acho que podemos descartar vingança como motivo. — Emily respondeu.
— Podemos descartar vingança como o motivo dos assassinatos, nenhuma das duas famílias parecem ter inimigos ou inimizades. — Derek disse chegando na sala onde estava montado o QG do FBI na delegacia. Todos estavam lá, menos JJ.
— E eu procurei donos de lojas de animais e veterinários com passagens pela polícia, mas não achei ninguém. — Garcia disse ao telefone.
— Talvez nos precipitemos ao montar o perfil do assassino. Vamos começar de novo. O que sabemos? — Hotchner perguntou.
— As duas eram muito unidas e ambos os pais eram militares, as duas eram bem próximas aos pais também, até mais do que com as mães. — Sentinela comentou.
— Ambas estão na adolescência, hormônios à flor da pele, rebeldia, mas nenhuma parece ter namorado. Mentiram para as mães dizendo que uma iria dormir na casa da outra, mas foram para outro lugar. — Emily disse e a soldado acrescentou:
— E ambas foram encontradas com um coelhinho de brinquedo no quarto, que não parece combinar com o estilo delas.
— Isso pode ser um presente do assassino, ou uma forma de atraí-las para algum lugar. – Derek sugeriu.
— Mas por que coelhos? O que eles simbolizam para ele? — Sentinela perguntou.
— Coelhos são animais fofos, inocentes, mas também são associados à fertilidade e à sexualidade. Talvez ele tenha alguma fantasia ou fixação por elas. — explicou.
— Ou talvez ele as veja como presas fáceis, que ele pode caçar e matar.
— Mas por que ele escolheu essas duas meninas em particular? O que elas têm em comum que as torna alvos dele? — Emily perguntou.
— Talvez tenha algo a ver com os pais delas serem militares. Talvez ele tenha algum ressentimento ou trauma relacionado ao exército.
— Ou talvez ele seja apenas um psicopata que gosta de matar adolescentes por diversão e o fato de ambas terem pais militares seja uma coincidência. — Morgan disse. — Um pedófilo.
— Não foi encontrado nenhum indício de abuso sexual em nenhuma das vítimas, não acho que estejamos lidando com um predador.
— Seja qual for o caso, nós precisamos encontrar uma pista que nos leve até ele, antes que ele faça outra vítima. — Hotchner constatou.
— E a escola? — Sentinela perguntou. — A escola ligou para as mães avisando que as meninas não haviam ido, certo? A que horas foi isso?
— No relatório está escrito às 8:05 da manhã.
— 8:05 da manhã os professores iriam começar a fazer a lista de comparecimento, tudo bem saberem que a Amanda não estava lá pois ela seria uma das primeiras da lista por seu nome começar com A, mas Sarah começa com S, deve ter uns quarenta alunos na sala delas, como saberiam que ela não estava ali sem fazerem a chamada? – Sentinela levantou um ponto que ninguém havia pensado antes.
— Você tem razão. Isso é muito estranho. Talvez alguém na escola soubesse que elas não iriam aparecer, ou que elas estavam em perigo. Precisamos investigar isso mais a fundo. — Hotchner disse.
— JJ, você conseguiu a lista de alunos da escola das meninas? — Emily perguntou pelo telefone.
— Sim, eu consegui. Estou enviando para vocês agora.
— Obrigada, JJ. — Emily agradeceu.
Eles receberam a lista de alunos no computador e começaram a analisá-la, procurando por algum nome que chamasse a atenção, mas para a infelicidade deles, não acharam nada.
Parada por um momento em frente ao quadro de provas, escorada na mesa e com os braços cruzados, Sentinela novamente começou a ter lembranças do seu passado, como no dia de homenagens do dia do trabalho do seu quarto ano no ensino fundamental quando ela com a ajuda de seu tio, conseguiu uma roupa camuflada como a que Amanda tinha pendurado em seu quarto, para homenagear os soldados na sala de aula. Ela se lembrava de ter ficado ansiosa para mostrar para seu pai o que ela havia feito, esperando que ele sentisse feliz por ela o amar tanto, mas a única coisa que conseguiu tirar dele foram mais gritos e violência, onde ele chegou a rasgar a roupa com ela ainda vestida, berrando que ela não tinha o direito de se vestir como eles, alegando que mulheres não deveriam tentar roubar o lugar dos homens e que ela, principalmente, jamais seria honrada o suficiente para ser um soldado.
— Você está bem? — A voz de fez com que ela emergisse de seus pensamentos. Virando o rosto um pouco para a esquerda, ela viu o rapaz sentado em uma das cadeiras, com uma pasta aberta em sua frente, mas ao invés de estar lendo o arquivo, os olhos dele estavam nela. Ela o encarou por alguns segundos enquanto pensava em uma resposta, mas sabendo que quanto mais ela falasse, mais perguntas ele faria, ela simplesmente acenou com a cabeça, como se dissesse que sim, voltando a encarar o quadro de provas.
continuou a encará-la por mais algum tempo, já estava a tanto tempo naquele trabalho que já sabia identificar quando alguém estava passando por um momento difícil e tentava esconder das outras pessoas, e ele sabia que por algum motivo, aquele caso estava mexendo com ela. Ele não sabia nada sobre ela, no mês em que ela estava trabalhando com eles, eles não trocavam muitas palavras, principalmente fora do trabalho, com ela não querendo se envolver de forma alguma em nenhuma atividade fora do horário de trabalho, e ele entendia, sabia que os Elites tinham fama de serem solitários e misteriosos, mas era estranho ver uma pessoa engolindo suas dores e sofrendo internamente. Sabia que por ela ser de um programa confidencial, deveria ser ainda mais difícil conseguir alguém para conversar e se abrir, e por algum motivo ele só queria poder dizer a ela que tudo ficaria bem.
— Eu não sei o que é que está te incomodando...
A voz dele novamente fez com que ela saísse dos próprios pensamentos e o olhasse novamente, vendo uma mistura de sentimentos que ela não tinha costume de ver nos olhos de outras pessoas.
— Mas compreendo que seja algo muito pesado para você carregar sozinha. Então se um dia você quiser conversar sobre isso, ou sobre qualquer outra coisa, eu estou aqui.
Sentinela inclinou a cabeça um pouco para o lado, surpresa com sua oferta, não estava acostumada a receber ofertas de apoio, especialmente de pessoas que mal conhecia. Mas havia algo na maneira como ele falou, na sinceridade em seus olhos, que a fez acreditar nele. Ela não disse nada, mas o olhar em seus olhos era de gratidão, e ele percebeu isso. A mulher então se virou de volta para o quadro de provas, mas a tensão em seus ombros havia diminuído um pouco.
Ele a observou por um momento antes de voltar para a pasta aberta em sua frente. Ele sabia que não podia forçá-la a se abrir, mas esperava que sua oferta tivesse feito alguma diferença. Ele só queria ajudar, mesmo que fosse apenas ouvindo.
— Ei, Sentinela — Emily parou na porta sala. — Hotch pediu para que fossemos até a escola das garotas dar uma olhada nos armários dela para saber se conseguimos alguma coisa. — Sentinela assentiu, desviando o olhar do quadro de provas para Emily. Ela pegou seu casaco e seguiu a Agente para fora da sala, lançando um último olhar para antes de sair. Ele acenou em resposta, um pequeno sorriso em seu rosto.
O caminho até a escola não foi longo, mas foi silencioso como sempre, lá foram recebidas pela diretora que as levou até os armários das garotas, se lamentando pelo que havia acontecido com as duas adolescentes.
— Você sabe se as duas tiveram algum conflito recente aqui na escola? Ou se elas haviam feito alguma queixa sobre alguém as perseguindo? — Emily perguntou enquanto Sentinela examinava os armários das garotas que eram um do lado do outro. Havia cadernos, livros e objetos pessoais como maquiagens e presilhas de cabelo, nada fora do comum para garotas da idade delas.
— Não, mas acho que deveriam perguntar para nosso orientador educacional, Erick Owen, ele tinha mais contato com os alunos do que eu.
— Onde podemos encontrá-lo?
— Ele deve estar em sua sala agora, me acompanhem, por favor.
Ao chegarem à sala do orientador educacional, que ficava no final do corredor, a porta estava aberta e a primeira coisa que reparam depois da mesa cheia de papéis, foi a aparência jovem do homem que sentava na cadeira atrás daquela mesa.
— Erick. — O homem pareceu surpreso ao ouvir seu nome e olhou rapidamente para a porta, sorrindo e se levantando para cumprimentá-las. Ele não era tão mais alto que elas, tinha os cabelos pretos e os olhos verdes, sua barba estava feita e ele usava uma calça social junto de uma camisa branca de mangas longas e uma gravata preta, e por algum motivo, o sensor de perigo de Sentinela começou a apitar, franzindo o cenho imediatamente quando ele se aproximou, estendendo a mão em direção a ela. — Essas são as Agentes Prentiss e Sentinela do FBI, estão aqui para falar do caso de Sarah e Amanda.
— Ah, sim, sentem-se por favor. — Ele ofereceu, apontando para as cadeiras de frente para sua mesa, Emily aceitou o convite, mas Sentinela permaneceu em pé perto da porta, dando uma olhada em volta, principalmente para a grande prateleira de livros didáticos e de literatura que cobria completamente a parede atrás da cadeira onde o homem se sentava. Também observou as fotos entre os livros.
— Vou deixar vocês à vontade, se precisarem de mim, estarei na minha sala.
— Obrigada, diretora.
E ela fechou a porta atrás de si quando saiu
— É uma tragédia o que aconteceu com as meninas, elas eram tão amadas por aqui, tinham tantos amigos e tantas coisas boas para viverem ainda. — Ele lamentou empurrando as pilhas de papéis para os lados, abrindo visão para que ele conseguisse ver Emily em sua frente. — Em que posso ser útil?
— Nós gostaríamos de saber mais sobre as meninas, como elas eram na escola, se elas tinham algum problema, algum inimigo, algum segredo. — Emily disse, pegando seu bloco de notas e sua caneta.
— Bem, elas eram alunas exemplares, tiravam notas altas em todas as matérias, participavam de vários projetos e atividades extracurriculares, faziam parte do grêmio estudantil, enfim, eram muito envolvidas com a escola.
— E como era a relação delas com os outros alunos? Elas sofriam algum tipo de bullying ou assédio?
— Não, pelo contrário, elas eram muito populares e queridas por todos. Elas tinham muitos amigos, nunca vi elas se envolverem em nenhuma confusão ou briga. Elas eram muito educadas e gentis com todos.
— E fora da escola, elas tinham algum namorado, algum interesse amoroso, algum relacionamento secreto?
— Não que eu saiba. Elas nunca me falaram nada sobre isso, mas eu acho que elas não tinham tempo para essas coisas. Elas estavam muito focadas nos seus estudos e nos seus planos para o futuro. — Ele disse com um ar de orgulho.
— E quais eram esses planos? O que elas queriam estudar?
— A Sarah queria ser médica, ela tinha uma paixão pela medicina, dizia que queria ser como seu avô que era médico do exército. Já Amanda queria se alistar, como o pai dela. – Ele disse com uma expressão de admiração. — Ambas tinham muito orgulho dos pais.
— Você percebeu alguma mudança de humor recente nelas? Talvez uma tristeza profunda ou dúvida sobre algo?
— Bom, elas eram adolescentes, essa é a fase em que nós questionamos absolutamente tudo e achamos que o mundo está contra nós. Mas agora que você falou, há alguns meses, Amanda passou alguns dias chorando todos os dias, ela sentia bastante falta do pai que havia sido promovido no exército e iria ficar mais tempo longe de casa.
E enquanto a entrevista corria, a soldado que ainda estava parada perto da porta, começou a analisar o homem, ele parecia sincero sobre suas palavras, não desviava o olhar de Emily em momento algum, e mantinha as mãos em cima da mesa, às vezes entrelaçando os dedos, as vezes girando a aliança em sua mão esquerda, o que chamou a sua atenção, principalmente porque não havia visto nenhum porta—retrato com a foto de algum cônjuge por ali.
— O senhor é casado? — A pergunta pegou tanto o homem, quanto a Emily de surpresa. Ele ergueu os olhos em direção a mulher antes de olhar para a mão, seu rosto se entristecendo.
— Eu era, minha mulher faleceu há seis meses em um acidente de carro. — Ele explicou girando a aliança no dedo. — Ainda não consegui superar a perda dela.
— Eu sinto muito pela sua perda.
— Tudo bem. — Ele sorriu para a Agente que tornou a fazer perguntas, porém, a soldado não estava nenhum pouco satisfeita com a resposta, gostasse ou não, tinha alguma coisa muito errada com aquele homem.
E para piorar suas suspeitas, o olhar dela se fixou em algo no canto da sala, duas caixas escoradas na parede, uma delas meio aberta com algo apontando para fora, e se sua visão não tivesse piorado, ela sabia muito bem o que era aquilo. Orelhas de coelho. Sentinela analisou o que deveria fazer em seguida, pensou se o confrontava sobre aquilo ou se esperava a entrevista terminar para falar com Emily sobre. Decidindo que seria mais prudente esperar para que suas ações não se tornassem um problema, sabendo que aquela situação poderia escalar para um conflito e que Hotchner já havia deixado claro que não queria que ela se envolvesse em mais problemas, ela continuou calada até o final da entrevista.
Depois de saírem da sala, estando a alguns passos da porta, ela resolveu compartilhar o que havia visto.
— Tem certeza de que eram orelhas de coelho?
— Absoluta.
— Acha que ele pode estar envolvido com a morte das meninas?
— A única coisa que eu sei é que assim que eu entrei naquela sala, meu corpo entrou em alerta total. Se ele não está envolvido diretamente, ele sabe de alguma coisa.
(...)
De volta a delegacia, Emily já havia pedido para que Garcia checasse os antecedentes criminais e o passado do Orientador da escola, se atentando aos mínimos detalhes e se ele já havia sido acusado de algum crime contra menores ou se já tinha trabalhado na área de animais venenosos.
Garcia rapidamente começou a trabalhar, seus dedos voando sobre o teclado enquanto ela procurava por qualquer informação que pudesse encontrar sobre o orientador. Enquanto isso, a equipe se reuniu para discutir suas próximas ações.
— Se ele está envolvido de alguma forma, precisamos descobrir o que ele sabe. — Hotchner disse, olhando para Sentinela. — Mas precisamos ter cuidado. Não podemos arriscar assustá-lo e fazê-lo fugir.
A mulher assentiu.
— Como esse seu sensor de perigo funciona? — O Agente Morgan que estava do outro lado da sala, relaxado em uma cadeira, perguntou curioso. A mulher deu de ombros. — Você não tem nenhum critério que julgue o que é perigo e o que não é?
— Não.
— Então como pode ter tanta certeza de que ele está envolvido no caso se a única coisa que teve foi uma sensação ruim? Sabe, nem sempre você vai se dar bem de cara com alguém, mas isso não quer dizer que essa pessoa seja alguém ruim.
— Sensação ruim é quando tenho dor de estômago. O que eu vi naquele homem foi uma completa bandeira vermelha.
— Não pode dizer se alguém é culpado ou não apenas porque não gostou dessa pessoa.
— Eu posso sim.
— Encontrei! — A voz de Penelope veio do computador. — Bom, para começar, Erick era instrutor de escoteiros antes de se tornar um orientador estudantil, ele era especializado em como identificar animais venenosos e conhece aquela floresta como a palma da mão e... — A mulher pausou por um momento.
— Penelope? — Hotchner a chamou, encarando a tela do computador vendo a mulher com os olhos arregalados. – O que mais você encontrou?
— Ele estudou com a mãe de Amanda no ensino médio.
E uma foto do anuário da escola mostrou como os dois estavam próximos na foto da turma.
— E não é só isso. Mês passado ocorreu a feira anual de adoção de animais organizada por uma ONG da cidade, e em uma das fotos divulgadas pelo Jornal local, Erick e Kathleen foram fotografados bem próximos um do outro, tipo muito próximos mesmo.
— Será que eles tiveram um caso, as meninas descobriram, e com medo de que elas falassem algo, os dois as mataram? — Essa foi a vez de Reid perguntar.
— Eu vi as fotos no quarto de Amanda, ela era muito mais apegada ao seu pai do que a sua mãe. Se isso for verdade, seria um baque para ela, ela poderia levar isso para o lado pessoal já que lealdade parecia ser algo importante. — Sentinela comentou.
— O que você acha que devemos fazer? — Hotchner perguntou, toda a equipe se virando para ela. – Você descobriu a pista, vou te dar a chance de continuar seu raciocínio.
— Eu acho que devemos confrontar Erick e Kathleen separadamente e ver se eles têm algum álibi para as noites dos assassinatos. Se eles não tiverem, podemos pressioná-los a confessar o que sabem. Talvez um deles esteja mais disposto a cooperar do que o outro. Também devemos verificar se eles têm algum acesso a venenos ou se compraram algum recentemente. E, claro, devemos manter um olho na floresta, pode ser que eles tenham escondido alguma evidência lá.
— Muito bem. — Aaron a parabenizou. — Ok, vamos fazer isso. Eu e Sentinela vamos falar com Erick. Morgan e Emily falam com Kathleen. , você e JJ podem ficar de olho na floresta e ver se encontra algum vestígio de veneno ou de algum animal morto. Penelope, você pode verificar os registros de compra de veneno de cobra na cidade e ver se algum deles aparece.
— Deixe que eu fale com Kathleen. — Sentinela pediu, Hotchner a encarou com o cenho franzido, mas esperou que ela continuasse. – Devon Williams está passando por um momento difícil e ouvir que sua mulher pode tê-lo traído possivelmente irá acarretar ações violentas. Eu consigo fazê-lo recuar se for preciso.
— Certo. Nós vamos até a residência dos Williams, Morgan e Prentiss vão até a escola. Boa sorte a todos.
Continua...
Encontrou algum erro de script nessa história? Me mande um e-mail ou entre em contato com o CAA.